O quão lindo é o Natal? Época maravilhosamente bonita, onde todos se reúnem para celebrar o nascimento do menino Jesus. Não poderia ser diferente com Saori e seus cavaleiros. Todo ano comemoravam em um local diferente. O encontro passado fora na mansão da Deusa, Shiryu ofereceu os cinco picos antigos para comemoração daquele ano.
Não tardou para o dia chegar. Distribuíram entre si os pratos. Shiryu e Shunrei, anfitriões, fariam o peru, Seiya levaria o arroz, Shun traria seus amados e deliciosos legumes, Ikki encarregou-se de levar o mais caro vinho português, Saori a maionese e Hyoga o delicioso Blinchiki¹, sobremesa russa.
Entraram, cada um com seu prato e presente, já que os seis combinaram de fazer uma espécie de amigo secreto. Antes de se fartarem, ficaram conversando.
- Algum progresso com os dois? – Ikki estava ausente há um longo tempo e não estava informado de como andava a operação cupido.
- Nenhum. – Suspirou o cisne, com os braços cruzados e os olhos fechados. – São tímidos demais quando o assunto é se declarar um ao outro.
- Que merda. – Suspirou também. – Parece que nunca vão se acertar. Estamos com nossos dezenove, vinte anos e essa ladainha se persiste... Há quase sete anos.
- Não podemos fazer nada... – Disse Shiryu, cumprimentando o amigo. – Mas tenho uma surpresa. – Sorriu.
- Vamos comer? – Chegou Shunrei, avisando que tudo estava pronto.
- Estou morrendo de fome. – Seiya se aproximou. Era possível ouvir seu estômago roncar.
- E quando não está? – Riu Shun.
Estavam se fartando. Até mesmo Saori, que estava de dieta, não resistiu ao delicioso Peru de Shunrei. Em meio a piadas sem-graças, comentavam sobre todas as suas aventuras. Um flashback passava pela cabeça deles. Foi assim até chegarem à guerra santa contra Hades.
- Shion nos ajudou muito. Não esperava aquilo dele quando o vi. Aparentava ser tão frio e rancoroso... – Pausou para levar a comida até a boca. – Pensei que iria nos matar quando estávamos no templo de Atena.
- Ele e o Mestre Ancião com certeza foram dois dos mais fortes cavaleiros. – Sorriu Shiryu, dando um leve tapa nas costas de Seiya. – E você, meu amigo, deve ser o mais destemido.
- Ah, que isso, Shiryu! – Levou a mão até o nariz, coçando-o enquanto ria. – Só me superei algumas vezes.
- Algumas? Muitas vezes! Parecia até que lutava por algo maior que Atena, por algo maior que a justiça... Parece até que lutava por amor. – Ikki tinha a intenção de deixar Seiya constrangido, e assim foi.
- Claro que foi por amor, Ikki. – Disse, corado. Era a hora!
- Ah é? E quem é a sortuda?
- Não é a sortuda... – Disse, engolindo a seco. Escaparia daquela com seu plano mestre. – Foram os sortudos. Todos daqui. Luto pelo amor que tenho pelos meus amigos.
- Sei... – Disse o Fênix, muxoxo.
Acabaram de jantar próximo à meia-noite e foram até a sala para o amigo secreto. Hyoga daria um presente para Shiryu, Shiryu daria um presente para Shun, Shun daria um presente para Ikki, Ikki daria um presente para Seiya, Seiya daria um presente para Saori e Saori daria um presente para Hyoga.
- Bem... – O loiro disse, fazendo todos se calarem e voltarem os olhos a ele, com um sorriso espontâneo. – Meu amigo secreto é alguém muito especial, que me acompanhou e me deu forças em várias guerras. – Entregou o presente a Shiryu, sorrindo.
O garoto abriu e viu um enxoval inteiro com roupinhas de bebês. Todas eram brancas, para que não houvesse problemas com o sexo do bebê.
- Mas... Shunrei nem está grávida. – Riu.
- Bem... Você me disse que planejavam ter um filho o mais cedo possível e o meu presente está aí.
- Obrigado, Hyoga! – Sorriu Shunrei, abraçando o garoto que amava.
- Não há de quê.
- Bem, acho que agora sou eu que devo presentear alguém, não é? – O dragão pegara o embrulho que estava ao lado de sua poltrona e estendera até Shun. – Parabéns amigo! Que continue com esse mesmo coração puro e essa mesma bondade para sempre. – Sorriu.
- Shiryu, amigo! Obrigado! – Desembrulhava o presente rapidamente. – Uau! Todos os discos do David Bowie!
- Nós podemos ser heróis só por um dia. – Ikki sorriu. – Ótimo presente, Shiryu.
- Vai gostar mais ainda do meu, irmão! – Deu o presente para ele, com a outra mão em seu ombro. – Espero que goste.
- Aí sim, Shun! – Sorriu. – Me conhece como ninguém mesmo. Uma passagem pra Ilha da Rainha da Morte. Obrigado. – Abraçou o irmão, num ato terno.
- Não foi nada, Ikki. Você tinha me dito que queria voltar pra lá, pelo menos por uns dias. Era minha obrigação dar esse presente pra você.
- Sou eu agora, não é? – Cruzou os braços, já com o presente no seu colo. – Pra você, Seiya.
- Obrigado, Ikki! – Abriu e viu um cartão postal. – Ah, você tá de sacanagem. – Disse, com a cara fechada. Todos riam.
- Ué, você que me disse que não queria nada de Natal! Ainda te dei um presente.
- Que belo presente hein!
- Ingratidão é o pior dos pecados, viu Seiya?
- Tá bom, tá bom. – Disse, com a expressão visivelmente brava. Fora trollado por Ikki em pleno Natal! Que safado. – O meu presente, diferente do de Ikki, é algo bom pra uma ótima pessoa. – Sorriu. – Pra você, Saori.
A garota corou ao pegar o presente. Seiya sorria com tanta delicadeza... Abriu, levemente, o pacote tão mal embrulhado. Diferente do presente.
- Puxa Seiya... – Olhava admirada para o lindo pingente que continha o cavalo de Pégaso. – Foi o presente mais lindo que me deram... O-Obrigada. – Sorria boba. Ainda deu um beijo na bochecha do jovem.
- D-de nada, Saori. – Disse, passando a mão em sua nuca. – Quer que eu coloque em você? – Sorriu.
- Seria muita gentileza, Seiya. – Entregou o pingente ao garoto, que olhava carinhosamente pra ela.
Todos olhavam admirados. Finalmente uma aproximação dos dois!
- Bem... – Disse, sorrindo. Estava visivelmente nas nuvens. – Agora eu vou presentear o Hyoga! – Como todos fizeram, pegou o presente e entregou ao garoto. – Feliz natal!
Era um belíssimo quadro do garoto com sua mãe, quando pequenos. Tinha uma pequena pedra de diamante em cada ponta. O garoto chegou a chorar.
- Nossa, Saori... – Disse, limpando o rosto. – Nem me lembrava dessa foto. Ficou mais bonita ainda com essa moldura. Muito, muito obrigado! – Sorriu.
- Bem, agora quero dar meu presente coletivo. – Disse Shiryu. – Venham comigo.
Guiou-os até o antigo quarto de seu mestre e acomodou-os na cama ou em uma das cadeiras por lá.
- Aqui. – Sorriu, soprando o livro empoeirado. – É uma espécie de testamento que o Mestre Ancião nos deixou. Inclusive, há histórias do passado. Da última reencarnação de Atena e Pégaso, pra ser mais específico.
- Como assim? – Disse o cisne, com os olhos arregalados. – Pégaso e Atena tinham ligações desde as épocas mitológicas?
- Hyoga... – Disse, abrindo a capa do livro. – Lembra-se quando Hades nos disse que um cavaleiro de Pégaso já havia o ferido uma vez?
- Lembro... – Batia o indicador no queixo, tentando lembrar-se de mais. – Por sinal, ele falou algo do garoto ter reencarnado no Seiya para derrotá-lo novamente, não foi?
- Exato. – Sorriu. – Atena e Pégaso tinham uma ligação... – Riu, olhando para Seiya e Saori, que estavam um ao lado do outro. – Digamos que tinham uma ligação forte demais.
- Como assim? – O moreno disse, segurando na quina da cama e levantando-se, surpreso. – Uma deusa e um cavaleiro... Juntos?
- Não era exatamente juntos, Seiya. Eles tinham um caso secreto. Ninguém aceitaria um relacionamento da Deusa com um cavaleiro, mesmo que esse fosse de ouro. Imagine então um de bronze! – Viu uma expressão triste brotar do rosto de Seiya. – Porém... Eles se amavam. Isso que importa e ficaram juntos, apesar das diversidades, não é? – Sorriu. – Assim como eu e Shunrei fizemos, assim como Hyoga e Freya estão fazendo... Uma pena certas pessoas não terem coragem, concorda?
- Ehh... – Resmungou Seiya.
- Bem, vou continuar.
Pegou o livro e começou a lê-lo.
"Caros cavaleiros de bronze,
Se estiverem lendo essa carta, é sinal que já não estou mais vivo e de que triunfaram sobre o Imperador do Inferno.
Antes de tudo, meus parabéns. Tenho certeza só foi capaz graças ao esforço e dedicação plena de vocês. Estou orgulhoso de todos vocês, principalmente de Shiryu, meu discípulo.
Mais de dois séculos se passaram desde a última guerra santa... Eu e Shion, antigo cavaleiro de Áries e mestre do santuário, fomos os únicos a sobreviver dessa tenebrosa batalha... Lembro-me da antiga Atena, Sasha, lançando o Misophetamenus em mim e dando as ordens para eu passar para Shion.
Além disso, conheci um jovem de coração puro. Seu nome era Alone. A antiga reencarnação de Hades. Digamos apenas que Shun é a reencarnação desse garoto. Ele era doce e muito bondoso. Não gostava de ferir nem mesmo a uma formiga. Foi peça chave para derrotarmos Hades, neutralizando-o. Porém a pessoa mais especial que conheci foi Tenma, meu discípulo. Lembro-me quando o conheci...
Estava tentando defender os garotos de seu orfanato de uma terrível enchente que os tiraria a vida. E assim fez... Queimou seu cosmo e destruiu uma pedra que bloqueava a passagem da água. Nunca vi coisa igual.
Além de tudo, era carismático e apaixonado. Crescera com Sasha e Alone, irmãos, em um orfanato. Algum tempo depois Sísifo levou-a de lá, deixando apenas os dois... Depois que a encontrou no santuário, passei a perceber que estava mais bobo e o fiz confessar de seus sentimentos. Eu, como um ótimo mestre, o disse o único jeito de ir até o templo de Atena sem passar pelas doze casas. Assim o fez.
Sua empolgação era visível... Maior ainda era a felicidade quando mantiveram contato regular. Quase todos os dias iam se encontrar. Sem Sísifo para vigiá-la, tudo ficava mais fácil, é claro."
Shiryu parou de ler por um instante, fitando os amigos.
- O que estão achando? – Sorriu.
- Incrível! – Shun disse, empolgado. – Mal acredito que estive presente na última guerra santa e ajudei tanto.
- Assim como na última, irmão. – Ikki bateu no ombro de seu único parente. Lembrou-se de quando controlou Hades por alguns instantes, pedindo a Ikki que o eliminasse. – Demonstrou muita coragem. Fiquei muito orgulhoso de você.
- Podemos continuar? – Disse o Pégaso, com um tom sério. Suas mãos estavam em seu colo e a atenção que prestava era enorme. Saori estava do mesmo jeito.
- Claro, podemos. – Shiryu sorriu. – Bom...
"Também me lembro de quando os vi em um momento tão romântico. Estavam na sala do mestre, conversando. Suas mãos estavam juntas. Olhando para Seiya e Saori, não haviam diferenças físicas e poucas eram as psicológicas. Acredito que até seus sentimentos em relação ao outro eram iguais. Não. Não acho, tenho certeza."
Todos os olhares voltaram para os dois, que estavam muito, mas muito constrangidos.
- Que foi, porra? – Seiya esbravejou. – Perderam o cu na minha cara? – Olhava feio para todos os amigos. Até Dohko sabia de seus sentimentos quanto a Saori. – Parem de olhar pra mim!
- Calma, cara. – Ria Ikki. – O Mundo não acabou só porque um morto acabou de revelar todos os seus sentimentos em relação à Saori.
- Cala a boca, Ikki! – Gritou, corado.
- Seiya... – Shiryu disse, calmo. – Posso continuar? Te garanto que as coisas ficam ainda melhores agora. – Sorriu.
- Tá, tá. Continua logo.
"... Porém o momento mais bonito que vi dos dois foi quando o peguei no flagra! Estavam se beijando e era simplesmente lindo. Kardia havia me falado de quando cuidara da garota, ainda pequena. Ouviu dizer para outra mulher que queria ver 'o menino que tanto significava para ela'... Um de seus desejos fora realizado. Acho que quase todos foram realizados naquele momento.
- Sasha... – Ele dizia, em meio a risos, segurando o queixo da garota. – Te amo tanto.
- Também te amo. – Disse, com uma face tão calma e feliz, enquanto encostava sua testa na do garoto. – Te amo muito.
Tenma pegou a mão da jovem e beijou-a docemente. Havia uma corrente de flores na mão dela, semelhante a do garoto. Estavam tão apaixonados..."
- Tá vendo, Seiya? Ele sim era um cavaleiro decidido! – O irmão de Shun continuava a provocar o moreno, deixando-o cada vez mais nervoso.
- Vai se foder, Ikki! – Disse, levantando o punho ao garoto. Saori o segurou.
- Seiya! – Disse. – Pare com isso. – Seu olhar era terno. Ah... Como era grande a felicidade do garoto.
- Gente, tá muito tarde. – Hyoga disse, vendo a hora em seu celular. – Devíamos ir dormir.
- Amanhã continuamos, então. – Shiryu disse.
- Certo... – Disse Saori. – Vou ir dormir no outro quarto, junto de Shunrei. Vocês dormem aqui. – Sorriu, levantando-se.
- Saori, espera! – Seiya levantou-se, apressado, e segurou a mão da garota. – Quero falar com você. – Deu um sorriso terno.
- C-certo, Seiya. – Retribuiu o sorriso, deixando-o conduzir para fora, de mãos dadas a ele. Os outros cavaleiros de bronze somente assobiavam e comemoravam.
- Aí sim, Shiryu! – Comemorava o cavaleiro da constelação de Fênix. – Que ideia genial!
- Eu sei... Sabia que tudo se acertaria hoje.
x-x
A Deusa e seu cavaleiro estavam sentados no pico mais alto de Rozan... Apenas eles dois. A lua cheia batia no Rio de lá, tornando o momento o mais romântico possível.
- Saori... – Disse, chegando mais próximo da jovem e colocando sua mão na costa da garota. – Eu...
- Não, Seiya. – Colocou as mãos nos lábios do garoto. – Não diz mais nada. – Apenas calou-o com um beijo.
O quão linda era aquela cena? A Lua, as estrelas e a calma água... Todos em torno de um único e inesquecível momento. A Deusa e o cavaleiro juntos, mais uma vez.
Continua...
Primeiro capítulo dessa fic nova, yeeey! /o/ Deixem reviews, por favor (:
