Rachel Berry nunca pensou que voltar a Lima fosse em algum dia doer tanto, mas todas as suas ideias não chegavam perto da dor que sentia por ter que se despedir de Finn. O ginásio de competições esportivas do MKHG estava lotado e todo o antigo clube estava ali, rever os amigos teria sido bom em outra situação, mesmo tendo tido uma última conversa confortável com Finn e sabendo que nunca mais seriam mais que amigos, Rachel sentia uma parte do coração ir embora junto com o ex-namorado com o qual perdera a virgindade, com o qual aprendera tantas coisas. O seu primeiro amor estava indo embora e nunca mais o veria, será que algum dia se recuperaria completamente disso?
Com o fim da cerimônia Santana veio em sua direção, braços dados com Quinn. Santana e Rachel agora dividiam o apartamento gigantesco, uma vez que Blaine se formara e se mudara para Nova York, levando Kurt para dividir um lugar com ele. A vida de todos estavam se ajustando ao mundo adulto e logo agora ela se sentia tão sem chão. Tão sem mundo.
A morena escolhera voltar para casa de trem porque assim teria mais tempo para estudar para seu novo teste de Funny Girl. Mesmo não tendo se classificado na primeira seletiva, Rachel conquistara uma segunda chance, sua persistência sempre ativa e sua coragem de ir atrás dos sonhos motivara os produtores e ela se apresentaria novamente dali a três dias, apresentando um texto.
Entretanto seus planos foram por água abaixo quando Santana anunciou que embarcaria junto com a colega de apartamento e que Quinn iria com elas.
Quinn.
Rachel já tivera todo tipo de relacionamento com Quinn. Da raiva inicial da loira por ela ser a namorada de Finn, ao carinho extremo no fim do último ano de colégio. Quinn já passara por tanta coisa na vida e ainda mantinha aquele olhar cor de âmbar tão misterioso que parecia brincar com os medos alheios. Quinn que era linda, que era amada, que fora a líder de torcida invejada, que tinha tudo e que perdera parte do mundo naquele instante, como ela.
Talvez fosse interessante ir embora naquelas circunstâncias. Antes havia algo que a prendia à Lima, agora apenas seus pais estavam ali, ela sabia que um dia eles também se mudariam para Nova York e tudo seria apenas passado, um lugar para revisitar nostalgicamente. Seu futuro era em frente.
- Rachel?
A morena encarou os olhos âmbar meio sombreados por uma franja recém-cortada, Quinn estava em pé ao seu lado e ela não notara. Como todos no funeral ela também havia escolhido o negro como opção e o tom lhe caíra tão bem, realçando a pela clara, os cabelos que agora na altura dos ombros faziam mechas encaracoladas. Rachel sabia que um dia nutrira sentimentos por Quinn, parte de uma adolescência que ela parecia não se lembrar bem que agora retornava com força, culpa dos incidentes atuais, provavelmente. O fato é que era difícil não achar Quinn Fabray a coisa mais linda na qual já batera os olhos. Não era só para ela, não era só os seus olhos escuros que admiravam as pernas fortes por baixo da saia rodada do vestido preto, Rachel tinha certeza que todos os homens do vagão estavam de queixo caído pela mulher que estava ao seu lado.
Deu um meio sorriso, o que foi capaz de conseguir dar e se aproximou mais da janela, permitindo que Quinn se sentasse ao seu lado.
- Sinto muito. Sei que deve estar doendo muito em você.
Rachel ouviu a voz dela dizer, era impressão sua ou aquela voz estava um tom abaixo do normal? Apresentava uma certa rouquidão, será que ela estava chorando?
Os olhos que antes vagam pela paisagem da estação se viraram e ali estava o rosto, tão próximo ao seu. Sua primeira arqui-inimiga. Sua primeira rival pelo coração de alguém, pela atenção de um homem especial. Sua amiga de fim de ensino médio. Quinn estava chorando e tudo veio à tona outra vez.
O primeiro beijo em Finn quando ele ainda namorava a loira. A descoberta da gravidez da líder de torcida. A certeza de que o filho era de Puck. A forma como Quinn não a odiara por contar a verdade. A cumplicidade quando Rach quebrara o nariz. O ciúme que ela tinha do quarterback com a ex-namorada. Rachel sabia que amaria Finn pelo resto de sua vida, ele se fora mas amores assim seriam para sempre. E sabia que de algum modo Quinn sentia uma dor próxima a dela. Ali estava algo que somente as duas tinham partilhado.
Engoliu em seco e abraçou uma Quinn fragilizada que ela não estava acostumada a ver, os braços morenos ao redor do ombro tão claro e desprotegido da pequena Quinn, choraram juntas por um longo tempo, talvez isso fizesse com que a dor passasse mais rápido. Coisas trágicas aconteciam para que os sobreviventes aprendessem a viver mais e melhor, não era o que diziam?
- Sinto muito por você também Quinn. Sei que a dor aí deve ser grande, ele era um amigo e tanto para todos nós.
Nos braços de Rachel a loira deu um soluço rouco e suspirou.
- Eu me segurei esse tempo todo. Não podia chorar na frente deles, não podia mostrar que sou frágil. Não. Por mais que tudo tenha mudado, eu preciso que eles ainda me vejam como aquela Quinn forte que todos conheceram. Mas ele era o Finn. Puta que pariu Rachel. O Finn!
- Eu sei. É a coisa mais imbecil que esse bobo poderia ter feito. Morrer. Tenho vontade de ir lá ter um papo com ele e perguntar qual a graça de fazer todos nós passarmos por isso a essa altura do campeonato.
- Ei! Basta que eu me atrase dois minutos para entrar e vocês duas já estão se pegando?
A voz forte e abusada de Santana fez com que as duas se soltassem instantaneamente, o coração de Rachel acelerado a ponto de suas mãos tremerem. Quinn tinha os olhos e o nariz vermelho e fungava, era evidente que Santana não acreditava que as duas estavam em uma situação de afeto sexual. Não era?
- Sant, não seja cruel. Não hoje, por favor.
Quinn censurou a latina, que se jogou na poltrona de trás, ocupando os dois bancos.
- Ah, só quis aliviar o clima ruim.
Deu de ombros. As duas ainda mantinham as mãos juntas e ao se olharem o constrangimento foi maior. Afastando os dedos Rachel por um momento quis afagar levemente a bochecha da loira e dizer que um dia as coisas ficariam bem novamente, mas não tinha confiança suficiente para dizer que esse dia seria logo. Quinn tirou uma mecha de cabelo dançava entre os lábios de Rachel e lentamente pousou um beijo no ombro que estava ao seu lado, sorrindo. Um beijo de borboleta, tão leve sutil que quase não podia ser percebido.
- Obrigada.
Sussurrou.
Do banco de trás Santana anunciou:
- Próxima parada: Nova York! Vamos lá Rachel, nosso apartamento nunca mais será o mesmo.
O trem engatou a partida e Santana completou:
- À propósito, esqueci de avisar, Quinn agora vai morar conosco. Eu disse a ela que você tinha concordado em termos mais um colega para dividir o aluguel. Vai ser uma aventura e tanto, não acham?
Rachel fechou os olhos por um instante e agradeceu aos deuses que cuidavam das atrizes iniciantes de musical. Santana podia ser infernal às vezes, mas dessa vez tinha sido um anjo. Ter Quinn por perto com certeza faria sua dor passar mais rápido, ter uma amiga seria muito bom, além de que uma companhia para passar os textos já estava fazendo falta.
Quinn ao seu lado sentiu o estômago dar um pulo de ansiedade. Será que conseguiria lidar com a proximidade de Rachel sem comprometer seu plano de nunca demonstrar o que realmente sentia pela morena?
Santana provavelmente tinha razão, como sempre. Seria uma aventura e tanto. As três concordaram mentalmente.
