Título: Sempre
Autora: Lab Girl
Beta: MLSP
Categoria: Bones, B&B, 6ª temporada, angst, romance
Advertências: Tema, situações e linguagem adulta
Classificação: R
Spoilers: menções a acontecimentos dos episódios 4x25, 6x08 e 6x09
Capítulo: 1/10
Status: Completa
Sumário: Há coisas que, apesar dos vendavais de mudança, permanecem... sempre.
Linha do tempo: Esta história se passa algum tempo depois dos acontecimentos do episódio 6x09 (The Doctor in the Photo)
* Dedicada especialmente a Fernanda e a Jaque *
Os olhos dele se ergueram a tempo de ver a figura da parceira atravessando a rua em direção ao Diner. Seu coração deu um pequeno salto involuntário ao vê-la se aperceber de sua figura através da enorme janela de vidro, os cabelos roçando o rosto com o vento frio da noite, enquanto um leve sorriso adornou as feições delicadas que tanto conhecia.
A garçonete se aproximou para deixar os pedidos que ele havia feito sobre a mesa. Com um meneio, Booth agradeceu. O som do sino que ficava sobre a porta do restaurante soou, e ele ergueu o olhar para ver a entrada dela.
Bones parecia feliz. E ele retribuiu o sorriso dela assim que a parceira se acomodou na cadeira diante da sua.
"Espero não ter demorado muito" ela disse, à guisa de desculpas. "Só terminei de reconstruir o esqueleto da vítima agora há pouco."
"Não faz mal. Eu tomei a liberdade de fazer nossos pedidos, para adiantar."
Os olhos de Temperance se abaixaram para o prato de salada sobre a mesa, o copo de água logo ao lado, e uma pequena tigela de molho à base de limão. Ela tornou a erguê-los para o parceiro em seguida, um novo sorriso no rosto.
Booth a conhecia tão bem... bem o bastante para saber o que ela gostava de comer, e como gostava.
"Bom apetite" ele disse, erguendo o garfo em uma das mãos antes de começar a saborear os ovos que havia pedido.
Ela concentrou-se na própria comida, devorando algumas garfadas da salada reforçada com diferentes verduras e legumes.
"Como foi com o suspeito?" ela perguntou enquanto levava o copo com água aos lábios.
"Hum... sem muita novidade. O sujeito disse que só viu a vítima uma vez, quando foi buscar emprego na agência dele."
"Então continuamos com a mulher dele como principal suspeita?"
"Parece que sim. Ela recebeu uma bolada com o seguro pela morte do marido."
O resto da refeição de ambos transcorreu em silêncio. Assim que terminou, Booth acenou para a garçonete e pediu um pedaço de torta de amora. Temperance pediu uma xícara de café. Quando o doce e a bebida foram servidos, Temperance percebeu-se a observar as luzes de Natal do outro lado da rua.
"São bonitas, não são?" Booth murmurou, entre uma mordida de torta e outra.
"São... muito bonitas" Temperance se ouviu murmurar. Voltando os olhos para a mesa, bebericou mais um gole de seu café. "E então, quando Hannah voltará de viagem?"
"Ainda não sei" Booth respondeu, brincando um pouco com o garfo e o recheio da torta em seu prato. "Quando ela vai nessas missões do jornal, nunca se sabe por quanto tempo vai demorar."
"O Natal é dentro de uma semana" Temperance observou.
"Nesse tipo de trabalho não existem coisas como feriados, Bones" Booth sorriu melancolicamente. "É como na nossa profissão... assassinatos nunca tiram férias, certo?"
"Achei que os jornalistas tivessem mais liberdade nesse quesito."
"Não" Booth sacudiu a cabeça, mordiscando um pouco mais de sua torta. "E ela começou a trabalhar no Washington Post faz pouco tempo, não é como se pudesse escolher as matérias ou quando vai ter folga."
"Entendo" Temperance murmurou. "Então não sabe ainda se vai passar o Natal com Hannah?"
"Ainda não" Booth admitiu, o rosto adquirindo uma expressão sem graça.
Não havia sido realmente intenção de Temperance fazê-lo sentir-se assim. De modo que sabia que uma mudança no rumo da conversa seria bem-vinda.
"Se não tiver para onde ir na noite da véspera de Natal, pode passar conosco."
"Conosco?" ele franziu a testa.
"Na minha casa. Angela e Hodgins vão passar a véspera do Natal na minha casa."
Booth arqueou as sobrancelhas ante a notícia. "Seria ótimo. Se a Hannah não estiver, vou gostar de passar com vocês."
Temperance sentiu uma pequena sensação de alívio dentro do peito. Mas, ao mesmo tempo, sabia que caso a namorada já tivesse retornado a cidade, seu convite não seria aceito.
Mesmo assim, tentou não pensar nisso. E tomou mais um gole de café. Então a sensaçãozinha que a estivera atormentando durante toda a semana resolveu voltar justo naquele instante. E algo lhe dizia que talvez fosse o momento para contar ao parceiro o que estava para acontecer. Afinal de contas, não seria algo que poderia esconder por muito tempo, era melhor que ele soubesse logo.
"Eu vou ter um filho" ela soltou.
O semblante de Booth mudou completamente naquele minuto. Os olhos se abriram, os lábios também. Ele a encarou daquela maneira, em silêncio, durante longos segundos.
Quando Temperance já começava a se preparar para repetir o que dissera, ele finalmente falou.
"O quê?" o ar era de absoluta incredulidade. "Você... você está grávida?"
"Não" ela tratou logo de esclarecer. "Na verdade eu decidi ter um filho. Vou ser inseminada amanhã."
A expressão de Booth transformou-se, o rosto mudando da surpresa para algo bem próximo da indignação.
"Como é? Você não pode!" ele exclamou, sem se dar conta de que alguns clientes lançavam olhares curiosos para a mesa deles. "Ficou maluca, Bones?"
"Não. Eu estou em perfeito gozo das minhas faculdades mentais" ela rebateu, ofendida pelo tom e pelas palavras dele.
"Você não pode fazer isso" ele tornou a dizer, como se não a tivesse escutado.
"Por que não? Sou adulta, bem sucedida, tenho dinheiro... eu posso muito bem ter um filho e é o que farei" Temperance retrucou.
"Não, você não pode usar meu... meu..." ele se atrapalhou, baixando finalmente a voz "...meu material" ele disse, por fim.
"Quem disse que vou usar seu esperma?" ela o encarou, os olhos queimando. "Você acha mesmo que eu usaria sem sua autorização? E muito menos agora, que está envolvido em um relacionamento monogâmico e estável... não me conhece tão bem assim, se foi o que pensou."
Ela levantou da mesa, puxando a bolsa a tiracolo. Naquele instante, Booth sentiu o mundo girar mais rápido e a visão turvar-se por um segundo. Antes que percebesse, estava se levantando também. Atirou uma nota de forma descuidada sobre a mesa, e correu para fora do restaurante.
Booth a avistou do outro lado, ela já estava na outra calçada e andava rapidamente. Ele andou depressa a fim de alcançá-la, chegando a praticamente correr quando a viu parar um táxi.
"Você não vai a lugar nenhum" a voz dele ecoou como um trovão ao segurar com força a porta de trás do carro onde Temperance estava prestes a entrar. "Não sem antes falar comigo."
Ela o fitou com fúria e aborrecimento nos olhos.
"Eu não tenho mais nada para falar com você" ela disse, fria, se abaixando para sentar no banco de trás do táxi.
A mão de Booth foi mais rápida e segurou-lhe o braço, impedindo-lhe o movimento.
"Mas eu tenho que falar com você. E você precisa me ouvir."
O tom era sério. E ela não tinha a menor dúvida de que ele não aceitaria uma resposta negativa. E mesmo que o dispensasse e partisse naquele táxi, ele certamente apareceria à sua porta, nada disposto a aceitar sua recusa em ouvi-lo.
Decidindo, mesmo contra a vontade, que era melhor escutar o que Booth tinha a dizer antes de ir embora, ela dispensou o táxi e caminhou de volta à calçada com o parceiro.
Parando diante de um muro de tijolos, Temperance cruzou os braços na frente do corpo, sem dizer palavra. Mas ele soube que era a deixa para que dissesse logo o que tinha a dizer.
"Eu não quis ofender você, Bones" ele começou, tentando achar as palavras certas para o que ele nem mesmo sabia direito que queria dizer. "Você é uma pessoa honesta, e eu sei que não usaria o meu... bem, o meu material sem a minha permissão."
Booth então suspirou, e pela primeira vez percebeu que estava suando, apesar do frio invernal que fazia na rua.
"Mas eu continuo certo de que você não pode fazer isso. Está cometendo um erro... está se precipitando..."
"Me precipitando?" ela o encarou, desafiante. "Me precipitando, Booth? Há um ano atrás eu tomei essa decisão, e só não levei adiante por sua causa"
"Por minha causa?" ele pareceu indignado.
"Sim! Porque você quase enlouqueceu... e disse que não podia fazer isso... e depois teve a cirurgia... e antes de ser operado você me pediu que..." ela se calou, de repente.
Mas Booth a encarava, sentindo um monstro quente subir por seu estômago, se apoderando de seu peito. "Eu queria ajudar você... você queria um filho, eu estava disposto a te ajudar. Mas tinha que ser tudo do seu jeito"
"Claro! Era a minha gravidez, o meu filho" ela exclamou.
"Isso! Foi justamente isso. Seu filho..." ele apontou um dedo acusador para ela, a voz subindo sem que tivesse qualquer controle. "Era pra ser seu filho, não nosso... e eu não poderia nem chegar perto da criança. Era assim que você queria."
"Eu nunca disse que você não chegaria perto da criança" ela o cortou, surpresa com aquela afirmação.
"Você disse que não era pra eu me envolver, que não queria que eu me envolvesse... pra mim isso diz o bastante" ele a encarava, os olhos ardendo diante das lembranças. "Como você queria que eu me sentisse? Eu seria um mero objeto, não um pai!"
Ela percebeu o brilho de lágrimas contidas nos olhos dele. Ela sabia o quanto ser pai era importante para ele. Mas nunca havia sido sua intenção magoá-lo com aquilo. E ele mesmo tinha se oferecido para doar...
"Isso tudo já passou. A questão agora não tem nada a ver com você" ela disse.
"Nunca teve, não é?" ele rilhou os dentes, quase sem perceber. "Nunca teve a ver comigo... eu fui só um meio pra você satisfazer seu desejo egoísta de ter um filho."
As palavras saíram sem controle.
E Temperance sentiu como se tivesse levado um tapa na cara. Seu rosto ardeu com o frio e com a sensação de raiva.
"O meu desejo de ter um filho não é egoísta" ela murmurou, a voz baixando um tom, que porém, ainda guardava um misto de mágoa e dor. "Eu pensei muito nos últimos meses... e cheguei à conclusão de que pode ser muito satisfatório ter um filho. Eu tenho acompanhado a sua interação com Parker ao longo dos anos... vi como Cam mudou depois de se tornar mãe... e agora Hodgins e Angela... eles parecem tão felizes, tão realizados... e isso é importante para mim. Me realizar além do meu lado profissional. Quero ter alguém para quem voltar no final do dia. Quero ter uma motivação além do meu trabalho. Eu também quero sentir isso..."
Temperance nem se deu conta de que as lágrimas rolavam por seu rosto. A expressão de Booth estava dolorida, enquanto olhava para ela, e percebeu que havia dito demais. Não era realmente sua intenção dizer a ele como se sentia, as razões que a estavam levando a desejar tão ardentemente um filho naquele ponto de sua vida. Por isso calou-se.
Ela levou as mãos ao rosto, secando as lágrimas inoportunas. Quando tornou a olhar para o parceiro, ele sacudia a cabeça.
"Está vendo só?" Booth murmurou. "Foi o que eu disse. Você, você e você... é sempre o elemento 'você' que pesa na sua decisão de ter um filho. Isso é tão egoísta!"
Ela sentiu, pela segunda vez, como se ele a tivesse agredido fisicamente. A reação de Booth não era nada do que poderia ter esperado. Mas, afinal, o que queria? Desde que voltara do Afeganistão as reações dele não eram mais o que esperava.
"Você acha que eu sou egoísta?" ela ergueu a voz, sem se importar. "Só porque eu quero ter um filho para não me sentir tão sozinha? Eu tenho novidades pra você, Seeley Booth..." Temperance apertou as mãos ao lado do corpo, sentindo-se nervosa. "Você seguiu em frente... você deu um novo rumo à sua vida. Encontrou alguém com quem partilhá-la. Você tem um filho que ama e que o ama de volta. Tem tudo o que queria, não é? Então por que não me deixa em paz para ter o mesmo? Eu também quero ser feliz... eu também quero amar e ser amada incondicionalmente. Eu também quero ter alguém para partilhar a vida comigo" ela sentia-se prestes a perder a postura e chorar outra vez, mas se conteve com toda a força. "Eu fiquei feliz por você, Booth. Eu entendi que a minha chance passou, e me permiti ser feliz por você... aceitei que o seu amor não era mais meu, e mesmo assim fiquei do seu lado, apoiei a sua decisão. Então por que é que você não pode fazer o mesmo por mim agora?"
As palavras dela foram como um soco no estômago de Booth. Ele não poderia dizer que ela estava errada. Na verdade, ela tinha razão no que estava dizendo. Mas seu interior, ainda assim, se revirava ante a ideia de que ela iria fazer um filho com um doador estranho e anônimo, apenas para satisfazer a ânsia de ser mãe.
Ele entendia com a cabeça. Mas seu coração não queria aceitar. E aquela realização o surpreendeu de forma inesperada.
Céus...
Ainda sentia alguma coisa por Bones, não sentia?
A constatação o atingiu junto com a rajada de vento frio que cortou seu rosto, fazendo seu corpo tremer. Mas Booth não conseguiu se mover. Não conseguiu dizer nada. Não tinha argumentos para prosseguir. E permaneceu colado à calçada quando ela parou outro táxi e partiu, deixando-o sozinho em seu choque.
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Reviews farão meu dia :)
