-Ron,
chega. Eu não vou corrigir sua redação de
Herbologia. Você teve as férias inteiras, porque não
fez antes? – perguntou Hermione, tentando-se decidir entre a
irritação e a graça daquela situação.
Ron tinha, desesperadamente, tentado convencer Hermione a corrigir
seu dever, que, obviamente, sempre recusava. Até que, naquela
hora, ele estava ajoelhado diante dela, implorando para que ela desse
apenas uma olhada.
-Mione, isso vale três quintos da nota!
É demais para eu me deixar levar aos erros! Não podia,
por favor, só olhar?
Só dar uma checada! Por favor, Hermione! – ele falou. Ela
saiu de perto dele, correndo para os jardins d'A Toca, ele atrás
dela. – Hermione...! O que custa para você só olhar?
Você não tem nada para fazer aqui, a Ginny está
cuidando do Mini-Pufe, o Harry está fazendo outro dever, Fred
e George estão no quarto, trancados, Percy não está,
nem Bill, nem Charles... Mamãe está fazendo o almoço,
papai está trabalhando... O que, exatamente, você tem
para fazer? Nada! Pode me fazer um favor? – ele disse, enquanto se
sentavam embaixo da sombra de uma das árvores do jardim.
-Muito obrigado por me chamar de desocupada. Agora sim é que
eu vou fazer um favor para você. – Hermione disse,
sarcasticamente. Ron ficou praticamente chocado, e Hermione sabia que
não era aquilo que ele queria dizer. Ela riu, pegou as folhas
e a caneta da mão dele e começou a ler, mordendo o
lábio inferior. Ron sorriu.
-Obrig... – ele começou,
mas ela o interrompeu:
-De nada. – ela disse, e olhou para ele.
Os dois sorriram. Ela riscou alguns nomes, escreveu duas ou três
frases a mais e devolveu para ele.
-Viu? Viu como é fácil
para você? Porque, ao contrário de certas pessoas, você
é inteligente! – ele disse, exasperado.
-Ron! Não
diga isso. Você é
inteligente. Eu só sei decorar. Decorar não é
ser inteligente. Você tem inteligência, mas menospreza-a.
– ela disse, dando uns tapinhas no ombro dele, tentando
consolá-lo.
-Você acha?
-Você é
pessimista demais. – ela respondeu, meigamente.
-É.
Nisso eu concordo. Ah... Você é muito boa nas palavras,
sabe? "Tem inteligência, mas menospreza-a", muito bom. Você
definitivamente sabe como me fazer sentir melhor. – ele falou, de
repente olhando nos olhos dela.
-Ahh... Obrigado. – ela disse,
enrubescendo. – Ahh... Sabe que nós deveria... – ela
falou, depois de um silêncio vergonhoso, mas foi interrompida
pela Sra. Weasley, gritando:
-Pessoal! Almoço! Vamos logo,
antes que esfrie! – ela gritou, saindo pela porta. Ron fez menção
de se levantar, mas Hermione o segurou pelo ombro.
-Espere...
Vamos ficar? Só mais um pouco. Está tão...
Humm... Bom, aqui, não... Não acha? – ela gaguejou,
insegura.
-Ahh... Cl-claro. – ele voltou a sentar, e, quando
apoiava sua mão no chão, sua mão encontrou a de
Hermione. Eles se olharam rapidamente, vermelhos, e se distanciaram
um pouco. – Hããã... Hermione? – Ron
perguntou após um tempo, enquanto se ouviam os barulhos das
pessoas chegando à mesa e do Sr. Weasley chegando do
trabalho.
-Sim, Ron? – ela perguntou, virando o seu pescoço
rápido e o encarando.
-Ahhh...
Eu... Eu só queria s-saber... Sabe... Se você gosta, se
você gosta daqui, de passar as férias aqui, sabe. –
ele perguntou, ficando mais vermelho a cada segundo. Ela pensou por
um tempo e deu uma risada antes de responder.
-Mas é
claro. Eu amo passar as férias aqui. Eu me sinto tão...
Em casa. Perto da Ginny, do Harry, de v... De você. – ela
respondeu, baixando a voz a cada frase.
-Eu também gosto
de passar as férias aqui. – ele falou, meio desligado. Ela
deu uma risada. – Ah, tá, isso pareceu estúpido, eu
sei, mas... É bem mais legal agora que você e o Harry
vêm aqui. Agora eu... tenho amigos, além dos meus
irmãos, para passar as férias. – ele acrescentou,
cabisbaixo.
-Ron...
Tem... Tem algum assunto que não te faça ficar triste?
Porque... Você... Você mudou tanto – ela tentava
esconder do amigo uma lágrima que escorria por sua face, mas
era quase impossível com sua voz embargada. – Você não
é mais o garotinho com o nariz sujo que eu vi no Expresso de
Hogwarts... Porque você anda tão triste?
-Hermione... Vai ser o nosso último ano... Hogwarts vai acabar
para nós. Nós não vamos mais... Sabe... Ficar
juntos o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia... Eu vou sentir
falta de vocês. Você nem imagina. – ele disse, a voz
também começando a embargar, os olhos marejando.
-Não vamos nos separar nunca, Ron! Não, nem pense em
dizer isso! Seria... Totalmente impossível para mim. Eu iria
morrer de saudades de vocês, todos vocês... Eu nunca vou
voltar a viver no mundo trouxa. Você está preocupado com
distância? Nem toda a Terra pode diminuir o que eu sinto por
você. – ela falou, rindo e chorando ao mesmo tempo, olhando
para ele – E-e pelo Harry t-também. – ela, envergonhada,
acrescentou rapidamente quando ouviu o que ela própria tinha
dito.
-E nem todo o Universo poderia diminuir o que eu sinto por
vocês. O que seria do Ron sem a Hermione do lado? Ou Harry sem
Ron? Ou Hermione sem Harry e Ron? Nós não existimos
separados. É por isso que eu estou com tanto... Medo.
Medo de partir e nunca mais olhar para vocês, falar com
vocês... Não vê, Hermione, antes você diz
que nada vai nos separar... Mas aí vem o tempo, e o tempo...
Ah, o tempo, ele muda tudo. Todas as promessas feitas, todas as
palavras ditas, tudo o que se viveu é esquecido e tudo o que
era para se viver deixado de lado... – ele falou, como se não
existisse mais alegria no mundo, deixando as lágrimas de lado,
tamanha a sua tristeza.
-Ron, pare. Pare de pensar nisso. Não
vai acontecer. Eu prometo pela minha vida que eu nunca vou me separar
ou de você ou do Harry. Eu nem agüentaria... – Hermione
disse, ficando séria.
-Você promete agora, não
é, mas dep...
-Ron, PARE. O que eu posso fazer para você
não falar nisso? – Hermione disse, começando a chorar
– Porque você pensa ou fala no que é ruim... Se tiver
a chance de pensar em coisas boas? – ela falou, segurando os ombros
dele, balançando-o e encarando-o. – Não vê?
Isso o destrói... Destrói o garotinho que eu
conhecia... Destrói o Ron, o meu amigo... Destrói o
Ron, o Ron que eu... Amava. – ela disse, baixinho, chorando mais.
-V-você o... O quê? – ele perguntou, encarando-a, mas
ela somente chorava, a cara escondida pelos joelhos e braços,
enquanto as lágrimas escorriam salgadas e impuras por todo o
seu rosto e suas roupas, até caírem grossas e pesadas
no chão.
-Ron, se tiver alguma coisa que te
faça sentir
melhor, que te faça voltar a ser o que era antes, voltar a ter
alegria... Me diga, por favor, eu imploro.
Eu faço. Eu f-faço qualquer coisa. Pode me contar, pode
confiar em mim... A não ser que você não confie
em mim, não é... – ela implorou, chorando mais do que
nunca, olhando fundo nos olhos dele.
-É claro. Claro que eu
confio em você. Hermione... Calma. Eu não estava falando
sério. Nós nunca vamos nos separar, eu sei disso... É
que... Aquilo que eu falei... É o que sempre acontece. Mas
eu... Eu me dei conta que a nossa amizade é maior do que
todas... E nós nunca, nunca vamos nos separar. Agora pare de
chorar, vamos, por favor. – ele disse, e a abraçou, tentando
acalmar a amiga. Isso pareceu ter um efeito sobre ela. A cada segundo
ela respirava mais lentamente, soluçava menos, quase que se
controlando. As lágrimas agora encharcavam a camiseta de Ron,
que não se importava. Tudo o que importava naquele momento era
abraçar Hermione, fazê-la sentir-se melhor, ele não
conseguiria suportar vê-la chorar por sua causa... Aos poucos,
Hermione foi parando de chorar, até que ela olhou para Ron, e
os dois se encararam. Ela sorriu e ele ficou feliz que, pelo menos,
conseguia fazê-la sentir-se melhor. Pelo menos para isto ele
prestava.
-Hermione... – ele disse, enquanto se encaravam.
-Sim, Ron? – ela perguntou, a voz estranhamente aguda, como se
tivesse reprimido um soluço bem na hora.
-Eu já me tornei o Ron de antigamente? – ele perguntou, fingindo curiosidade.
-Está
se tornando. Falta pouco. Porque? – ela perguntou, sorrindo,
confusa.
-Sabe... Eu tenho que fazer algo a respeito. – ele
disse, voltando ao seu lugar na grama e olhando uma maçã
cair da árvore no mesmo instante.
-Uma coisa a respeito do
que? – Hermione perguntou, ainda mais confusa.
-A respeito
disso. – ele falou, simplesmente.
-Ron, do que você está
falando? – ela perguntou, impaciente.
-Olha...
Desculpa. Eu... Eu sinto muito por... Sabe... Te fazer chorar e tudo
o mais... Você não deveria se importar tanto comigo,
sabe... – ele disse, escolhendo as palavras.
-Mas eu me
importo. E eu gosto de
me importar. – ela respondeu, sorrindo e olhando para ele
meigamente.
-Porque? Porque você se importa tanto comigo?
Não precisa... Não precisa tentar me fazer sentir
melhor... Eu sei que "os amigos são para essas coisas",
mas você fez mais do que o seu dever como amiga... Você
fez muito mais. Aliás, você sempre faz muito mais do que
precisaria, por mim... Porque, Hermione? Porque? – ele perguntou,
agora encarando a amiga.
-Porque
é o meu dever. – ela respondeu apenas.
-Não. Você
faz muito mais do que amigos fazem... Você me apóia
quando eu estou insuportável, mesmo que você... Chore. –
ele disse, se sentindo quase culpado.
-Eu
faço mais do que os amigos fazem porque... Porque, vai ver, a
nossa relação não é só... Não
é só de... Amizade. C-concorda? – ela perguntou,
insegura.
-Concordo. – ele respondeu. Os dois sorriram e se
deitaram na grama, completamente esquecidos do almoço.
