Se quiser

Estugou o passo para chegar em sua casa rápido; murmurando palavrões e xingamentos nada afáveis. Mesmo sendo rápido não conseguiu escapar da chuva, torrencial e forte. Correu para se esconder da chuva na casa mais próxima, a de Sagitário. Gritou a plenos pulmões para chamar o dono da casa, mas encontrou Shura babando no sofá, cercado de latas de cerveja e baldes de pipocas pela metade.

Sabia que o espanhol iria querer cortar sua cabeça fora, mas precisava conversar com alguém. Mas o único à mão era o sagitariano, saco! Certo, ele sabia que se abrir com Shura não era muito recomendado, visto que o espanhol não era lá muito sensível, mas fazer o quê...

Sacudiu o amigo pelos ombros, gritando o nome dele, para acordá-lo. Ele abriu primeiro um olho, depois fechou. Passou um tempo até abrir os dois, enquanto um fio de baba ainda escorria pelo canto da boca do espanhol. Respirando fundo, ele abriu a boca em um bocejo, perguntando:

- O que usted quer aqui, Miro? Não tá vendo que eu tô dormindo, porra? – é, o Shura é bem sociável mesmo...

- E preciso conversar com alguém, e como a chuva me isolou na sua casa, vai ser com você mesmo.

- Estoy muy contente com sua escolha – retrucou Shura, se espreguiçando como um gato – Mas estoy com sono, e no estoy a fim de hablar. Volta mais tarde.

- Shura, dá pra ser menos chato e tentar me ouvir? Eu estou com problemas – Miro se angustiou com a recusa inicial do amigo.

- Grande coisa! Y quando usted no está com problemas? – perguntou Shura, deitando de novo, voltando as costas para o escorpiano.

- Dessa vez é "o" problema...Shura, acho que eu tô apaixonado.

De um pulo, Shura levantou, caindo sentado em cima de um monte de pipocas.

- Como? Que estória é esa? Enamorado? Por quem?

- Essa é a pior parte – Miro suspirou – senta direito que eu vou te contar tudo...

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No fim da narrativa do escorpiano, Shura estava com a boca tão aberta que um trem podia entrar. Nunca ia imaginar que o peçonhento iria se apaixonar, e logo por quem! Se bem que os dois combinavam... Sacudiu a cabeça, como que para assimilar tudo. Por fim, disse:

- Se estás mesmo enamorado por el, tienes que dar um jeito de falar com el.

- Impossível! Ele nem mesmo nota que eu existo, Shura! (NA: como se fosse possível!)

- Pero tienes que tentar...Escucha, yo tenho uma idéia: que tal una serenata? Usted canta y yo acompanho com o violão. Aproveita que a chuva passou e pede pro Afrodite ramalhete de flores, que yo voy convocar o Aioros para nos ajudar com a cantoria. El tiene uma bela voz.

- Será que vai dar certo, Shura? – Miro estava cada vez mais nervoso.

- Há sempre a pequena chance de o impossível rolar, amigo – respondeu Shura, muito sério.

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Tudo armado, Miro seguia nervoso, com Shura e Aioros atrás dele, o espanhol com o violão nas mãos. As flores que Afrodite preparou estava divinas, com um aroma tão delicioso que deixava qualquer um inebriado.

Chegaram ao pórtico da casa de Aquário, Miro tremendo mais que criança com medo da mãe. Tentou voltar para sua casa, mas foi impedido pelos amigos. Respirou fundo, e começou a cantar:

Se quiser fugir

Pra qualquer lugar que for

Nem precisa me chamar

Tão perto que eu estou

Kamus estava sentando em seu quarto lendo Germinal quando ouviu a cantoria. Pesou que mais uma vez Miro e Shura estavam bebendo e enchendo o saco dos outros cavaleiros.

Mas seu medo de perder

Não te deixa me olhar

Esqueça o que passou

Que tudo vai mudar

O aquariano começou a se perguntar o porquê da música parecer tão próxima. De fato, parecia que estavam cantando embaixo de sua janela. Mas isso não era possível!

Agora eu posso ser seu anjo

Seus desejos sei de cor

Pro bem e pro mal você me tem

Não vai se sentir só, meu amor

Quando Kamus realmente se tocou que havia algo errado, correu para a porta de sua mansão. Qual não foi sua surpresa ao dar de cara com Miro, Shura e Aioros, os três cantando e o espanhol tocando violão!

Sempre que quiser um beijo

Eu vou te dar

Sua boca vai ter tanta sede de me tomar

Se quiser

Sempre que quiser ir as estrelas

Me dê a mão, deixa eu te levar

Miro estava de joelhos, com os olhos cheios de lágrimas contidas. Nem sabia mais o que estava fazendo; só sabia que se não fosse daquele jeito, essas palavras nunca sairiam.

Eu penso te tocar

Te falar coisas comuns

E poder te amar, o amor mais incomum

Não deixa o medo te impedir

De chegar perto de mim

O que aconteceu, ontem

Não vai mais repetir

Boquiaberto, Kamus estava pálido como um lençol. Aterrorizado, viu que outros cavaleiros desciam ou subiam as escadas correndo, para entrarem para o coro que cantava.

E desde então estar contigo

Seus desejos sei de cor

Pro bem e pro mal você me tem

Não vai se sentir só, meu amor

Se quiser

Miro deixou as lágrimas lavaram seu rosto, enquanto Aldebaran, Saga, Kanon, Mú, Shaka, Aioria, Afrodite e Máscara da morte também cantavam com ele, deixando Kamus cada vez mais emocionado.

Se quiser

Sempre que quiser um beijo

Eu vou te dar

Sua boca vai ter tanta sede de me tomar

Se quiser

Sempre que quiser ir as estrelas

Me dê a mão, deixa eu te levar

Miro se levantou e foi para perto de Kamus, que não conseguia mover nem um músculo. Ofereceu o buquê de rosas vermelhas, enquanto cantava.

Me deixa ser real, e te ajudar a ser feliz

Por que eu sou o seu fogo

Tudo o que você quis

Tudo que você quis

Kamus olhou para as flores, e sem dizer uma única palavra, as pegou, mantendo a mão de Miro na sua.

Sempre que quiser um beijo

Eu vou te dar( Eu vou te dar)

Sua boca vai ter tanta sede de me tomar (Sua boca vai, sua boca vai)

Se quiser

Sempre que quiser ir as estrelas

Me dê a mão, deixa eu te levar (2x)

A música nem bem tinha terminado, quando Kamus puxou Miro pela mão, o enlaçando enquanto buscava o beijo tão sonhado. A platéia foi ao delírio, ao ver o francês perder a timidez e beijar alguém em público.

De repente, Kamus se tocou que estavam na frente de todos os cavaleiros de ouro, e subitamente ficou rubro como um tomate. Sem a menor cerimônia, ele pegou Miro no colo, fazendo com que Afrodite tivesse um ataque de gritos histéricos, e levou para dentro da casa, enquanto gritava:

- Corja de alcoviteiros! Muito obrigado pela ajuda, mas agora eu faço o resto sozinho!

Dando gargalhadas, os dourados foram se retirando para suas casas. Shura, ao ir para sua mansão, ria e falava sozinho:

- Quem diria que yo soy um bom cupido? Creo que voy abrir un agência...


Espero que gostem!

A música que o Miro cantou é Se quiser, composição de Cláudia Rebello. Ah, e Germinal é um livro escrito por Émile Zola, um escritor realista muito reverenciado.