The Tour
O céu acinzentado antecipava a chuva que estava por vir. Enquanto andava para sucinta livraria, a multidão se intensificava ao meu redor na tentativa de vislumbrar o menino que fez história em toda Panem. Parado na frente do Edifício de Justiça, ele não era mais um vencedor qualquer, era o mais novo vencedor de toda a história dos Jogos Vorazes.
O seu cabelo em um loiro mel brilhava contra a pouca luz do dia. A inocência de seus olhos castanhos contrastavam com suas atitudes. Mas, ao lado de um gigante de quase dois metros de altura, ele realmente aparentava ser somente uma criança de 12 anos de idade.
Por um breve momento, observei seus mentores. Parados, cada um de um lado, o protegiam com avidez. A sua voz falhava, insistentemente. Não por estar à frente de uma multidão, mas sim por estar iniciando a sua puberdade.
Os parentes dos Tributos o olhavam fixamente. O vi desviar o olhar dos familiares e até mesmo das imagens dos que morreram. Nosso distrito não aceitava muito bem a derrota. Suas mãos tremulas aparentavam dificuldade em segurar as folhas simetricamente cortadas. A alocução pretensiosa, astuta e com muita sagacidade expressava que aquelas palavras não lhe pertenciam.
Enquanto passava perto de um adorno, no centro da multidão, sua voz cessou informando o fim do breve discurso. Observei seu rosto desaparecer enquanto entrava no Edifício da Justiça. As portas se fecharam com fugacidade.
As pessoas começaram a se dispersar do local. Olhei, curiosamente, dois ou três guarda-chuvas se abrirem ao pequeno sinal de uma garoa. Apesar de ser o distrito mais rico de toda Panem, o Distrito 1 não acatava o mesmo estilo luxuoso da Capital.
A vida não parecia ser difícil como nos distritos mais pobres. Desde pequena tive onde ficar ou o que comer, mas é claro que tudo tem seu preço. Eu, que vivia a base de grãos e óleo, sabia muito bem o que era estar junto com a minoria.
O caminho pareceu mais tortuoso quando as ruas finalmente ficaram vagas. Havia algumas pessoas debaixo de marquises se escondendo dos grossos pingos que agora caiam do céu. De uma forma bruta, abri a porta da pequena livraria. Certifiquei-me que não havia outra pessoa ali, e puxei o mais fino livro de uma prateleira escondida. Um estreito caminho se abriu a minha frente.
Para alguns, o acesso aquele grande clube oculto era rotina. Lamentavelmente, eu estava incluída neste grupo de pessoas. Apesar do motivo que me levou aquele lugar ser diferente das razões para a maioria estar ali, isso não me alegrava.
O Centro de Treinamento era normalmente frequentado por órfãos. Alguns eram obrigados a se preparar para os Jogos Vorazes, e outros, como eu, realizavam tarefas domesticas: limpar, cozinhar e cuidar dos menores. Havia, também, alguns Carreiristas que não estavam ali por imposição, mas sim por livre e espontânea vontade. Sentia uma extrema dificuldade em entender como pessoas não necessitadas se disponibilizavam a participar daquela carnificina.
A medida que caminhava, o corredor se alargava, e o cofre do antigo banco se aproximava, iniciava-se o hall da fama. Havia, no total, oito fotos penduradas naquela parede. Desde o nosso primeiro vitorioso, Joseph Wey, ganhador da 2ª Edição dos Jogos, até nosso mais recente, Emmett McCarty, que venceu a 58º Edição.
Eu, definitivamente, não era como este último. O garoto é tão cheio de si, que se voluntariou ao completar 18 anos. Ele completou os 7 anos de treinamento, e se transformou em uma máquina mortífera. Ir para a arena era sua aspiração.
Por outro lado, a minha era ir embora. Eu só desejava um mundo sem jogos, sem mortes, sem vencedores.
Mas, infelizmente, essa não era a minha opção.
