Disclaimer: InuYasha não me pertence... Infelizmente a Rumiko sensei teve a idéia primeiro. (soco no ar) Droga!
Dedicatória: Para Mitz-chan, que escreve muitíssimo bem e merece muito mais do que isso por ter paciência comigo no MSN. Mitz, presente de aniversário atrasadíssimo! Feliz niver! Adoro você...
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Keigoku
Por Domina Gelidus
Capítulo primeiro
A notícia
Girou na cadeira confortável, deixando de mirar a tela do projetor para então encarar o homem de cabelos negros do outro lado da mesa de reuniões. Acabara de analisar os gráficos absurdos e inaceitáveis que seu diretor chefe apresentara-lhe. Toda a diretoria olhava para ele, esperando por alguma reação ou alguma resposta. Alguns já estavam encolhidos em suas poltronas, como que prevendo um ataque de nervos por conta do presidente da empresa.
Era bem verdade que ele, Sesshoumaru Taisho, sabia dos riscos ao colocar alguém como Naraku no comando dos diretores de sua empresa. Naraku sempre fora um tanto petulante e muito ambicioso, embora fosse um ótimo funcionário. Sesshoumaru tinha consciência que um dia ele traria problemas; só não esperava que fosse um tão absurdo.
- Como pode ver, senhor Taisho, os lucros vão aumentar consideravelmente! – fez um gesto amplo com a mão direita, apoiando-se na mesa para observar melhor o grupo de diretores e, é claro, Sesshoumaru.
- Não pode simplesmente aumentar os lucros assim, de uma hora para a outra! – um dos diretores levantou-se, mirando Naraku com o olhar nervoso.
- Demitir quase a metade dos funcionários é um plano audacioso demais! – um outro comentou, tentando manter a calma – Como espera atender a demanda de produção sem os funcionários?
- Temos mais funcionários trabalhando na produção do que o necessário, Bankotsu! – Naraku exclamou, endireitando mais o corpo – Vamos apenas despachar os acúmulos e fazer os outros trabalharem direito!
- É de pessoas que você está falando aqui, Naraku! Não são máquinas! – um diretor reclamou, passando as mãos nervosas pelos cabelos já brancos – Não podemos pedir que trabalhem como burros de carga!
- Não vão trabalhar como animais, vão apenas cumprir suas obrigações! Vejam os gráficos! – ele apontou novamente para a tela do projetor – Vamos ganhar o dobro do que ganhamos!
- Naraku! Percebe o que está dizendo?! – foi a vez de Bankotsu levantar-se – Quer eliminar quase a metade dos funcionários desta empresa a troco de quê? Dinheiro?! Tem idéia de quantas pessoas vão estar nas ruas por causa da sua ambição?
- Já fiz os cálculos... E não me importo. Nem você deveria... Vai ganhar tanto quanto eu com tudo isso... – mirou-o com desdém e voltou seu olhar para a figura do presidente e dono das empresas Taisho – Mas acho que é o nosso presidente quem deve dar a última e sábia palavra...
Todos que estavam de pé voltaram a sentar-se, observando a figura de Sesshoumaru com atenção. Exceto por Bankotsu, que ainda matinha o olhar irritado sobre a figura de Naraku.
Sesshoumaru matinha os olhos na pauta que Naraku havia entregado a ele antes da reunião começar. Pesava os prós e os contras da decisão que estava para tomar, tentando formular uma frase clara o bastante para que todos entendessem.
Embora sua consciência estivesse a mil, suas feições ainda eram as mesmas: calmaria e insignificância. Só diferia de Naraku por que seus olhos não emanavam malícia, como os do diretor chefe. Alguns longos segundos de silêncio incômodo passaram-se antes que Sesshoumaru pudesse, enfim, chegar a uma conclusão plausível.
- Naraku... – sua voz soou decidida e séria.
Por um instante, todos da sala pararam de respirar, inclusive Naraku.
- Está demitido. – completou, observando Naraku dos pés a cabeça, antes de fechar a pauta em suas mãos e fazê-la deslizar todo o comprimento da mesa, até atingir as mãos do diretor chefe, do outro lado.
Pacientemente, ele levantou-se de sua cadeira, ao que todos os outros diretores fizeram o mesmo.
- A reunião está encerrada. – ele concluiu, caminhando na direção da saída e sendo seguido pelos olhares estupefatos de todos os outros diretores da empresa.
Exceto Naraku.
- Demitido... – ele repetiu para si mesmo, quando o último dos diretores saiu da sala, deixando-o só – Vou mostrar ao todo poderoso quem está demitido...
A pauta de reunião fora jogada longe, enquanto Naraku saía da sala luxuosa batendo a porta atrás de si.
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Deixou o corpo cair de encontro ao assento almofadado. Nas mãos um pequeno envelope branco, timbrado com o símbolo da clínica. Ficou a observá-lo por longos e longos minutos, em silêncio, apenas tentando adivinhar o que estava escrito ali dentro. Mas era mais do que claro que não precisava de muito esforço mental para conseguir prever o que o exame dizia. Ela mesma já sabia desde que o pedira.
Ainda assim, admitir e encarar a realidade numa circunstância dessas era muito, muito difícil para ela. "O que Sesshoumaru vai fazer comigo?", pensava consigo mesma, deixando um arrepio cruzar-lhe a espinha.
Olhou ao redor e não viu ninguém, apenas a si mesma. Natural, já que estava em casa sozinha desde que voltara da clínica, há cerca de meia hora. Respirou fundo, e tentou observar a sala bem decorada onde estava. As paredes em tons pastéis, que antes lhe traziam alívio e paz, mais pareciam mãos monstruosas tentando agarrá-la e sufocá-la.
Balançou a cabeça tentando espantar a sensação. Olhou para o lado de fora da porta de vidro, observando o jardim do outro lado. O verde brilhava vivo, iluminado pela luz do sol. Conseguiu respirar mais calma, observando as flores coloridas e as árvores que balançavam hora ou outra com a brisa do outono.
"Vai dar tudo certo...", pensou, positiva, como sempre fazia quando sabia que alguma coisa estava prestes a dar totalmente errada.
Inspirou boa quantidade de ar e, subitamente, rasgou a lateral do envelope – que no momento parecia branco demais para seus olhos – e então puxou o papel de dentro dele. Desdobrou-o com cuidado excessivo, e passeou os olhos sobre ele, tentando não enxergar um enorme sinal de positivo que, naquele momento, parecia brilhar em luzes de néon que alteravam entre o amarelo, o vermelho e o azul. Olhou para frente e ficou hipnotizada com o abajur que jazia sobre uma pequena mesa de canto, ao lado de um sofá grande e marrom. Não percebeu quando o telefone tocou ao seu lado e, sem muito saber o que fazer, apenas apertou o botão e levou o aparelho ao ouvido.
- Rin-chan! – ouviu a voz que a saudou com entusiasmo do outro lado da linha – Rin-chan?
- Ka-chan... – foi só o que ela conseguiu dizer, ainda hipnotizada pelo abajur, que agora parecia começar a transforma-se num enorme bicho-papão.
- Você está bem, Rin? – a voz soou preocupada.
Silêncio.
- Rin! Fale comigo, por favor! – outra súplica desesperada – O que aconteceu? Sesshoumaru brigou com você? Porque se ele brigou eu juro que vou até o escritório dele e levo um taco de baseball junto com—
- Estou grávida. – disse, subitamente.
Outro silêncio.
Seguido de um grito histérico.
- Ah meu Deus! Rin! Meu Deus! Rin! – uma pausa – Meu Deus! RIN!
Silêncio.
Seguido de outro grito histérico.
- Meus Deus! Rin! Você sabe o que está dizendo? – a voz saía mais animada do que de costume, se é que isso era possível.
Rin abaixou a cabeça, aflita. Tocou a testa na ponta dos joelhos e ficou ali por alguns segundos, apenas segurando o telefone de encontro ao ouvido direito, tentando fazer com que tudo sumisse.
- Gostaria de não saber... – sussurrou, chorosa.
- Oras! Vamos... Você tem que se animar! Você vai ter um bebê! – a outra dava gritinhos histéricos cada vez que terminava uma frase.
Rin apertou mais os olhos.
- Como vou dizer para o Sesshoumaru que vou ter um bebê?! – ela gemeu, endireitando o corpo e jogando o tronco de encontro ao espaldar da poltrona – Pior! Como vou dizer pra ele que ele é que é o pai?!
- Relaxe! Sei que ele vai gostar da idéia tanto quanto eu! – Kagome retrucou, tentando animá-la.
- Eu duvido!
- Estou estacionando o carro na frente da sua casa. Venha abrir a porta para mim para que eu possa te dar um abraço! – pediu, desligando antes que Rin pudesse protestar.
A jovem bufou, desligando o telefone e querendo cavar um buraco bem fundo debaixo de si, para então se jogar ali dentro e cobrir-se de terra. Era isso que ia acontecer com ela quando dissesse ao homem mais frio que conhecera que ele seria o papai do ano.
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- Mas, Kagome, isso não estava nos nossos planos! – ela retrucou, pesarosa, sorvendo um grande gole de suco de laranja.
- Rin-chan... Querida, você tem que entender que nem tudo na vida está nos nossos planos! – a outra comentou, sentando mais na ponta do sofá para tocar o joelho da amiga – Não há o que fazer agora... É um bebê! Você deveria estar feliz...
- Não, não! Eu estou muito feliz, Ka-chan! É só que... Acho que Sesshoumaru não vai ficar feliz como eu, ou você, ou qualquer um! – parou de falar para mirar o líquido dentro do copo – Ele não é uma pessoa muito... Muito...
- Feliz? Alegre? Simpática? Comunicativa? Aberta?
Rin observou a amiga com um olhar mortal, ao que Kagome riu alto.
- Olhe Rin, Sesshoumaru pode ser o que quiser! Mas é impossível que ele não se sinta feliz por ter um filho! Ele vai ser pai!
- Exatamente! Esse é o grande problema! – Rin pousou o copo sobre a mesa e encarou a amiga seriamente – Sesshoumaru nunca gostou de crianças... Ele não tem paciência com elas... Temo que isso não vá mudar quando nosso bebê nascer... – ela lançou um olhar triste à barriga.
Kagome não conseguiu dizer nada que pudesse animar a amiga. Realmente, Sesshoumaru não era muito paciente com ninguém! Imagine só um pobre bebê, que viria a ser uma criança como todas as outras. Crianças faziam bagunça e eram sempre sapecas; por um momento, ver Sesshoumaru lidando com um filho trouxe a Kagome uma cena cômica diante dos olhos.
O telefone tocou, infelizmente, interrompendo os devaneios de Kagome.
- É ele! Ai Deus! É o Sesshy, Ka-chan! – Rin levantou do sofá de supetão, andando de um lado para o outro enquanto sentia um arrepio na espinha sempre que o barulho do telefone invadia seus ouvidos.
- Então atenda, oras!
- Como vou atender sem contar nada pra ele?! – a outra parecia que ia ter um ataque de pânico a qualquer momento – "Alou, Sesshy! Você vai ser papai!"
- Rin, não diga nada por telefone! – Kagome alertou, levantando-se também.
Rin continuava sua caminhada de ida e volta.
- Atenda, Rin!
- ALOU! – Rin gritou, parando de andar – Ah... Oi, Sesshy! – olhou para Kagome – Não, não... Está tudo bem, claro! Kagome está aqui comigo!
A amiga continuava observando a conversa, atenciosamente.
- Jantar? Ah, tudo bem... Kagome pode me fazer companhia no jantar, não é Ka-chan?
Kagome assentiu, ainda atenta. Viu a amiga dar uma desculpa qualquer pelo fato de estar completamente fora do ar e, então, desligar o telefone, jogando o aparelho longe como se ele fosse fazer-lhe algum mal.
- Ele sabe... Ele sabe... – voltou a andar de um lado para o outro – Ele sabe que tem alguma coisa errada! Ele sempre sabe... Sempre sabe...
- Rin! Por Deus! Pare de andar e sente-se! – Kagome empurrou-a para o sofá, sentando-se ao seu lado – Sesshoumaru é esperto, mas é meio impossível saber que você está grávida! Tente relaxar... eu tenho uma idéia de como podemos contar para ele!
- "Podemos"? – Rin levantou uma sobrancelha.
- Você pode! – corrigiu – Ele vem jantar hoje?
Rin fechou os olhos e suspirou.
- Não! Disse que tinha algo importante para resolver... Depois que ele demitiu aquele tal de Naraku, ele sempre sai da empresa mais tarde! – ela fez biquinho, tristonha.
Kagome pareceu pensar.
- Ok, então fica até melhor! – ela sorriu, orgulhosa da própria idéia – Você vai até lá e conta pra ele!
Rin quase caiu do sofá.
- O QUÊ?!
- Relaxe... eu tenho tudo planejado aqui... – apontou para a própria cabeça – E vai dar tudo muito certo!
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Os nós dos dedos já estavam ficando quase roxos, entretanto era impossível parar de apertá-los e agir como uma pessoa normal. Ela estava nervosa. Ela sempre ficava nervosa quando tinha alguma coisa importante para contar a ele.
- Rin... Você precisa descer do carro para que o plano comece a dar certo... – uma Kagome paciente pousou uma mão no ombro da amiga.
Rin fechou os olhos com tanta força que, quando voltou a abri-los pôde ver alguns pontinhos brilhantes misturarem-se com as figuras. Sentia seu coração acelerado e as mãos começavam a ficar amortecidas e suadas.
- Rin?
- Não vou conseguir, Kagome! Não vou! Dirija de volta para casa! De volta para casa agora! Vamos embora Ka-chan! – ela começou a espernear no banco do passageiro como um filhote assustado.
Kagome começou a rir em disparada, enquanto Rin fechava a cara e cruzava os braços, emburrada.
- Isso tudo foi uma idéia idiota! – ela bufou – Nada vai dar certo!
Kagome suspirou, segurando o riso.
- Querida, entre lá, suba, coloque o que combinamos em cima da mesa dele, e quando você achar conveniente o suficiente, você entra na sala para conversar pessoalmente. Não estrague tudo com seu nervosismo excessivo!
Rin lançou-lhe um olhar reprovador.
- Falo sério! Você não pode fugir para Roma e ficar lá até que o bebê nasça!
- Mas foi uma boa idéia! Ele nunca desconfiaria! Meus pais estão morando lá, eu poderia dizer que—
- Rin! Vá! Agora! – Kagome adiantou-se e abriu a porta do passageiro, mostrando a passagem livre para que ela descesse do carro.
A jovem olhou para a calçada como se estivesse em brasas e ela, descalça. Mirou a fachada do grande e poderoso edifício como se ele fosse comê-la viva e pôde jurar que o letreiro que dizia "Empresas Taisho" havia piscado maliciosamente para ela.
- Boa sorte, amiga... – Kagome abraçou-a brevemente antes de empurrá-la de leve para que saísse logo do carro – Vai dar tudo certo, é um ótimo plano... Confie em mim!
Sem dizer uma única palavra, Rin saiu do carro, fechou a porta e começou a subir as escadas para que atravessasse a porta de entrada do prédio.
Assim que viu seu próprio reflexo no vidro escuro, ficou com vontade de sair correndo. Olhou para trás apenas para ver Kagome virando a esquina. "Maldição!", pensou consigo mesma, inspirando boa quantidade de ar e tentando mentalizar alguma coisa boa. "Sorvete...", pensou, "Ai que vontade de tomar sorvete...", fechou os olhos e começou a imaginar-se tomando um delicioso pote de sorvete de creme.
- Senhora Taisho?
Imediatamente ela abriu os olhos, observando o senhor grisalho de bochechas rosadas que segurava a porta para que ela entrasse já há algum tempo.
- Bo-bo-boa noite! – estranhamente o nome dele fugira de seu vocabulário – Como vai o senhor?
- Tudo bem por aqui... – ele sorriu, amigável – A senhora veio ver o senhor Taisho? – ele fez sinal para que ela passasse, ainda sorrindo calmamente.
Rin suspirou pela milésima vez, sentindo como se suas pernas fossem quebrar caso ousasse movê-las.
- Senhora? A senhora está bem?
- Ótima! – ela quase gritou, sentindo os olhos marejarem de nervoso e, finalmente, começando a andar.
Acenou brevemente ao simpático porteiro – que ainda não entendia nada – e foi em direção aos elevadores como se sua vida dependesse daquilo. As mãos estavam tão brancas, que poderiam confundi-la com a caixinha que ela segurava entre elas.
Mais uma vez ela distraiu-se com seu reflexo distorcido que a porta de ferro exibia. Tentou imaginar-se com a barriga saliente, então com um bebê no colo, sorridente e bochechudo.
Sorriu. Não seria tão ruim para Sesshoumaru saber que seria pai. Parecia algo tão divertido e renovador, afinal.
A porta do elevador abriu-se de repente, tirando-a de seus pensamentos quando um grupo de executivos de preto saiu de dentro dele, caminhando para a saída com expressões cansadas e ansiosas.
Imediatamente sua esperança desfez-se. Sesshoumaru, um executivo, sendo pai? Definitivamente isso não encaixava!
Bufou alto e adentrou o elevador quando viu que ficara vazio. Apertou o botão do décimo nono andar e, quando notou que as portas estavam fechando-se, sentiu o desespero voltar.
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Quase sorriu de alívio quando o último dos diretores levantou-se, caminhando até o quadro branco e escrevendo nele alguns números e estatísticas. Estavam naquele vaivém de diretores há quase quatro horas. Todos já estavam com as feições cansadas, e loucos de vontade de ir para casa, jantar e provavelmente dormir.
Menos Sesshoumaru. Ah, ele queria sim, e muito, ir para casa. Mas gostaria de poder levar sua esposa para jantar ou então para darem uma volta e, quem sabe, conseguir arrancar dela o que quer que fosse que ela estava escondendo dele. Era muito perspicaz para ser enganado por aquele jeito inocente dela.
Talvez estivesse triste com ele, pelo fato de ficar na empresa agora duas, às vezes três vezes mais do que antes. Se fosse isso, ela estaria com a razão. Estava sendo difícil de substituir Naraku e, sem um diretor chefe, ele tinha que assumir as responsabilidades sozinho.
Piscou confuso por repetidas vezes quando notou que o diretor que falava em frente ao quadro branco já havia coberto metade do mesmo com números, desenhos e gráficos – dos quais ele não entendia mais nada, dado o fato que ele não estava prestando a mínima atenção.
Praguejou mentalmente e tentou focalizar sua mente novamente naquela reunião longa e cansativa. Quanto mais cedo terminassem, mais cedo poderia ver Rin.
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- Boa noite, Rin! – a secretária cumprimentou-a, terminando de colocar alguns papeis na bolsa – O senhor Taisho está numa reunião agora...
Rin sorriu timidamente.
- Eu sei, senhorita Kagura... Será que eu posso esperá-lo na sala dele?
A outra sorriu.
- Claro! Ele vai adorar a surpresa! – disse, passando a alça da bolsa pelo ombro – Estou saindo agora, mas se a senhora precisar de qualquer coisa, pode pedir para àquela velhinha simpática da limpeza. Ela vai ficar feliz em lhe ser útil!
Rin assentiu em agradecimento e voltou-se para o corredor largo, mirando a porta dupla de mogno ao fundo. De repente, tudo começou a ficar escuro e ela teve que se recostar à parede ao lado para que não despencasse ao chão. Quando tinha sido a última refeição mesmo?
Praguejou mentalmente pelo descuido estúpido. Estivera tão nervosa que mal almoçara e apenas tomara alguns goles de suco de laranja antes de sair de casa. Que bela mãe responsável ela estava sendo!
Inspirou fundo e continuou a caminhada. Abriu a porta com cuidado; o escritório estava escuro e vazio.
Sentiu-se levemente relaxada ali dentro. As luzes dos outros prédios iluminavam muito fracamente através das paredes de vidro. Rin sentia-se flutuando ali dentro, adorava a decoração daquele escritório. Pensou, por um momento, que ver o pôr-do-sol dali deveria ser um verdadeiro espetáculo.
A espaçosa – e exagerada – mesa de mogno estava quase bem arrumada. Algumas planilhas e papeis jogados no centro tiravam o ar organizado que Sesshoumaru gostava de deixar. Sorriu de canto, o marido estava tendo bastante trabalho agora com um funcionário a menos.
Caminhou a passos vagarosos até alcançar uma das cadeiras em frente à mesa e delicadamente sentou-se. Mirou a pequena caixinha branca que ainda segurava entre as mãos, pensando se aquilo seria mesmo uma boa idéia. Talvez Sesshoumaru achasse tudo uma grande besteira e ficasse ainda mais nervoso. Só o pensamento de ter que lhe contar fez seu estômago revirar. Seria muito mais difícil dizer com todas as letras, com certeza! Se ele simplesmente adivinhasse, seria mais fácil para ela.
Levantou-se e depositou a pequena caixa sobre os papeis bagunçados, deixando sobre ela um cartão que retirara da bolsa. Analisou a posição de ambos e teve outro frio na espinha quando ouviu um barulho que vinha do lado de fora.
"Sesshoumaru", pensou, olhando rapidamente ao redor e tentando encontrar algum lugar para esconder-se. Caminhou até a estante de livros ao seu lado e ficou a observá-la como que tentando entrar dentro das páginas de um deles. Foi tateando, atordoada, até encontrar a porta de um banheiro.
- Rin? – a voz fê-la pular de susto.
- Sesshy! – ela gritou, levando a mão ao peito e sentindo suas têmporas pulsarem de nervoso.
A luz fora acesa, embora ela nem parecera notar qualquer mudança. Estava numa posição evasiva, segurando a maçaneta da porta do banheiro como se sua vida dependesse disso.
- O que faz aqui? – ele indagou, levantando uma sobrancelha – Alguma coisa errada? – pôs-se a caminhar até a mesa, carregando consigo algumas pautas de reunião.
"Não olhe para a mesa, não olhe para a mesa, não olhe, não olhe! Deus! Não olhe!", fechou os olhos com força e não ousou mover-se.
- Po-po-por que não vamos jantar agora? – indagou, ainda imóvel e de olhos fechados – Seria divertido... Você deve estar com raiva! Fome! Você deve estar com fome! – abriu os olhos só para notar que não tinha coragem para mantê-los abertos.
Silêncio.
- Sesshy... Por favor... Vamos jantar... – ela sussurrou com a voz chorosa.
Silêncio.
Esperou alguma reação, qualquer que fosse, por alguns segundos. Talvez minutos. Ou seriam horas? O tempo passou a não fazer mais sentido de repente.
Segurou a respiração inconscientemente e virou-se devagar, mais devagar que o necessário, encontrando o homem de cabelos louros-platinados mirando a pequena caixa aberta. O cartão estava preso em suas mãos, e seus olhos cor de âmbar pareciam perdidos em algum lugar que não era o escritório.
- Sesshy... – ela tentou, receosa – Sesshoumaru... Por favor, não é o que você está pensando... – por que dissera aquilo?
Devagar e calmamente – uma calma excessiva – ele voltou seu olhar para a figura franzina que ainda segurava a maçaneta da porta do banheiro.
- Grávida? – ele olhou para os pequenos sapatinhos dentro da caixa e depois para o cartão de "Parabéns Papai" que ainda tinha em suas mãos e, sem conseguir pensar em outra coisa, repetiu – Grávida?
Rin sentiu a face arder e os olhos ficarem lacrimejados. As têmporas ainda pulsavam doloridamente.
- Eu sinto muito, Sesshy! – ela tentou explicar, soltando da maçaneta e sentindo como se estivesse agora sem apoio algum – Eu... eu... Não fique zangado, por favor!
Ele continuou a mirar os pequenos sapatinhos brancos, tentando absorver a situação com alguma lógica.
- Você está grávida, Rin? – ele soltou, um pouco zangado, um pouco nervoso, um pouco aflito e pouco surpreso.
Mas o que Rin não pôde deixar de notar, fora o pouco de decepção que por um momento tomou os olhos dourados.
Sem conter as lágrimas, ela levou as mãos à boca e tentou segurar um soluço.
- Sesshy... – ela começou, dando um passo na direção dele e perdendo a coragem – Eu tentei evitar, eu juro! Mas... Mas... Sesshoumaru, é um bebê! Não pode ser tão ruim assim!
Ele pareceu um pouco mais inexpressivo que o normal.
- Exatamente, Rin. É um bebê! Você acha que está pronta para ser mãe, agora? – ele soltou o cartão em cima da mesa e apoiou-se nela, ainda observando Rin com o olhar inexpressivo – O que fez você pensar que eu estava pronto para ser pai?
A última pergunta, feita entre sarcasmo e raiva, fora a gota d'água para a pequena de olhos chocolate. Assim que sentiu suas pernas fraquejarem e o choro tornar-se incontrolável, ela saiu correndo dali, atravessando a porta tão rápido que Sesshoumaru quase não conseguiu acompanhá-la com o olhar.
Muito tarde demais, ele sentiu a primeira pontada – forte o suficiente – de culpa que começava a tomar conta de si.
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Yo!
Mais uma fic criada pela minha cabeça insana.
Bom, essa história foi baseada numa notícia muito triste que deu na televisão quando uns terroristas atacaram uma mulher lá na Europa, nem lembro onde mais exatamente. Depois que vi o que tinha acontecido com a pobre mulher, me veio essa short na cabeça. Seguinte...
Poucos capítulos (e curtos), já que é uma short fic, e ela já está terminada!
Isso mesmo que vocês leram, já acabei! Só vou postar agora. Um capítulo por mês. Todo último domingo do mês, podem contar que eu estarei aqui postando.
Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo e, por favor, deixem seus comentários, dúvidas, críticas e opiniões.
Obrigada a todos que leram!
XOXO
Domina Gelidus (mais conhecida como Samy-san)
