Naruto não me pertence.

Essa historia é uma adaptação do livro "Mestre do Prazer" de Penny Jordan da editora Harlequin.

Essa adptação não tem fins lucrativos.

Capitulo Um

Hinata virou a cabeça para olhar seu filho de nove anos que brincava com amigo na praia. Correndo em ziguezague, lutando, pulando as ondas que suavemente quebravam

— Tomem cuidado vocês dois! — avisou, dizendo ao filho: — Boruto, não seja tão bruto. Vai acabar machucando Shikadai.

— Estamos brincando de bandidos. — Ele defendeu-se do golpe violento do amigo.

Brincar de bandido havia se tornado a brincadeira favorita nesse verão desde que Shikamaru, pai de Shikadai e contador do hotel do falecido marido, lhes contara histórias sobre a ilha e seus lendários bandidos.

Os cabelos do filho eram loiros, lisos e sedosos, ele possuía a pele oliva do pai, assim como os olhos da cor do mar, que às vezes ficavam levemente perolizados.

— Eu disse que ia conseguir me libertar — riu Shikadai quando se livrou com destreza do golpe de Boruto.

— Cuidado. Prestem atenção nas pedras — ela advertiu, quando Boruto derrubou Shikadai na areia, fazendo com que os dois rissem e rolassem juntos.

Meninos, pensou Hinata. Mas o coração ficou repleto de amor e orgulho ao vê-lo sair correndo para brincar numa área mais segura da areia. Virou-se para olhar o hotel no topo da rocha, enquanto mantinha a antena maternal alerta. Esse hotel era, em sua opinião, o mais bonito de todos os de seu falecido marido. Como presente de casamento, ele a autorizara a se encarregar da reforma e decoração. Valera cada centavo gasto, pois os hóspedes sempre elogiavam as idéias inovadoras e a determinação de manter o hotel exclusivo. Mas, com a morte de Jiraya, viera o choque: descobrir que os outros hotéis da rede não tinham alcançado o sucesso financeiro desse. Sem lhe contar, Jiraya contraíra empréstimos consideráveis para manter o negócio com os hotéis em hipoteca. Decisões erradas foram tomadas, talvez devido ao estado de saúde de Jiraya. Ele era um homem gentil, generoso e carinhoso, mas não a tratava como igual, sua confidente, em se tratando de assuntos financeiros e comerciais sempre foi Tsunade.

Para ele, ela devia ser protegida e mimada. Tinham se conhecido no Caribe, onde Jiraya investigava a possibilidade de comprar um novo hotel para acrescentar aos de sua propriedade.

Agora, além de lidar com a dor da perda, precisava enfrentar o fato de ter se tornado, da noite para o dia, da esposa mimada de um homem rico em uma viúva pobre. Menos de uma semana após a morte do marido, Shikamaru informara que Jiraya devia grandes somas de dinheiro, milhões, a um investidor desconhecido que o ajudara. Dera os hotéis como garantia. E embora ela tivesse implorado aos consultores para encontrarem uma maneira de manter esse hotel, eles avisaram que o investidor informara não estar disposto, em nenhuma hipótese, a atender a solicitação. Ela olhou novamente o filho. Ele sentiria falta dali e dos maravilhosos verões ali passados, mas sentiriam ainda mais falta de Jiraya. Embora fosse um pai idoso, incapaz de participar das brincadeiras de um garoto cheio de energia, ele adorava o filho, e era correspondido.

Agora Jiraya partira, e suas últimas palavras foram um pedido: prometer que sempre reconheceria a importância da herança Sardenha de Boruto. — Lembre-se de que tudo que fiz foi por amor, por você e por eles. Ela devia tanto a Jiraya! Ele lhe dera tanto! Tinha curado todos os males da jovem sofrida e carente que fora um dia, com amor e apoio. Os presentes que recebera não tinham preço: respeito por si mesma, independência emocional, capacidade de dar e receber amor de uma forma saudável e livre da dependência destrutiva. Ele tinha sido mais que um simples marido.

Já havia sido pobre – e sobrevivera. Mas, naquela época, não tinha um filho para preocupá-la. Hoje pela manhã recebera um e-mail gentil da escola, advertindo que o prazo para pagamento das taxas para o novo semestre logo venceria. A última coisa que queria era provocar mais tumulto em sua jovem vida, tirando da escola que adorava. Olhou para os anéis de diamante. Nunca sonhara com jóias caras. Jiraya é quem insistia em comprá-las. Já decidira vendê-las. Pelo menos tinham um teto durante as férias de verão dos meninos. Seu orgulho ficara ferido ao pedir aos advogados Do marido que tentassem conseguir a aprovação para ali permanecerem até o início do novo semestre, em setembro.

Sentira-se grata quando o pedido foi atendido. Sua própria infância fora tão sem amor e segurança que ao descobrir estar grávida fizera um juramento: seu filho nunca sofreria como ela. E por esse motivo... Virou a cabeça para olhar os filho. Sim, Jiraya a havia curado, mas ainda assim restara uma coisa. Uma insistente ferida permanecia aberta. A preocupação dos últimos meses a deixara, segundo sua própria opinião, magra demais.

Tinha 18 anos quando se casou e 19 quando Boruto nasceu; ficara muito feliz em aceitar a proposta de casamento apesar da diferença de idade. O casamento havia lhe proporcionado tudo que nunca tivera; não apenas em termos de segurança financeira. Jiraya tinha dado estabilidade à sua vida e ela florescera no ambiente seguro proporcionado por ele. Estava determinada a fazer tudo para pagar a gentileza de Jiraya. Ao observar o olhar no rosto dele, a primeira vez que a vira com Boruto, no hospital particular, soube que tinha lhe dado um inestimável presente.

— Olha, mãe. — Ela obedeceu ao pedido do filho, enquanto ele e Shikadai viravam cambalhotas. Logo iria pedir para não olhá-lo tão atentamente. Ainda não tinham percebido como ela os olhava. Algumas vezes, com um garoto tão inteligente e cheio de energia, era difícil não ser superprotetora – o tipo de mãe que via perigo onde eles só via aventura. Seus próprios pensamentos sufocaram a expressão de "Tomem cuidado!" que brotava dos seus lábios.

— Muito bem — elogiou-os. — Olha, podemos andar em cima das mãos também — gabou-se Boruto. Ele era ágel, alto e forte para a idade

Você me deu um filho forte, minha menina.

Jiraya sempre agradecia. Ela sorriu ao lembrar. O casamento proporcionara tempo e espaço para ela deixar de ser a menina frágil do passado e se transformar na mulher do presente. O sol brilhou na fina aliança de casamento ao virar-se para olhar o hotel nos rochedos. Tinha viajado o mundo inteiro com o falecido marido, visitando sua cadeia de hotéis exclusivos, mas o da Sardenha era o seu preferido. Originalmente uma casa de um primo de Jiraya, a propriedade fora herdada com a morte do proprietário, e ele jurara nunca vendê-la.

— Jiraya, sinto muito por não poder manter esse hotel pra você – E por um instante Hinata achou ter ouvido a voz do marido dizendo: "Deixe disso menina, eu cuido de tudo".

Naruto, estava parado na sombra formada pelas rochas, olhou a praia. A boca se retorceu de desprezo, raiva e algo mais. Como ela se sentia agora, sabendo que o destino lhe pregara uma peça e a segurança comprada com o corpo não era, afinal, eterna? Como se sentira ao saber que não teria uma viuvez cercada de dinheiro e conforto? Culpara o homem com quem se casara ou a si própria? E o filho? Algo sombrio e perigoso o feriu como uma lâmina afiada.

O avó materno era o chefe de uma das mais ricas e poderosas famílias da Sardenha. O passado da família Uzumaki estava intimamente interligado ao da Sardenha. Era uma família dividida em feudos de sangue, traição e vingança, e impregnada de orgulho. A mãe Kushina era filha mais velha. Tinha 18 anos quando fugira de casa para escapar de um casamento arranjado e se casar com Namikaze Minato jovem fazendeiro pobre, mas bonito, por quem acreditava estar apaixonada. Mimada e de temperamento forte, demorara menos de um ano para perceber o erro cometido, e passou a desprezar o marido e a pobreza imposta pelo casamento. Na ocasião, já havia dado à luz a Naruto. Recorreu ao pai, implorando perdão e permissão para voltar. Ele concordou, sob a condição de se divorciar e deixar a criança com o pai. De acordo com as histórias ouvidas em criança, a mãe não pensara duas vezes. O avô dera uma grande soma de dinheiro ao pai de Naruto como pagamento, absolvendo a família Uzumaki de qualquer responsabilidade quanto ao filho do casamento fracassado. Com mais dinheiro do que jamais tivera no bolso, o pai deixou o filho de três meses e foi para Roma, prometendo ao primo com quem deixara Naruto mandar dinheiro para manter a criança. Mas, ao chegar em Roma, encontrara a mulher que se tornou sua segunda esposa. Ela não via motivo para assumir uma criança que não era sua, nem em gastar o dinheiro do marido com isso. Os pais adotivos de Naruto recorreram ao avô dele. Eram pobres e não conseguiam alimentar uma criança faminta. Nagato Uzumaki recusou-se a ajudar.

Foi quando Jiraya apareceu e cuidou do menino até os seus cinco anos, quando Nagato Uzumaki o tomou dele e o assumiu como único herdeiro.

Naruto a partir daquele momento viveu uma vida austera e sem amor para um garoto, ele recordou, ao lado de um avô que não o amava e desprezava o sangue herdado do pai.

O avô o mandara para as melhores escolas – e se assegurou que lhe ensinassem tudo que precisaria quando chegasse a hora de sucedê-lo como chefe da família Uzumaki. Não que o avô nutrisse grandes esperanças de que ele fosse capaz de fazê-lo, como deixara claro mais de uma vez para Naruto.

— Não tenho escolha, pois você é meu único neto — dizia a Naruto sem cessar de maneira agressiva. Entretanto,Naruto decidiu provar que ele estava errado. Não para obter o amor do avô. Naruto não acreditava em amor. Não, quis provar ser o melhor homem, o mais forte. E foi o que fez. No início, o avô se recusara a acreditar nos tutores quando eles elogiavam sua facilidade em termos de compreensão de política financeira e todas as complexidades envolvidas. Mas, quando tinha 20 anos, Naruto havia quadruplicado o pequeno capital dado pelo avô no seu aniversário de 18 anos. Três semanas após de ter completado 21 anos, o avô morreu, inesperadamente, e Naruto herdou a imensa fortuna e a posição. Aqueles que prediziam que ele jamais se igualaria ao avô foram forçados a engolir as palavras. Naruto era um verdadeiro Uzumaki, e possuía um instinto ainda mais aguçado para ganhar dinheiro que o avô. Mas a vida não era só ganhar dinheiro. Tinha necessidade de se tornar emocionalmente invulnerável. E era isso exatamente o que ele era, refletiu. Não permitiria a nenhuma mulher repetir a rejeição da mãe sem ser punida. Especialmente não essa mulher. O vento trazia o som da voz de Hinata.

Hinata! Quando Naruto tinha 25 anos, já era bilionário. Não confiava em ninguém e tratava as mulheres como parceiras de cama e nada mais. As regras estabelecidas para seus relacionamentos eram simples e não passíveis de negociação. Nenhuma conversa sobre amor, futuro ou compromisso. Absoluta fidelidade a ele enquanto estivessem juntos. Sexo seguro e nada de bebês. E, apenas para ficar claro que essa última regra não fosse quebrada "por acaso de propósito", Naruto sempre se precaveu.

Ao longo dos anos enfrentara cenas de raiva e amargura, com mulheres chorosas que acreditaram ser capazes de mudar as regras e tinham percebido seu erro. Como num passe de mágica, as lágrimas secavam imediatamente, tão logo lhes era oferecido um generoso presente de adeus. A boca se contorceu, de um modo cínico. Era tão absurdo pressupor por que ele se tornara um homem descrente de todos e, sobretudo, que desprezava as mulheres?

Segundo ele, não havia uma mulher no mundo que não pudesse ser comprada. A mãe dele tinha demonstrado isso, e todas as outras com quem tivera contato só haviam confirmado o que ela lhe ensinara, abandonando-o por dinheiro. Não que ele não curtisse a companhia de mulheres ou não sentisse prazer com seus corpos. Herdara a boa aparência do pai, e encontrar uma parceira para satisfazer seu desejo sexual nunca fora problema.

— Boruto, não vá muito longe. Fique onde eu possa vê-los. — As palavras de Hinata chegaram até ele, pois ela levantara a voz para se fazer ouvir pelos meninos. Uma mãe afetuosa? Hinata? Como a amargura, o passado não o abandonava. Estava ali presente, apertando-o tão forte que causava dor. Depois da morte do avô, tinha abandonado sua isolada e desconfortável casa na Sardenha e comprado um iate. Com interesse financeiro e profissional em propriedades, fazia sentido viajar, buscando aquisições novas tanto materiais quanto sexuais. E se uma mulher se oferecesse para satisfazer seus instintos sexuais, por que não? Desde que ela compreendesse que, uma vez o apetite saciado, não haveria lugar para ela em sua vida. Quando tinha 25 anos, já tomara a decisão de pagar uma mulher para lhe dar um herdeiro quando chegasse a hora. Uma criança sobre a qual ele teria direitos exclusivos. Naruto olhou Hinata com frio desdém.

Seis semanas atrás, logo após ter completado 35 anos, estava ao lado do leito de morte do padrinho, escutando Jiraya implorar que ajudasse o filho que amava mais que tudo. A mesma brisa quente que brincava sensualmente com o cabelo comprido de Hinata afastava o cabelo grosso e louro de Naruto, revelando a estrutura óssea característica dos oriundos da Sardenha. A linha reta do nariz romano, um detalhe específico dos traços masculinos ressaltado nos trabalhos de Da Vinci e Michelangelo, e a musculatura de um homem em seu apogeu. Havia séculos os sarracenos tinham invadido a Sardenha, deixando marcas em sua história e em seus habitantes através das mulheres que haviam possuído e engravidado. Tinha sido Jiraya quem lhe contara a lenda de que os filhos nascidos dessas mulheres eram conhecidos por possuir a resistência física e a crueldade legendária dos homens que os geraram.

Naruto sabia ter sangue sarraceno na sua família, e sabia também que isso era demonstrado em suas atitudes. Não tinha piedade em relação àqueles que o traíam. Olhos observadores e atentos como os de uma águia estudavam o menino. Privilegiado e venerado por um pai idoso. Uma infância tão diferente da dele!

A luz do sol fez cintilar sua pele, num tom mais dourado que oliva. Pensou na promessa feita às súplicas de Jiraya, como algo sagrado, uma confissão do padrinho, sem precisar expô-la em palavras, de que confiava o filho aos cuidados de Naruto por não confiar na mãe dele. No leito de morte, finalmente pedia perdão e admitia que ela não ser era merecedora de confiança. Mesmo assim, as últimas palavras do padrinho tinham sido a respeito dela. — Hinata — dissera a Naruto. — Você precisa entender... Estava fraco para prosseguir, mas não havia necessidade. Naruto sabia tudo que precisava sobre Hinata. Como a mãe, ela o tinha abandonado.

A lembrança disso era como um constante grão de areia arranhando-lhe o orgulho, exacerbando a escuridão dentro dele. Ela era um assunto não resolvido, um golpe em seu orgulho, motivo pelo qual ele havia bancado a dívida e os juros – que agora estava ali para cobrar. Um urro de protesto de um dos meninos fez Hinata virar-se num lampejo maternal e gritar:

— Não vá tão longe Boruto.

Algo, não, alguém tinha se movido entre ela e o sol. Imediatamente cobriu os olhos com a mão para ver quem era. Havia momentos na vida ao mesmo tempo tão rápidos e lentos, que jamais podiam ser ignorados ou esquecidos. Hinata sentiu o coração parar, depois a sensação de incredulidade, misturada ao medo e pânico – e algo mais, tão doloroso que se recusou a dar vida ou nome ao sentimento. Ouviu a batida pesada do coração como se pertencesse a outra mulher, consciente do sangue correndo em suas veias, mantendo-a fisicamente estável enquanto emocionalmente cada nervo parecia exposto. Apenas uma palavra saiu-lhe da garganta.

— Naruto! apenas uma palavra, mas tão cheia de raiva, choque e medo que parecia reverberar entre eles. O pânico na base do pescoço. Resistiu à vontade de cobri-lo com a mão. — O que está fazendo aqui? O que quer? — Foi um erro perguntar isso. Ele seria capaz de perceber o pânico e ver como ela precisava lutar para controlar o medo.

A boca retorcida de Naruto, aquele sorriso cruel e satisfeito do qual tanto se lembrava, estava diante dela agora. — O que você acha que eu quero? A voz era tão baixa e gentil que bem podia ser o toque carinhoso de um amante contra sua pele ou o roçar das asas de um anjo. Por um segundo o corpo reagiu às lembranças que surgiram.

Voltava a ter 17 anos: uma menininha carente escondida sob uma camada de insolência. O corpo já sem a saia curta e a miniblusa, o cabelo comprido ainda úmido do banho que Naruto insistira que ela tomasse. Ele a olhava, e ela, dominada pela atração, sentia um impulso atravessando-a, reconhecendo, pela primeira vez, o que significava sentir desejo sexual. E ela o queria, queria muito. Uma porta do passado se abrira. Não queria ver o que se ocultava por trás, mas já era tarde. Lembrou-se de como ficara impaciente esperando que ele fosse a seu encontro e correra para ele. Ele a tinha segurado com os braços estendidos enquanto examinava seu corpo nu. A carne demonstrava estar pronta para ele, os seios firmes erguendo-se enquanto imaginava Naruto tocando-os. Mas, quando ele o fez, percebeu que sua imaginação não conseguira demonstrar como seria o toque ou o que lhe causaria. As pontas dos dedos dele eram duras e ligeiramente ásperas, mãos de um trabalhador, não de um intelectual. Ela havia estremecido, possuída por uma delícia incontrolável quando ele explorou lentamente a forma de seus seios. O toque erótico aumentara-lhe a excitação – tanto que de repente se conscientizara não apenas do quanto o desejava, mas de como estava excitada, de como seu corpo estava pronto para ele, como aquela sua parte íntima estava quente, molhada. Como se ele também sentisse isso, Naruto percorreu-lhe o corpo com as mãos, com determinação. Quando elas pararam nos quadris, cobrindo o osso levemente protuberante, ela foi tomada pelo impulso e pela necessidade de senti-lo acariciando-a mais intimamente. Ela havia se aproximado mais, abrindo as pernas. Ou fora ele quem a puxara para perto, movendo a mão para sua coxa? Não se lembrava. Mas recordava a sensação de quando ele curvou a cabeça para beijar-lhe o pescoço ao mesmo tempo em que acariciava os lábios inchados de seu sexo e mergulhava os dedos na caverna à sua espera. Quase atingiu o orgasmo naquele instante.

Um arrepio a percorreu. O que estava fazendo, pensando nisso agora? Podia sentir a pressão das próprias emoções. Medo? Culpa? Desejo? Não, nunca mais! A garota do passado já não existia, assim como as emoções que sentira. Hinata olhou para a praia, para o local onde seu filho ainda brincava, sem saber o que acontecia.

Afastou rapidamente o olhar, por instinto, não querendo contaminá-los com o que sentia. Sua prioridade era protegê-lo, não a si mesma. Deu um passo para o lado, como para chamar a atenção de Naruto para ela e não para a vulnerável criança. Faria qualquer coisa para proteger o filho. Qualquer coisa!

Naruto percebeu o movimento involuntário que ela fez para desviar-lhe a atenção do menino. Jiraya tinha afirmado que ela era uma mãe protetora, mas é claro que se comportaria assim enquanto acreditasse que Jiraya era rico e que seu papel como mãe lhe garantiria acesso ilimitado à fortuna.

Jiraya, como vários pais mais velhos, venerava o sangue de seu sangue, evidência de sua potência. Seus herdeiros... Agora herdeiros de literalmente nada. O olhar de raposa de Naruto ateve-se à evidência do estilo de vida cosmopolita e privilegiado dele – roupas caras italianas, dentes saudáveis americanos, sotaque da classe alta inglesa, carne e osso de criança bem alimentada e nutrida desde o nascimento.

Desviou o olhar para a mulher parada à sua frente. Tinha dentes bem cuidados, dentes caros – pagos, é claro, por seu generoso marido. Seu generoso e falecido marido. O cabelo estava cortado em estilo informal, mas que, como Naruto sabia, custava uma fortuna para manter. O vestido "simples" de linho, de corte elegante, sem dúvida era de algum estilista famoso, assim como as mãos e os pés, sem esmalte, mas cuidados, denotavam uma mulher segura graças à posição e ao dinheiro. Mas não por muito tempo. O que sentira ao saber da morte de Jiraya? Alívio diante da idéia de que não mais precisaria dormir com o velho? Prazer mesquinho acreditando que passaria a ser rica? Bem, teria um desses dois sentimentos para manter, pensou brutalmente, embora não por muito tempo.

Devia estar perto dos 30 anos, e se quisesse encontrar outro homem rico para sustentá-la teria de competir com mulheres mais jovens e descompromissadas. O tipo de mulher que o rondava onde ele estivesse. Uma de suas amantes tinha dito que aquela natureza sombria e perigosa, tão temida pelos inimigos e amada pelas mulheres, era herança dos ancestrais sarracenos. Ele acreditava que qualquer criança com seu histórico – indesejada e criada sem amor – aprenderia com rapidez a pagar na mesma moeda.

Um sorriso inesperado desenhou uma cova em seu queixo enquanto via Hinta engolir em seco e os olhos escurecerem, mas não havia calor no sorriso.

— É, deve ter sido difícil para você deixar um velho obter prazer com seu corpo sem ser capaz de lhe dar prazer. Mas, afinal, o dinheiro compensa tudo, não é?

— Não casei com Jiraya por dinheiro.

— Não? Então por quê? Ah, agora a pegara. Ouvia a respiração irregular saindo-lhe dos pulmões. Como conhecia bem aquela necessidade violenta de se proteger. Infelizmente, para Hinata era tarde demais. Não havia proteção para ela.

— Certamente, não foi por amor — provocou-a, indelicado. — Eu o vi um pouco antes de morrer. Estava no hospital em Milão. Você, acredito, estava em Nova York fazendo compras. Muito conveniente ter colocado o filho num internato, para ficar livre.

O rosto dela ficou lívido. Furioso, Naruto reconheceu que, mesmo assim, quase sem sangue ou vida, ela ainda conseguia ser linda. Hinata ficou aterrorizada, achou que ia desmaiar tamanha a intensidade da raiva. Tinha ido a Nova York encontrar outro especialista na tentativa de salvar Jiraya. Podia não ter amado o marido como mulher, mas era agradecida por tudo que ele fizera a ela e ao filho. A decisão de propor o internato foi tomada depois de muita reflexão. Para ela, a segurança emocional de Boruto era sempre prioritária.

Que tipo de pessoa seria se não tentasse o impossível para proporcionar ao marido mais tempo com ele? Não seria possível viajar para Nova York com o filho para buscar uma segunda opinião. Além disso, havia a preocupação extra de saber o quanto ver Jiraya morrer lentamente afetaria o filho. Precisava estar disponível para as visitas ao hospital duas ou três vezes por dia. Jiraya quis morrer na Itália, não em Londres, onde o filho estudava. Na ocasião, julgava não ter outra opção, mas agora Naruto estava cutucando a culpa que ainda a atormentava por ter deixado o filho no internato por um semestre.

— Você sabe, é claro, que os negócios estão arruinados e que tudo que ele deixou foram dívidas?

— Sim, sei. — Não fazia sentido tentar esconder a realidade da situação financeira para ele ou tentar explicar como se sentia em relação a Jiraya. Ele não compreenderia, pois era incapaz disso. A experiência compartilhada de uma infância sem amor, em vez de ter criado laços de mútua compaixão, os tinha transformado em inimigos. Ele nunca compreenderia por que ela o trocara por Jiraya, e ela jamais lhe diria, pois simplesmente não fazia sentido.

— Suponho que deva me sentir honrada por você ter vindo se regozijar com minha dor pessoalmente. Afinal, não compareceu ao funeral.

— Para ver você chorar lágrimas de crocodilo? Nem meu estômago é forte o suficiente para tais cenas.

— Mas é forte o suficiente para vir aqui e me agredir verbalmente. Já se passaram mais de dez anos, Naruto. Não é hora...

— Hora para quê? Para eu cobrar a dívida e os juros que tem comigo? Sou um homem que gosta de pagamentos à vista, Hinata. Jiraya sabia disso.

Algo – talvez o famoso sexto sentido feminino – causou-lhe um frio na espinha que queria, mas não podia ignorar.

— O que quer dizer? O que Jiraya sabia?

— Ao me pedir um empréstimo, sabia que precisaria me pagar.

— Você emprestou dinheiro a Jiraya?

— Para cobrir as dívidas dos hotéis. Ele estava em maus lençóis. Eu avisei, mas ele achou que podia sair da encrenca, e já que somos parentes, não podia deixar de ajudá-lo. Infelizmente, não conseguiu colocar os negócios em dia. Felizmente para mim, o débito foi saldado pelos bens. Meus bens agora. Incluindo este lugar, é claro.

Hinata o encarou.

— Seu? Quer dizer que você é o dono deste hotel?

— Deste hotel — confirmou, — e dos outros. De sua casa, do dinheiro no banco, das roupas que usa. Tudo me pertence, Hinata. Tudo. A dívida do Jiraya foi paga — disse baixinho, — mas a sua ainda está pendente. Você achou que tinha sido esquecida? Que eu não me daria ao trabalho de me vingar?

Ela queria desesperadamente olhar o filho, tranqüilizar-se que ele estava ali, inteiro e seguro, e que nada iria atingi-lo ou ferí-lo. Mas temeu que olhá-lo chamaria a atenção de Naruto para a vulnerabilidade dele. Em vez disso, respirou fundo e perguntou:

— Você quer se vingar de mim? No nosso relacionamento eu fui a vítima. Foi você quem...

— Foi você quem se vendeu para quem dava a melhor oferta.

Ela se obrigou a olhá-lo.

— Você me deixou sem opção — disse, serena. Afinal, era verdade. Ela havia buscado nele tudo que nunca tivera, ainda capaz de acreditar em milagres, mesmo para garotas como ela, e que todos os erros em sua vida podiam ser corrigidos. Ainda acreditava em sonhos, naquela época. Sentiu pena da garota que fora. Estava feliz por ela ter desaparecido, e ainda mais feliz pela mulher que ocupara seu lugar. Antes que Naruto pudesse dizer mais alguma coisa, perguntou:

— O que exatamente você quer? Acredito que não tenha perdido seu precioso tempo vindo até aqui apenas para rir da minha desgraça. Ou achou que seria mais divertido nos expulsar pessoalmente? Bem, vou lhe poupar o aborrecimento. Não levaremos muito tempo fazendo as malas. — De todos os luxos de que se desfaria, era desse que mais sentiria falta. O luxo do orgulho. Porque sabia muito bem o luxo que era.

— Ainda não terminei — disse ele.

— Ainda tem mais? O quê? Certamente não dá para ser pior.

— Antes de morrer, Jiraya me nomeou como tutor legal do filho.

Era uma brincadeira. Uma tentativa deliberada e cruel de assustá-la. Uma vingança. Mas, é claro, não podia ser verdade.

— Algo errado? — ouviu Naruto perguntar baixinho quando a viu tentar disfarçar a respiração alterada e o olhar incrédulo. — Com certeza Jiraya lhe disse que pretendia me nomear como tutor da família, de acordo com a tradição da Sardenha... Ele sabia, é claro, que não tinha feito isso, pois o padrinho lhe contara.

— É melhor assim — sussurrou dolorosamente Jiraya para Naruto.

— Embora saiba que Hinata, a princípio, não vai entender.

Certamente não o fez, reconheceu Naruto. Os olhos de Hinata estavam arregalados de descrença, e ela sacudia a cabeça em negação. Isso não podia estar acontecendo, pensou, histérica. Era o pior dos pesadelos. A traição máxima. O medo, como uma faca afiada em seu coração, a deixava paralisava.

— Não! — disse a ele, o choque tirando a cor do seu rosto, apertando as mãos e os punhos, angustiada. — Não acredito em você.

— Meus advogados têm toda a documentação.

Isso não podia ser algum tipo de brincadeira perversa, reconheceu Hinata, apática. Era real. A cabeça doía, as perguntas sem resposta martelando. Estava muito confusa para manter a distância protetora do desinteresse.

— Não compreendo. Por que Jiraya faria algo assim?

Naruto deu de ombros, um pequeno movimento dos ombros largos. Sentindo-se mal, a cena saiu de foco e ela visualizava outra:

Naruto, jovem, a água escorrendo naqueles ombros bronzeados quando saía do mar para o deque do iate, o corpo nu e despudoradamente pronto para ela. E o dela estava igualmente pronto para ele. E ela estava sempre pronta para ele! Pronta, faminta, esperando. Faminta pela intimidade que o trouxesse para perto e ali o mantivesse. Não tinha inibições e suspeitava que ele não permitiria ter nenhuma. Com a privacidade garantida, não ficou inibida em vestir uma das camisas dele, sem nada por baixo, disponível para o toque dele. Como amante, ele lhe abrira os olhos para um mundo novo de prazer e tinha deixado marcas em seu corpo de uma maneira que jamais conseguiria esquecer. Desfrutaram inúmeras horas de intimidade: ele a mantinha na cama, acariciando e beijando cada pedacinho dela: a curva do pescoço, a carne macia da parte interna do braço, os dedos. Se ela fechasse os olhos, sabia ser capaz de sentir a língua molhada desenhando devagar figuras em toda a extensão de seu corpo. Excitada ao máximo, invariavelmente esquecia a ordem de permanecer parada e o buscava, curvando as costas, abrindo as pernas, gemendo de prazer quando ele cuidadosamente afastava os lábios de seu sexo e passava a ponta da língua neles. O orgasmo começava antes de ser penetrada, e quando ele estava dentro dela, uma parte ansiava por senti-lo sem a barreira da camisinha, que ele sempre insistira em usar.

De repente Hinata percebeu o perigo que corria. Não! A negação silenciosa e torturada reverberou no cérebro dela. O que estava acontecendo? Como ele podia fazê-la lembrar-se de tudo hoje?

— Não é óbvio? — ouviu Naruto dizer, frio. — Jiraya conhecia sua situação financeira. Pediu que eu fizesse tudo a meu alcance para proteger o filho e o futuro dele. Obviamente, tornando-me o tutor, acreditava que eu me sentiria obrigado moralmente a mantê-lo financeiramente.

— Não, ele não faria isso — protestou. Mas mesmo ao dizer as palavras sabia estar enganada. Era exatamente o tipo de coisa que Jiraya teria feito, pelo melhor dos motivos. Trazia o senso de família enraizado. Tinha orgulho de ser um Uzumaki, orgulho de Boruto carregar seu nome. Havia se preocupado com ela e a protegido da dor de amar Naruto e ser por ele rejeitada, mas o filho tinha o sangue dos Uzumakis nas veias e, no final, isso importava mais do que ela.

Hinata tentava permanecer forte, concentrar-se no que Naruto dizia, em vez de mergulhar no passado, mas as memórias a dominavam perigosamente e a faziam se sentir assustadoramente fraca.

Como era possível que ficar ao lado dele despertasse tantos pensamentos eróticos que ela acreditava terem sido deixados para trás?

— Para cuidar dele financeiramente — Naruto, acrescentando lentamente como se lhe enfiasse uma faca através das costelas até alcançar-lhe o coração. — E para protegê-lo da mãe.

O cérebro demorou muitos minutos para absorver o que ouvira e muitos outros mais para reagir diante da injustiça das palavras.

— Ele não precisa se proteger de mim nem precisa de você.

— Jiraya, obviamente, não concordava com você, nem a lei. Sou o tutor. Ele é meu pupilo. Esse foi o último desejo do pai.

— Mas sou a mãe deles.

— O tipo de mãe que podem supor que seria melhor não ter.

— Você não tem o direito de dizer isso. Não sabe nada de meu relacionamento com meu filho.

— Conheço você. Você se entregou a Jiraya porque ele estava preparado para lhe dar o que eu não lhe daria. Agora ele está morto e em breve você estará procurando outro homem para substituí-lo. Sem dúvida, Jiraya temia que se você voltasse a se casar, seu novo marido pudesse não se interessar pelo filho dele, e queria protegê-lo.

— Eu nunca me casaria com um homem se achasse que não iria amá-lo como se fosse seu.

— Não mesmo?

Hinata suspeitou saber o que ele pensava.

— Você ainda não perdoou sua mãe, não é? Bem, não sou igual a ela, Naruto. Amo meu filho...

— Chega! Isso não tem nada a ver com minha mãe.

Hinata não ia discutir com ele. Qual o sentido daquilo? Seria como tentar quebrar granito com as mãos. Mas sabia ter razão. Naruto julgava as mulheres pelo fracasso da mãe, e condenava todas. Queria acreditar que todas as mulheres eram capazes de abandonar os filhos por dinheiro, porque precisava acreditar nisso; pois pensar direito significava aceitar que a própria mãe o abandonara devido à sua incapacidade de merecer o amor maternal. Ele falava sobre suas convicções como se fossem verdades escritas em pedra, e Hinata sabia que em sua cabeça, em seu coração, elas eram. A seus olhos, ela já estava condenada, e permaneceria condenada. O que ele acreditava não podia ser alterado, porque ele assim o desejava. Tinha aprendido em sua, muitas vezes difícil e dolorosa jornada de amadurecimento e aceitação do próprio passado... E, acima de tudo, aprendera que era impossível trilhar para outro a jornada de auto-conhecimento e cicatrizar as feridas em seu lugar.

Naruto havia decidido sacrificar a habilidade de amar e ser amado usando como proteção um orgulho amargo que não permitia que ele percebesse o desejo sexual feminino motivado por nada além da mais sórdida forma de interesse. Jiraya podia ter acreditado estar agindo corretamente, mas Hinata desejava que ele não tivesse trazido Naruto de volta à sua vida – e, mais importante, à vida do filho.

Ele era tudo para ela. Não havia nada que não fizesse para protegê-lo, nenhum sacrifício.

— Você não precisava concordar com o pedido — forçou-se a dizer. — Por que o fez? Meu filho não significam nada para você.

Naruto podia perceber a hostilidade na voz dela. Olhou para o dois meninos. Hinata tinha razão, é claro: ele não significava nada além do sangue dos Uzumki correndo em suas veias. A reação inicial, ao ouvir a intenção de Jiraya, fora recusar. Por que assumiria o peso da responsabilidade do filho do padrinho, principalmente quando sabia o tipo de mãe que tinha? Era óbvio o que Jiraya tentava fazer.

Estava falido, cheio de dívidas, o filho era muito criança para se defender e não podia contar com a mãe para protegê-lo. Ela se venderia para o primeiro homem que pudesse sustentá-la. Tudo isso deve ter passado pela cabeça de Jiraya, como passara na sua. Então, Jiraya o procurara, em nome do filho, sabendo que, moralmente, Naruto não poderia rejeitar o apelo do sangue dos Uzumaki.

Desde então, entretanto, Naruto tivera mais tempo para refletir sobre a situação. Havia se convencido de que ao aceitar o papel de tutor podia livrar-se da obrigação de produzir herdeiros com todos os inconvenientes legais envolvidos. O filho de Jiraya era um Uzumaki. Tinha decidido passar um tempo com o garoto para avaliar se valia a pena criá-lo como seu herdeiro. Se valesse, então, como tutor, o educaria exatamente como faria com o próprio filho, para se tornar herdeiro do vasto império e fortuna. Quanto a Hinata... Ele podia sentir a ferida ardendo como se estivesse aberta. A história deles era uma página da vida que ele nunca fora capaz de virar. As mulheres anteriores e as posteriores nunca conseguiram deixar marcas. No balanço de contas de sua vida, ela constava como um débito. O destino agora lhe dava a oportunidade de saldar o orgulho ferido. Uma vez recebido o capital e os juros do débito que ela tinha com ele, uma vez revertido o passado e a forçado à posição em que ele a abandonaria – pois nada mais salvaria seu orgulho, – então deixaria claro que não havia lugar para ela na vida do filho e, certamente, na dele. Naruto não previa nenhum problema real. Conhecia Hinata. Ela era hedonista e voluptuosa, só desejava sexo e dinheiro. Não era tolo de acreditar que podia simplesmente obrigá-la a fazer o que ele queria. No minuto em que desconfiasse dos planos, se agarraria ao menino, determinada a não deixar escapar o passaporte para sua fortuna. Precisava ser sutil e ardiloso. E se ela recusasse abrir mão do filho...? Se fosse tão tola, cedo perceberia o erro cometido.

— Não, mas isso significava muito para Jiraya — respondeu Naruto, com frieza, à pergunta — E minha palavra significa muito para mim. Levando em conta que lhe prometi agir como se fosse meu, isso é exatamente o que pretendo fazer.

O quê? Como se fossem dele? O choque deixou Hinata fora de si. Por que não previra isso? Sabia o quanto Jiraya amara Boruto, assim como sabia que as raízes da Sardenha, a importância da família e a honra estavam entranhadas. Se Jiraya tivesse contado o que planejava, poderia ter feito algo, qualquer coisa – não importava o quê. Pedir, implorar, exigir que não agisse assim. Ele sabia dos sentimentos de Naruto em relação a ela, o quanto a desprezava. E também sabia... Respirou fundo. Não pensava a respeito disso há anos. Não se permitira, desde que deixara furtivamente a cama de Naruto na pálida luz do alvorecer, enquanto ele dormia sem conhecer suas intenções. Não levara nada com ela ao deixar o iate – nem as roupas caras nem as jóias, só o passaporte. E dinheiro suficiente para chegar ao hotel onde Jiraya estava hospedado, para entregar seu futuro nas mãos dele. Tinha 18 anos e Jiraya mais de 60. Não era de admirar que um mês depois, quando eles se casaram, tivessem pensado que ele era seu pai. Entretanto, não se importara. Tudo que lhe importava era estar protegida.

Viu Naruto olhar os meninos brincando e reagiu imediatamente ao que o instinto maternal interpretou como uma ameaça. Estendeu a mão, na tentativa de impedi-lo de se aproximar deles. Mas, antes que pudesse tocá-lo, Naruto virou-se, segurando-a pelo punho. O corpo dele estava tenso como o de um caçador, um predador, esperando que ela tentasse escapar para destruí-la. Um arrepio a percorreu ao reconhecer os sinais familiares da própria excitação. Como isso podia estar acontecendo? Já tinham se passado dez anos desde a última vez que Nauto a tocara. O nascimento de Boruto havia inundado seus sentidos e emoções com outro tipo de amor, fazendo-a esquecer tudo que sentira por Naruto. Ou assim pensava. Como podia um simples toque surtir tal efeito? Como ele podia fazê-la sentir-se assim – o frio no estômago, o tremor das pernas, o suor escorrendo pelos cabelos e a adrenalina espalhando-se pelas veias? Era uma cilada de sua imaginação, só isso. Não o desejava. Como poderia? Mas o desejo carnal crescia e distorcia seu raciocínio. Excitação e raiva, atração e aversão, toda a alquimia sexual doce e selvagem do passado compartilhado a invadiu. Ela se sentira assim da primeira vez que o vira. Só que naquela época a erupção em suas entranhas não tinha sido encoberta pela dor ou pelo conhecimento.

A atração física a deixara encantada mesmo antes dele tocá-la, e quando ele a tocara... Fechou os olhos, não querendo se lembrar, mas era tarde.

Podia ouvir a própria voz gritando o nome dele, enredada no próprio intenso prazer, os olhos arregalados de surpresa enquanto ele se curvava na cabine principal do iate, olhando-a ao mesmo tempo em que o toque experiente dos dedos a levava ao orgasmo. Seu primeiro orgasmo! Ele tinha esperado até o tremor de seu corpo cessar antes de lançar-lhe um olhar de triunfo que se tornaria tão familiar, e dizer lacônico: — Talvez seja a hora ideal para dizer seu nome...

Ela abriu os olhos rapidamente. O rosto queimava com as lembranças do seu comportamento. Tinha apenas 17 anos, lembrou-se, trêmula. Uma criança cuja cabeça estava cheia de sonhos. Acreditava saber tudo que precisava. Agora tinha 28 anos, uma mulher que sabia o suficiente para se dar conta de como o passado havia sido perigoso, e a sorte que tivera de escapar dele e de Naruto. Estava livre disso. Disso, dele e de tudo que ele despertara nela. Sentiu a intensidade do olhar de Naruto concentrado nela, fazendo-a tremer. Ele não podia adivinhar seus pensamentos, o que estava revivendo. Era madura o suficiente para não se trair. Entretanto, o anseio dentro dela se recusava a esmorecer. Não podia se controlar, nem ao olhar, atraído pelo corpo dele, pelo pescoço, pela pele bronzeada sob a camisa pólo. O torso musculoso.

— Solte-me! — ela tentou se desvencilhar.

— Tem certeza de que é isso que quer? Antigamente você implorava pelo meu toque. Lembra-se? Não podia evitar.

Estremeceu com violência.

— É, estou vendo que sim — ele a provocou, soltando-a.

A pele ficou fria longe do contato. Não devia se permitir pensar nisso.

— Deixe-me avisá-la, Hinata, caso tenha esquecido. Conheço você. — Ele estudou-lhe o corpo com um desprezo que ela sentiu vontade de esbofeteá-lo.

— Sou a mãe do Boruto e é só assim que você deve me conhecer de hoje em diante — retrucou. Estas palavras se dirigiam a ele ou a ela? Ele soltou o braço tão rápido que ela quase perdeu o equilíbrio, e depois virou de costas. Ela estremeceu. Como podia ter sido tola a ponto de amá-lo? Mas o amara. Desesperada e incondicionalmente, torcendo para que ele correspondesse a seus sentimentos, acreditando poder trocar sexo por amor. Que idiota! Mas não era mais assim.

Continua...