Capítulo1- Olhares pensantes

O cretino do Padfoot está olhando pra minha cara. Eu sabia que ele ia olhar, conheço demais esse infeliz... Odeio quando ele faz isso, e logo desse jeito totalmente indiscreto. "Pára com isso!"-ordenei, rosnando por detrás do meu suco de abóbora. Ele ergueu pra mim aquele sorrisinho insolente:

"Eu não fiz nada!" - disse, fingindo inocência, que é certamente uma coisa que ele nunca teve. Eu, é claro, retruquei em tom monótono "Você sabe que está me infernizando com essa cara babaca de 'olha só quem sentou do seu lado'!" - Sirius sorriu, cruzou os braços e sussurrou de volta "Mas não é intrigante?". Eu dei de ombros, o desprezando, mas Merlim sabia o quanto eu achava tudo aquilo incrivelmente intrigante.

Olha, pra falar a verdade era muito mais do que isso: o que acabava de acontecer ali no Salão Principal – mais especificamente na nossa mesa da Grifinória– ia contra todas as leis lógicas da natureza! Eu mal podia raciocinar, estava descrente, estava perdendo todo o controle sobre meu corpo e hormônios...

"Respire fundo chifrudinho, antes que ela perceba!"- murmurou Sirius, o cara menos discreto que eu conheço. "Vai se ferrar!"- eu retruquei, com medo de que ela ouvisse, o que era muito provável visto que ela estava sentada ao meu lado... Hei, espere um momento, eu já expliquei que era esse o acontecimento magistral que estava acontecendo? Bem, então acho que já passou da hora de explicar: Este é o nosso primeiro dia de aula no nosso último ano de escola! Demais, né?

Tudo está como sempre foi; é como assistir ao mesmo filme milhares e milhares de vezes- sim, eu fiz Estudo dos Trouxas e além disso sou inteligente pra caralho, sei muito bem o que é um filme!

O sol se projeta pelas vidraças do castelo (nossa, agora eu falei bonito!), as corujas agora a pouco esvoaçaram sobre nossas cabeças com o costumeiro correio matinal; os alunos surgem a torto e a direito ainda aos bocejos, prontos para providenciarem a trilha sonora constituída por talheres, copos e mastigação. Tudo está na sua mais perfeita desordem; balbúrdia nas quatro mesas, professores fofocando, fantasmas azucrinando...é Hogwarts em seu auge!

Eu e os rapazes irrompemos pela porta para alegria geral logo cedo (caímos da cama com o novo despertador que minha mãe me deu de presente). Fomos marchando até nossos respectivos lugares arrancando suspiros, lisonjas, mimos e muita adulação – o que é o básico na nossa humilde rotina.

Muitas garotas vieram arrastar a saia pro nosso lado, contando em gestos frenéticos como tinham passado de férias, o que sinceramente não foi algo muito interessante de se ouvir. Os capitães dos times de Corvinal, Lufa-Lufa e- sim, pasmem- Sonserina logo vieram conversar comigo, assim como mais uma dezena de criaturas com seios e pernas delgadas foi armar uma armadilha ao redor do orgulhoso Pads. Remus recebeu a interesseira atenção de algumas monitoras, enquanto que o Peter se uniu ao grupo que me bajulava, o pobrezinho carente de fãs!

Pulando essa parte dos obstáculos entre nós quatro e o café da manhã, chegamos e nos alojamos na longuíssima e já povoada mesa grifinória, ainda debaixo de olhares esperançoso e atentos daqueles calouros perdedores... Todos parecem bastante afobados com o primeiro dia, inclusive eu, que não conseguia parar de olhar para todos os lados em busca do mais brilhante motivo para incrementar minha felicidade...

Como será que a Evans tinha passado as férias?(eu ia pensando comigo mesmo enquanto enxotava como a uma mosca Berta Jorkins de cima do meu cangote). Será que ela estava bronzeada? Será que ela tinha pensado em mim? Será que...- e aí comecei meus magistrais devaneios, que duraram alguns sonhadores e longos minutos, sendo interrompidos apenas pelo mais fantástico acontecimento de todos os tempos: Lily Evans, ela mesma em carne e osso e longos cabelos ruivos perfumados, minha musa inspiradora e esnobe de lindos e desconfiados olhos verdes, dirigiu-se para o acento vazio ao MEU lado, para sentar-se única e exclusivamente COMIGO -neste momento eu ainda estou tentando não olhar para a esquerda, pois já basta essa presença próxima e inesperada pra me fazer o cérebro formigar.

Que Merlim me segure, eu não posso falar besteiras! Não posso, alguém me contenha, estou sentindo que vou desgraçar este momento, umas palavras estão subindo pela minha garganta, eu vou...

(Remus veio ao meu socorro):

"Haja naturalmente" –aconselhou ele. Eu decidi revirar os olhos, demonstrando ingratidão além de superioridade. Quero dizer; como é que um cara pode agir naturalmente tendo Lily Evans como vizinha de mesa?(e eu devo grifar o fato dela ter escolhido seu lugar por conta própria, sem minha intervenção ou de meus seguidores).

O fato inexplicável é que a Lils me odeia com todas as forças de seu pequenino ser, tem raiva, ou sei lá que sentimento negativo horroroso ela possui em relação a mim. Ela às vezes me trata pior do que trataria a um carrapato de Grindlow, e isso porque eu tento, o mundo mágico inteiro sabe como eu tento mudar essa deprimente situação!

De início eu devo admitir que a julguei mal, mas o que um cara como eu poderia fazer depois de estar tão acostumado com o fato de ter garotas chovendo sobre ele sem o mínimo esforço?

Errei por ter padronizado Lily: ela, definitivamente, não é e nunca vai ser um bom exemplo de um espécime feminino. Não me refiro, obviamente, ao físico do anjinho (pelo contrário! Na minha mais honesta opinião ela é a maior escultura já moldada por Deus!), mas sim à sua personalidade... Juro, ela não é normal! Não pode ser!

O normal de uma garota é, primeiramente, sorrir pra mim e se derreter com o sorriso que recebe de volta. O normal de uma garota é vibrar por mim nos jogos de Quadribol, já que eu dou dezenas de razões pra isso! O normal é aceitar meus convites e cantadas de primeira, optando por acreditar ou não no que eu sempre digo (isso aí é problema exclusivamente delas!). O normal e esperado de uma garota hogwartiana(essa palavra existe?) é chorar depois de ter levado um fora meu, é sair correndo toda serelepe para contar para as amigas como foi ter passado por minha vida, é rir das minhas piadas (ou ao menos se esforçar para tanto), é querer estar comigo e não me fazer precisar ir atrás...

Dado essa descrição requintada do tipo generalizado que me cerca, fica fácil entender Lílian Evans: é só revirar tudo ao contrário. Evans é o antônimo de todas as meninas que já conheci, e quando isso finalmente ficou claro na minha geniosa cabeça, decidi mudar de tática completamente.

A Evans teve o privilégio de ganhar um tratamento especial: eu comecei a me virar do avesso para agradá-la. Fiz o possível e o impossível; comecei a freqüentar Estudo dos Trouxas, parei de sair com dez garotas por semana, me controlei pra não azarar o pessoal na frente dela, e até mesmo o Seboso Snape passou a ser atacado somente quando merecia... tudo isso acabou comigo, abalou a minha fama e me custou a perda de algumas fãs.

Passei uns bons dois anos tentando penetrar na cabeça daquela figura, o que provou ser impossível. Eu dei o melhor de mim; usei e abusei das minhas melhores cantadas, me forrei com todo o meu charme, com todo a minha lábia (que até o momento se provara imbatível!), e cheio de otimismo, armado até os dentes, batalhei contra a indiferença de Evans até sentir-me esgotado.

Mas a presença dela acabou de sumir com meu esgotamento e de reacender minhas esperanças. Eu irei me reerguer e dar continuidade com o que tinha começado, pois meu nome é James Potter, maroto com "M" maísculo, orgulho da Grifinória, e eu não desisto nunca!