O Casamento.

Chegara então o dia, em poucas horas estaria entrando no templo onde seria realizado seu casamento, anunciado n'O Profeta Diário como a "união do século".

O mundo bruxo estava em paz, há três anos Voldemort havia sido derrotado pelo "menino-que-sobreviveu", e agora a maior preocupação era escolher vestes para causar inveja aos outros na festa mais concorrida do ano.

Apesar de todos os planos, Virginia não estava feliz. O que não daria para que seu noivo fosse um certo loiro sonserino? Sonhara com Harry durante muitos anos de sua vida, talvez até anos demais. Mas ao contrário do que todos achavam, estava infeliz com tudo aquilo. Sabia que estava fazendo o certo, o que se esperava dela, mas ainda assim, lhe parecia tão errado.

Tudo começou em seu sexto ano em Hogwarts, quando por uma ironia do destino se envolveu com Draco Malfoy. É claro que foi tudo escondido, mas foi de uma intensidade tamanha que qualquer sentimento que ainda existisse pelo "menino-cicatriz" se esvaiu. Ela nem sabia dizer como tudo começou, mas podia afirmar que estar com Draco era sentir um turbilhão de emoções diversas, e mais importante, se sentir viva.

Durante seu sétimo ano se correspondia com o amado, mas enfim chegaram à conclusão de que nunca daria certo. Apesar da guerra ter acabado, o Ministério temia que ainda houvessem Comensais procurando por um líder, e por ser um Malfoy, draco era o suspeito número um, mesmo provando que não possuia a marca negra ou nada com Voldemort e seus aliados. Seu pai fora um tolo, que morreu pelos princípios errados.

Virginia aceitou então o pedido de namoro de Harry, que andava atrás dela há algum tempo. Os Weasley não cabiam em si de felicidade.

Após um ano de namoro veio o pedido, e Gina fez o que esperavam dela, aceitou. Era agora noiva do bruxo mais famoso do mundo, e não demoraria muito para que o temido dia chegasse.

Após dois anos de um noivado que para ela era um pesadelo, não pode mais adiar, cederia à pressão de seus familiares – e de Harry -, selaria seu compromisso.

Olhou-se no espelho. Parecia uma princesa medieval com todos aqueles cachos e tecidos. O vestido negro – cor tradicional em casamentos bruxos – contrastava com sua pele alva e seu triste sorriso. Seria a qualquer momento agora.

Todos a contemplavam como à uma deusa. Estava deslumbrante, e ao seu lado, via um rapaz sorridente, com olhos verdes que irradiavam sua felicidade.

Chegou o momento em que era perguntado aos convidados se alguém era contra a união. Virginia olhou esperançosa para todos, e viu alguém que não devia estar ali. Ele estava apoiado em uma das portas laterais, mas permanecia coberto pelas sombras que as velas projetavam nas paredes. Ninguém havia percebido sua presença. O loiro realizou um complicado – mas discreto – movimento com sua varinha, e logo depois saiu.

Virginia sentiu um peso quase desprezível em seu pescoço, e constatou que agora possuia um pingente de prata em forma de dragão pendendo do cordão que usava – cordão este que fora presente do mesmo loiro há anos atrás. Dissera aos outros que era presente de uma amiga, e o usava para ter sorte -. O dragão não podia ser visto, pois era oculto pelo decote do vestido, mas para a ruiva, saber que ele estava ali a reconfortava. Sabia que mesmo casando, teria sempre ali o seu dragão.

Já não me importo

Até com o que amo ou creio amar.

Sou um navio que chegou a um porto

E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta

Do que quis ou achei.

Cheguei da festa

Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente

A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente

Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar

Que, sem o poder ver,

Sei que é sem ar

De olhar a valer.

E só me não cansa

O que a brisa me traz

De súbita mudança

No que nada me faz.

(Fernando Pessoa)