Gaara chega para visitar o filho que morava com a ex-esposa dele. Há quase cinco anos que fazia isso uma vez por mês. Nunca via a esposa nessas visitas, Ino deixava a criança com a babá e ficava fora até ele sair com o filho. Geralmente ele e Yoshiro passavam o dia passeando. Depois ele levava o filho de volta para casa e ia para o hotel descansar. Ficava dois às vezes três dias na cidade. Nunca mais vira a esposa desde que ela o tinha deixado levando o filho de poucos meses do casal.
Sabia que ela o odiava, pior, sabia que ela tinha muitos motivos para sentir isso. Ele fora o único culpado pela separação e por ter quase provocado a morte dela e do filho que ela carregava no ventre. Estavam casados há quase dois anos quando ela engravidara e Ino tivera uma gravidez difícil e complicada, passando grande parte do tempo em repouso. Ele então se afastara dela.
Ino percebera as mudanças no marido, logo que o médico a colocara de repouso absoluto, impossibilitada de fazer sexo com ele, ela o vira se afastamento com tristeza e mágoa. Ele mudara de quarto, alegando que queria deixá-la mais confortável. Mas com o tempo ele se afastara cada vez, até chegar ao ponto dela quase não vê-lo. Raramente ele ia visitá-la em seu quarto e nunca ficava muito tempo, sempre ocupado, sempre com pressa. Ela tinha esperança de que quando a criança nascesse tudo voltasse ao normal.
Foi na última consulta de pré-natal que tudo acontecera. Estava completando sete meses de gravidez e o médico lhe dera alta. Ela poderia sair do repouso e até fazer pequenas caminhadas, porém deveria tomar cuidado, não carregar peso e não fazer esforço.
Feliz ela resolve fazer uma surpresa ao marido indo até o escritório dele. Gaara era um importante empresário no setor de construção civil, muito conhecido no mundo dos negócios. Ino pede ao motorista que a leve até o prédio onde ficavam os escritórios da Construtora Sabaku. Ela chega ao andar onde ele trabalhava e estranha não ver a secretária na mesa dela, mas se dirige a sala dele e entra sem bater. Sua vida mudou daquele instante em diante. Dentro da sala, no sofá seu marido e único amor estava fazendo sexo com a assistente.
Ela dá um grito, chamando a atenção do casal e corre para longe dali, mas ao chegar à rua tem uma dor forte no ventre e cai. Ela ouve passos e pessoas gritando, mas a dor era tão forte que ela não conseguia distinguir quem estava perto, ela sente braços fortes a levantando do chão e outra dor lancinante parece dividi-la ao meio e ela desmaia. Dali em diante tudo o que ela lembrava era de rápidos flashes e de sentir muita dor.
Ela via o rosto do marido desesperado e arrependido. Ino precisara de uma cesariana de emergência, ela e o bebê correram grande risco de não sobreviverem. O bebê nascido antes do tempo e em circunstâncias tão difíceis precisara de cuidados especiais e ficara no hospital durante semanas. Ino ficara junto, não queria voltar para casa e muito menos rever o marido.
A mágoa pela infidelidade dele doía demais. O escândalo virara manchete nos jornais e todos os dias ela era perseguida por repórteres a caça da desgraça alheia. Com tudo isso Ino se tornara outra pessoa. Seu cunhado se tornara seu único amigo e companheiro nesse momento. Ele ficara ao lado dela e evitara que o irmão se aproximasse da esposa. Ino não queria ver Gaara nunca mais.
Ele tentara se aproximar dela e obter o perdão, voltarem a viver juntos, mas Ino não aceitara e pedira o divorcio. Assim que a criança teve condições de viajar ela voltara para cidade onde nascera e crescera, no interiro do estado e eles nunca mais se viram. Apenas se falavam através dos advogados. Ino não aceitara nada dele. Voltara a trabalhar como paisagista. Gaara depositava uma alta soma todos os meses numa conta bancária que abrira em nome dela, mas Ino jamais mexera no dinheiro. Ela não queria mais nada dele, voltara a usar o nome de solteira e deixara todas as jóias que ele lhe dera na casa deles.
Ela descobrira que o caso com a secretária já existia há três meses. Desde que ele mudara de quarto. Aquilo foi o que mais lhe doeu, enquanto ela passava pela tensão de ficar de repouso para ter o filho que ambos tanto queriam, ele se divertia com outra mulher.
Tudo isso ficara no passado. Ela reconstruíra sua vida e ele respeitara a decisão dela e não a procurara. Sabia que ela jamais o perdoaria e com razão. Ele se arrependera, por causa de uma aventura sem importância perdera sua família. A situação também fizera com que ele mudasse, se tornando um homem mais maduro e responsável, dedicado ao filho e ao trabalho. Nunca era visto com outras mulheres ou participando de festas como antigamente. Agora com trinta anos, tornara-se um homem discreto.
Gaara chega à casa da ex-esposa, toca a campainha e aguarda. Ele ouve passos e a porta se abre, revelando a figura da babá. – Bom dia Sr. Sabaku.
-Bom dia, poderia chamar meu filho, por favor? – Ela o olha, surpresa. – Senhor, o menino está no hospital com a mãe, houve um acidente. – Gaara olha assustado para a babá e, sem esperar a moça terminar de falar, volta correndo para o carro, dando a partida em seguida. Ele se dirige ao hospital, muito nervoso. Algo tinha acontecido ao seu filho. Ele adorava Yoshiro, ele era o centro da sua vida. Era muito grato a ex-esposa por ter permitido que ele se aproximasse do menino.
Da forma como tudo acontecera, ela poderia ter proibido sua aproximação com o filho. Porém Ino permitira que ele visse a criança, mas ela nunca estava junto. No inicio, quando Yoshiro era apenas um bebê, ele era acompanhado pela babá. Ficavam no hotel por algumas horas e depois ela o levava de volta para casa, voltando no dia seguinte. Quando Yoshiro completara três anos, Ino permitira que Gaara saísse sozinho com a criança.
Gaara para o carro no estacionamento do hospital e entra no prédio muito preocupado. Ele se dirige á recepção para obter informações, mas antes que pergunte algo, ele ouve a voz infantil do filho. – Papai, Papai. – Ele se vira e vê o menino ruivo como ele se aproximar rápido com um braço enfaixado.
Ele pega o menino no colo e olha para frente. Há alguns metros de onde eles estavam ele vê Ino parada. Sua boca fica seca e suas mãos ficam úmidas de suor. Ela chega perto e o olha sem dizer nada. Ele a cumprimenta, sua voz sai rouca e baixa. Ela responde ao seu cumprimento, seca, sem olhar para ele. Gaara olha para o menino e depois para a mãe. – O que aconteceu?
- Ele caiu da bicicleta, mas está bem. O braço ficará imobilizado por alguns dias. – Ela responde séria, Yoshiro se vira e olha para a mãe. – Olha mamãe, meu pai veio me buscar no hospital. – O menino estava muito feliz, ele adorava o pai. – Estou vendo. Venha meu amor, vamos para casa.
Gaara a ouve em silêncio, ela também o chamava daquele jeito enquanto estavam juntos. Ele desvia os olhos dela. Ino estava linda, mais linda do que ele lembrava, e fala com a voz normal, agora. -Ele deveria ir comigo, afinal eu vim para vê-lo.
-Mas ele não poderá passear com você hoje. – Ela vê uma sombra nos olhos do ex-marido. Sabia que ele era devotado ao filho. E Yoshiro aguardava as visitas do pai com ansiedade. Ela olha no relógio e pensa um pouco. Já era quase hora do almoço.
-Eu e Yoshiro vamos almoçar e depois eu o deixo no hotel para vocês ficarem algumas horas juntos, está bem assim?
Antes que Gaara possa responder, Yoshiro dá um pequeno grito. -Papai, venha almoçar com a gente. Podemos comer hambúrguer e batatas fritas na lanchonete do Shopping, por favor. - Gaara olha para o menino sem saber o que dizer. Podia ver no rosto de Ino que a sugestão a desagradara. O menino também percebe o desagrado da mãe e baixa o olhar, triste. Ela então solta um suspiro. -Está bem, vamos os três então. Você quer ir no carro do seu pai ou comigo?
- Eu vou com o papai. O carro dele é mais legal. - Ino sorri ao ouvir o filho e Gaara prende a respiração ao vê-la sorrindo. Ela dá um beijo no filho e olha para o marido, séria novamente. - Tudo bem para você? - Ele confirma com a cabeça e ela se vira, afastando-se em seguida.
Gaara olha para o filho. Yoshiro parecia ter ganho o melhor presente do mundo. Ele sorria feliz e os olhos brilhavam. - Muito bem, vamos. No caminho você me conta como machucou o braço.
Eles saem do hospital e entram no carro de Gaara. Ele coloca o filho no banco de trás na cadeirinha apropriada para o transporte de crianças e o prende com o cinto de segurança. Yoshiro faz uma careta. -Odeio usar isso. Queria ir no banco da frente com você.
-Só daqui alguns anos. - Gaara já estava acostumado com aquilo, Yoshiro sempre reclamava de ir no banco de trás e ele sempre respondia a mesma coisa. Gostava de conversar com a criança, aquilo o relaxava. Mas naquele dia Yoshiro ia calado e Gaara estranha o silêncio, o menino era sempre alegre e falante. Ele olha para o filho através do vidro retrovisor. Podia ver que o garoto estava pensativo.
-Está tudo bem, filho? -Yoshiro ergue os olhos e olha para a nuca do pai. -Papai porque você e a mamãe não moram juntos? Por que você tem que morar longe de nós? - A pergunta infantil e inocente fere Gaara como um punhal. Ele temia o momento que teria que contar á Yoshiro porque ele e Ino tinham se separado. Não sabia o que dizer e decide ficar quieto. O menino então abaixa a cabeça novamente e solta um suspiro. -Queria que nós vivêssemos juntos como uma família e então vocês poderiam me dar um irmão ou irmã.
Gaara sente um gosto amargo na boca. Já tinha sonhado com aquilo milhares de vezes. Por causa da estupidez dele em se envolver com outra mulher esse sonho jamais se concretizaria. Sabia que Ino o odiava. O que ele fizera não merecia perdão. Ele volta á olhar para o filho.
-Filho, as coisas nem sempre são como desejamos. Eu e sua mãe não queremos mais viver juntos. Mas eu te amo muito e sempre estarei perto, você pode contar comigo sempre que precisar. - Gaara responde e vê o menino abaixar a cabeça, quieto. Ele então decide desviar a atenção da criança. -Já escolheu seu presente de aniversário? -Yoshiro faria cinco anos em uma semana. Normalmente Gaara ficava com o menino um final de semana antes para comemorarem juntos. Era o que ele pretendia fazer naqueles dias, porém em virtude do acidente, não seria possível levá-lo ao parque de diversão como tinha planejado.
- Papai, você poderia vir na minha festa de aniversário este ano? Por favor. - O menino pede, ainda triste e novamente Gaara sente uma imensa dor no peito. Ele sempre sentia vontade de participar das festas de aniversário do filho, mas devido às circunstâncias, nunca pode. Jamais pediria isso á ex-esposa. Não tinha esse direito. -Sinto muito filho, mas não posso.
-Você nunca pode. Nunca. Você não gosta de mim. -O menino grita com lágrimas nos olhos e Gaara sente um nó se formar na garganta e fica em silêncio. Eles chegam ao estacionamento do Shopping e ele vê que Ino os esperava. Assim que Yoshiro desce do carro ele corre até a mãe, chorando.
Ino fica preocupada ao ver as lágrimas do filho. -Meu amor, o que houve? - Ela pergunta e olha para criança pegando-a no colo. O menino esconde o rosto no pescoço da mãe, soluçando. Yoshiro, o que aconteceu?
-Eu quero ir para casa, me leva para casa mamãe. - A criança pede soluçando. Ino então volta á atenção ao marido e se surpreende ao ver que ele parecia muito perturbado. - O que houve, Gaara? O que você fez? - A pergunta em tom de acusação fere o ruivo que desvia o olhar, antes de responder. -Ele quer que eu venha á festa de aniversário dele, mas eu disse que não poderei. -Ino respira fundo. Yoshiro já tinha lhe pedido que chamasse o pai para a festa, mas a mãe lhe dissera que não seria possível, pois o pai morava longe.
-Filho, nós já conversamos sobre isso. -Ela falta, tentando manter a calma. -Por que você não aproveita que seu pai está aqui para comemorarem o seu aniversário juntos, como fazem sempre?
-Não, ele me odeia, assim como odeia você. - O menino responde e Ino fica surpresa ao ouvir as palavras dele. Gaara a olha sem entender e coloca a mão nas costas do filho, fazendo carinho. -Eu não te odeio, meu filho. Nem a sua mãe. Quem lhe disse isso?
-Tio Kankuro, ele disse que você nos odeia, que é por sua causa que não vivemos todos juntos. -Um brilho de raiva passa pelos olhos de Gaara. Ele e o irmão estavam de relações cortadas desde o divórcio e fazia anos que não se viam e nem se falavam. O ruivo olha para Ino á espera de uma explicação. - Por que Kankuro disse isso ao meu filho?
-Eu não sei, Gaara. Estou tão surpresa quanto você. - Ela responde séria e pensa um pouco. - Filho, vamos almoçar, seu pai veio para vê-lo.
-Esquece Ino. Ele não quer ficar comigo e eu não quero aborrecê-lo. Eu vou embora. - Ele se afasta com a cabeça baixa, sentia vontade de chorar e gritar. O filho estava triste por causa dele. Perderia o filho como perdera a esposa. Tudo por causa de sua burrice em um momento de fraqueza.
Yoshiro continuava a chorar, o corpinho tremendo e Ino toma uma decisão, não havia nada que ela não fizesse para deixar o filho feliz, então chama o ex-marido e aguarda que ele pare de andar. - Gaara, venha conosco. Vamos para minha casa. Lá poderemos conversar com calma.
Ele concorda e então entra em seu carro, fica esperando que a esposa faça o mesmo e depois ambos saem do estacionamento alcançando a rua. Gaara segue Ino pelas ruas da cidade até chegarem á casa dela.
Ino guarda o carro na garagem e tira o filho de dentro. Yoshiro estava com os olhos vermelhos, tinha chorado durante todo o caminho, deixando a mãe angustiada. Sabia que ele queria ficar mais tempo com o pai. Gaara era amoroso e atencioso com o filho, era um excelente pai. Sempre telefonava e falava com o filho e depois com a babá para saber como o menino estava. Tentava participar da vida da criança o máximo possível.
Fora Ino quem impusera que ele veria Yoshiro um final de semana por mês, apenas e Gaara aceitara sem discutir. Ele não estava em posição de exigir nada em relação ao filho. Ele aguardava a visita com ansiedade, tanto quanto o menino.
Gaara espera que Ino lhe abra a porta da casa. Nunca tinha estado lá dentro. Sempre pegava e deixava o filho na porta, com a babá. Não queria invadir o espaço da ex-esposa. Ele entra e vê que Yoshiro ainda chorava deitado no sofá. Aquilo lhe doía muito, mas não poderia fazer nada. Ino o convida á sentar e chama o filho com carinho. -Meu amor, por favor, pare de chorar. Seu pai está aqui para falar com você.
-Não. Eu não quero mais ver o papai. Ele não quer vir na minha festa de aniversário. Ele me odeia. - A criança responde soluçando, sem levantar a cabeça. Era visível que ele estava muito perturbado pela situação.
-Ino, é melhor eu ir embora. Não quero deixar Yoshiro mais agitado. Eu volto outro dia. - Gaara fala e Ino vê que ele estava triste e confuso pela atitude do filho. Ela vê que não tem opção e faz algo que ia contra todas as suas decisões.
-Gaara, você poderia vir para o aniversário dele? - Gaara olha para ela sem acreditar e vê que Yoshiro tinha parado de chorar, para ouvir a resposta do pai. Ele fica em silêncio durante alguns segundo e olha para Ino, sério, sem saber direito o que responder. Ino volta á falar. -Isso é muito importante para ele e eu ficarei grata se você pudesse vir.
Era a primeira vez que conversavam desde que tudo acontecera. Era a primeira vez que Ino lhe pedia algo. Era claro que ele poderia vir ao aniversário do filho, mas não queria forçar sua presença.
Ino percebe o motivo da relutância de Gaara em responder e chama o filho. -Yoshiro, pegue um convite do aniversário para entregar ao seu pai. Eles estão no seu quarto. - O menino levanta e devagar, sai da sala. Ino espera alguns segundo e se levanta.
-Gaara, não nego que estou odiando esta situação, mas isso é muito importante para ele. Desde que Yoshiro entrou na escola ele tem questionado seu distanciamento. Ele vê que as outras crianças que tem pais separados convivem mais com o pai do que ele. Eles vão aos aniversários e as festas da escola e isso tem deixado nosso filho triste. Ele ainda não tem idade para entender o que aconteceu e eu não quero que ele te odeie, pois isso o magoaria muito. Por favor, venha ao aniversário dele.
Gaara a olha surpreso. Entendia que aquilo era muito difícil para ela. Ino tinha toda a razão de querer ficar longe dele, de não querer vê-lo nunca mais. Ele sabia que aquilo era um grande sacrifício para ela e então concorda. Ela solta um suspiro de alivio e volta a sentar. -Eu falarei com Kankuro. Ele não devia ter dito isso á Yoshiro. Eu sei que você ama o seu filho.
-Obrigado, Ino. -Gaara fala e Ino o olha sem entender e ele continua. -Por não dizer ao nosso filho que eu fui estúpido o suficiente para perder o que tinha de mais precioso em minha vida.
- Não se engane, Gaara. Não estou fazendo isso por você. Só quero poupar nosso filho da dor que lhe causaria se soubesse o que você fez. Nada mudou para mim. Está sendo muito custoso te ver dentro de minha casa. Só estou fazendo isso por Yoshiro. Para mim tanto faz se você está vivo ou morto. -Ela praticamente cospe as palavras e eles ficam em silêncio até o menino voltar. Ele se aproxima sério do pai e entrega o convite sem sorrir. -Toma o convite.
Gaara olha para o filho. Yoshiro estava esperando o que ele iria dizer. -Obrigado, estou muito feliz e é claro que virei. - O menino olha espantado para o pai e depois abre um sorriso enorme, virando-se para a mãe em seguida. -Ele vem, ele vem, mamãe. Meu pai vem para o meu aniversário. Vou poder mostrá-lo para todos os meus amigos.
Ino sorri ao ver o filho tão feliz. -Que bom, filho. Que tal almoçarmos agora? Tenho certeza de que você deve estar com fome. - Gaara se levanta ao ouvir aquilo. Precisava ir. Ino não ia querer que ele continuasse ali.
-Eu já vou, virei amanhã te pegar para escolhermos seu presente de aniversário juntos, o que acha?
-Você ia almoçar com a gente, papai, esqueceu? - Ino fecha os olhos por alguns instantes ao ouvir o filho. Estava começando a sentir dor de cabeça, porém o filho tinha razão, Gaara ia almoçar com ele e então abre os olhos e força um sorriso, levantando e se encaminhando para a cozinha. -Yoshiro está certo, você ia almoçar conosco. Eu vou preparar hambúrguer e batatas fritas para nós. Esperem aqui.
Gaara concorda e volta á sentar. Yoshiro estava feliz e sorria como era de costume. Ele olha para o braço e faz uma careta. - Essa coisa atrapalha. - Gaara sorri e concorda. -Sim, isso atrapalha muito.
-Você já usou um desses? - O menino pergunta, sentando no colo do pai e Gaara se põe a conversar com o filho. Mas aquilo não o estava relaxando, como normalmente acontecia. Ele não conseguia tirar a imagem de Ino de sua mente. Nos últimos cinco anos ele se atirara ao trabalho procurando um lenitivo para sua dor e seu arrependimento. Quase conseguira. Quase. Não havia um dia que ele não se amaldiçoasse pela estupidez que cometera. Asami não passara de uma aventura sem importância. Tinha sido um grande erro. A culpa tinha sido toda dele. Quando a assistente começara a se insinuar e tentar seduzi-lo, ele devia tê-la mandado embora. No entanto, em sua arrogância achou que poderiam ter apenas um caso, para passar o tempo.
Asami era uma substituta temporária de sua assistente, que estava afastada por licença maternidade. Ela trabalharia ali por apenas alguns meses, e Gaara achou que a aventura deles nunca seria descoberta. Estava sem sexo desde que Ino engravidara e sentia falta disso.
Agora via que aquilo fora uma desculpa idiota e sem sentido. Ele nunca sentira com Asami o que sentia quando fazia amor com a esposa. Gaara já tinha decidido terminar com aquele caso, mas um golpe do destino fizera Ino vê-los juntos e tudo quase acabara em uma grande tragédia.
Ele ouvia o tagarelar do filho e passava as mãos sobre os cabelos dele, sentindo a maciez dos fios finos. O menino sorria feliz e encostado ao peito do pai. Ele levanta a cabeça e se estica, beijando o rosto do pai. -Que bom que você vem ao meu aniversário. Hachiro e Mayuki disseram que eu não tinha pai, pois eles nunca te viram. Agora eles vão ver que eu não menti.
-Quem são eles? Seus amigos? - O menino confirma. -Sim, eles estão estudam na minha escola. Os pais deles também não moram juntos. Mas os pais deles foram á festa de dia dos Pais e você não. Só faltou você. - A sentença dita em um tom triste abalou Gaara. A ex-esposa tinha razão, o garoto não entendia por que não podia ver o pai com mais frequência. Ele decide que iria falar sobre isso com Ino. Talvez ela deixasse que ele viesse visitar o filho mais vezes.
XXX
Ino está na cozinha preparando o almoço deles. Seu coração estava disparado. Há cinco anos não falava com Gaara e agora ele estava em sua casa e iriam almoçar juntos. Aquilo devia ser um pesadelo. Quando acordara de manhã pensara nele, pois ele viria pegar Yoshiro para passarem o dia juntos.
Se lembrou de toda a tristeza e angústia que sentira naquela época. A dor, tanto física quanto emocional. Ela e Yoshiro quase morreram. O bebê ficara em uma incubadora durante semanas, corria o risco de carregar sequelas para o resto da vida. E Ino estava destruída emocionalmente. Os médicos disseram que tanto ela quanto o bebê tiveram muita sorte.
Ela nunca tinha chorado tanto em sua vida. Negou-se a ver ou falar com Gaara no que teve total apoio do pai e do ex-cunhado, Kankuro. Eles formaram um muro de proteção em volta dela e de Yoshiro, impedindo que Gaara sequer visse o bebê antes de ambos terem alta. Mas isso não impedira Asami de ir até o hospital falar com Ino.
Gaara só conhecera o filho quando Yoshiro tinha quase seis meses, quando o divórcio fora assinado. Ela não vira o ex-marido na ocasião. Seu pai tinha pedido que ela fosse representada pelo advogado, devido á comoção que o caso criara e o juiz responsável concordara.
Ino não queria que Yoshiro fosse criado sem conhecer o pai e então pedira ao advogado que oferecesse a opção de vistas mensais o que Gaara aceitou prontamente. Desde então as únicas informações que tinha dele eram através dos comentários do filho e de Kankuro.
Agora ela via que isso teria que mudar, pelo bem de Yoshiro, ela teria que conviver mais com Gaara. Teriam que participar dos eventos na escola juntos e ela pediria á Gaara que viesse mais vezes visitar o menino. O ex-marido morava na capital do estado, a três horas da cidade onde ela morava, então não seria difícil para ele. Porém ela iria impor uma condição.
Ino volta com uma bandeja para a sala e para na porta ao ver Gaara e Yoshiro sentados no tapete brincando com o trem elétrico do menino. Eles estavam montando os trilhos e a estação e Gaara ria tanto quanto a criança. O menino olha para o pai e ri. - Quando eu crescer serei engenheiro. Quero construir coisas como você, papai.
Ino percebe que Gaara tinha ficado emocionado com as palavras do filho e resolve anunciar sua presença com uma discreta tossida. - Olá, vim trazer o almoço para os dois maquinistas. Espero que possam parar para comerem sem que haja atrasos na ferrovia. - Gaara olha agradecido para ela e se levanta, pegando a bandeja de suas mãos. Rápida Ino afasta os objetos que havia sobre a mesinha de centro e os três sentam no chão para lancharem.
A tarde passa rápido. Ino tinha deixado os dois na sala de visitas e se trancado em seu escritório. Queria deixar pai e filho á vontade e também manter distância de Gaara, a presença dele a incomodava e então ela decide aproveitar a tarde para trabalhar.
O silêncio a deixa curiosa e ela volta á sala para ver o que estava acontecendo. Gaara estava sentado no chão e Yoshiro dormia tranqüilo no sofá. O ruivo fica em pé assim que a vê. -Ele pegou no sono, está muito cansado. Posso levá-lo para o quarto?
-Sim, siga-me. -Ela responde e caminha pelo corredor até parar em frente á uma porta decorada com carrinhos de corrida que ela abre dando espaço á Gaara para entrar com a criança no colo. O pai coloca o garoto na cama em forma de carro e olha em volta. O aposento era todo decorado com carros e trens. Havia dezenas de blocos de montar espalhados pelo ambiente. Havia prateleiras com livros infantis, CDs e DVDs, uma televisão e um guarda roupas. Gaara sorri, o quarto era bonito e refletia o gosto de filho.
-Foi você quem decorou? - Ela confirma e acende um abajur que havia ao lado da cama, chamando Gaara para saírem em seguida. Ino encosta a porta e volta para a sala seguida por Gaara. Eles param no centro do aposento e ele a olha, sem saber direito o que dizer ou fazer. Ela então toma a iniciativa. - Gaara, sente por favor, gostaria de conversar com você sobre suas visitas.
Ele senta preocupado. Temia que Ino o impedisse de ver o garoto. Ela percebe o medo dele e sorri de leve. -Não vou impedi-lo de ver seu filho, pelo contrário. Eu gostaria que você viesse mais vezes. Depois de hoje me parece claro que Yoshiro quer um contato maior com você e isso é muito importante para ele. Então, você pode vir quando quiser.
Gaara a olha surpreso. - Eu ia lhe pedir o mesmo. Yoshiro está chateado por que os amigos de escola acham que ele não tem pai. Ele me disse que eu fui o único pai que não compareceu á escola na festa do Dia dos Pais. Posso vir todo o fim de semana, se você não se importar. E nas festas da escola também.
-Para mim está bem. Porém não quero que traga nenhuma mulher com você. -Ino fala de forma taxativa e ele a olha sério. - Não farei isso, não há nenhuma mulher em minha vida. - Ela fica surpresa com a resposta. Eles ficam em silêncio durante alguns minutos e depois Ino se levanta. -Ele só vai acordar amanhã, pela manhã. Se você quiser poderá vir pegá-lo para saírem.
Ele concorda com a cabeça e se despede rapidamente, saindo em seguida. Iria para o hotel descansar. Estava exausto e confuso. Tinha passado horas agradáveis na casa da ex-esposa em companhia do filho. Ele veria o menino em todos os fins de semana dali para frente. Não cabia em si de felicidade em poder ver o filho mais vezes. Evitou pensar que veria Ino também, não queria criar falsas esperanças, pois sabia que não havia a menor chance de uma reconciliação. Concentrar-se-ia em ser um bom pai, já que falhara como marido. Não daria motivos ao filho de odiá-lo, não suportaria viver com isso, já bastava o ódio de Ino em sua consciência.
