Fic: Aliança

Autora: Iza Amai

Beta: Moony Potter


Essa fic é um capitulo especial de Natal!!! A estorieta a seguir se passa depois de Escolhas.

Você nunca ouvi falar da fic Escolhas??? ( Chora copiosamente) Bem, se você não sabe, é só ir em meu profile e procurar pela fic. Ela é uma Draco/Hermione e tem o Harryzinho junto.. fazer o quê.. eu amo os três!!!

E claro, depois que vocês terminarem de ler... voltem e apreciem o capitulo especial de Natal, tanto Escolhas, quanto Aliança foram escritas com todo o meu amor!!

Essa é a primeira parte da fic, no dia 21 de Dezembro ou algo bem proximo a essa data, (Iza se escondendo) será postado a segunda parte, que é também a finalização da fic Escolhas, espero que todos gostem quanto eu gostei!

Beijos

Iza Amai


Capítulo Especial de Natal:

Aliança

( Parte 1 )

O vento soprava com força trazendo o frio lá de fora que se infiltrava, atrevido, pelas janelas da masmorra. Draco era a personificação da impaciência. Sentado na poltrona diante da lareira, ele observava os flocos brancos que entravam no salão Comunal da Sonserina, enquanto seus dedos impacientes tamborilavam sobre sua perna estendida.

O salão estava lotado. Eram poucos os alunos que se dispunham a andar pelo castelo com um tempo tão gelado. Dezembro tinha chegado cheio de nevascas, o que deixava todos sem ânimo algum para qualquer outra atividade além de se enrolar em acolchoados grossos e tomar chocolate quente ao calor da lareira. Provavelmente acontecia o mesmo com os alunos das outras Casas.

Estava marcada uma visita a Hogsmeade dali a algumas horas e todos estavam torcendo para que a nevasca diminuísse.

"Droga!" pensava Draco, olhando os flocos com raiva, "Se esse tempo não melhorar eles vão cancelar o passeio..."

- Ansioso com alguma coisa, Drake? – uma voz exageradamente melosa soou bem próximo ao ouvido do loiro, o que o fez se assustar e se virar para trás. Recompondo-se rapidamente do susto, Draco forçou um sorriso:

- Hogsmeade. Quero muito ir à vila, mas com esse tempo ruim é provável que adiem o passeio...

A moça de cabelos negros não pôde evitar o desgosto.

- É só o passeio que te deixa ansioso ou é por causa daquela Sangue...?

- Não continue essa frase... - Draco sussurrou perigosamente ao mesmo tempo em que se erguia e encarava a moça de forma ameaçadora. – Ela tem um nome. Hermione Granger, ok?

Pansy sacudiu os ombros, movimentando também os curtos e sedosos cabelos.

- Além da fortuna você também perdeu seu cérebro! – falou irritada. - Nem sei por que continuo conversando com você.

Draco, que ainda tinha muito do antigo Malfoy, se acalmou com a mesma rapidez com que se exaltara e com agilidade felina, aproximou seu rosto ao da colega o máximo que pôde.

- Você conversa comigo porque eu sou irresistível e mesmo estando falido ainda exerço uma incontrolável atração sobre você! – e segurou o queixo de Pansy. – Mas sinto muito em lhe dizer, Parkinson, que entre nós não há nenhuma possibilidade de romance. Aprendi que sentimentos valem mais que sensações... – e a soltou, se dirigindo para fora do salão Comunal, deixando a garota revoltada e sentindo um ódio ainda mais mortal pela Granger.

Draco sabia que agiu de forma grosseira (ultimamente isso acontecia com bastante freqüência), mas Pansy só entendia alguma coisa se ele lhe falasse sem rodeios, ou qualquer gesto cortês ela entenderia como promessa de compromisso. Ele sabia que Pansy não gostava dele de verdade. Fazer joguinho de sedução e se exibir, era do que ela gostava, tentando provar desesperadamente que era melhor do que Hermione em todos os sentidos.

Idiota! ele pensava. Ninguém é melhor do que Hermione! Pelo menos não para mim.

Draco podia estar pobre aos olhos de todos, mas ainda era Draco Malfoy e seu nome tinha um peso incontestável, assim como a marca de ter sido um Comensal da Morte. Seus colegas de sala o evitavam e o temiam. Ele não queria mais ser temido e o tempo em que acreditava que intimidar era uma posição privilegiada já era passado.

Queria apenas que o respeitassem. Pansy era um dos poucos alunos da Sonserina que se atrevia a falar com ele. Draco acreditava que no fundo ela tinha esperanças de que ele voltasse a ficar milionário um dia. Se ela soubesse que ele continuava tão rico quanto antes... Eram colegas há tantos anos e ela nem sequer o conhecia realmente. E nunca se preocupou em conhecer. Agora ele sabia que gostar de verdade é querer saber tudo do outro para cuidar melhor, para fazer o outro realmente feliz.

Sabia disso por que agora ele queria muito cuidar de alguém, proteger com a própria vida se fosse preciso...

Quando saiu do castelo, Draco sentiu o frio cortante congelar seu nariz. Ajeitou o cachecol em volta do pescoço e apertou o sobretudo junto ao peito. A neve caía mais branda, no entanto, nuvens escuras ainda cobriam totalmente o céu. Mais tarde, provavelmente, viria outra nevasca como a da noite anterior.

No pátio coberto de neve já havia alguns alunos do primeiro ano, como Draco constatou, se amontoando em grupos.

- Crianças ansiosas! – resmungou embora ele também estivesse ansioso, não pelo passeio, mas pela possibilidade de ficar próximo à Hermione. Seria reconfortante andar com ela pelas ruas nevadas de Hogsmeade. Isso, se caso conseguissem despistar Harry Potter. Um lampejo de esperança passou pela mente do loiro ao pensar na possibilidade do Quatro Olhos se intimidar com o frio e não ir à vila. Com uma esperança infantil se apegou a esse sonho.

Ultimamente Draco encontrava grande dificuldade em ficar a sós com Hermione. Ainda mais que a moça tentava cumprir a todo custo a promessa feita a Harry. Os dois tinham bons momentos juntos, mas que não duravam mais de meia hora. Sempre aparecia alguém, ou Ronald Weasley, ou Luna Lovegood, o próprio Harry Potter e até mesmo Sirius Black (Draco já não tinha mais certeza se queria ter um cachorro como animal de estimação).

Parecia que todos conspiravam contra seu relacionamento com Hermione. Até mesmo Ninfadora Tonks interferia na amizade entre eles, dando conselhos: "Vá com calma, Draco. Se você for com muita sede ao pote, poderá quebrá-lo". Droga! ele pensava.

Por que ele não conseguia disfarçar seus sentimentos nem mesmo de uma tonta como sua prima Tonks? Justo ele que se julgava um homem discreto e seguro de si. No entanto, sabia que já não havia mais salvação. Estava completamente entregue aos encantos de Hermione Granger, aquela moça mandona, teimosa e terrivelmente certinha.

Diferente dele, Hermione era a mesma de sempre. O tratava com carinho, mas mantinha distância. Maldito Potter! Como ele conseguia dominá-la daquele jeito? Pensava Draco, enquanto apertava os punhos, desejando que o estivesse fazendo em volta do pescoço do rival.

Hermione e Harry continuavam como irmãos gêmeos, sempre juntos, ainda mais agora que Rony passava mais tempo com Luna Lovegood. Já a Ginny, com quem Draco havia criado certa amizade, parecia ter paralisado. Simplesmente deixava os dois se juntarem cada vez mais. Que porcaria de sentimento frouxo era aquele que ela dizia ter pelo Potter? Pensava.

Mas Draco estava consciente de que não podia condenar a ruivinha, já que ele também agia da mesma forma, ou melhor, não agia. O que mais podia fazer? Ele queria Hermione por perto e aceitaria as condições dela, fossem elas quais fossem. Ser amigo dela já era um grande privilégio.

Draco ficava terrivelmente mal humorado quando passava muito tempo sem conseguir trocar ao menos algumas palavras com a moça, mas não podia negar que Hermione sabia como adoçá-lo nos momentos raros em que ficavam sozinhos. A biblioteca era o lugar preferido dos dois. Podiam fingir que procuravam livros em alguma prateleira mais afastada e assim conversavam aos sussurros, sem, no entanto, serem recriminados. Isso, até algum aluno aparecer quebrando o clima e eles voltarem a procurar livros. Mas, de qualquer forma era emocionante. Tudo com ela era emocionante!

Eles estavam realmente levando uma vida de criminosos. Sempre se escondendo, fingindo, tendo cautela. Tudo culpa do Potter!

Durante as aulas de poções, em que Sonserinos e Grifinórios se misturavam, Draco cometia erros terríveis, simplesmente porque não conseguia parar de olhar para Hermione. Ela era sempre tão compenetrada, atenta, dedicada. Sem contar que entre uma poção e outra, uma leitura e outra ela o olhava discretamente com olhos brilhantes e um sorriso disfarçado no canto dos lábios. Aquele simples gesto o deixava nas nuvens. Draco se perguntava como tinha ficado tão tolo! Devia haver algum feitiço no sorriso de Hermione, ou nos olhos dela.

Era isso! Aquele sentimento era um feitiço poderoso!

Entendia o porquê de Harry ser tão relutante com a idéia de dividi-la com ele. Se estivesse em seu lugar, faria o mesmo. Não! Faria bem pior!

Draco não tinha direito algum de cobrar nada de Hermione. Ela havia feito uma promessa e ele sabia que seria cumprida. Isso era uma das coisas que o fazia admirá-la tanto. Lealdade e honra.

O rapaz respirou fundo e olhou o céu cinzento, faltava menos de uma semana para o Natal.

Quem sabe a "Befana" (1) fosse generosa e lhe desse um presentinho bem doce na noite dos milagres... um presente de hipnóticos olhos castanhos, cabelos cheios e lábios com sabor de chocolate branco...

Ele sacudiu a cabeça em negativa. Não achava que tinha sido tão bom menino assim e provavelmente seu presente de Natal seria um pedaço bem grande de carvão.

- Parece que vai nevar... – era como se a voz viesse de algum lugar do mundo espiritual. Mas Draco não precisou olhar para trás para saber quem era.

- Se você não notou, está nevando agora, Luna! – disse sem conter seu sarcasmo natural, voltando-se para a moça que usava roupas extremamente coloridas e um xale com bolinhas penduradas nas pontas.

- Na verdade eu estou me referindo a outro tipo de neve...

Draco não tinha a intenção de perguntar nada, sabia que era mais uma das loucuras da Lovegood. Certamente iria contar alguma história mirabolante sobre "a Maldição da Neve Assassina" ou algo do tipo. Porém alguma coisa no tom de voz que a moça usou e no brilho estranho com que ela o olhava fez com que se sentisse tentado a perguntar.

- Que outro tipo de neve pode haver?

- Uma que vem de dentro para fora. Gela o coração, e lentamente caminha por todo seu ser até chegar a alma, trazendo solidão e falta de fé... – Draco sentiu um arrepio na coluna e a moça continuou, alheia ao desconforto do colega. – Ouvi dizer que quando há muita nevasca significa que a Coruja das Neves está rondando alguma vítima para congelar seu coração com a neve amaldiçoada...

Então, aliviado, Draco riu. Por alguns segundos delirantes tinha acreditado no que a moça dizia. Mas como havia concluído antes, não passava de lunicite aguda (era como chamava as histórias fantásticas da moça Corvinal). Coruja das Neves! Como Luna era criativa.

- Vamos, apressem-se! Temos que aproveitar enquanto a neve está branda. – A voz autoritária de Minerva McGonagall soou como um trovão, fazendo com que Luna desse um pequeno salto de susto, ainda envolvida em sua história de terror. A professora chegava com um grande grupo de alunos, vindos de dentro do castelo – Façam uma fila, por favor!

- Fila?! – Draco resmungou – só faltava essa!

– Não seja tão rabugento, senhor Malfoy! – disse a bruxa passando por Draco e Luna com suas vestes escuras chacoalhando com o vento frio. - Apesar de ser adulto ainda é aluno desta escola... e não adianta resmungar... filas significam organização!

Sem reclamar, Luna já se juntava aos outros alunos, satisfeita. E Draco, mesmo a contra gosto, se preparava para fazer o mesmo. Odiava filas! De repente parou de súbito, pois neste momento seus olhos captaram a figura de Hermione que saía pela porta principal do castelo. No rosto do rapaz se formou um incontrolável sorriso, mas que logo se desfez ao ver quem estava ao lado dela.

Hermione conversava algo com Harry, enquanto Rony esticava o pescoço ansiosamente, procurando por Luna.

- Ah, lá está ela! – disse o ruivo, com um largo sorriso, apontando para a figura miúda de Luna no meio dos alunos do primeiro ano.

- Depois dizem que o amor é cego! – disse Harry, sorrindo. – Como ele conseguiu ver a Luna camuflada no meio dos alunos? Ela é tão pequena...

- Acho que o Rony não vê a Luna com os olhos, ele sente a presença dela... a magia do amor, sensibilidade... – disse Hermione, sonhadora.

- Ei, - Harry a olhou com a sobrancelha erguida e uma expressão divertida no rosto - estamos falando do mesmo cara? É o Rony, se lembra?

Hermione sorriu, voltando à realidade.

- Você é tão mal! Eu realmente queria acreditar que o Ron se transformou em um homem romântico.

- Só se for com aquela poção do amor que o enfeitiçou no nosso sexto ano! Se bem que quando se trata da Luna ele fica quase tão idiota como daquela vez...

- E olha que eles são só amigos!– Hermione completou, fazendo uma imitação de Rony com cara de bobo.

Os dois riram com gosto, enquanto observavam o amigo se juntar a menina loira, furando a fila. Ato que nenhum aluno protestou. Quem, do primeiro ano, teria coragem de aborrecer Ronald Weasley, sétimo ano, monitor da Grifinória, goleiro de Quadribol, quase dois metros de altura e melhor amigo de Harry Potter?

- Esse passeio foi uma ótima idéia de Sirius, não foi? – disse Hermione, animada, voltando sua atenção para Harry. - Vou aproveitar para comprar alguns presentes, já que vamos passar o Natal na casa do Rony.

- Presentes... Entendo... – a voz de Harry, de repente, soou um tanto evasiva e ele passou a encarar o chão.

Hermione estranhou as palavras do amigo.

- Qual o problema com presentes? – perguntou, sem entender. E parou, segurando a mão do rapaz, fazendo com que ele parasse também. - Alguma coisa te incomoda, Harry?

Ele a olhou.

- Você pretende dar algum presente para ele também? – perguntou sem rodeios, e em seus olhos havia uma chama que Hermione já conhecia.

Ela sabia quem era ele a quem Harry se referia.

- Malfoy é meu amigo, não é? – perguntou insegura. Não queria que Harry se chateasse. Mas por que então ele foi incluir o Draco naquela conversa?

O rapaz desviou os olhos mais uma vez, agora direcionados ao lago gelado.

– Amigos! Até quando? – Harry tinha consciência de que estava agindo errado. Tinha decidido não pensar no que havia entre Hermione e Draco. Mas não conseguia controlar sua fúria ao imaginar Malfoy se esfregando em sua melhor amiga. Hermione era pura demais para ele. - Existe um affair entre vocês... eu sei que existe. Não sou tão cego assim, nem tão tonto. Percebo que vocês se encontram por aí...

Hermione observou aqueles olhos verdes, olhando-os de lado, enquanto o rapaz continuava encarando o lago. Era difícil se imaginar sem Harry por perto. Ele era sua família também. No entanto, sabia que tinham pouco tempo para ficarem tão grudados. Por isso estava aproveitando cada minuto daquele ano para cuidar de seu amigo. Aquela fase especial da amizade deles era meio que uma despedida, e era inevitável se entristecer ao pensar nisso.

Queria tanto que ele e Draco se tornassem amigos também. Se isso acontecesse seu problema maior terminaria. Não queria se afastar de Harry, mas tinha consciência de que isso aconteceria inevitavelmente quando comunicasse a todos o que sentia realmente por Draco.

Não se pode ter tudo, não é mesmo?

Pensaria nisso depois. Sua prioridade agora era desfazer as nuvens negras que se formavam sobre a cabeça de Harry. Então, ergueu-se o máximo que pôde e depositou um beijinho na ponta do nariz do amigo.

- Você é tão ciumento... – disse com sorriso suave.

- Não é ciúmes! – protestou, tentando parecer indiferente ao carinho que Hermione acabara de lhe fazer. – É só... só...

- Precaução, sei. – completou a moça, displicente. Já conhecia de cor o repertório do amigo para justificar seu ciúme.

Assim que começou a caminhar em direção à fila de alunos, que McGonagall tentava controlar, os olhos de Hermione se encontraram com os de Draco que a observavam. Será que ele tinha visto aquele beijo? Pensou aflita.

Ela parou novamente, mas Harry enlaçou seu braço de uma forma bastante possessiva, continuando a caminhar quase arrastando-a. Ele também avistara o sonserino.

Mas Draco não desviou os olhos. Nem ela. Mesmo não querendo chatear seu amigo ciumento, era impossível evitar o magnetismo que a prendia a Draco. Ele mordeu o lábio inferior e lhe sorriu suave, cumprimentando-a com um leve aceno de cabeça. Ela retribuiu o sorriso, enquanto sentia o aperto em seu braço aumentar.

Draco controlava suas emoções com uma força sobre-humana. Era como se acabasse de receber uma descarga de Cruciatus lançada pelo próprio lorde das trevas. Aquele beijo inocente que Hermione dera em Harry tinha sido longos segundos de tortura para ele. E como se não bastasse, o Potter ainda fazia questão de deixar bem claro que ela estava com ele, enlaçando-a como um namorado terrivelmente possessivo e ciumento. Idiota primitivo! Homem das cavernas! Neandertal com cérebro de galinha! Xingava Draco secretamente.

Mas quando seus olhos se encontraram aos de Hermione toda sua fúria se abrandou. Aqueles olhos diziam tanta coisa... tanta coisa...

Sem ter como agir, Hermione se deixou conduzir por Harry. Passaram rapidamente por Draco e foram até onde Rony e Luna estavam. Mais dois para furarem a fila. E Hermione sabia que não era hora de falar com Harry sobre respeitar filas, já que o amigo tinha a expressão de uma esfinge que acabava de ter seu enigma desvendado.

Ela não ousou olhar para onde Draco estava. Mas sentia o olhar dele, como sempre. Era como se ele a estivesse tocando, igual na noite do primeiro baile...

Desde que voltaram a Hogwarts, apesar de toda a vigilância de Harry, Hermione sempre mantinha os olhos em Draco. Notava que mesmo tentando agir normalmente, debochado e irônico, o rapaz se traía às vezes deixando transparecer, em fração de segundos, uma certa tristeza no olhar. Ele parecia mais sozinho do que nunca já que a maioria dos colegas da Sonserina mal conversava com ele. Uma das exceções era a Parkinson, o que a incomodava terrivelmente. Mas Hermione sabia que não tinha nenhum direito de reclamar, já que estava vivendo com Harry um período bastante colorido de amizade. Draco também tinha direito de ter amigas de infância.

Os alunos das outras Casas continuavam evitando Malfoy, como já era previsto.

Havia nele aquela marca inapagável.

As únicas pessoas que se aproximavam dele, além dela e alguns novatos da Sonserina, eram Luna e Ginny. Na verdade a ruivinha passava bastante tempo com Draco e isso, de certa forma, tranqüilizava Hermione um pouco mais. Sabia que eles estavam na mesma situação: em estado de espera. Reconhecia o quanto aquilo era injusto para os dois. Mas aquela tinha sido a escolha deles. E ela os admirava muito por isso. Abnegação.

Ao contrário de Malfoy, Ginny parecia contente. Continuava a amiga divertida de Hermione, sempre fazendo piadinhas com os colegas e derramando sua graciosidade sobre todos à sua volta. Mas, diferente de antes, não namorava nenhum outro rapaz. Parecia ter adotado uma vida quase de monja, semelhante a que Hermione sempre exercera. Em relação a Harry, Ginny mantinha uma postura bem leve, brincava com ele normalmente, jogava charme, mas não forçava nada.

No entanto, Hermione achava que a amiga estava vivendo numa inércia perigosa e isso não era bom, já que Harry era um rapaz que precisava ser estimulado. Se Ginny não tomasse iniciativas ele também não as tomaria. Para pessoas diferentes, atitudes diferentes.

Sua amiga ruiva tinha muito o que aprender sobre Harry Potter.

No trajeto até Hogsmeade os alunos foram pegos por uma nevasca súbita. E foi com grande dificuldade que conseguiram vencer a pequena distância que os separava da vila. Sorte já estarem tão próximos ou McGonagall os teria feito voltar para o castelo.

Hermione e Harry entraram no Três Vassouras, após deixarem Rony, Luna, Neville, Sarah e Ginny em uma imensa loja de Souvenirs, chamada Mil Trecos. Uma loja recém inaugurada e que já era um sucesso entre a população da vila e também dos estudantes de Hogwarts. Hermione tinha entrado na gigantesca loja, enfeitiçada para ficar maior, para dar uma espiada nas possibilidades de presentes.

Ficou maravilhada com a variedade de coisas. Voltaria lá mais tarde, para comprar as lembrancinhas a sós. Afinal, não poderia fazer isso diante dos que seriam presenteados. Vendo que os demais amigos se sentiram fascinados diante de tantas coisas diferentes, inclusive objetos trouxas, Hermione e Harry decidiram ir para o bar de madame Rosmerta e esperar pelo grupo, que provavelmente não sairia da loja tão cedo.

O Três Vassouras estava bem cheio, como sempre ficava em dias de visita dos estudantes, ainda mais com o tempo tão instável. O bar estava decorado com extravagantes enfeites natalinos. Imensas bolotas coloridas pendiam do teto e de vez em quando algum bruxo alto e distraído acertava a cabeça em uma delas. Logo na entrada havia a estátua realista de uma rena mal encarada, usando um gorro vermelho e um sino barulhento no pescoço, que tocava sempre que entrava um novo cliente. A rena dizia "bem vindo!" de uma forma tão sinistra que mais parecia o gemido de um dragão com dor de dente.

Os dois amigos olharam desconfiados para a hospitaleira rena, mas não fizeram nenhum comentário. Alguns rostos deslumbrados tinham se virado para apreciar os recém-chegados, mais precisamente Harry. Eram algumas das integrantes de seu fã clube em Hogwarts.

Desconcertados com os olhares de encanto e inveja, os dois correram os olhos pelo recinto a procura de uma mesa vazia. Avistaram uma ao fundo do bar, longe das fãs, que acabava de ser liberada por um animado grupo de senhoras bruxas.

Caminharam apressados em direção a ela.

- Quantos estudantes! – dizia uma das senhoras, que usava um cachecol alaranjado coberto de estrelinhas amarelo vibrante. – Isso me trás uma adorável nostalgia de quando estudei em Hogwarts...

- Bons tempos! – respondeu uma outra parecida com a senhora Figg, e olhou para Harry e Hermione que aguardavam discretamente a certa distância da mesa. – Aproveitem cada minuto, meus jovens! Os amigos de Hogwarts são para a vida inteira. E os amores, então...

O grupo se distanciou ainda comentando sobre os velhos tempos. Harry e Hermione se olharam e sorriram cúmplices. Claro que aproveitariam cada minuto. Entendiam muito bem o valor daqueles tempos... dos amigos, dos amores...

Sentaram-se. Por todo o bar os alunos conversavam animados, ou em grupos ou aos pares, como ela e Harry. Mas, mal se acomodou na cadeira, o olhar de Hermione captou uma figura solitária numa mesa bem ao canto, do outro lado do bar, imperceptível para olhares menos atentos. Seu suéter cor de chumbo e sobretudo preto faziam sua pele parecer bem mais clara. O cachecol verde e cinza da Sonserina cobria parcialmente seus lábios e ele bebia cerveja amanteigada de forma muito lenta enquanto olhava pela janela, distraído com a neve que aumentava.

- Duas cervejas amanteigadas, por favor! – Hermione ouviu Harry pedir a madame Rosmerta, mas não desviou seus olhos de Draco. Estava pensando se deveria ir até lá ou não.

- Sim queridos, aguardem só um momento. Nossa! Isso aqui está um caos hoje! E olha que contratei dois ajudantes a mais para esta semana de Natal... – disse a mulher já se distanciando da mesa.

- É engraçado! A madame Rosmerta parece que não vai envelhecer nunca! – falou Harry, observando a dona do bar sumir por uma porta atrás do balcão. – Ela tem exatamente a mesma aparência de quando a conheci, você não acha? ... Hermione? – chamou, ao perceber que a amiga estava distraída. Como não obteve resposta, acenou a mão diante da moça. – Você está bem?

Assim que teve o objeto de sua visão coberto pela mão de Harry, Hermione piscou, despertando do devaneio.

- Ah, sim... desculpe. O que disse?

- Você está preocupada com alguma coisa? – perguntou Harry tentando ver o que chamara a atenção da amiga. Mas o bar estava tão cheio que foi impossível para ele enxergar Draco camuflado em seu solitário canto.

- Nada demais. – mentiu Hermione. Se falasse que se distraíra por causa de Draco logo Harry estaria mal humorado, como sempre acontecia – São só os N.I.E.M's...

- Hum... certo! – porém ele sabia que ela não estava distraída por causa dos exames. Na verdade, nem ele estava. Pela primeira vez se sentia totalmente confiante para fazer qualquer exame. Mas não era comum Hermione se distrair e muito menos esconder dele o motivo. Harry sentiu uma fisgada no estômago. Tinha medo só de pensar no motivo dos devaneios dela.

Nesse momento a dona do bar voltou com duas cervejas empoeiradas e entregou aos garotos. Hermione abriu sua garrafa em silêncio se forçando a não olhar para Draco. Então sentiu o braço de Harry a envolvendo pelos ombros. Ela o olhou, incerta.

- O que foi? – perguntou.

- Só estou abraçando minha amiga... não posso? – disse com um sorriso tímido.

- Claro que sim... mas é que... – ela olhou nervosa para o canto de Draco, com medo de que ele estivesse observando, mas o rapaz continuava distraído, com os olhos perdidos na janela. – Sabe, as suas fãs. Acho que elas vão sofrer muito se virem você me abraçar assim publicamente. Já quase morreram só de me ver entrando aqui com você.

- Eu realmente não me importo. – e puxou Hermione para mais perto. – Todos sabem que somos inseparáveis.

- Mas nunca ficamos nos agarrando por ai. – respondeu, teimosa.

- Já está me dispensando? - Harry fingiu mágoa e a soltou, cruzando os braços sobre o peito após colocar sua garrafa sobre a mesa. – Confessa que detestou aquele nosso, como posso dizer? Contato mais íntimo... – disse dramático, mas ainda tímido. - Eu devo ser um fracasso no papel de Don Juan e olha que foi só um beijinho...

Hermione o olhou divertida, se esquecendo de Draco completamente.

- Aquilo não foi algo que se possa chamar de beijinho. – ela chegou mais perto do ouvido de Harry, em tom de confidência.– Foi uma sessão de amasso adolescente. E, convenhamos, você foi bem, hum, satisfatório.

- Satisfatório? – Harry quase gritou. – Madame Rosmerta, me trás uma garrafa de uísque de fogo. Não! Traga logo duas!!

- Pára com isso, Harry! – pediu a moça, encabulada diante do drama do amigo, mas sem conter o sorriso. – Seu ingrato! Eu tento ajudar você com suas fãs e você estraga tudo. Agora sim as meninas estão nos olhando prestes a caírem no choro ou pior, me lançarem um furunculus.

Harry, sorrindo, correu os olhos pelo bar e viu que realmente estavam sendo vigiados pelas garotas. Então voltou a abraçar Hermione, dando um leve beijinho em seu ombro.

- Eu protejo você. – fez uma pausa e amenizou o ar de sorriso. - Sabe, Mione, somos realmente uma grande dupla... ou seria melhor dizer um trio! – Hermione olhou para Harry, confusa com o final da frase. Acompanhou os olhos do amigo que iam para a porta do bar. Ele estava novamente com aquele sorriso amplo e único de Harry Potter. – E lá vem a nossa terça parte, a maior delas. – e tirou o braço de volta da amiga.

Rony olhava para todo lado, com certeza procurando pelos dois. Quando os localizou se espremeu entre as pessoas que transitavam, para chegar até eles. Porém, antes de alcançar seu objetivo foi golpeado por uma enorme bolota vermelha que estava em seu caminho. A bola balançou por alguns instantes, enquanto Rony esfregava a testa e provavelmente xingava algum nome feio.

Alguns segundos depois o ruivo chegava com um grande inchaço na testa, o que tornava seu rosto especialmente engraçado.

- Eu odeio o Natal! – resmungou, carrancudo. - Quem será que teve a idéia idiota de pendurar essas bolas feitas de chumbo tão baixas?

- Não são as bolas que estão baixas. – disse Hermione, segurando o riso. – Você é que é alto demais.

Rony reclamou qualquer coisa inteligível, e esfregando a testa mais uma vez resignou-se.

- De qualquer forma, esse ainda continua sendo meu bar preferido. – deu uma rápida olhada para a dona do bar que servia uma mesa ao lado, depois se jogou numa cadeira e pegou a cerveja abandonada de Harry sobre a mesa. Sorveu um gole longo e sorriu satisfeito. – Isso é que é vida!

- E o que houve com a Luna e os outros? – perguntou Hermione com a sobrancelha erguida.

- Neville e Sarah se separaram de nós pouco depois que vocês saíram. Então a Luna e a Ginny decidiram olhar toda aquela imensa loja. Aquilo é um labirinto, sabiam? Duvido que alguém consiga ver tudo que tem lá dentro em menos de um mês. Eu bem que tentei acompanhar, mas... desisti lá pelo décimo corredor... – voltou-se para Hermione. – Como vocês mulheres conseguem fazer isso sem enlouquecerem? – e tomou mais um grande gole de cerveja.

- Rony, – chamou Harry – esta cerveja tinha dono...

- Ah, sim? Desculpe, agora não tem mais jeito, vai ter que pedir outra. Ou vai preferir disputá-la com o goleiro da Grifinória? Sem feitiço, claro! Apenas músculos. – disse brincalhão.

Sacudindo a cabeça em resignada descrença, Harry ergueu a mão para que algum funcionário do bar o visse, mas parecia impossível com tanta gente pedindo.

- Eu vou até lá. – ofereceu-se Rony bem solícito, vendo que madame Rosmerta já se encontrava detrás do balcão. – Faço esse favor pra você e aproveito pra pegar mais umas pra mim. – e se levantou ainda bebendo da garrafa de Harry.

- Bom... – Harry se virou para Hermione assim que Rony sumiu de vista. – Onde estávamos?

- Em que momento? – perguntou fingindo não se lembrar. – Ah, sim, que nós somos um trio. Você tem razão – ela sorriu. – isso ninguém pode mudar. Um triângulo que se forma pela união de suas três pontas...

- Então podemos juntar duas delas agora mesmo, enquanto a outra ponta baba na madame Rosmerta.

E abraçou a moça novamente.

- Harry! – Hermione ia protestar, mas Harry a impediu colocando um dedo sobre sua boca.

- Deixa eu fingir que sou o único pra você, só por um momento... – e a voz de Harry era muito baixa.

- Seu insensível... e suas fãs? – mas o coração de Hermione se apertou, Harry estava carente outra vez. Sabia a quem aquela frase do amigo se referia. Com certeza não era ao Rony.

- Eu cuido delas depois... – e recostou sua testa sobre a de Hermione, segurando seu rosto entre as mãos e fechando os olhos. Um gesto carinhoso que ele tinha tomado o hábito de fazer com ela sempre que se sentia carente. - ... Queria que nossos anos em Hogwarts fossem eternos.

- Harry, - ela sussurrou - pensar assim já lhe causou muito mal, não se esqueça! – mas ela também fechou os olhos. Aquele carinho inocente de Harry sempre a deixava sonolenta, igual gato enroscado diante da lareira em dia de neve. Aconchegante.

- Fique tranqüila, Hermione. Eu não vou me entregar de novo, seja qual for a minha realidade... Mas eu vou lutar para que nessa realidade sempre estejam o Rony, o Sirius, a Ginny e você.

- Estaremos... – e ela realmente queria que aquela afirmativa fosse verdade.

- Desculpe por interromper. – uma voz arrastada chegou aos ouvidos dos dois, como que para demonstrar que na realidade de Harry haveria mais uma pessoa. Hermione tentou se afastar, mas Harry a segurou, apenas virando a cabeça para encarar o dono daquela voz odiosa.

Draco não tinha conseguido se segurar por muito tempo. Assim que percebera Hermione e Harry no bar, no momento em que o outro pedira uísque de fogo de uma forma muito dramática, ele passara a observar os dois. Não podia mentir para si mesmo: sentia muita inveja de Harry.

Inveja da forma como ele e Hermione eram íntimos, cúmplices, soltos um com o outro, como se fossem da mesma família. Queria que ela fosse assim com ele também. Mas sabia que era impossível. Entre amigos íntimos existe algo que se chama afinidade, gostos semelhantes, sonhos semelhantes. E certamente seus sonhos da vida inteira tinham sido completamente opostos ao de Hermione Granger. Trilharam caminhos adversos.

Mas ainda assim não permitiria que aquele Potter ficasse tão facilmente com seu bem mais precioso e que tão recentemente havia descoberto. Ao menos lutaria por ela.

- Malfoy, você está sendo inconveniente... Aliás, você É inconveniente. - a voz de Harry soou extremamente suave e Hermione se enrijeceu. Aquilo não era um bom sinal.

- Sei disso. – respondeu o outro tranqüilamente e se sentou sem cerimônia. – É que, como sou amigo da Hermione, pretendo evitar que ela fique mal falada. Pelo que você mesmo tão gentilmente me alertou faz alguns meses. Se vocês não perceberam isso aqui é um local público...

- Ah, cala a boca! Não se meta entre mim e a Hermione! – Harry explodiu, sem se conter. Aquela arrogância de Malfoy era demais para ele suportar.

- Ora, Potter! Não seja tão egoísta! – o sonserino passou a mão pelos cabelos platinados que logo em seguida já se derramavam sedosos sobre os olhos novamente. – Essa moça não é propriedade sua. Além de quê, vocês já são amigos desde os onze anos, usufruiu demais da companhia dela. Agora é minha vez.

- Como você é abusado! – Harry se levantou, olhando Draco por cima, seus olhos começavam a faiscar perigosamente. – Exatamente por ser minha amiga de infância é que tenho direitos...

- Acha mesmo isso? – Draco também se levantou, desafiando. – Ela já deve ter enjoado de você.

- Vocês querem parar de falar de mim como se eu estivesse a quilômetros de distância! – reclamou Hermione, se levantando também. – Eu tenho vontade própria, sabiam? – e ela parecia bem zangada. Mas os dois rapazes a ignoraram totalmente.

- Entre mim e a Hermione existe algo que você nunca vai ter, nem em vidas futuras. Uma aliança invisível, Malfoy! Cumplicidade, companheirismo, memórias de um sentimento sem marcas, puro... que você não pode oferecer, por que o seu passado é sujo!

Aquilo acertou Draco bem fundo.

- VOCÊ NÃO É DONO DELA, POTTER!! – gritou, também com olhos faiscantes. Era terrível ouvir aquela verdade.

Harry riu com escárnio, satisfeito por ver Malfoy perder seu odioso controle emocional.

- Você acha que pode afastar a Hermione de mim, só porque ela fez a caridade de se tornar sua amiga? Pare de sonhar, idiota! Nós temos uma história juntos...

Agora sim Draco estava a ponto de esganar Harry. E o bar inteiro tinha parado para observar a cena. Mas os assovios que se espalhavam pelo bar não intimidaram os rapazes.

- Caridade? – retrucou Draco, tentando retomar seu alto-controle. – Isso prova que ela é uma mulher sensata. Afinal, deve ser difícil ser amiga de alguém tão cego quanto você, que nunca percebeu o quanto ela se sacrificou por essa amizade. Ao seu lado Hermione teve mais dores que alegrias! E você disse ao menos obrigado? Acho que não!

Harry estancou por uns momentos. Aquilo era verdade. Ele só havia percebido a importância de Hermione em sua vida poucos meses antes de cair dentro do Arco do Véu. E ela sempre esteve com ele, se arriscando, apoiando-o incondicionalmente, sem nunca reclamar. Ele nem sequer lhe agradecera.

- E o que pode haver de melhor em sua amizade do que na minha? – Harry sabia que isso não era um bom argumento.

- Hum, que tal eu ter reconhecido o valor dela desde que a enxerguei como ela realmente era? Eu entrei no Arco não por sua causa, estúpido! Mas por ela, somente por ela!

Rony estava parado a uma certa distância, com as bebidas na mão, sem saber se deveria interferir. Mas pela expressão que via no rosto de Hermione decidiu que seria melhor nem chegar perto, ou ela iria odiá-lo também. Harry era bem grandinho para resolver aquilo por sua conta.

Na verdade, já não achava mais divertido brigar com Malfoy. Sabia que Luna se decepcionaria.

Hermione olhava de um para outro, incrédula e revoltada com o vexame que os dois estavam causando, mais uma vez. Aquilo que eles diziam era tocante, mas por que não disseram para ela, numa conversa reservada? Garotos tinham vergonha de falar de seus sentimentos, no entanto, os expunha sem pudor algum durante uma briga idiota, diante de todos. E da forma mais estúpida possível!

A moça queria ignorar os cochichos e palmas dos alunos à volta. Mas era impossível, o bar inteiro se divertia com a situação. E o pior, todos percebiam que a briga era por causa dela. Não tinha como entrar no meio da discussão. Os dois pareciam ter criado uma barreira invisível onde o resto do mundo não podia penetrar.

E continuavam se digladiando com ofensas cada vez piores. Aquilo era ridículo! Dois alunos do sétimo ano, dois homens, discutindo por uma bobagem. Eles sempre estragavam tudo! Quantas vezes mais teria de passar por aquilo? E tudo poderia ser tão diferente se eles se entendessem...

Vermelha de raiva e vergonha, Hermione respirou fundo e gritou:

- NÃO AGUENTO MAIS! EU NÃO SOU UM OBJETO QUE PODEM MANIPULAR COMO LHES COMVÉM!! Quando crescerem e agirem como pessoas, não como dois trasgos disputando território, eu volto a falar com vocês! – e saiu carrancuda rumo à porta do bar sem olhar para trás. – E NÃO SE ATREVAM A VIR ATRÁS DE MIM!

Atrás dela ficou um silêncio sepulcral e os dois rapazes, enfim, perceberam que no mundo havia mais pessoas além dos dois e suas revoltas pessoais.

Assim que saiu do bar, Hermione se deparou com a neve que caía em abundância. Caminhou sem rumo pelas ruas de Hogsmeade, agora quase vazias. Provavelmente os moradores e visitantes estavam abrigados nas lojas e casas esperando o tempo melhorar.

Ela andava a passos lentos e seus pés afundavam na grossa camada de neve fofa que se acumulava pelo caminho. Mas Hermione não ligava. Estava tão furiosa com Harry e Draco que seria capaz de derreter aquele gelo todo só com o olhar.

Precisava se esquecer daqueles dois por algum tempo.

Foi então que avistou a loja de souvenir que visitara mais cedo. Aquele lhe pareceu um ótimo momento para comprar os presentes. Acalmaria seus nervos.

Entrou na Mil Trecos abanando os floquinhos brancos que se acumularam sobre suas roupas e levou um bom tempo até que seus olhos se acostumassem com tantas luzes coloridas que piscavam sem parar.

A loja parecia mais cheia do que antes, mas era tão grande que não se tornara desconfortável. Ao contrário, era bastante aconchegante lá dentro. As pessoas andavam tranquilamente, admirando os objetos tão diversos.

Enfeites natalinos predominavam na grande loja, entre objetos do mundo bruxo e do mundo trouxa. Hermione parou, admirada, ao ver um delicado presépio exposto a um canto. As figuras em torno da manjedoura, pessoas e animais, eram de um cristal transparente e tinham semblantes de elevada adoração. A pequena criança deitada sobre a palha também era de cristal, mas dentro dela havia uma minúscula luz dourada que a fazia resplandecer, iluminando todo o presépio.

Hermione se emocionou, esquecendo-se de seus problemas e sentindo uma súbita serenidade envolver seu coração, como um poderoso feitiço.

Eh! Os trouxas também possuíam uma Grande Magia, representada ali, na figura de um indefeso e iluminado bebezinho.

Feliz, Hermione se afastou do presépio e começou a andar pela bonita loja. Logo, já estava em total clima natalino. E perdida entre balcões e prateleiras gigantescas escolhia com satisfação os presentes dos amigos.

Para Luna encontrou uma bolsa feita de lã colorida e adornada com miçangas e flores de pano. Um objeto trouxa, mas que era a cara de Luna. Ginny ganharia um espelho mágico que dizia se a pessoa que o olhasse estava feia ou bonita não pela aparência, mas pelo humor no momento.

Comprou para Rony um par de luvas de goleiro, já que o amigo reclamara do buraco que aparecera na sua. Para o senhor e a senhora Weasley, encontrou uma bela pintura em tecido, também trouxa, que mostrava uma pequena fazenda de ovelhas nos campos de Yorkshire. Achou a pintura tão bonita que decidiu levar uma semelhante para seus pais. Para Tonks e Lupin escolheu uma romântica caixa de bombons com licor para que eles apreciassem a dois.

Agora vinha a parte mais difícil. Os presentes de Harry e Draco. E bastou se lembrar dos dois para sentir um pouco de sua animação se esvaindo. Era melhor não comprar nada para eles naquele momento, ou eles poderiam ganhar uma bomba de bosta como presente de Natal. E ela não pôde evitar o sorriso diante de seu pensamento tão infantil.

Quando Hermione voltou às ruas, carregada de embrulhos, a neve havia dado novamente uma trégua. Ficou parada diante da porta da loja, olhando o mundo branco lá fora e pensando se deveria ou não procurar algum dos amigos. Por fim, decidiu que voltaria sozinha para o castelo. Não queria falar com ninguém. Precisava pensar em uma maneira de lidar com Harry e Draco. Não poderia deixar eles agirem daquela forma pelo resto da vida. Teria de cumprir a ameaça que lhes fizera no bar.

Daria uma lição naqueles dois!

Continua...


(1) La Befana é um conto que fala de uma fada que dava doces para as crianças boas e um pedaço de carvão para as crianças que não tinham sido muito generosas no decorrer do ano. Se vocês quiserem saber um pouco mais sobre este bonito conto e só lerem a fic (de Harry Potter) da Karla Malfoy, que se chama, exatamente, La Befana. Nela vcs vão encontrar o Trio e, claro, Draco Malfoy. É uma fic pequena e muito fofinha, que vale à pena ler nesse período de Natal.

O Link para a fic é essa aqui: http:// www. fanfiction . net / s / 3322169 / 1 / LaBefana

Eu coloquei o link com espaços, então quando forem ler, é só tirarem os espaços e lerem a fic!! Então.. enjoy!!!!!