EPILOGUE

A noite era fria, o inverno estava chegando impiedosamente cedo naquele ano e arrancando as folhas das árvores com força. Os galhos secos e negros no meio de toda a paisagem perturbadoramente branca eram de arrepiar, as árvores rangiam e estalavam constantemente, conduzidas pela tempestade que ameaçava chegar. Estava escuro e eu estava sozinho, cercado pelos corpos ensanguentados e sem vida daqueles que eu tanto amava. Grandes olhos brilhavam na escuridão - tão azuis e frios, quase como os olhos de um gato. A única coisa bela em seu rosto horrível.

Eu tentei gritar, mas um arrepio gélido cortou minha espinha assim que ele começou a caminhar na minha direção. Aquele homem havia arrancado tudo de mim naquela noite e eu definitivamente ansiaria por uma vingança futuramente, porém, naquele momento eu nem ao menos conseguia balbuciar uma palavra sequer, afinal, eu tinha apenas dez anos e um trauma desses é muito difícil de superar.

O vento bateu mais forte pelas extremidades do imenso casarão, fazendo com que eu estremecesse de frio e dor. Ele agachou silenciosamente na minha frente, apontando a lâmina ensanguentada na direção do meu rosto. Mantive os olhos fixos nos dele, completamente imóvel, apenas desejando que aquilo acabasse logo. Lágrimas rolaram incessantemente pelo meu rosto, eu tinha noção que eu teria o mesmo destino que os meus pais. Ele segurou minha mandíbula violentamente e tocou a gélida lâmina em minha face, gemi de dor e ele apenas alargou o sorriso tão doentio, finalmente se manifestando.

"Ahh, não vou matar você."

Ele retirou a lâmina de perto do meu rosto e a guardou em um dos bolsos, mecanicamente, sem tirar os olhos de mim um momento sequer.

"Você vai ter um destino diferente dos seus pais, vai vir comigo."

O homem agarrou minhas madeixas violentamente, o que me forçou a levantar, assim me arrastando pelo cômodo manchado de sangue sem dizer absolutamente nada. As lágrimas escorriam pelos meus olhos, embaçando minha visão, não conseguia mais fitar os meus pais e entrei em desespero. Chamei por eles e soquei os braços do assassino, forçando meus pés a permanecerem fixos no assoalho.

"MOM! DAD—"

Meu grito foi interrompido por um golpe certeiro na nuca, o que me imobilizou de imediato, fazendo com que minhas pernas tremessem e eu caísse ajoelhado. O homem rosnou enfurecido e antes de desmaiar consegui ver o homem esguio de cabelo castanho escuro segurando meu corpo desfalecido e colocando-me em seus braços. E então, tudo ficou escuro. Novamente.

Quando eu finalmente despertei eu estava em um lugar completamente diferente, uma casa caindo aos pedaços e eu não sabia onde era exatamente. Eu estava preso em um minúsculo cômodo onde havia apenas uma cama de solteiro, uma estante de livros e um prato de comida de aparência nada amigável próximo à porta de madeira maciça.

Foi aí então que eu percebi:

Eu estava no inferno.