The Phantom Of Susan
Foi a irmã em que a corrente de sangue se partiu.
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~"Ela tinha vinte anos. E se achava tão velha."~
Através do vidro, ela se encanta com o brilho distante dos diamantes, apoiados em confortáveis tronos de veludo. Apontando, ela os nomeia mentalmente: o Magnífico, o Justo, a Gentil e a Valente. Mas então ela encontra seu reflexo ancião contra a vitrina, e nota como o tempo se abateu sobre ela.
Diante das joias, seu último pensamento foi esperar que se lembrassem dela apenas como um distante diamante.
Afastou-se então da loja e atravessou sem pressa a rua vazia. O vento agora soprava do oeste, e ela sabe que tudo se finda no oeste.
~"- Eu suponho que você nunca tenha tido de reconhecer um corpo, querida?
- Não.
- Isso é uma benção."~
Uma benção era. Para coroar uma jovem não-tão-criança, com uma mente especialmente inocente. E seus irmãos também foram inocentes. Porém tudo o que eles ganharam foi um encontro trágico entre dois trens.
Levou muito tempo até que ela voltasse a ler os obituários; talvez não soubesse o que procurava tanto, mas ela os abria todas as manhãs.
Talvez este fosse seu compromisso com a realidade.
~"Todos estavam lá. Inclusive aqueles quem ela havia esquecido."~
Ela carrega um livro de Mary Poppins nunca escrito, e decora suas passagens. Havia uma flor de rododendro entre as páginas.
A cada passo, as cores pareciam esmorecer do mundo. As poses imaginadas em sua mente eram capturadas nas fotografias de qualquer álbum velho e empoeirado; tudo isto para incorporar seu coração sépia. Ela amassa a grama alta com seus sapatos gastos, percorrendo labirintos em meio a epitáfios. Eram vozes, e eram apitos de trem.
Ela era Mary Poppins, e seu livro estava vazio.
~"No sonho, o Leão e a Feiticeira descem a montanha juntos."~
A Feiticeira Branca discutia de longe com o Leão. Mas ela não podia ouvir o que diziam. Eles se aproximavam um do outro, vindos de caminhos opostos, gritando, exaltados. Eles chegaram mais perto, quase se esbarrando, quase derrubando meio mundo.
Até que eles se chocaram, derrubando o mundo inteiro.
O trem-feiticeira e o trem-leão, os que assassinaram seus irmãos e irmã. Era isso o que eles eram, fora de Nárnia. E ela foi os olhos para identificar -- ela foi o rato afogado no carpete.
~"A morte chega à noite. Como um Leão."~
Ou como um trem. E o felino, ou a locomotiva, espreitava às suas costas, silencioso e maquinal. Não fora silencioso nem maquinal com seus irmãos. Fora triste.
Mas não restavam mais cabeças, então ninguém choraria por sua morte, não é mesmo? Olhos mortos não podem chorar, ela sabe disso. Apenas não sabia explicar como, agora, ela conseguia chorar.
Lágrimas secas que molhavam a terra, de onde nada mais nascerá. Os rododendros ficarão apenas para os livros, enquanto uma lápide se ergue sobre um livro em branco.
Esse é o fim da história inexistente.
N/A: É isso o que um escritor foda como o Neil Gaiman faz com as pessoas.
Fanfic baseada no conto de Neil Gaiman sobre Nárnia. Ou seja, fanfic baseada numa fanfic. (Y) Btw, o nome é The Problem of Susan. As frases em itálico e aspas são de fato do conto, tradução livre.
Só quem leu o conto é que tem condições de entender a fic. Caso contrário, tem que ter disposição (créu).
LILY, adorada, que me falou da existência desse conto! Obrigada por me aguentar no MSN desmembrando o texto e com ímpetos de escrever a fic s2
