"Os olhos dela eram tristes e distantes, como se ela não nos visse. Eu não sentia nada, só consegui ver seu borrão enquanto corria até Hinata e a abraçava. Meus pés ficaram no chão sem saber para onde ir. Ela ainda me olhava e, do mesmo jeito que eu me lembrava, me chamou:
- Cerejeira?"
1º de janeiro de 2004, casa de praia dos Hyuuga
00h05min
Era engraçado como eles se beijavam, era romântico, ansioso, quente e muito sincero, coisa que a Haruno achava nunca experimentar.
Havia aceitado passar a virada de ano na casa da família de Hinata, com o resto do grupo. Estavam fazendo daquilo uma despedida, deixando problemas, sofrimentos e erros no passado, como o ano que se ia, e principalmente se despedindo dos amigos que talvez nunca mais pudessem ver. Era tempo das escolhas para faculdade e muitos deles estavam felizes por finalmente ter chegado.
Sakura ouvia risadas, conversas e alguém ao longe tocando violão enquanto esperava Ino ao lado de fora do banheiro, rezando para que ela não estivesse caída no sono em cima da tampa do sanitário. Foi a partir disso que viu o beijo. Nunca realmente pensara nos dois neste tipo de relacionamento, nem nunca havia percebido o clima que rolava e se espantou com isso. Talvez não fosse espanto que a rósea houvesse sentido, mas não deu ouvidos ao sentimento que lhe bateu.
O jeito como Sasuke a apertava contra si era calmo e forte, trazendo um pouco de desespero e pressa ao que o corpo pequeno e esguio de Hinata tremia em contato ao corpo masculino, tão novo para a jovem e doce, o que impressionava a quem via.
Sakura nunca imaginou uma atitude tão amável vinda do Uchiha e por uma fração de segundos sentiu inveja da garota. Culpou-se ao máximo, afinal, Hinata era sua amiga. A única coisa que poderia fazer a seguir era botar Ino em uma cama, voltar para o grupo e contar a novidade, mas não foi isso que aconteceu. Ino saiu do banheiro a tempo de ver a cena e sair correndo cambaleando bêbada para fora gritando a novidade a quem quisesse ouvir, levando ate o casal faces conhecidas tomadas de espanto e incredulidade, fazendo Hinata ir a um estado caótico de vermelhidão. Sakura olhava a cena pela janela, onde havia visto tudo, logo recebendo um olhar profundo e cheio de sentimentos incompreensíveis do Uchiha. O que fez foi ir se juntar aos outros e, como eles, parabenizar o casal, como se nada tivesse acontecido.
21 de julho de 2010, escritório do banco Uchiha
19h08min
Nem sabia mais quanto tempo fazia que não a via, também não faria diferença, ela nunca fez diferença e agora estava irritado por pegar lembrando-se dela. A única coisa que queria era sair dali e voltar para os braços tão familiares e dóceis de Hinata como já fazia a alguns anos.
Ela era o que qualquer homem ao seu nível precisava: amável, elegante, companheira, inteligente, boa mãe... sua vida era aquilo que sempre desejou. Nem nunca esperou amar e ser amado e o que a senhora Uchiha lhe dava já lhe bastava.
Como habitual, deixou o trabalho às 19h10min e seguiu com o seu elegante carro pelas ruas daquele bairro nobre que naquela quarta-feira tinham um tráfego moderado. Parou em um sinal vermelho e respirou calmamente. Hinata e os filhos não estariam em casa, pois haviam ido antecipadamente para o Havaí em férias que já estavam planejando há tempos, mas ele só iria no sábado, a fim de deixar todo seu trabalho em ordem. O sinal abriu ao mesmo tempo em que seu celular tocou no banco traseiro. Saiu com o carro e esticando o um dos braços tateou o banco a procura celular. Ao que encontrou o aparelho, um carro vindo do nada bateu no seu e Sasuke não viu mais nada.
Quando acordou, deparou-se com um lugar enjoativamente branco, uma dor terrível nas costelas e um par de olhos esmeraldas a lhe fitarem surpresos. Sabia exatamente a quem pertenciam e rezou para que estivesse muito errado, mas sabia que estava certo, afinal, nunca poderia esquecer aqueles olhos.
A única coisa que fez foi suspirar e fechar os olhos lentamente. Talvez ela fosse embora e tudo não passasse de um sonho e quem voltasse a ver quando abrisse os olhos de novo fosse Hinata. Esperou apenas alguns minutos. Logo que os abriu de novo, foi o rosto de Sakura que preencheu sua visão.
Ela estava imóvel e desajeitada, sem saber o que fazer. Havia um sorriso trêmulo e tímido em sua face, fazendo algo novo esquentar dentro do homem que a analisava. Há tempos não via algo tão sincero e ingênuo, o que trouxe sentimentos que ele há anos jogara fora. Não se sentia confortável na presença dela e nunca se sentiu exatamente por causa das sensações que ela trazia. Por não conhecê-las, tinha receio no quanto a garota –agora mulher- poderia transformar sua vida. Pra ele, ela sempre foi um mundo inexplorável, perigoso e, portanto, nada que lhe interessasse. Então, disse:
-Onde estou?- usou sua voz mais fria e sem sentimentos, tentando não parecer tão submisso.
Sakura endireitou-se e na mesma frieza respondeu:
-Num hospital. Você sofreu um acidente de carro. - sentiu sua postura profissional voltar e respondeu tudo o que seu paciente perguntou.
Olhando-a por um instante percebeu o quanto bonita estava e como seu cabelo já não era longo mas ainda permanecia com sua cor tão incomum de ser. Automaticamente seu cérebro lhe lembrou de Hinata.
-Onde Hinata está? –como se a tivesse chamado, a morena entrou no quarto com o rosto banhado em lágrimas e o beijou vorazmente.
Sakura sentiu-se enjoar e como não agüentava todo aquele amor, deixou o lugar.
