Capítulo 1 - Pianos roxos e notas vermelhas
"Há uma maré na história do homem.
Deveríamos aceitar a enchente, ela leva à fortuna.
Mas se omitida, a viagem das suas vidas percorrerá vales e misérias.
Num mar tão cheio agora flutuamos.
E devemos pegar a corrente quando ela nos servir.
Ou perder as aventuras que estão por vir".
_ Por que diabos eu recusei a carona do senhor Schuester para andar na sua lata velha? – esbraveja o brasileiro abrindo a porta da escola apressadamente.
_ Porque não queria segurar vela para ele e a senhorita Pillsbury? – rebate Puckerman.
_ Ah é... Mas, fala sério, é muito azar o seu carrinho não ter pegado!
_ Relaxa, cara. É o primeiro dia de aula, para que se estressar tanto?
_ Por que a gente quase rodou em cálculo e já estamos atrasados para a primeira aula do ano? – pondera Daniel atravessando os corredores com o moicano em seu encalço.
_ É, você tem um bom argumento! – o pensamento do bad boy é interrompido pelos resmungos de um aluno, aparentemente, perdido.
_ Graças a Deus, alguém além daquela loirinha desmiolada! – a dupla gargalha. A menção faz jus a Brittany S. Pierce _ Vocês podem me ajudar? Acabei de me transferir da Irlanda e estou totalmente confuso com esses horários. – Noah apanha o formulário e mostra para o comparsa. Os dois possuíam mais sorte do que juízo.
_ Cálculo 2? Leprechaun, você acabou de salvar a nossa pele! – comemora o brasileiro, o encrenqueiro contesta o apelido _ Leprechauns são duendes verdinhos, sabe? Aqueles que guardam um baú de tesouro no fim do arco-íris. – o calouro revira os olhos.
_ Cara, você soou muito como o Kurt! – o imigrante pragueja em português e o trio gargalha da situação inacreditável _ Leprechaun, você já chegou nos dando sorte!
A dupla arrasta o novato pelos corredores, rapidamente, nomeando os locais a caminho da sala de aula. A professora critica o atraso, especialmente, de alunos com baixas notas, entretanto, acata a desculpa de ajuda ao intercambista e permite a entrada do trio. Rory Flanagan é logo apresentado a Artie, Mercedes, Tina e Brittany. O irlandês ignora os comentários descabidos da loira, entretanto, fixa os olhos na menina sentada ao lado direito da líder de torcida. Aparentemente, a jovem não fazia parte do circulo de amizades da dupla que lhe orientou nos corredores. Infelizmente. A conversa se reduz com a burocrática explicação da professora mesmo no primeiro dia de aula. O sinal toca e os estudantes se apressam para a próxima disciplina, apenas a negra e a asiática compartilhavam do mesmo currículo que o irlandês. A menina que chamou a atenção do calouro se perde entre o turbulento corredor do Willian Mckinley.
Mercedes e Tina se responsabilizam em coordenar os movimentos do novo integrante do colégio e praticamente inserem o rapaz no contexto do Glee Club. A mesa ocupada pelo coral se torna o rumo do novato durante o almoço. Os meninos se antecipam e guardam os respectivos lugares das garotas, entretanto, o olhar mortífero que Sam direciona para Jacob intriga os atrasados.
_ Eu só não arrebentei aquele cara por causa da Mercedes... Ele simplesmente colocou a porcaria da câmera na nossa frente e perguntou como uma negra se sentia namorando um branco mais pobre. A minha vontade era de socar aquele infeliz! – esclarece o loiro.
_ Quem esse cara pensa que é? Isso foi realmente rude! – concorda o calouro. Artie se aproxima e hesita em comentar o trecho mais complexo do primeiro embate do ano.
_ Você ainda não encontrou a Quinn, não é? – o brasileiro confirma _ Com ela, o Jacob pegou muito mais pesado... – o imigrante muda totalmente o semblante _ Ei, calma! Quinn não se abateu com a provocação daquele lunático!
_ Provocação, Artie? Chamar o meu homem de crioulo não é provocação, é racismo! – o forasteiro tenciona partir para cima do blogueiro, sendo impedido pelos amigos _ Ainda bem que a sua lata velha deu problema, Puck! – desabafa a negra.
_ Pelo visto, o plano de deixar que a Quinn informasse o Daniel foi abandonado, não é? – argumenta Kurt se aproximando com Blaine. O antigo adversário havia se transferido.
_ O que? Vocês tinham combinado de não me contar? Quero dizer... Alguém pode me explicar o que aquele retardado falou para a minha namorada? – o rapaz se exalta.
_ Não acredito que depois de todo o preconceito com o Kurt, ainda estamos lidando com isso... – ressalta Mike _ Honestamente, o Jacob perguntou se a Quinn não tinha medo de perder a posição de Barbie do colégio por namorar um crioulo. – o termo é dito com certo ressentimento pelo asiático. A feição do brasileiro se enrijece.
_ Me escuta, Dan. Não se importe com esse idiota... Nós não podemos arrumar mais confusão para o professor Schuester com essa horrenda campanha da treinadora Silvester para o senado. – aconselha Tina.
_ Vocês não entendem... Prometo não fazer besteira... Só preciso dar uma volta... – a turma consente com a retirada. Por garantia, Noah sai em seguida atrás do cúmplice. Rory prefere seguir a dupla. A conversa se tornara intima demais para um turista.
_ Acho que eu entendo... – Kurt quebra o silêncio _ Para quem tem personalidade, escutar essas bobagens não é o difícil... O problema é quando as pessoas que você ama se tornam alvos. – Blaine compreende o contexto da afirmação e reforça o aperto na mão do companheiro. A reflexão coloca o grupo novamente em estado de espera.
Daniel caminha desnorteado até alcançar a arquibancada na área esportiva. O bad boy se aproxima com o irlandês a tira colo. A movimentação nas proximidades aumenta e as animadoras de torcida se concentram para ouvir as instruções da treinadora. Puck aponta a presença de Santana e Brittany entre as cheerios e os garotos balançam as cabeças negativamente. Para que voltar para as garras da temida técnica? Rory sorri. A menina que admirara na primeira aula estava entre as lideres de torcida. Distraído, o calouro corresponde erradamente ao aceno de uma loira. O desconforto na cabeça é imediato. Por que o brasileiro havia lhe estapeado?
_ Quinn Fabray? – o brasileiro aponta a menina que subia os degraus _ Minha namorada, idiota! – o irlandês tenta se remendar e gera ainda mais risadas.
_ Vocês começaram cedo neste ano! – comenta a garota se acomodando ao lado do estrangeiro _ Rory, bem-vindo ao colégio! Eu perdi metade do intervalo te procurando... Mercedes comentou que você poderia estar aqui. – o costumeiro abraço é automático _ Não acredito! Santana e Brittany estão de novo na torcida?
_ É... Eu tinha esquecido como as duas ficam gostosas nestes uniformes. – comenta o encrenqueiro.
_ Por favor, Rory não se deixe influenciar pelo Puck, ta bom? – novato consente _ E você vai começar a falar ou prefere perder o resto do almoço por causa daquele estúpido? – se refere ao comportamento aéreo do brasileiro.
_ Não to irritado pelo que ele me chamou... Só não queria que lhe envolvessem nisso.
_ Ta tudo bem... É sério! – ela beija levemente o namorado _ Vocês já se inscreveram nas atividades extracurriculares?
_ Não tem muito mistério... Coral e futebol americano! O que mais eu poderia fazer no meu último ano? – declara Puck.
_ Algo útil? – debocha o brasileiro. O quarteto gargalha _ Acho que vou continuar com as mesmas coisas... Atletismo, coral... Futebol. Afinal, alguém precisa correr naquele time, não é? – provoca mais uma, recebendo uma cotovelada do moicano.
_ Uau! Vocês também estão no Glee Club? Ouvi a Mercedes e a Tina comentando na sala de aula... Que legal! Eu costumava cantar no coral da minha igreja... – o trio se encara. Era a primeira vez que um estudante se mostrava genuinamente interessado no grupo musical _ E atletismo? Eu poderia fazer isso!
_ Sério? Você tem certeza que gostaria de entrar no coral, leprechaun? Quero dizer... Nós participamos das Nacionais no ano passado... Mas, não somos, exatamente, populares no colégio. – o brasileiro alerta o novato, que não se importa _ Estamos precisando de alguém para os saltos... E você já pensou em algo, Quinn? Espera... Você não ta pensando em voltar para o Clube do Celibato, não é? – o espanto na face do imigrante arranca gargalhadas dos rapazes e resulta em um tapa da loira.
_ Não! Não faria sentido... E, obrigada pela discrição, Daniel! – ironiza a garota levemente corada pela pergunta invasiva. O brasileiro tenta consertar as coisas, reforçando o abraço _ Santana e Tina me convidaram para os treinos de vôlei. – a menina consulta o relógio_ Rory, sua próxima aula é de geometria, não é? Mercedes e Sam tão te esperando no refeitório, ta bem? Nos vemos mais tarde no ensaio? – o irlandês acena positivamente e se retira _ Ele parece ser simpático.
Os rapazes concordam e esclarecem o motivo do apelido leprechaun. A loira releva o gracejo e acelera o passo para a entrada na sala. As últimas aulas do dia seriam compartilhadas. Apesar do confronto cinematográfico com o indesejado blogueiro, Quinn não poderia reclamar do retorno ao colégio. Aparentemente, os dramas do ano anterior haviam sido superados e com certa paciência assistia aos cochichos melosos entre Rachel e Finn na sua frente.
Will Schuester recepciona os queridos estudantes e faz questão de ser apresentado ao desconhecido novato. Ao contrario do transferido da Academia Dalton que se sente totalmente ambientado, Rory sofre para se soltar diante da sintonia latente entre os treze veteranos. Com as diversas confusões no peculiar relacionamento, Lauren Zizes preferiu se afastar temporariamente da atmosfera musical. A lutadora estava focada em sua futura carreira. Mesmo assim, a existência do New Directions não estava ameaçada pela escassez de integrantes. Comodidade que não abalou a criatividade do adulto para criar planos mirabolantes. Três pianos roxos são conduzidos para o interior do local e o professor repassa a primeira tarefa do ano. Os instrumentos seriam espalhados pela escola e cada vez que cruzassem com um deveriam cantar a fim de recrutar novos componentes. A dupla de encrenqueiros se entreolha. Inacreditável.
_ Senhor Schue... Nós já carregamos o Leprechaun para nos dar sorte. Já não cumprimos nossa cota? – debocha o dono do moicano.
_ Não, Puckerman. A tarefa exige o comprometimento de todos... E espero que desta forma, vocês estimulem os novos participantes a soltarem a voz em publico. Pessoal... Esse é o último ano de muitos... Vamos torná-lo inesquecível, está bem?
_ Eu sabia! Você é daquele tipo de duende que realiza desejos ou só serve como amuleto? – Brittany delira para infelicidade do irlandês, alvo de gozação do grupo.
Novo dia. Novos dilemas. A partir da iniciativa de Rachel e Kurt em procurar as indicações de Emma, como conselheira estudantil, para possíveis faculdades, o maestro decide expandir as entrevistas vocacionais para todos que se formariam no fim do ano. A ideia era antecipar os anseios profissionais dos estudantes para encontrar meios de enaltecer os históricos escolares dos futuros universitários. O intervalo para o almoço reserva a primeira surpresa do ano letivo.
O bendito piano roxo está exatamente no centro do refeitório. A pressão de se apresentar diante do corpo de estudante breca o instinto coletivo, que só é retomado em função da insistência temperamental da pequena notável. A coreografia exagerada das garotas chama a atenção da ala masculina e os passos mais ousados de Brittany são capturados pelo impertinente Jacob Ben Israel. O brasileiro percebe a inesperada atitude do metido fofoqueiro e precisa refrear o reflexo de partir para o acerto de contas. Puck e Sam se aproximam e puxam o imigrante para o meio da bizarra roda. As mesas servem de palco e poucos alunos se empolgam a ponto de acompanhar a canção com palmas. Rory e Blaine se limitam a fazer coro ao refrão da canção.
O calouro reencontra a garota que lhe encantou a primeira vista e se empolga com o seu interesse com a apresentação. Para finalizar a performance, a turma elabora uma espécie de corredor para que o principal acrobata exiba seu espetáculo particular. Dois saltos mortais que levantam boa parte dos alunos. Mesmo com o estimulo final, Becky colabora para que o caos seja desencadeado. A nova co-capitã das cheerios joga um prato de comida em cima de Rachel, incentivando que as demais lideres de torcida repitam a ação. Alimentos atravessam o ar e a guerra de comida é decretada no segundo dia letivo no Willian Mckinley.
No ensaio da quarta-feira, os gleeks afirmam que ninguém em sã consciência se candidataria a um clube que servia permanentemente de chacota para o colégio. O curioso é que Sugar Motta, a filha do rico empresário que doou os pianos roxos, se propõe a efetuar a audição. A dança é horrenda e a voz assustadora... Os garotos precisam de um esforço sobre-humano para evitar rir na frente da candidata. Até mesmo o professor se assusta com tamanha desafinação.
_ Meu trabalho já está feito. Me mantenham informada através de mensagens de texto, está bem? Não tenho todo o tempo do mundo para ensaiar com vocês. Me avisem apenas em casos extraordinários! – reforça a incoerente desconhecida.
_ Ótimo, Sugar! Nós entraremos em contato! – a judia disfarça o horror pela falta de talento. A confiante jovem sai da sala _ Todos concordam que ela é um desastre, não é?
_ Pessoal... Eu sei que Sugar foi muito mal... Mas, sempre tivemos a política de aceitar todo mundo e não vamos mudar justamente agora. – assegura o professor.
_ Você deveria comemorar, Ligeirinho. Agora, você não é mais o pior cantor do Glee Club. – provoca a latina arrancada risos do restante e o olhar furioso do citado adolescente _ E sim... Eu estou levando em consideração o leprechaun e o chinês.
_ Doeu. – a loira abraça o garoto demonstrando apoio, apesar de sorrir pela tirada da amiga _ Mas, o pior é saber que no estranho mundo de Santana Lopez, isso é um elogio.
_ Deixa de ser malvada, Santana! O Dan não canta mal, só não ensaia o suficiente... Além disso, ele é um ótimo dançarino! – Brittany sai em defesa do companheiro de coreografia e recebe um sorriso como agradecimento.
O primeiro treino de futebol americano foi massacrante. O objetivo da temporada era quebrar o jejum de títulos e garantir a classificação para o Campeonato Estadual depois de quase duas décadas. Por isso, a treinadora Beiste exige o máximo dos atletas. Derrotas não seriam aceitas. Os jovens estavam esgotados e a ducha fria no vestiário não trouxe nenhum conforto. Puck, Mike e Dan demoram para encontrar disposição para sair do recinto. Logo na saída, Tina e Quinn dedilhavam canções no piano.
_ O senhor Schuester só pode estar querendo nos matar! Um piano no refeitório e outro na saída do vestiário... Fala sério! – resmunga o moicano.
_ Vocês vão começar com aquele número patético de música? Eu teria o maior prazer em destruir essa aberração roxa! – ameaça uma estudante com ares e trajes de rebeldia.
_ Sheila, você e as Skanks podem ter se apoderado dos arredores da escola... Mas, os corredores do Willian Mckinley ainda são a minha área, entendido? E se os perdedores do coral querem cantar e dançar, eu não tenho nada contra. – declara Lauren Zizes cumprimentando os antigos colegas e aceitando o beijo do encrenqueiro. Inesperadamente, o brasileiro solta uma gargalhada atraindo a atenção do grupo.
_ Sério? Elas são rebeldes e se chamam Skank? – a namorada estapeia o ombro do garoto a fim de frear a cômica reação. A revoltada bufa com raiva _ Foi mal, mas, tem uma banda brasileira com o mesmo nome... E bom, as músicas são tudo menos rebeldes. – ele solta outra risada e a integrante do grupo de vândalas se retira furiosa.
_ Eu sabia que você ainda mandava nesta merda de escola, baby. – comenta o judeu agarrado a antiga gleek _ Você não ta a fim de se apresentar, cara? É a sua chance de provar que não é o pior cantor do Glee Club!
Apesar do deboche no tom do comparsa, Quinn e Tina incentivam o estrangeiro, que dá de ombros e pede uma nota para a asiática no piano e escolhe algo do repertório do grupo minero citado anteriormente. A cidadezinha era mesmo bizarra. A levada mais alternativa parece agradar aos estudantes que ainda trafegavam pelo corredor.
Vamos fugir, deste lugar, baby
Vamos fugir, tô cansado de esperar
Que você me carregue...
As palmas são tímidas e a loira parabeniza a performance do adorado imigrante, em contrapasso um desconhecido se aproxima do grupo. O vestuário alternativo e o cabelo alongado repleto de dreads atina o bad boy a respeito da identidade do rapaz. Balançando a cabeça em descrença, Puck estende a mão para cumprimentar e acaba introduzindo Adam McDough, filho do esposo de sua tia. Uma espécie de primo postiço e defensor das tradições hippies.
_ Achei que vocês cantassem apenas as coisas de igreja, Noah, mas, pelo visto, não são tão ruins assim! – ironiza o garoto dos dreads.
_ Nunca falei que cantávamos coisas de igreja. Nós estivemos em Nova Iorque, lembra? Bom... Não fazia ideia de que você se transferiria para cá. – comenta o judeu.
_ Meu pai queria que eu estudasse na Academia Dalton. Eu em uma escola só para barbados? Nunca! Então, restou a Willian Mckinley... – os integrantes do clube musical dão boas-vindas ao calouro _ Vocês estão chamando caras para o Glee Club, não é? O que eu tenho que fazer para entrar? – questiona Adam com estranha empolgação.
_ Estar disposto a ser importunado pela escola inteira todos os dias? Nós não somos bem vistos neste colégio. Especialmente, pela equipe de hóquei. – esclarece o asiático.
_ E daí? – todos se surpreendem pela tranqüilidade do rapaz_ Entenda, meu irmão chinês, os jogadores daqui nunca chegarão ao profissional... Logo, serão fracassados e não conseguiram nenhuma gata... Agora, se você sabe cantar, dançar ou tocar um instrumento razoavelmente sempre fará mais sucesso com as mulheres. – a filosofia do hippie provoca gargalhada entre os gleeks.
_ É verdade. Eu tive apenas quatro relacionamentos mais sérios e todos foram com garotos do coral. – Quinn reforça a tática e o brasileiro finge constrangimento _ Por que essa cara, Daniel? Você sempre mandou indiretas com músicas... E não esqueça de que seu primeiro solo foi uma canção romântica ou você cantou Eu sei que vou para te amar para mais alguém? – ele aceita a derrota e confessa a declaração pretérita _ Para entrar no coral... Basta ter coragem para se apresentar em público, Adam.
O calouro se sente totalmente a vontade e solicita a namorada do principal dançarina o instrumental para a música do maior cantor de reggae do mundo: Bob Marley. A canção Is this love? entusiasma e reúne ainda mais espectadores. O regueiro nota os olhares de uma animadora e aproveita para se insinuar com ajuda da letra extremamente positiva.
I wanna love you and treat you right
I wanna love you every day and every night
We'll be together with a roof right over our heads
We'll share the shelter of my single bed
We'll share the same room, yeah, oh jah provide the bread
Is this love, is this love, is this love
Is this love that I'm feeling?
Coincidentemente, a cheerio que observava atentamente o primo de Puck havia chamado a atenção do irlandês. Harmony Newell fora integrada às líderes de torcida para ocupar definitivamente a vaga abandonada por Quinn. No entanto, a menina estava admirada com a energia e a dinâmica do proibido Glee Club. No instante em que recebeu o uniforme das mãos da temida Sue Silvester, jurou que jamais se juntaria ao coral. Decisão que gostaria de rever se pudesse. Ela suspira e com o mínimo de voz faz coro ao refrão, que ganha o reforço do restante dos integrantes do New Directions. Ao mesmo tempo, Blaine e Rory executavam um dueto no pátio da escola com participação das cheerios na elaborada coreografia. Sob o comando da latina, as líderes de torcida encerram a performance ateando fogo no órgão.
O maestro recebe oficialmente os três novos componentes do Glee Club e afasta temporariamente, Santana em função da atuação favorável aos comandos da treinadora Sylvester. Além disso, Rachel relata que se candidataria ao papel principal no musical da escola: Amor, Sublime Amor e Kurt tentaria se eleger presidente estudantil. As expansões se deviam a obsessão em entrar na prestigiada Academia de Artes Dramáticas de Nova Iorque. O maestro aprova a iniciativa e institui o treinamento diário de dança.
_ Começamos nesta quarta-feira, logo após os treinos e atividades extracurriculares... Mike Chang se ofereceu para ser meu assistente e estou escalando o Daniel para ser o responsável pelos saltos. – o brasileiro revira os olhos _ As praticas são obrigatórias para aqueles que possuem dificuldade e abertas para quem quiser se aperfeiçoar.
O primeiro dia de atletismo é realizado e Rory apresentado a equipe. Depois da temporada passada com excelentes resultados a nível estadual, o técnico obteve argumentos suficientes para um reajuste no aperto orçamento e adquiriu mais equipamentos para os atletas. A meta era melhorar as marcas do ano anterior e focar a preparação coletiva para os revezamentos. Daniel e o amigo, Nathan Scott, eram os veteranos e líderes da equipe. O voto de confiança animou o imigrante, acostumado a figurar como coadjuvante. O ano da formatura poderia ser o ano de brilhar nas pistas.
O compasso da rotina praticamente idealizada pelo brasileiro se choca com a realidade na quinta-feira. Rory e Sam reclamavam de mais uma partida de truco perdida e Puck e Adam zoavam os perdedores, enquanto Quinn tentava explicar química para Mercedes e Daniel. A fisionomia serena da judia é percebida pelos amigos, mas, a única menção é pedir que o bad boy e a ex-capitã das cheerios lhe seguissem. A negra suspeita do assunto e compartilha o pensamento com o brasileiro. Ambos estavam corretos. O alvoroço estava declarado pelo retorno de Shelby Corcoran a Lima, especificamente, ao corpo docente do Willian Mckinley. A mulher teria aceitado uma pomposa proposta do pai de Sugar Motta para ser a professora de canto particular da garota, dirigir o musical e assumir a disciplina de Artes. Puck é o único a comemorar genuinamente a volta da antiga técnica do Vocal Adrenaline. A pequena notável prefere manter certa distancia e a loira se mostra totalmente atordoada.
Na contramão das reações emotivas, o brasileiro age da forma natural. Isola-se. Surgem treinos, exercícios e horas extras no trabalho nos instantes em que os pais biológicos de Beth tentam estabelecer o dialogo. As escolhas são equivocadas e as escapadas ao lado do novato Adam para algum bar se tornam freqüentes. Puck se junta em uma das fugas e coloca o amigo contra a parede. Ele se esquiva e chega em casa batendo a porta e, irremediavelmente, despertando o padrinho.
_ Onde você esteve? E quando eu lhe autorizei a agir deste jeito dentro da minha casa? – impõe duramente o responsável, o adolescente faz pouco caso e lhe dá as costas _ Eu não terminei, Daniel! Passar as noites em bares, faltar aos ensaios e fugir dos seus amigos poderia servir no ano... Agora, chega! Você não cansa de bancar a vítima? Pare de tentar afastar as pessoas que se importam. Eu poderia aceitar que você estava um desastre quando voltou... Mas, repetir os mesmos erros depois de todo esse tempo? Cresça, você é melhor do que isso! – o rapaz senta-se no sofá e cobre o rosto com as mãos. O adulto suaviza a expressão _ Isso tem haver com o retorno da Shelby, não é? – ele confirma _ Você conversou com a Quinn sobre isso? Me escuta... Vocês estão namorando e se dão extremamente bem... Mas, ainda são duas pessoas diferentes, entende? Com medos, sonhos e opiniões e devem manter essas particulares. Só que uma relação exige cumplicidade e que essas dúvidas sejam compartilhadas. Uma garrafa de cerveja pode aliviar a pressão, mas, nunca vai resolver os seus problemas... Converse com a Quinn antes de se punir por erros que não cometeu. Agora, cama e nada de circular depois do colégio. Você ta de castigo até o fim de semana!
Na tarde seguinte, Quinn faz questão de esperar pelo namorado na arquibancada e intima-lo para uma conversa a respeito dos acontecimentos recentes. De forma turbulenta, as coisas vinham se desenrolando em Lima. Tentando mostrar a feição mais calma e serena, a loira assegura estar ciente das modificações protagonizadas com o retorno da mãe adotiva de sua filha e solicita ao namorado, que fique a margem da situação. Ele entende o recado e apóia a decisão de encarar por conta própria. A credibilidade seria desperdiçada horas depois em um outro dialogo revelador. Durante o ensaio de dança, Quinn encontra uma brecha para trocar confidências com o judeu.
_ Eu estou orgulhoso de você, não é fácil contornar o mau humor do Dan. - o costumeiro sorriso desaparece da feição da loira causando estranheza no encrenqueiro.
_ Eu não pretendo arriscar o meu namoro, mas, tenho que recuperar a minha filha. A volta da Shelby só deixou mais obvio que nós nunca deveríamos ter desistido da Beth.
_ O que você ta pensando em fazer? Achei que estivesse contente em estar perto da pequenininha definitivamente... Não é arriscado?
_ Ainda não sei exatamente o que fazer... Mas, sei que o lugar da Beth é conosco. Nós somos os pais verdadeiros e vamos recuperar a guarda. – surpreendentemente, ele concorda com o insano plano.
As manhãs de sábado costumavam ser as mais úteis da semana. Trabalhar nunca pareceu tão atrativo para o brasileiro, que aprendera ainda aos 11 anos que pedir presentes estava fora de sua realidade. Ser funcionário da Empresa de Segurança e Vigilância Chang era bastante agradável se a seriedade e a pontualidade fossem permanentemente mantidas. Daniel percebeu na terceira semana como contratado, que chegar cinco minutos antes era apenas obrigação e que o profissionalismo de se adiantar entre vinte e quinze minutos servia para se atualizar dos procedimentos do plantão e para ser convidado cordialmente para sentar com os patrões durante o café da manhã.
Normalmente, Mike surgia no escritório uma ou duas horas após o início de seu expediente com um amontoado de livros. Desde que não perdesse nenhum alerta, o patriarca da tradicional família chinesa não colocava impedimento na sessão conjunta de estudos. Evidentemente que os assuntos fugiam das mazelas escolares e variavam de passos de coreografia a jogadas de futebol americano. Apesar da aparente liberdade imposta aos empregados, Michael Chang exercia forte pressão para que o primogênito se formasse engenheiro e continuasse com o negócio familiar. Entretanto, naquele sábado, o dançarino não desceu para fazer companhia ao amigo e só deu as caras no almoço. Mike estava trancado desde a sexta-feira à tarde revisando a matéria de química. Depois de um trágico oito, o pai apertara ainda mais rédeas e exigia que o filho abandonasse o coral e se afastasse da problemática namorada.
Livre temporariamente do castigo, o asiático confessou que estava pensando seriamente em abrir mão da audição para o musical e da posição de auxiliar nas praticas extras de danças. A sugestão do imigrante foi simplesmente confrontar o pai e comprar a briga para trilhar o próprio caminho. Tina aparece no escritório momentos antes da saída de Daniel a fim de arrastar a dupla de dançarinos para a pista de patinação. A maioria dos integrantes estava ansiosa para comparecer a reabertura do local. Pelo menos, a marcação paterna tendia a diminuir significativamente nos finais de semana.
A segunda-feira prolifera polêmicas e desentendimentos com o começo dos testes para o musical Amor, Sublime Amor. Mercedes acusa Rachel de ser favorecida na competição pelo papel principal em função de Shelby estar a frente da montagem da peça. Kurt se ressente por não ser capaz de transmitir veracidade interpretando um galã heterossexual e Blaine tem a oportunidade de ser o protagonista. Artie é convidado pelos professores para auxiliar na direção e a treinadora de futebol impõe que os jogadores com notas mais baixas devessem efetuar as audições como Jets. Finn se livra pelo emprego recém-adquirido na oficina de Burt, enquanto que Puck, Sam e Daniel são intimados e a responsabilidade para ensaiar a coreografia cabe respectivamente a Mike Chang, que desiste das aulas particulares e tenta a sorte como co-protagonista.
O alívio cômico como sempre ficou sob os ombros de Brittany S. Pierce, a mais recente candidata a presidente do Grêmio Estudantil e concorrente de Kurt. O primeiro "discurso" da cheerio é musical e conta com a promissora coreografia de Run the World em pleno ginásio. A proposta inicial era que apenas as meninas comparecessem, entretanto, com o vazamento da informação, a maioria dos estudantes se dirigiu para o recinto esportivo. Nenhum adolescente seria insano ao ponto de perder os ousados passos da melhor dançarina de Lima.
_ Tirando a Berry que jurou fidelidade ao Kurt, acho que podemos contar com as três, não é? – a latina se pronuncia para a Tina, Mercedes e Quinn durante o almoço. A rapidez com que os namorados se comprometem em apoiar a loira desagrada as garotas. Rory e Adam gargalham da enrascada dos comprometidos.
_ As propostas das Brittany devem ser geniais para que vocês se interessem tão rapidamente. – provoca a asiática.
_ Me diga apenas um motivo razoável para o seu voto, que eu dispenso o sermão gigantesco que estou preparando. – declara a loira com o olhar furioso destinado exclusivamente ao forasteiro.
_ Santana comentou que nos últimos anos, apenas homens estiveram neste cargo... E bem... Observando a política do meu país, acho que uma mulher pode fazer a diferença. – a explicação intriga o grupo _ Não é porque um negro foi eleito o presidente dos EUA, que vocês inovaram na política. Há oito anos, um trabalhador comandou o Brasil e foi considerado por Barack Obama... O político mais popular do mundo. Recentemente, Dilma Rouseff venceu as eleições e ta mandando bem... Por isso, eu confio nas mulheres para revolucionar o Willian Mckinley. – o improviso arranca risadas dos amigos e reverte a situação com a namorada.
_ Praticamente, uma aula de política brasileira... Se você se empenhasse em Atualidades como se esforçou para evitar o esporro da Quinn, poderia conseguir um zero asiático. – brinca Tina para suavizar o ambiente e o peso nas costas do adorado dançarino.
_ Eu sou muito bem informado, Tina, o problema é que não fazem perguntas atuais na aula... Por exemplo, sei quem é o cara mais influente do Twitter. – dispara o forasteiro.
_ Justin Bieber? – arrisca Sam, virando alvo de gracejos.
_ Papai Noel? – a sugestão de Brittany é ignorada pelos veteranos e considerada bizarra pelos novatos.
_ Não, é um comediante brasileiro, Rafinha Bastos. – complementa a informação.
_ Ainda bem... Achei que você diria Ronaldinho, Thiago Neves ou Luxemburgo. – a nomeação dos flamenguistas surpreende o restante dos amigos e alegra o brasileiro.
_ Você realmente presta atenção quando eu falo do Flamengo? – o menino abraça a garota, que revira os olhos pelo exagero _ Minha namorada é não demais?
_ Que mudança, Quinn! Você quase surtava, quando eu soltava alguma coisa sobre os treinos e as partidas de futebol... Merda! Eu disse isso em voz alta, né? – os tapas de Mercedes e Daniel comprovam o furo deixado pelo loiro. As risadas ecoam no refeitório e Finn, Rachel, Puck e Artie questionam o motivo da piada.
O tema discorre com relação aos testes para o musical e frases demasiadamente confiantes por parte da pequena notável enfurecem a black diva, que inventa uma desculpa qualquer para se retirar da mesa. O loiro se apressa em seguir a temperamental namorada e a judia prossegue com o monologo sem notar absolutamente nada. A latina corta a empolgação e dispara provocações sobre os novos números da correria eleitoral no colégio, simultaneamente, a chegada de Kurt e Blaine na mesa.
A atmosfera se torna irrespirável e a maioria prefere debandar e o encontro fica restrito aos participantes do reforço de dança. O brasileiro e o irlandês se incomodam com o prolongamento inesperado dos exercícios de coreografia devido a possibilidade de choque com o treinamento de atletismo. Atrasos eram péssimos para lideres e novatos.
_ Então, antes de encerrarmos o treinamento, quero dizer o quanto estou impressionando com o progresso de todos. – Dan revira os olhos e mira o relógio. Precisaria correr para a pista de atletismo _ Vamos conferir o desempenho no último dever de casa. Quando acertarem, Mike ou o Dan tocarão vocês e poderão se sentar.
Quinn, Puck, Santana, Brittany, Tina e Sam são liberados rapidamente. Apenas Rory, Mercedes e Finn seguem com a coreografia. O brasileiro refaz os passos e o grandalhão tem o aval do maestro para se retirar. O leprechaun acerta o último giro e se senta. Os olhares se concentram na negra, que reclama de dores nas pernas. Mike e Dan repetem os passos de forma mais lenta sem que ela consiga acompanhar.
_ Mercedes, tente dar o seu melhor. Você praticou em casa? – solicita o professor.
_ O senhor está sempre implicando comigo, querendo me desanimar... Não vejo metade da equipe pegando pesado nas coreografias! Todo mundo sabe que alguns são preferidos... São sempre os mesmos com solos, com destaques nas danças... – a acusação frustra o grupo e o loiro tenta conter o impulso da namorada _ Eu sei me virar sozinha, Samuel! Por dois anos, eu aceitei ser ofuscada... Mas, agora chega! – a menina se dirige para a porta da sala de ensaios.
_ Mercedes! Se sair, você está fora do Glee Club! – determinar o professor. A garota hesita e torna a encarar o grupo após os protestos dos colegas. Ela sorri pela defesa.
_ Como assim? Se a minha namorada for expulsa, também estou fora! – afirma Sam correndo para alcançar a garota.
O brasileiro se irrita com a discussão e chama o irlandês para abandonarem a pratica. O atletismo começaria em menos de dez minutos e não se atrasaria novamente. Há tempos, o New Directions, ironicamente, perdera a direção de trabalho coletivo. A ação mais competitiva gerada desde a candidatura oficial de Sue Sylvester ao senado desconfigurou o senso original do coral. O imigrante recoloca o boné e a mochila nas costas detonando o pouco de paciência ainda conservada pelo adulto.
_ Nós temos treino em minutos. O senhor sabia disto, mas, preferiu evitar problemas com a treinadora Beiste e prejudicar a gente... Agora, não esperem que eu perca o meu treino, por algo sem sentido... Nenhuma coreografia nos desclassificou nas Nacionais, mas, sim, o estúpido beijo da Rachel e do Finn.
_ Achei que já tínhamos superado isso... – resmunga o quarterback.
_ Esqueça, Finn. Metade de vocês se formará e achei que estivessem dispostos a se superar para conquistarmos as Nacionais... Estou errado? – questiona o professor.
_ Não, mas, o coral nunca se limitou aos resultados, pelo menos, não até hoje. Sempre consideramos o Glee Club como o único lugar em que podíamos ser nós mesmos. – confessa Mike, recebendo o imediato apoio da namorada.
_ Por mais que alguns sonhem com os palcos, a Broadway e o estrelado... A maioria ainda está tentando descobrir o que fazer no futuro... Boa parte das nossas dúvidas se esclareciam graças aos ensaios... Nós, realmente, queremos arrasar nas Nacionais, só não queremos perder o que nos manteve unidos. – ressalta Tina.
_ Vocês tem razão e peço desculpas se exagerei... Agora, todos terão que participar dos ensaios extras e bom, não nos concentraremos apenas na dança. Canto, afinação e interpretação farão parte do pacote... E fiquem tranqüilos, garotos, planejarei melhor os horários para não prejudicar ninguém, estamos entendidos? – propõe o maestro sendo aplaudido pela maioria dos adolescentes.
_ É, também acho que peguei pesado no drama... Foi mal, pessoal! Prometo não me atrasar e me dedicar mais a coreografia. – a negra se compromete, recebendo o abraço carinhoso do loiro predileto.
Judy Fabray poderia ter todos os defeitos do mundo, mas, possuía uma qualidade irritante: determinação. Deste modo, Quinn já estava acostumada a ceder aos seus caprichos desde a tenra infância. Por isso, não discutiu quando o a mulher decretou que o novo namorado deveria ser apresentado formalmente ainda naquela semana. Ela observa o imigrante fazendo besteiras com Puck e Finn durante a entediante aula de química. Rachel lhe cutuca e repassa um recado para ser entregue a Kurt. A loira revira os olhos pela tarefa de mensageira e, mentalmente, agradece a companheira de estudos. Minutos depois, Daniel recebe um bilhete, que acaba com o entusiasmo para conturbar a classe. Você quer jantar na minha casa nesta quinta-feira? Minha mãe convidou.
Por que? É a pergunta que o imigrante se faz silenciosamente antes de anotar um simples Ok em concordância. Tamanha receptividade impressiona a garota que esperava uma verdadeira batalha. A notícia se espalha misteriosamente entre os integrantes do coral e os conselhos são surreais. Kurt e Blaine torram a paciência indicando modelitos formais, Rachel, Tina, Brittany e Mercedes enumeram dicas de comportamento e Santana se diverte importunando o casal. Sam, Puck, Adam e Finn debochavam incessantemente da assustadora tarefa em lidar com a arrogante mãe da loira. Mike, Artie e Rory tentavam transmitir algum suporte ao atordoado amigo. Simultaneamente, Will força Emma a introduzi-los aos seus pais e a situação foge ao controle.
Infelizmente, o calendário denuncia a chegada da quinta-feira. Piadinhas de Adam e Puck a caminho da escola. Bilhetinho debochado da latina durante a aula de literatura. Praticamente um interrogatório no horário de almoço e o massacre de comentários no ensaio. A divulgação dos escolhidos para o musical remodela a discussão e a postura de Mercedes surpreende pela recusa em dividir o papel principal com Rachel.
O maestro relembra a expansão dos treinamentos extras na próxima semana e abre vagas para novos assistentes. O hippie e o cadeirante se empolgam para repassar noções instrumentais, a solista de Amor, Sublime Amor se nomeia a responsável pela afinação do coral e para equilibrar as atividades, a asiática é convidada pelo próprio maestro para auxiliar e moderar a empolgação da instrutora. Britanny se dispõe a colaborar com as sessões de coreografia e a ex-capitã das cheerios se empolga com a possibilidade de recuperar o contato direto com a dança e também se coloca a disposição.
Com o fim do ensaio, os integrantes se dispersam entre treinos físicos e atividades extracurriculares. O sol e os exercícios intermináveis levam os corredores a completa exaustão. O cansaço é tamanho que Rory e Daniel se arrastam até a quadra e se juntam aos primos e ao asiático para assistir a pratica feminina de vôlei. A nova treinadora estava encontrando sérias dificuldades para montar equipes competitivas. O treino acaba e a loira reafirma o horário do jantar. Nova oportunidade para a gozação. O aluno revira os olhos e corre para encontrar o padrinho no estacionamento, que depois de soltar diversas dicas, cede o carro para a ocasião. Desde o retorno do Rio de Janeiro, o brasileiro estava envolvido com o processo para a retirada de sua carteira de motorista.
A campainha toca com oito minutos de antecedência. A garota corre para abrir a porta e o sorriso é imediato. O rosto não escondia o desgaste físico e o rapaz tenta inutilmente disfarçar o bocejo com as mãos. Ela ri diante da situação e lhe convida para entrar. Tênis, calça jeans e uma camisa preta. Ele percebe a vigília sobre si e revela que o padrinho havia emprestado a camisa mais social.
Judy Fabray percebe o falatório em sua sala e desce as escadas para recepcionar o namorado da filha. Daniel Aragão Stuart. Fisionomia cansada, sotaque carregado, roupa nada apropriada para a ocasião e nenhum nervosismo ao cumprimentar a provável sogra. A mulher poderia citar dezenas de diferenças entre o brasileiro e os antigos relacionamentos da filha, contudo, estava exatamente na menina, a mais nítida distinção. Anteriormente, Quinn agia de forma estritamente calculada e mantinha distancia, entretanto, parecia ter abandonado a opção. A menina fazia questão de manter as mãos entrelaçadas e sorrir a cada fala do novo pretendente. Econômico nas palavras, nas explicações sobre o passado e, especialmente, sobre a família. O assunto visivelmente incomodava o casal e era sumariamente descartado. Ponto negativo. A refeição é servida e o interrogatório é levemente alterado para os planos para o futuro.
Repentinamente, o jovem leva a mão ao bolso da calça e pede licença para atender a uma ligação, aparentemente, do trabalho. Em tom mais contido, o imigrante amaldiçoa Sam pela hora inapropriada para o esclarecimento de uma dúvida tão descabida. As gargalhadas ao fundo da ligação confirmam a presença de Puck. Palavrões em português são as últimas coisas que o loiro e o moicano captam antes que ele desligue. A dupla explode em risadas e espalham os detalhes arrancados entre os integrantes do coral. Mike chega ao cumulo de encerrar uma sessão de estudo prematuramente para escutar ao relato completo. Os dramas estavam momentamente enterrados.
_ Sam? Você estava conversando com Sam Evans, o ex-namorado da Quinn? – pergunta a adulta assim que o rapaz retorna para a mesa. A filha se remexe na cadeira.
_ Sim, nós trabalhamos na mesma empresa, em turnos diferentes. Ele só queria esclarecer uma pendência no sistema de vigilância.
_ Bom, saber que não há nenhum problema entre vocês... Finn Hudson e Noah Puckerman também fazem parte do Glee Club, não é? – o tom da mulher é quase irônico. O mal estar se instala entre o trio _ Vocês são amigos? – o adolescente apenas confirma com um gesto de cabeça _ Muito maduro da sua parte, Daniel. Mas, você trabalha na empresa de vigilância Chang, não é? Eu estou mesmo pensando em instalar algum sistema de segurança na minha casa. Você poderia me recomendar algum?
A pergunta é altamente tendenciosa, intenção que passa despercebida para o jovem que se concentra em explicar detalhadamente as possibilidades que a companhia poderia oferecer para a residência. Quinn se impressiona com a excelente explanação do namorado e quase ri ao recordar da pergunta anterior de sua mãe. Ele não fazia ideia de que curso universitário seguiria? Realmente, Daniel se superava no quesito distração. O rapaz entendia plenamente as disposições eletrônicas do complexo sistema de vigilância. As explicações impressionam a adulta, que se compromete em visitar a empresa nos próximos dias. Educadamente, Judy se despede dos adolescentes alegando uma pequena indisposição e solicita que a filha organize a cozinha. Com a ausência da sogra, o brasileiro se sente mais relaxado e devora mais uma fatia da deliciosa torta. Morar com Will Schuester era extremamente agradável, entretanto, as refeições eram bastante básicas e os doces eram raras contribuições de Emma. Afinal, Will e Dan não eram grandes cozinheiros.
_ Posso recolher a louça ou você ainda vai atacar o bolo de chocolate? – ele nega _ Prometo que eu corto um pedaço da torta para viagem, se me ajudar com a louça!
_ Como se precisasse apelar, branquinha. – ela sorri pela menção do apelido _ Sou um rapaz prendado, lembra? Então, eu lavo a louça e você guarda! – ele retira as últimas coisas da mesa e liga a torneira.
Sonoras gargalhadas ecoam pela apática residência e a única adulta do recinto reconhece a risada da filha. A ação inevitável é observar clandestinamente a interação do jovem casal. Há quanto tempo, a menina não gargalhava com tanta intensidade? Por algum motivo, Quinn batia levemente a toalha nas costas do convidado, que reclamava da baixa temperatura da água. Além de contemplar a filha totalmente relaxada, o auxílio do rapaz desperta certa inveja na mulher. Em 23 anos de casamento, Russel sequer cogitou a hipótese de efetuar o menor serviço doméstico nas folgas dos empregados. Não fora apenas a colaboração masculina, a inveja fora desencadeada pela visível alegria do casal em compartilhar o singelo momento. A cumplicidade sempre fora vencida pelas aparências na relação com o ex-marido. A mulher torce o nariz para o gesto do genro e ruma novamente para o quarto com a sensação de superioridade. Ao relatar o atual emprego, o genro citara rapidamente as passagens como garçom. Afinal, ele deveria estar acostumado. Aquele imigrante poderia fazer a filha sorrir, porém, somente isso. Daniel Aragão Stuart nunca estaria altura daquela família, independentemente, da farsa em que se transformara a família Fabray.
A tarefa é cumprida rapidamente e o casal se acomoda no sofá e se distrai com algum filme na televisão até a nova mensagem do professor, alertando sobre o termino do jantar com os pais da conselheira estudantil. Hora de contabilizar os danos. O rapaz estaciona na garagem do prédio e suspira cansado. A primeira visão ao abrir a porta é do padrinho sentado com uma garrafa de cerveja nas mãos.
_ Bebendo? Pelo visto, o seu jantar também foi uma porcaria... – o menino se encaminha a geladeira e apanha outra cerveja.
_ É, eu descobri que existem pessoas que acreditam que os ruivos são uma espécie superior... Judy Fabray não pode ser pior do que partidários da supremacia ruiva.
_ O que? – os dois gargalham _ É, talvez... Mas, ficou claro que ela não considera o filho de um preso e de uma deportada a melhor opção para a filha.
_ A mulher que expulsou de casa a filha adolescente apenas por ter engravidado? Judy Fabray não é nenhum exemplo a ser seguido... E não se preocupe, Quinn cresceu demais para ser influenciada pela opinião preconceituosa da mãe.
_ Acho que posso dizer o mesmo da senhorita Pillsbury... – brinca o brasileiro, ao tomar mais um gole da bebida alcoólica.
_ Você precisa se acostumar rapidamente em chamá-la de Emma ou a convivência nesta casa ficará esquisita. – o menino não compreende _ Depois do desastre do jantar, nós chegamos a conclusão que estamos prontos para morarmos juntos... Você deve se formar no fim deste ano...
_ Eu não estaria tão certo disto, Will. Minhas notas estão péssimas... – o jovem finaliza a cerveja e se levanta para buscar outra. A agitação desnecessária intriga o adulto.
_ Concordo e acho que poderia ser útil se você e o Puck voltassem a estudar com o Artie. Enfim... Nós conversamos, só que nunca faríamos nada sem que você estivesse totalmente confortável e de acordo com a situação... Afinal, essa também é a sua casa.
_ Isso quer dizer que... Depende de mim? – o homem confirma e o rapaz fica desconcertado. Ninguém jamais havia demonstrado tamanha consideração com seu bem estar _ A senhorita Pillsbury é sensacional. Pra quando é a mudança?
O maestro agradece ao apoio incondicional e esclarece que a ideia estava apenas sendo modelada e que não havia motivo para apressar o relacionamento. Tudo em seu devido tempo. A loira boceja sonolenta pela alta dosagem de tensão nas últimas horas. A apresentação do namoradinho havia transcorrido de forma muito mais calma e saudável do que a previsto. Contudo, sabia que a verdade estava ainda para ser revelada.
_ Você ia se recolher sem pedir a minha opinião a respeito do seu namorado? – a garota se cala e a adulta prossegue _ Definitivamente, esse garoto possui mais neurônios do que os dois que você tinha me apresentado. Mas, não se apegue demais, filha. Ele é o que tem menos chance de lhe tirar de Lima. Seu namorado não tem nenhuma perspectiva de futuro... – sentencia visceralmente.
_ Aceito a sua opinião, só não espere que eu leve isso em consideração. Não preciso que ninguém me tire de Lima... Posso conseguir isso sozinha! – esbraveja a jovem.
_ Não me entenda mal, Quinnie. Conheço perfeitamente o seu potencial, mas, também estou ciente da sua personalidade...Em todas as decisões relevantes, você precisou do suporte de alguém. Por isso, não consigo imaginá-la abandonando a cidade por conta própria. – a mãe jamais levantou a mão para lhe agredir fisicamente, porque efetuava com palavras ríspidas hematomas mais profundos do que qualquer surra.
A ação cabível para a jovem é abandonar o recinto e se isolar no quarto. A tensão acumulada lhe corroi internamente e as lágrimas exteriorizam a raiva contida. Ela agarra o celular e busca pelo número do namorado... A primeira chamada lhe relembra a citada fragilidade e a ligação é interrompida. Ela mira a escrivaninha e visualiza a recente foto tirada com Beth em seus braços. A bagunça emotiva é contida e a reviravolta se consolida ao ser atendida por Noah Puckerman, que resmunga pelo horário tão avançado. Ao mencionar a filha¸ o atleta demonstra plena consciência e relata que a proximidade com Shelby Concoran aumentava diariamente. O plano estava se desenrolando da maneira desejada. Em breve, a sua vida entraria nos eixos novamente.
Bom, voltando a postar após alguns meses parado devido a problemas pessoais. Inicialmente, gostaria de agradecer o interesse dos possíveis leitores e ressaltar que comentários, opiniões e críticas são extremamente positivas e sempre bem-vindas! Agora, preferi manter Sam Evans desde o início e ainda namorando a Mercedes e inserir o Rory (Damien), Harmony (Lindsay) e Adam (Sam), todos do Glee Project, desde o primeiro capítulo. Acham que a ideia foi boa? Enfim, o personagem brasileiro, Daniel Aragão, é original e esta é a terceira parte de uma série que fiz remontando desde a primeira temporada com a presença deste brasileiro.
Quem quiser conferir a primeira temporada: .net/s/6950882/1/Voce_Vai_Lembrar_de_Mim
E a segunda .net/s/6986195/1/Well_Be_Alright Espero atrair leitores e acompanhar com vocês este terceiro ano de Glee, com um ingrediente bastante brasileiro. Devo postar mais até o fim da semana!
