Esta fanfic foi feita por Juliana Yagami (rosenrot), como no ff. net não tem a opção de co-autoria, infelizmente todas as fics são postadas com o meu perfil.
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Saint Seiya (Os cavaleiros do Zodíaco) e todos os seus personagens pertencem a Masami Kurumada e a Toei e tem todos os seus direitos reservados
Sinopse
O Universo... Seus segredos e mistérios sempre povoaram o imaginário dos homens desde os primórdios da Terra. A observação dos astros se tornou uma ciência precisa, e através dela o homem definiu padrões dentro de uma lógica física traçada com minucias.
O amor... Seus segredos e mistérios sempre impeliram a humanidade numa busca solitária a tudo aquilo que ela almeja e idealiza, porém desconhece.
Mu é um fazendeiro humilde que aprendeu desde criança a observar e amar o Universo e seus astros. Porém, um em especial capturou o coração sofrido do ex-estudante de Astronomia, que desde cedo não fora poupado dos fardos pesados da vida na Terra.
Essa é uma história de amor entre Mu e Sirius A. A maior e mais brilhante estrela do céu.
Nota
Essa fic nasceu a partir de um sonho maluco que tive no domingo de Carnaval de 2016. Ele nada tinha a ver com Cavaleiros do Zodíaco, ou, se tratando de cosmos e estrelas, acho que tinha tudo a ver.
Dedico essa fic a minha amiga, sócia, companheira das madrugadas e cumplice de sonhos e loucuras, Amanda, que escreve junto comigo e que, mesmo tendo sido expectadora dessa fic, que surgiu inicialmente de uma vontade de lhe dar um presente especial, ainda assim me deu boas ideias, como sempre dá. Mon amour, é para você ^^ Obrigada por sempre estar a meu lado, me acompanhando nas loucuras e partilhando desse ship que, por sua causa, é o meu OTP forever.
**********cap 1****************
E lá estava ela. A sua luz de devoção.
— Sirius. Ela é a maior estrela do céu, e faz parte da constelação de Cão Maior. Sabia que ela pode... — falou, enquanto olhava para céu noturno, hipnotizado pelo brilho intenso e magnético do astro, até ser interrompido por uma voz infantil e doce.
— Pode ser vista de qualquer ponto da Terra. O senhor já me disse isso, pai. — respondeu o garoto de revoltosos cabelos ruivos e exóticos olhos violetas.
— Ah, mas aposto que não disse que ela está a 8,6 anos-luz da Terra, e que ela é acompanhada de uma anã branca, a Sirius B. — disse o jovem fazendeiro de longos cabelos cor de lavanda, voltando agora sua atenção para a bomba d´água da colheitadeira, a qual estava vedando com um pedaço de fita.
— Bom, pelo menos ela não fica lá em cima sozinha, né? — respondeu o filho sorrindo, mas logo deu lugar a uma expressão séria quando ouviu ao longe um trovão — Acho melhor o senhor deixar a sua estrela brilhar para outros olhos e terminar logo com a colheitadeira, pai. Acho que vai chover.
— Já terminei, Kiki. Amanhã eu troco de vez essa bomba. Anda, sobe ai e vamos terminar essa área antes do temporal. — respondeu Mu baixando a tampa da máquina e limpando os dedos sujos de graxa num pedaço de estopa. Subiu na cabine, entregou a lanterna para o filho e deu partida na máquina.
Fazer a colheita a noite era sempre mais tranquilo, já que pai e filho procuravam evitar o sol ao máximo, pois fora o astro rei o grande carrasco da família, quando seus raios fortes e invisíveis adoeceram a esposa de Mu, mãe de Kiki, a fazendo sucumbir frente um agressivo câncer de pele.
Porém, Mu tinha outro forte motivo para preferir trabalhar à noite. Sirius.
O Universo e seus segredos, o mistério do cosmos, as constelações e seus radiantes astros e as galáxias infindas, sempre povoaram o imaginário do jovem fazendeiro desde sua tenra infância, quando passava horas olhando para o céu a flertar com as estrelas, enquanto sua mãe preparava o jantar.
Quem lhe despertara essa paixão fora o pai, astrônomo de renome, porém aposentado por invalidez sob um diagnóstico cruel de senilidade aos cinquenta e oito anos. Dai em diante, Shion sucumbira rápido á doença neurológica degenerativa e os delírios passaram a ser mais frequentes e, além das saudades, deixara para Mu uma teoria maluca de que era possível se comunicar com os astros — "Só quem ama de verdade pode ouvir, Mu. Você ouve? Ouve o que elas dizem?" — dizia Shion, enquanto observava o céu ao lado do filho.
Aquele fora seu ultimo flerte com o Universo a partir da Terra, antes de sua partida derradeira.
— Eiii... pai! — Kiki chamava, cutucando Mu que comandava a colheitadeira parecendo aéreo — Está saindo do perímetro. Acho que você está cansado, melhor terminar amanhã.
— Ah, sim... desculpe. — respondeu o fazendeiro, engatando a marcha para dar meia volta. O milho já tinha sido boa parte colhido, mas ainda faltavam alguns alqueires — Eu me distrai. Estava pensando no seu avô. Vamos para casa.
A casa era simples. Era do avô de Mu, e quando Shion morreu ele e a mãe foram cuidar da fazenda e tocar o negócio do milho, pois a pensão que Shion deixara não era suficiente.
Mu chegou a entrar em uma faculdade de astronomia, mesmo a contragosto da mãe, a qual temia que a doença de querer conversar com as estrelas pudesse ter sido transmitida para o filho. Aflita, ela pedia todos os dias para que Mu abandonasse os estudos dos astros e seguisse com algo mais palpável.
Como que por capricho do cosmos e para a alegria de sua mãe, Mu conheceu uma garota na faculdade, namoraram e ela engravidou. Não se amavam, mas o jovem estudante de astronomia era muito responsável e não só assumiu a paternidade como se casou com a moça e largou a faculdade para se dedicar ao trabalho na fazenda e ao negócio do milho.
A vida do casal não era fácil e quando Kiki nasceu, Mu perdeu sua mãe para uma forte infecção nos rins. A esposa se foi cinco anos mais tarde.
Pai, mãe, esposa... Todos se foram, menos ela.
Ela sempre esteve lá, desde que tivera consciência de sua existência.
Forte, reluzente e imponente. Sirius.
A luz que aquecia as noites solitárias de Mu.
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto..."
— Pai, fecha a janela. Está frio! — pediu Kiki, que já sentia o nariz gelado por causa da brisa fria do inverno que entrava pela janela.
Nem o ar gelado do inverno americano, nem o calor latente das tardes de verão, tampouco a poeira densa do outono e os insetos em festa da primavera obrigavam Mu a fechar a janela de seu quarto enquanto Sirius ainda reluzia majestosa no céu.
Perdera a conta de quantas noites fora cativo de seu magnetismo hipnótico até cair no sono e, quando acordava, a primeira coisa que fazia era procura-la em seu posto.
Como se fosse impelido por uma disciplina militar, sempre se levantava antes que ela fosse engolida pelo horizonte, para lhe dar bom dia e lhe agradecer a companhia, já esperando ansioso pelo próximo por do sol, quando ela era a primeira a surgir no céu com seu rútilo divino lhe cumprimentando novamente.
Parecia loucura, mas durante o dia sentia ciúmes por aqueles que, como ele, a estariam namorando em seus turnos.
E como eram tristes as noites de chuva e céu nublado!
Mu experimentava uma melancolia que só se amenizava quando Kiki sentava em seu colo, na cadeira de balanço, e encostava a cabecinha em seu ombro. Nessa hora, o pequeno lia alguma historia para ele e Mu fechava os olhos, sentindo o perfume delicioso dos cabelos ruivos do filho.
Teriam as estrelas perfumes próprios também?
Shion por vezes lhe disse que não apenas cheiro, mas os astros também possuíam formas, texturas e sons próprios. Mas ele era um homem doente. Quisera Mu acreditar no pai, mas a ciência, a astrologia, a física e até mesmo sua própria lógica e razão lhe provavam o contrário.
Apegado a sua lógica, ou não, lá estava ele, flertando com Sirius, enquanto conferia os estoques de milho que deveria despachar no dia seguinte. Prendeu os longos cabelos fazendo um coque usando a caneta azul com que anotava os lotes, e foi empilhar as ultimas sacas, quando Kiki chegou para lhe chamar para o jantar.
O menino parou na porta do silo, vendo o pai de costas, e então se aproximou e apanhou a prancheta de anotações de Mu. Entre os nomes de clientes, exportadoras e cálculos matemáticos, lá estava ela, Sirius, desenhada em tinta azul e em todo seu resplendor. Suas irmãs menores a acompanhavam, formando a constelação e Cão Maior, mas apenas ela tinha destaque.
— É a Sirius? — perguntou Kiki apenas por curiosidade, pois já conhecia aquele aglomerado de estrelas como ninguém.
— Ah, oi filho. Fala do desenho? É sim. — disse Mu, jogando a ultima saca de milho em cima da pilha. Puxou um lenço do bolso da jardineira com o qual enxugou a testa.
— Pois saiba que ela está bem na frente da tabela do reajuste desse mês. — disse o ruivinho rindo — A sua estrela ainda vai nos dar prejuízo, pai.
Mu sorriu e então correu até ele e o pegou no colo, girando com o garoto no ar que ria da travessura do pai.
— Nunca! Olha só... Veja! — disse Mu, saindo para o lado de fora e apontando com uma das mãos, já que segurava Kiki com a outra, para o céu, para a constelação de Cão Maior — Como um astro tão lindo e imponente pode causar prejuízo? Sabia que as constelações servem de guias também? Muitos viajantes se orientam por elas, pelas estrelas.
— E alguns se desorientam, né pai. Como o senhor. — falou Kiki dando um croque na cabeça de Mu — Já passou das nove e o senhor nem tomou banho ainda! Estou com fome e o jantar está pronto.
— Deixa eu adivinhar... Pizza de hambúrguer! — disse Mu, colocando o pequeno no chão.
— Acertou!
— Ah, mal posso esperar! Vamos, vou tomar um banho de cinco minutos para gente degustar essa iguaria exótica e deliciosa que é especialidade do meu filhão aqui! — falava Mu, puxando Kiki pela mão.
Mas não foram muito longe, pois poucos passos depois, o menino dobrou os joelhos indo ao chão em uma crise de tosse tão violenta que fez Mu esquecer o jantar, o banho, e até mesmo Sirius A, para pegar a caminhoneta às pressas e partir como um raio até o hospital mais próximo, onde passaram a noite entre exames e diagnósticos imprecisos.
Como o céu se nubla repentinamente, anunciando uma tormenta não esperada, assim as idas repentinas ao hospital passaram a fazer parte da rotina de Mu.
"E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto."
O diagnóstico viera semanas mais tarde, duro como as secas que castigam a terra, implacável e voraz como as pragas que condenam a plantação.
Kiki tinha um tumor no cérebro, maligno e de difícil remoção. Porém, mesmo que tentassem uma intervenção cirúrgica, de nada adiantaria, pois além de deixar o menino com sequelas para a vida toda, o tumor havia sofrido metástase, atingindo os pulmões do garoto, por isso da tosse repentina e violenta.
A nova realidade de Mu, entre visitas apenas paliativas ao hospital, numa espera muda e impotente pelo cumprimento do destino de seu filho, era visível em seu rosto e em seu cotidiano.
A plantação secara a espera da colheita que não foi feita, e os muitos hectares de campo verdejante agora refletiam o interior do homem cujas mãos sempre fizeram brotar a vida.
Mu estava morto por dentro. Seus dias e noites se resumiam a velar o sono do filho na ânsia de não lhe deixar partir sozinho. Temia perder o ultimo piscar de olhos de Kiki, e assim, deixou tudo para trás, até seu flerte com a reluzente Sirius.
Suas noites se tornaram escuras como nunca desde então.
Foi no fim de uma crise horrenda de tosse, onde Kiki expelira tanto sangue pela pequena boca que tingira as mãos e a camiseta de Mu de vermelho, que o jovem fazendeiro pela primeira vez se entregou ao desespero e a angustia que lhe corroíam a alma e o corpo há semanas.
Esperou o pequeno se acalmar e quando ele dormia, Mu correu para a parte de fora da casa, se lançando contra o milharal seco numa jornada sem destino e sem propósitos, onde apenas seus passos desesperados, o choro e a dor lhe acompanhavam.
Até que, após se distanciar quilômetros da propriedade, se permitiu cair de joelhos ao chão, arqueou o corpo à frente e de mãos dadas a terra chorou. Seu choro cortava a noite como um clamor fantasmagórico. A dor impelida na alma fazia seu corpo todo sacudir em espasmos, soluços e gritos, e em sua mente uma única pergunta se formava: Por quê? Por que Kiki? Por que sua mãe, sua esposa, seu pai? Por que todos a sua volta tinham que perecer? Por que ele não? Seria alguma maldição ou peça do destino? Por que ele estava fadado a viver sozinho?
Sentiu ânsia vomitando ali mesmo e meio débil e zonzo, jogou o corpo para trás, caindo de costas, de olhos fechados sobre a terra, com os braços abertos em paralelo, tentando controlar a respiração e o enjoo, até que abriu os olhos e lá estava ela.
As lágrimas escorriam pelas têmporas molhando seus cabelos, mas já não soluçava mais, não respirava com dificuldade, não tinha espasmos nem tremores. Seu choro agora era contemplativo, pois até em meio ao horror de sua triste realidade, Sirius lhe fazia chorar tamanha era sua beleza.
Ali, na fazenda, não havia as perturbadoras luzes da cidade que tiravam a magia do céu estrelado, por conseguinte, o véu da noite lhe cobria com todo seu esplendor e, em destaque absoluto, estava ela.
— Você também é tão sozinha... Eu sei... Eu sinto. — disse em voz alta, pois ali ninguém o julgaria louco por falar com estrelas — Assim como eu... aqui na Terra, você ai está rodeada por presenças mudas... Sirius... Deixe meu Kiki ficar ao seu lado, para que eu possa olhar para ele todas as noites... como olho para você... e para que eu possa amá-lo mesmo a distância... como eu... amo você...
A voz era em tom de suplica. Os olhos parados eram fixos nela, que mesmo a 8,6 anos-luz de distancia se refletia majestosa nas retinas do jovem fazendeiro, que sem piscar a encarava como um amante apaixonado olha para sua amada, até que um clarão repentino se fez no céu, obrigando Mu a não só fechar os olhos de repente como também protege-los colocando as mãos à frente do rosto.
Somente quando o clarão se dissipou foi que Mu rapidamente abriu os olhos e se levantou do chão. Seu coração batia frenético, suas lágrimas secaram com o susto e confuso, ele passou a andar pelo milharal meio desorientado, até que finalmente olhou para cima, para ela, mas justamente nessa hora seu coração falhou uma batida.
Sirius não estava no céu.
