Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens não são de nossa autoria. Esta é apenas uma obra sem fins lucrativos como forma de entretenimento e informação.

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Milagres da Vida

Ao longe, via-se um pequeno e franzino vulto ajoelhado perante a imensa estátua de pedra. No céu, o tom vermelho-sangue misturado a outras nuances típicas do entardecer, davam um forte clima de melancolia à imagem. Cabisbaixo, o indivíduo fazia uma prece. Como sempre, deixou uma discreta lágrima percorrer sua face e depositou flores aos pés do monumento. Uma obra feita pelos deuses como prova do quão cruéis estes poderiam ser: a estátua de pedra aprisionava a alma dos cavaleiros de ouro, injustamente condenados por atentar contra a vida dos deuses.

– Cavaleiros, desculpem-me. Não fui capaz de ajudá-los, mas eu continuarei tentando. Não vou descansar enquanto estiverem presos aqui... Eu prometo! – declarou a figura esguia que se levantou novamente. Voltaria para casa na certeza de ter sido tudo em vão.

Num rompante, a escala típica do entardecer deu lugar ao misto de cores: escarlate, púrpura, preto e a variação da combinação destes. Um redemoinho de nuvens chamou atenção do ser que ali estava. Dele, saiu uma bela fresta de luz azulada pela qual descia um vulto trajando imponentes e longas vestes brancas. Não era um anjo. Seu cosmo denunciava agressividade e seu traje era tipicamente grego. Manteve o rosto oculto sob o capuz e deu início ao diálogo.

– Atena... Sou Zeus, o senhor de todos os deuses e vim porque me preocupo com o destino de toda a humanidade. Pior, de todos os deuses do Olimpo.

– Se veio até mim, significa que algo muito grave está acontecendo. Contudo, não percebi nenhuma movimentação estranha nas estrelas.

– Poucos sabem dessa verdade, mas, como conta a mitologia, Hades teve um filho com Heinstein, a filha de Leda e Tíndaro, reis de Esparta. Este menino está destinado a protegê-lo de todos os perigos. A cada Guerra Santa, ele renasce dotado de uma força descomunal e disposto a tudo para garantir a saúde e o bem estar do Senhor do Mundo dos Mortos.

– Mas a guerra contra Hades já foi definida a meu favor e em nenhum momento nos deparamos com este ser.

– Engana-se. Assim como acontece contigo, o filho de Hades nasce em um corpo aparentemente humano e pode ter uma vida normal. Aos poucos, ele vai despertando naturalmente. Na última Guerra Santa, esta entidade era Kagaho de Benu, um dos espectros de Hades. Desta vez, surgiu como um de seus guerreiros e posso garantir que continua vivo, mas inconsciente de sua verdadeira natureza.

– Não pode ser... Quem é?

– Você é a Deusa da Sabedoria, saberá reconhecê-lo.

– Entendo. – declarou pensativa. Algo ainda a incomodava naquela história. – Mas... Por que me diz isso?

– O rapaz é tão poderoso quanto qualquer deus olímpico e você é a única capaz de detê-lo. Principalmente agora, que Hades encontra-se debilitado.

– Hades não morreu? Meu báculo atravessou o corpo dele...

– Ele é o senhor do Mundo dos Mortos, o mais imortal de todos nós. O corpo dele desapareceu diante de seus olhos porque eu decidi transportá-lo ao Olimpo com a minha telecinese. Felizmente, você o deixou em grave estado de saúde e estou conseguindo atrasar a recuperação, mas não poderei continuar com isso por muito tempo.

– Gostaria de poder ajudá-lo, mas meu exército foi praticamente dizimado. Só me restam duas amazonas de prata e alguns cavaleiros de bronze. Pelo que você afirma, é dentre eles que está o suposto filho do Hades. O indivíduo que trará a origem do Mal à tona.

– Foi por isso que vim até você. Estou disposto a reviver seu exército, mas terá uma condição.

– Que condição? – perguntou a desconfiada Atena.

– Os cavaleiros de ouro, a elite do seu exército, deverão provar que servem à justiça, têm força, coragem e um bom coração. Só assim estariam qualificados para combater o inimigo.

– Como eles podem dar-lhe esta prova na condição em que se encontram?

– Durante um ano devolvo a liberdade aos seus adorados protegidos, mas sem os poderes de cavaleiros. Assim, evitamos conflitos com outros deuses que, mesmo estando a par da situação, não confiam em humanos. Se ao findar do prazo seus guerreiros provarem que merecem a vida e o título de guerreiros honrados, devolverei suas forças, seus cosmos. E então? – perguntou, estendendo a mão.

– Acho justo. – apertou a mão de Zeus e firmou o acordo. Embora achasse arriscado, sabia que talvez esta fosse a única forma de ajudar os cavaleiros a, pelo menos, descansar em paz. – Contudo, gostaria de saber o que você tem em mente para fazer o que me propõe.

– Todos os cavaleiros de ouro terão a chance de voltar à vida ou descansar em paz. Escolhendo a primeira opção, ressurgirá como um humano comum. Escolhendo a segunda, desistirá do título de cavaleiros e será dado como morto.

– Pelo que eu lhe conheço, creio que aqueles que voltarem à vida terão alguma tarefa, certo?

– Exato! Com exceção de Aiolos, o cavaleiro de Sagitário desta geração que está morto há muitos anos, todos os demais voltariam na forma em que morreram. Por isso, escolhi uma tarefa complexa, mas não impossível: aqueles que regressarem cuidarão de crianças com algum tipo de paralisia cerebral e, ao final de um ano, devem mostrar que, mesmo estando sem poderes, são capazes de executar pequenos milagres.

– Hum... é uma desafio interessante. Mas... tenho duas dúvidas.

– Pode falar.

– Primeiro... Você falou em Aiolos. Se ele decidir voltar à vida, qual seria a sua aparência ou condição? Segundo... o que aconteceria àqueles que não cumprissem sua missão?

– Com relação a Sagitário, devo afirmar que ele aparentará a mesma idade que teria caso não tivesse morrido, mas terá problemas de locomoção. Todos os músculos de seu corpo ficaram atrofiados por falta de uso, além disso, ele crescerá um pouco. Por isso, se ele resolver voltar, sua condição para permanecer como cavaleiro de ouro é a recuperação completa de seus movimentos no período de um ano. Com relação ao não cumprimento da missão, o fracassado perderá, para sempre, a memória, o cosmo de cavaleiro e você então estará liberada para selecionar novos combatentes.

– Se são estas as condições, pode dar início aos seus planos. Confio em meus cavaleiros e sei que, independente de quantos resolverem voltar, todos sairão vitoriosos dessa batalha.

– Atena, você assumirá a responsabilidade de tudo o que acontecer na Terra caso a verdade sobre o filho de Hades venha à tona.

– Não se preocupe. Estou pronta para assumir este fardo.

Zeus respondeu com um aceno positivo de cabeça e, da mesma forma que se apresentou, sumiu diante da jovem. Como Saori, a jovem sabia que seus amigos teriam uma longa e árdua jornada pela frente. Como Atena, deveria prepará-los para enfrentar o próximo oponente, evitando conflitos internos antes de descobrir a identidade do suposto traidor. A primeira pista havia sido lançada: era um poderoso cavaleiro de bronze sobrevivente às inúmeras guerras. A menos, claro, que sua consciência estivesse tão adormecida que ainda não havia demonstrado todo seu poder... Era preciso investigar, urgentemente!

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Aiolia abriu os olhos devagar. Ainda podia sentir o cosmo terno de Atena dizendo que ele e seus companheiros voltariam à vida. Ajeitou-se melhor na cama e observou que até o seu leito os cavaleiros encontravam-se na ordem zodiacal, cada um em suas camas, repousando. Sentiu a ausência de Dohko ao seu lado. Olhou para frente e viu a outra seqüência de camas onde Shaka, de frente para Mu, principiava a continuidade zodiacal.

Depois de Shaka havia apenas um leito vazio que julgou ser de Milo. O escorpiano estava sentado à sua frente, adormecido numa poltrona perto da cama de Camus. Sorriu ao ver os dois juntos. Aquário tinha uma expressão de incrível paz no rosto geralmente frio. Já Escorpião, mesmo dormindo, continuava segurando firme a mão do francês. Aparentemente, tinha medo de perdê-lo novamente. Mesmo assim, o grego sustentava um sorriso sincero em seus lábios, um sorriso que o leonino não via no rosto de Milo desde que o outro se fora na Batalha das Doze Casas. Embora o escorpiano nunca houvesse assumido seus sentimentos, Aiolia havia acompanhado de perto o sofrimento de seu amigo e sabia que agora poderia vê-lo realmente feliz.

No grande quarto, ainda haviam mais 3 camas onde repousavam seus companheiros e... "Não, não é possível!", pensou consigo mesmo diante da figura deitada entre o leito vazio de Milo e o leito de Shura. Sorriu incerto ao perceber não estar sob o efeito de uma ilusão. Lembrou-se que Atena havia dito que os doze cavaleiros retornariam à vida, e perguntou-se, internamente, onde estava Dohko. "Talvez esteja em outro cômodo, um pouco mais ferido e recebendo tratamento especial.", respondeu, dando de ombros.

De uma forma egoísta, pensou que aquilo não importava. Tudo o que queria era se aproximar do aparentemente longínquo leito para ver melhor aquilo que seus olhos custavam a acreditar, mas que seu coração implorava para ser verdade. Levantou com bastante dificuldade da cama e, um pouco titubeante, percorreu devagar o pequeno percurso até leito em questão, algo que lhe pareceu levar uma eternidade. Temia estar sendo vítima de uma miragem, mas não descansaria até conseguir identificar o homem deitado ao lado de Shura. Chegando bem próximo à cama, deixou o corpo cair na poltrona ao lado da cama e fitou o rosto de seu ocupante. Uma emoção intensa percorria seu corpo, sentia-se realizando um sonho que julgava impossível. Não podia mais controlar seus sentimentos.

Tocou o rosto moreno do homem deitado à sua frente e deixou as lágrimas correrem fartas pelo próprio rosto, molhando a face do outro. Ao sentir o líquido quente em si, o homem outrora adormecido pareceu entender o que acontecia. Ele o havia encontrado! Mesmo sem cosmo, percebeu a agitação na alma do leonino e abriu os olhos lentamente. Aiolia viu as conhecidas orbes esverdeadas, com a mesma expressão amorosa que lhe era tão familiar e intensificou seu pranto. Em resposta, o homem delicadamente tocou o rosto e tentou secar as lágrimas do visitante, mas elas não pareciam querer cessar. Segurou, então, a mão de Aiolia e falou mansamente, sentindo seus olhos também umedecerem.

– Aiolia, não precisa mais chorar. Estou aqui e não pretendo deixar-lhe novamente sozinho. Tenho tanto orgulho do homem que se tornou... Eu te amo muito, irmãozinho.

Aiolia tentou responder, mas as palavras simplesmente não saíam. Puxou o irmão para um abraço intenso e mudo, pois não haviam palavras para descrever o que sentia. Aiolos estava novamente ao seu lado e assim permaneceria eternamente. Jurou por sua honra que nunca mais permitiria que alguém o machucasse novamente. Ninguém os separaria. Jamais!

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Shaka acordou. Abriu lentamente os olhos azuis muito claros. Mantinha sua calma habitual. Rapidamente, reconheceu o ambiente hospitalar pouco convencional para os padrões ocidentais e teve a certeza de estar num local construído pela fundação de Saori Kido. Olhou para os lados e viu seus companheiros. Sorriu. "Atena nos salvou. Não sei como ela conseguiu este milagre, mas estamos salvos. Todos estão aqui, exceto Dohko, que talvez tenha preferido descansar.", afirmou consigo ao notar o leito vazio ao lado daquele onde devia estar Aiolia. Olhou para a primeira cama, aquela imediatamente à frente da sua e fitou Mu, que dormia tranqüilamente. Abriu mais o sorriso por saber que ele estava ali, em segurança, e sentiu os olhos lacrimejarem.

"Mu... sei que sofreu muito nesta batalha. Desde o início pude sentir a dor em seu cosmo. Nós somos assim: mesmo distantes sabemos o que o outro está sentindo. Notei a confusão em seu cosmo, um misto de felicidade e pesar ao rever seu mestre. Presenciei um de seus raros momentos de fúria quando matou Máscara da Morte e Afrodite e percebi que seu coração também chorava lágrimas de sangue quando disse que enfrentaria Shion. Felizmente, Dohko impediu o confronto, mas eu sei que você não hesitaria, pois sua honra é tão grande quanto o amor que sente por ele."

"Também sofreu muito com a morte de Aldebaran, pois sei que são grandes amigos. Ele foi o companheiro que não fui quando acreditava que era um traidor, mas disseste que me perdoava por isto. Você sempre me perdoa, não é? Perdoou-me e compreendeu quando morri na sala das árvores gêmeas. Imagino a sua dor, pois sentiria o mesmo se você partisse. Pôde sentir quando Saga entregou-lhe meu rosário? Sentiu todo amor que tenho por você e toda a dor que senti em deixá-lo?"

"Acho que você já desconfiava que Shura, Camus e Saga não eram traidores. Creio que compreendeste antes de todos nós, pois além de ser reconhecido como o mais sereno dos cavaleiros, em minha opinião também é o mais sábio. E bondoso também. Já perdi a conta de quantas vezes salvou os garotos de bronze, além de cuidar do Kiki, aquele nanico irritante. Você odeia que eu o chame assim, né? Gosta do moleque como se fosse seu filho e o admiro por isso. Sei que ele também ficará feliz em revê-lo, mas não tanto quanto eu estou agora, pois te amo mais do que tudo."

Shaka vê Mu abrindo os olhos, como se fosse responder-lhe aos seus comentários internos. A perfeita conexão entre eles era intensificada pelo desenvolvimento da intuição de ambos. Por isso não precisavam de palavras para comunicar-se, apenas de um olhar. Ao encontrar-se com os orbes verdes do ariano, Virgem não consegue segurar as lágrimas, mas mantêm o sorriso em seu rosto angelical. "Não se preocupe Mu, estou a seu lado e não permitirei que sofra novamente."

Todavia, o que Shaka não sabia era que a felicidade de Mu não estava totalmente em suas mãos, pois há coisas que fogem ao controle dos homens. Mesmo do homem mais próximo de Deus.

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Em seu leito, Camus sentiu sua mão sendo delicadamente apertada por alguém e, um pouco inseguro, abriu os olhos. Não demorou a reconhecer seu melhor amigo desde a mais tenra infância. Sorriu serenamente, lembrou-se dos momentos amistosos e, delicadamente, acariciou os cabelos dourados.

Assustou-se com o rápido despertar do grego. Ainda não haviam tido oportunidade de conversar de forma adequada, ainda não tinha certeza de que o outro o perdoara por ter se transformado num assecla de Hades. Camus abriu a boca, mas faltaram-lhe palavras. Julgou-se covarde e olhou em direção ao leito de Shura. Lembrou-se de seus pecados recentes, reagiu como se as mãos de Milo houvessem lhe dado um choque e sentou-se na cama.

– Camus, acalme-se, por favor! Você está bem agora. Todos estamos... – ouviu a suave voz do defensor da oitava casa, tentando confortá-lo.

O francês abaixou a cabeça e deixou a emoção eclodir naturalmente, em público. Sua garganta estava trancada e, pela primeira vez desde que se lembrava, teve uma crise de falta de ar. Evidentemente, era obra de seu nervosismo latente. Chorou, como há muito não fazia, e deixou o amigo abraçar-lhe. Estranhamente, precisava daquele toque.

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Saga revelou seus orbes azuis, agora sem brilho. Ainda sentia-se culpado pelo sofrimento de muitos que ali estavam. Como um castigo, ouviu novamente o choro do jovem Aiolia, lembrou-se de seu sentimento por Kanon e recriminou-se por ter deixado se dominar pelo seu lado maléfico, mandando matar Aiolos. Sentou-se discretamente, sem chamar atenção e com surpresa e apreensão, constatou a presença do sagitariano na cama à sua frente.

Sentiu o coração disparar, a mão ficar gelada e a boca seca. Não, não era o famoso sintoma de uma paixão, mas sim do nervosismo causado pelo peso de todos os crimes cometidos. Levantou-se e, a passos torpes, seguiu até os pés de sua própria cama. Apoiou-se no colchão, ajoelhou-se da melhor forma possível e, num gesto de subserviência, deixou a cabeça pender para frente.

– Aiolos, não sou digno de lhe dirigir a palavra, mas... Peço-lhe perdão por tudo o que aconteceu no passado. – afirmou com toda a sinceridade e não se importou quando percebeu que virara o centro das atenções.

– Canalha! Como ousa? – perguntou um agressivo Aiolia. O cavaleiro de Leão ainda não confiava em Saga e, por isso, não o perdoava. Talvez, nunca o fizesse. – Você nos enganou uma vez, mas não o fará novamente.

– Aiolia, acalme-se, por favor. – Aiolos pediu num tom sereno, tocando-lhe o ombro.

– Não vou ficar indiferente a esse monstro, Aiolos. Ele mandou matá-lo e alegou que você era um traidor. Todos acreditaram, inclusive Shura que o atacou covardemente. Fui obrigado a reconhecer seu corpo e a enterrá-lo sozinho, sem nenhuma glória, tal como um indigente qualquer. Com o tempo, também acreditei nessa farsa e aprendi a odiar meu próprio irmão, meu próprio sangue. Sabe como é difícil para uma criança? – perguntou, aos gritos. – Não satisfeito, usou o Satã Imperial em mim quando descobri a verdade. Matei um inocente nesse dia e, por muito pouco, não fui o responsável pela morte do Seiya. Eu nunca mais vou confiar nesse demônio!

– Aiolia, tudo o que acaba de falar é a mais pura verdade, mas... Há algo que você deve saber.

– Não adianta vir com sua verborragia, Saga. Você não vai chegar perto do meu irmão novamente. Se tentar, eu mesmo o mato, ouviu? – ameaçou o leonino.

Saga fechou os olhos. Não tinha mais lágrimas para chorar, pois seu peito estava vazio. Aiolia poderia continuar o humilhando, ele merecia, mas Shura... Capricórnio também era inocente. Matou por estar possuído pelo Satã Imperial, uma técnica que o cavaleiro de Gêmeos obrigou-se a usar quando percebeu que o espanhol desconfiava da verdade. Todos precisavam saber disso!

– Saga... – sussurrou Sagitário. Apesar de tudo o que acontecera, ele já o havia perdoado. Tentou levantar-se e ir em direção ao geminiano, mas percebeu que seu corpo não obedecia aos seus comandos. Algo dera errado! – Saga, por favor, aproxime-se.

– Aiolos, não faça isso!

– Eu sou seu irmão mais velho e faço o que eu bem entender. Se quer tanto saber, já o perdoei e você deveria fazer o mesmo. Carregar mágoa no coração só trará mais sofrimentos. Saga errou, reconheceu seu erro e acabou de se redimir publicamente, provando ser um grande homem. Por tudo isso, se meu corpo me obedecesse, já teria saído da cama para abraçá-lo.

– Como assim, se o seu corpo lhe obedecesse? Você está se movimentando...

– Sim, estou, mas com limitações. Sinto-me estranho, não consigo sequer sentar sozinho. É como se eu tivesse perdido a força e parte dos movimentos.

– Deve ser a atrofia muscular. – afirmou Saga. – Também estou me sentindo um pouco enferrujado.

– Por mim, você poderia ficar aleijado. Seria um grande benefício à sociedade e o melhor castigo depois de tudo o que fez, mas Aiolos sempre lutou pelo bem e pela justiça. Bem diferente de certos traidores vis. Portanto, seu caso não tem nada a ver com o do meu irmão. – afirmou o leonino.

– Está enganado, Aiolia. – afirmou Shura, levantando-se de sua cama. – Nosso caso tem tudo a ver com o do Aiolos. Como todos sabem, eu, Saga, Camus, Máscara da Morte e Afrodite morremos cerca de um ano antes da Guerra Santa. Durante todo este tempo nosso corpo ficou enterrado, imóvel. Por isso, tivemos dificuldades durante as lutas quando voltamos como espectros de Hades, por isso estamos com os movimentos mais torpes que o restante. Nossos músculos atrofiaram.

– Acha mesmo que vou acreditar em um maldito traidor como você? Um idiota que não sabe distinguir uma falseta da verdade?

– Cale-se, Aiolia! Você não sabe nada... Shura não é um traidor. Shura nunca acreditou em mim, pelo contrário. Eu fiz tudo. Eu sou o culpado por tudo e você tem razão. Eu merecia estar preso a uma cama, no lugar do Aiolos. Sou mesmo o monstro que alegou...

– Saga, por favor, releve as besteiras que meu irmão acabou de dizer e vamos superar tudo isso. Se for apenas atrofia muscular, tem cura. Basta ter um pouco de paciência e caprichar no tratamento, concorda? – perguntou Aiolos, num gracejo divertido. Sabia que não seria fácil ter que depender dos outros, mas, se estivessem certo, seu quadro era reversível e ele se esforçaria para curar-se rapidamente.

Saga elevou a cabeça, um pouco impressionado com o bom-humor do sagitariano. Shura apenas olhou na direção dele e, aos poucos, todos aqueles que ainda permaneciam deitados, pareceram finalmente despertar. Aldebaran foi o primeiro a ficar em pé. Sem nada dizer, Touro andou em direção ao cavaleiro de Gêmeos, abraçou-lhe de forma apertada e alegremente afirmou que agora eram amigos.

Máscara da Morte pareceu indiferente ao que acontecia e só alterou a expressão no momento em que viu Afrodite aproximar de sua cama. O pisciano olhou de forma reprovativa para Aiolia, sentou numa poltrona ao lado da cama do italiano e ignorou o restante. Mu, ainda perturbado com a ausência de seu mestre, também demonstrou reprovação nas palavras e atitudes de Leão.

Shaka levantou-se, caminhou até Saga, esperou Aldebaran afastar-se e colocou a mão no ombro dele. Murmurou um "Levante-se!" e então dirigiu-se à cama de Mu, com quem iniciou uma conversa serena, em tom praticamente inaudível. Aiolia sentiu-se incomodado com os olhares e gestos reprovativos, mas não saiu do lado do irmão e não sairia. Aiolos, por sua vez, só pensava em motivos para sorrir. Estava novamente vivo, poderia voltar a ficar ao lado do caçula e todos agora estavam cientes de sua inocência. Saga levantou-se, encarou Shura num mudo pedido de desculpas e voltou a sentar-se em sua cama tão logo este meneou afirmativamente com a cabeça.

E foi nesse clima de confronto de sentimentos que, como por mágica, a jovem Saori adentrou o quarto. Trajava um pomposo vestido branco e apresentava a serenidade e altivez que só a verdadeira deusa Atena poderia ter. Com exceção de Aiolos, todos os demais pararam o que estavam fazendo para cair de joelhos e reverenciá-la. Saga chorou copiosamente.

– Levantem-se, por favor. – pediu a garota, que foi prontamente atendida. Ela caminhou até o geminiano e estendeu-lhe a mão com um largo e confiante sorriso. Ele levantou-se e parou de chorar no momento em que percebeu o sofrimento nos olhos esverdeados. Mesmo sem contar com o seu cosmo, sabia que algo incomodava a garota e a deixava extremamente entristecida. – Creio que todos já saibam que foram revividos graças à bênção de Zeus para cumprir uma missão especial.

– Atena, não se deve confiar nas palavras de Zeus. – Shaka alertou um pouco preocupado com o preço a ser pago por aquele capricho.

– Você tem razão, Shaka, mas desta vez há interesses por parte do Olimpo. Ainda não posso revelar o motivo, mas tenha certeza que ele não teria tomado uma atitude drástica se houvesse um meio de intervir. Zeus pediu a minha ajuda, declarou que sou a única capaz de deter o próximo inimigo e os libertou daquela prisão de pedra sem o poder de cavaleiros. Será assim durante um ano para evitar que os deuses se revoltem contra nós e haja uma nova Guerra Santa.

– Então, durante este ano, nós seremos como humanos normais.

– Exato Aiolos. Contudo, para que ele devolva seus poderes, vocês deverão provar seu valor como guerreiros da paz; cuidando de crianças portadoras de necessidade especial. Conforme a evolução da criança, vocês serão novamente agraciados com o título de cavaleiros de ouro.

– O QUÊ? – perguntaram assustados.

– Mas... Athena, e se um de nós não conseguir? – perguntou Aiolos, tentando inutilmente levantar-se. – Eu... eu não estou em condições de cuidar de crianças.

– Seu caso é diferente, Aiolos. Pelo visto, já percebeu que está sofrendo com um tipo grave de atrofia muscular. Zeus o havia previsto. Por isso você terá, apenas, que cuidar de si mesmo e será avaliado pelo resultado da sua evolução.

– Quer dizer que o meu irmão corre o risco de ficar deficiente por causa do Saga? – perguntou o furioso leonino, interrompendo o discurso da deusa.

– Aiolia, não acuse Saga. Ele errou, mas foi perdoado. Quanto ao Aiolos, não precisa se preocupar. Seu irmão irá recuperar-se totalmente, mas, como todos os demais, se não conseguir um bom desempenho durante este ano, voltará a viver como humano normal e perderá todas as memórias do tempo em que era cavaleiro de ouro.

– Entendo e acho justo. – respondeu Sagitário, dando continuidade antes que houvesse uma nova interferência. – Atena, onde estão Shion e Dohko? Eles também foram ressuscitados?

– Embora Shion não seja um cavaleiro de ouro, recebeu a proposta, mas preferiu descansar em paz, junto ao Dohko. No momento, Shiryu de Dragão ocupa o cargo de Grande Mestre, Shun de Andrômeda protege a casa de Virgem, Ikki de Fênix a casa de Leão, Hyoga de Cisne a de Aquário, Kiki a de Áries, Marin de Águia a de Touro e Shina de Cobra a de Escorpião. Seiya encontra-se em coma. Quanto às demais casas, estão sendo protegidas por aspirantes ou pelos demais cavaleiros de bronze que sobreviveram às guerras.

– O quê? Não acredito que há outra pessoa na casa de Peixes. Isso é um absurdo! Duvido que esteja cuidando dos meus jardins como eu cuidaria. – esbravejou o sueco.

– Afrodite de Peixes, por favor, acalme-se. Ninguém está mexendo nos objetos pessoais de vocês, eles apenas ficam a postos para proteger o Santuário de ataques externos. Além disso, como humanos normais, nenhum de vocês conseguiria sequer chegar à casa de Virgem; quanto mais a de Peixes. Para voltar a usar o cosmo de cavaleiro de ouro, não poderão sair daqui enquanto não terminar o período de avaliação. – informou a jovem Athena.

A discussão prosseguiu com dúvidas esclarecidas, opiniões pessoais de alguns e troca de experiência mútua. Alguns não se conformavam, outros achavam o desafio interessante e haviam aqueles, tal como Mu de Áries, que estavam alheios a tudo o que era dito. O tibetano havia concentrado-se, apenas, na afirmação de que seu mestre havia desistido da vida, desistido de ficar ao seu lado. Talvez essa fosse a prova definitiva de que Shion realmente tinha vergonha de si ou que não aprovasse sua companhia. Seu peito estava vazio, pois havia sido abandonado pelo próprio mestre, o próprio "pai".

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Já no Olimpo, Zeus assistia a tudo com um belo sorriso de satisfação. Seu plano era muito mais complexo do que Atena imaginava. Conhecia a atual reencarnação de sua filha, sabia que, tão logo esta desse início à investigação, todo o seu exército ficaria a par da existência de um traidor entre os seus. Bastava plantar as pistas certas e, logo, não restaria nenhum guerreiro apto para defender a Terra, pois os poucos sobreviventes iriam destruir-se para matar o filho de Hades. Além disso, não acreditava que os cavaleiros de ouro pudessem superar seu orgulho próprio para enfrentar o desafio lançado por ele. Seria só questão de tempo para ter o domínio da Terra e, assim, transformá-la num local apropriado para a expansão de seu império.