N/A: Acho que eu deveria dizer como surgiu essa fic... Bom, eu simplesmente acabei de ler hoje Jogos Vorazes e acabei me empolgando com a história. Milhares de ideias me ocorreram, várias e várias coisas. Talvez um ou outro detalhe tenha escapado, já que eu sou péssima para achar as partes que quero e quando quero nos livros que leio a menos que elas estejam marcadas. E pode apostar que nada está marcado. Bom, espero que curtam!
Sempre odiei essa época do ano. A época em que todas as crianças que tenham entre doze e dezoito anos se reúnem na praça para participarem do que chamam de Colheita. Mas antes que isso se torne um show de horrores, acho que deveria me apresentar. Meu nome é Rue Mellark, em homenagem à única amiga que minha mãe fez na arena quando participou dos Jogos Vorazes. De alguma forma, meu pai a convenceu a ter filhos, pelo menos um. E aqui estou eu agora, me arrumando para minha quinta colheita.
Minha mãe me dá um vestido simples, branco. Calço a melhor sandália que tenho, também branca, e ajeito o cabelo. Deixo-o solto, porque não gosto de prendê-lo. Minha mãe, como sempre faz nesse dia, me olha com pesar. Ela sabe que subirá ao palco hoje, junto de papai, por ter sido a última de nosso Distrito a ganhar os Jogos. Era por causa disso que ela não queria ter filhos. Pelo medo de perdê-los nos Jogos.
- Rue? – a voz de meu pai, sempre sorridente, me tira de meus devaneios sobre o que quer que fossem. Tudo que lembro era que estava encarando minha mãe pelo espelho, como se ela não pudesse notar meu olhar.
"Não se preocupe, vou ficar bem" é o que quero dizer a ela, mas as palavras não saem. Como nunca precisei das tésseras, as chances de eu ser sorteada são ínfimas, mas aprendi a não confiar na probabilidade. Minha mãe se voluntariou aos Jogos para impedir a tia Prim de participar. E ela foi sorteada tendo seu nome escrito somente em um único papel. Eu tenho cinco deles com meu nome. Cinco vezes mais chance de ser escolhida. Com sorte, chegaria aos dezoito sem ter de passar pela experiência terrível e traumatizante que é a arena, mas eu nunca tive muita sorte…
Então finalmente chegou o momento. Estávamos todos dispostos ordenadamente na praça, eu tentando inutilmente ignorar os olhares das pessoas ao redor. Talvez estivesse arrumada demais para a ocasião, mas não liguei. Era o único dia do ano em que eu de fato parecia com uma garota. Muitos adultos não gostavam muito disso, porque eu fazia exatamente o que minha mãe fazia na minha idade, mesmo sem precisar muito. Tudo bem, os benefícios pela vitória dos Jogos dura apenas um ano, mas meus pais souberam fazer bom uso de tudo e nós não passamos necessidade nenhuma.
O prefeito estava acabando de contar sobre a história de Panem (que eu já cansei de ouvir) quando algo me tirou de meus devaneios. A floresta estava quieta, como se também prestasse atenção na colheita. Aquilo não estava certo. Desvio o olhar para minha mãe, que parece igualmente preocupada. Aquele era um mau sinal, nós duas sabíamos. Olhei calmamente as quatro cadeiras sobre o palco. Uma era a do prefeito, duas dos meus pais e a outra de quem estaria tão responsável pelos tributos quanto meus pais. Effie Trinket. Não posso evitar sorrir ao pensar em quanto ela tinha azar por pegar novamente o Distrito 12 em tão pouco tempo.
Effie logo teve a palavra e eu não suportei ouvir sua voz. Voltei aos meus pensamentos, eles geralmente são mais interessantes. Só tornei a prestar atenção no que estava sendo dito quando vejo a mulher de cabelo rosado se dirigir à bola de vidro com os nomes das meninas e sortear um dos papéis. Cruzo os dedos e rezo silenciosamente. Talvez eu tivesse um pouco de sorte naquele ano também e passaria por esse dia celebrando junto aos meus pais. Talvez porque logo ela lê o nome.
Rue Mellark.
Então sou obrigada a subir ao palco.
Vejo o desespero nos olhos de meus pais, especialmente minha mãe. Ainda assim, sigo confiante para o palco e tão logo estivesse sobre ele, me dirijo a Effie. Ela pede uma salva de palmas, mas se segue apenas o mais profundo silêncio. Então ouço lá do fundo alguém bater palma. Uma, duas, três vezes. Desvio o olhar. É minha tia, que está se controlando para não chorar. Logo parte das pessoas a acompanha na pequena salva de palmas. E então o barulho cessa.
Effie decide que é melhor escolher logo o rapaz que me fará companhia e acabar com tudo aquilo. Admito que nosso Distrito é o pior lugar para se ficar, especialmente se você vem da Capital. Então a acompanho andando sobre o palco, indo e vindo da bola de vidro com o papel que contém o nome do garoto. Ela lentamente o abre e lê o nome.
Marco Mierose. Nenhum nome familiar para mim. Vejo um rapaz de pele bastante morena, corpo forte, cabelos escuros e levemente enrolados nas pontas. Ele se dirige ao palco com a mesma segurança que eu. Rapidamente cumprimenta Effie, assim como eu fiz, e logo me cumprimenta. Seu olhar se demora no meu, o que me incomoda. Ele deve ter percebido, mas não fez nada a respeito. E então fomos para nossos lugares para ouvir o hino. Tudo o que houve entre ele subir ao palco e me cumprimentar passou rápido demais e me senti tonta, tentando lembrar se houve todo o resto do procedimento antes de nos cumprimentarmos. "Claro que sim, Rue, deixe de ser idiota."
Afinal, sempre há. E assim que acabou o hino, somos conduzidos para o Edifício da Justiça. Sinto como se eu não fosse mais eu, mas apenas mais um tributo. O que não deixa de ser verdade, se pararmos para pensar. Tanto eu quanto o tal Marco. Somos apenas os tributos do Distrito 12. Nada mais e nada menos. Pelo menos por enquanto, nós estamos sãos e salvos e nem mesmo a fome pode nos matar. Sei disso pelo aspecto do prédio e pelo que minha mãe me contara antes de minhas inscrições para os Jogos Vorazes começarem.
Então sou levada à sala em que me despedirei das pessoas que vierem me visitar. Meus pais são os primeiros a me ocorrer, mas então me lembro de que estarei com eles por mais algum tempo. A primeira visita é alguém que não conheço e ele se apresenta como sendo pai de Marco. De fato eles são parecidos, o que me convence de que ele não estava mentindo. Tudo bem, ele não tinha razão nenhuma para mentir, mas eu nunc aceito sem suspeitar o que as pessoas falam. Preciso de provas de que é verdade. Como comparar a aparência dos dois é tudo que posso fazer, aceito o fato como sendo suficiente. Por ora.
- Vim desejar boa sorte. Já falei com meu filho, não faça essa cara de poucos amigos. – ele tinha um tom divertido na voz.
- Obrigada. – minha voz saiu suave, o que me surpreendeu.
- Ele me pediu para deixar isso com você. – o pai de Marco me estendeu um pequeno pacote, que eu não abri de imediato.
- Obrigada. Agradecerei a ele quando o encontrar. – eu estava visivelmente dispensando o homem, que entendeu o recado. Terminando a conversa com um sorriso gentil, ele se retirou.
Ninguém mais veio. Nem mesma Gale, o melhor amigo de minha mãe. Nem mesmo tia Prim. Ninguém. Talvez a dor fosse muito grande. Talvez eles estivessem com meus pais. De qualquer forma, eu já não esperava visitas. O pai de Marco realmente me surpreendeu ao aparecer. Então eu decidi abrir o embrulho.
Lá dentro estava o mais belo colar de ouro que eu já tinha visto. Não era de Marco o embrulho. Não tinha como ser. Então percebo o que realmente está talhado no pingente. Era o mesmo desenho do broche de minha mãe. Talvez ele tenha pedido a ela, que o deu por alguma razão. Ele arranjou alguma corrente de ouro, só Deus sabe onde. Se era mesmo de Marco, aquela era a única explicação. Minha mãe cedeu o broche, que ele transformou em pingente.
E então fomos para o trem que partiria para a Capital.
