Ainda me lembro como se fora ontem. Se fechar os olhos, ainda posso sentir o terrível frio que fazia naquele inverno, há exatos cinco anos atrás, dia em que eu comemorava meus treze anos de idade. Ao acordar, eu vira que sobre a mesa havia um bolo que minha mãe havia preparado e meu estômago se apertou dentro de mim: eu não sabia se deveria ou não gostar daquele bolo e minha mãe me olhava, desconfiada, enquanto me desejava feliz aniversário ao lado de uma foto de Seimei que deixara sobre a mesa. O bolo era de nozes, e estava lindamente confeitado.

- Coma, Ritsuka – Disse minha mãe, servindo-me um pedaço.

- Claro, mamãe – Eu disse, incerto, esperando gostar de nozes.

Mas, como sempre, eu errara.

- O meu Ritsuka era alérgico a nozes – Disse ela entre os dentes. Eu saí da frente rápido o suficiente para que ela não fosse jogada contra mim. Ela então me empurrara na parede e eu aproveitei para fugir enquanto ela pegava uma faca. Na pressa, caí pela janela e me ralei, mas continuei correndo, sendo seguido pelos gritos cada vez mais distantes de minha mãe.

Ótimo modo de começar meu aniversário, pensei. Nesse momento, senti como estava frio e estremeci; eu ainda estava de pijamas, e nevava. Abracei-me, na esperança de diminuir o frio e comecei a caminhar no branco chão com dificuldade, pois a neve estava espessa. Passou pela minha cabeça ligar para Soubi, mas meu celular ficara em casa. Será que ele se lembrava de que era meu aniversário? Teria ele me ligado? E se eu não atendesse, iria ele me procurar? Apesar do frio estar me enrijecendo e meus lábios tremendo, roxos, o que mais me preocupava era se Soubi se preocuparia comigo. Não me importaria de morrer ali se eu soubesse que ele se importava.

Desde que nos conhecemos, nada mais importava além dele. Eu só não sabia por que.

Pouco antes da metade do caminho para a casa da sensei – local que havia escolhido, já que ela sempre me acolhia quando eu precisava – senti minhas forças se esvaindo. Eu estava congelando e sentia fome. Sem mais agüentar, caí na neve e esperei pela minha morte. Soubi... Você se importa? era tudo o que eu pensava. Tive certeza de estar morto quando vi um anjo na minha frente: era ele, cheio de neve nos longos cabelos loiros e nos óculos sobre os olhos azuis. Se eu soubesse antes que a eternidade seria ao seu lado, eu certamente teria morrido antes e me poupado de muito sofrimento.

Então... Aquilo significava que ele se importava?

- Suki da yo¹, Ritsuka – disse-me o anjo que tinha a forma de Soubi. Ao ouvir isso, percebi que poderia partir em paz e fechei os olhos, esperando pela morte. Senti os quentes lábios de Soubi sobre os meus e uma lágrima quente queimou meu rosto, tão frio àquela altura.

¹ - Eu te amo, em japonês. É o modo como Soubi fala no anime.