Star Dance
Ela o amava. De longe, como toda humana, ela o amava. Ela o reconhecia no céu e torcia esperando pelo dia no qual ele desceria para as águas, como todas as estrelas fazem. Ela tinha deixado sua família, indo morar nas margens do Vilcanota, para garantir que não o perderia. Durante os dias, ela se banhava nas águas do rio, esperando-o, e durante a noite, dormia sob as estrelas, conversando com seu amado.
Ele a amava. Ele a observava dormir e falar, e seu coração apertava de desejo de encontrá-la. Mas nunca o deixavam descer, sabendo do perigo que corriam, pois a jovem não era digna de ser amada por ele e deveria ser sua inimiga. Ele brilhava mais forte quando não a via, na esperança que ela soubesse que não a tinha esquecido. E, quando as águas voltavam para o céu, se refastelava no cheiro do corpo dela, desejando-a de longe.
Um dia, quando não mais aguentava aquele amor que o torturava, ele enganou sua família e desceu para o Vilcanota durante a noite, enquanto todas as outras estrelas estavam no céu. Desceu próximo a ela, e ergueu-se do meio das águas para saudá-la finalmente.
Ela ficou espantada com o surgimento daquele belo homem, com cabelos e olhos prateados, a pele pálida e brilhante que refletia até mesmo a luz das águas. Mas, quando ele falou, ela ouviu na voz dele a música das estrelas, e soube que seu desejo tinha finalmente sido realizado. Ela o pediu para aproximar-se, pois queria tocá-lo, mas ao fazê-lo, o queimou, pois ela era filha do sol, que nascia em seus cabelos. Ambos sofreram, em desespero, pelo amor que não podiam consumar, até que ele voltou as águas, para amenizar sua dor.
Ela o seguiu, banhando-se com ele, e no meio das águas do Vilcanota, ela finalmente o beijou. Desta vez, a água impediu que os cabelos da filha do sol o queimassem, e ele pode finalmente ter seu amor, entre as águas do rio sagrado. Eles se amaram profundamente, e quando a manhã se aproximava, ele partiu antes que os cabelos dela o arruinassem.
Ele tinha esperado que o amor deles ficasse em segredo, mas logo ficou claro que ela estava esperando um filho, e os idosos das estrelas descobriram sua fuga. Eles temiam pelo que surgiria daquele amor, e planejaram raptar a criança assim que nascesse. Todas as noites, ele cantava para ela a música das estrelas, sabendo que ela não ouviria, mas esperando que seu filho o ouvisse de dentro do ventre e soubesse que era amado.
Ela contava para o filho sobre o amor de seus pais, sobre a história de seu povo, sobre o sol e as estrelas. E, conforme o tempo passou, sua barriga cresceu até que era o momento da criança nascer. Com medo, ela não estivera perto de seu povo em muito tempo, e não tinha ninguém para ajudá-la. Sozinha, ela deu a luz a criança nascida de seu amor proibido. Uma jovem, bela e brilhante, que ela acariciou antes de dormir de exaustão.
Os idosos das estrelas vieram enquanto ela dormia, e levaram a criança com elas para o céu. Quando acordou, ela chorou de desespero, chamando pela sua criança, e a dor da perda levou a sua vida. Ela não viu que, naquela noite, sua filha brilhou entre as estrelas, imensa e graciosa, iluminando o mundo.
Desesperado com a perda de sua amada, ele implorou aos idosos das estrelas que permitissem ela fosse levada até eles, pois ainda a amava. Impressionados com a beleza daquela criança, eles concordaram em fazer de sua amada uma estrela. Ao mesmo tempo, eles temiam a força daquela criança e o fizeram jurar que não a procuraria mais, pela segurança de todos.
Foi assim, da criança nascida da filha do sol e da estrela fugitiva, que surgiu a Lua. Da mãe que sofrera tanto para tê-la e perdê-la, veio a estrela do amor, com o brilho vermelho idêntico aos cabelos dela. E, todos os anos, quando chega a época do encontro dos amantes, comemoramos mais uma vez o amor que abençoou a todos.
