Libura acordou assustado em meio às águas claras de um rio, quase se afogando antes de emergir. Atingiu a superfície com toda a confusão mental que lhe era possível, se debatendo e tossindo.
- Hey, gnomo... Aqui! Psiu... – disse Mun, chamando a atenção para si.
- Mas ein...?
O garoto se virou lentamente. Por um instante havia esquecido que estava lutando e agora começava a se lembrar de tudo.
- Desgraçado! Eu ainda não terminei com você! – gritou o moleque, nadando para a margem.
- Não ouse sair desse rio enquanto não estiver limpo.
- Cala a boca, você não manda em mim.
- Errado...
Libura saiu da água e começou a se concentrar. As lanças de gelo que antes pareciam tão perigosas e eram formadas com tanta facilidade agora não passavam de insignificantes farpas, não maiores que palitos de dentes, quase se derretendo sob o sol quente. Ao perceber isto exclamou instantaneamente:
- O que? Mas que merda é essa? O que você fez comigo?
- Hehehe... MWAHAHAHAHAHA! – riu o caçador.
Sua risada soou alta, assustando vários pássaros de suas árvores e fazendo com que se lançassem ao vôo. Logo em seguida, novamente fazendo uso de sua velocidade anormal, havia se projetado ao lado de Libura e o arremessava de volta ao meio do rio.
- Eu selei a sua energia com um encantamento. Agora você é meu escravo. – disse o caçador com um tom maligno de superioridade quando o garoto voltou a emergir. – Você é totalmente incapaz de manipular energia da mesma maneira que antes, a menos que eu te liberte.
- Não... – disse o garoto, surpreso.
- Sim! – respondeu Mun, com maldade.
- Maldito! Desgraçado! Eu vou te matar!
- Claro, claro... Agora se lave direitinho e não me faça te jogar aí dentro de novo. Vou providenciar o que comer...
As horas que se seguiram foram longas para Libura. Repletas de duvidas como ir ou ficar, lutar ou se submeter...
Ele sabia alguma coisa sobre o tipo de encantamento que fora colocado nele. Chamavam-se "selos" e alguns eram fáceis de serem quebrados. Outros, no entanto, extremamente complexos. Mas uma coisa era certa: todos exigiam rituais que consumiam tempo e energia... Energia esta que ele não possuía... E mesmo que lutasse, não venceria.
Ir embora começou a parecer à melhor saída, mas logo começou a considerar os riscos desta decisão, afinal, aquele lugar ainda era o jardim do castelo de um dragão e isso significava que se não acabasse encontrando com o próprio dragão ainda podia se deparar com criaturas muito fortes.
O sol começou a se por no horizonte antes que ele chegasse a alguma conclusão e Mun também retornou antes disso ocorrer.
- Vejo que não foi embora... E que está mais limpo. – disse o caçador após jogar alguns peixes e coelhos no chão.
A fogueira acendida na beira do rio crepitava enquanto Mun preparava as coisas. Libura, ainda meio afastado, observava com desconfiança.
Demorou apenas alguns minutos até que o cheiro agradável da refeição começasse a subir fazendo a barriga do garoto roncar alto. O caçador fingiu não ouvir e continuou os preparativos em silêncio.
Quando tudo ficou pronto Mun comeu sozinho e deixou um pouco para Libura, mas não o convidou a se servir. Logo em seguida foi dormir e somente nesta ocasião, quando o caçador já estava em sono profundo ou pelo menos aparentava estar, que o garoto decidiu se aproximar do fogo e tentar a sorte com a refeição.
Ambos dormiram próximos a fogueira até o sol nascer e no dia seguinte, mesmo a contragosto e sem convite algum, Libura seguiu viagem com o caçador.
