No Começo
Elizabeth dirigiu-se à Amélia e comunicou-a que iria retirar-se. Não esperou uma resposta – não estava obrigada a fazê-lo. E, quando a senhora do castelo a viu despedir-se do Príncipe Bukowski e este retribuiu a deferência com uma mesura muito profunda, Amélia sentiu alívio por vê-la sair.
Era um fato que o status de Elizabeth era alavancado por ser de nobreza superior àquela de Amélia. Por isso, a segunda mulher de Victor sabia que, instintivamente, todos ali reconheciam uma precedência oficiosa da irmã da primeira esposa falecida. Somente a ausência da cunhada de Victor assegurava para Amélia a presidência inconteste da corte.
Amélia suspirou repetindo a si mesma que tudo logo teria um fim: Elizabeth seria trancada num convento às margens do Moldava e, então, ninguém mais teria dúvidas quanto ao grau de respeito que se deveria dar à esposa de Lord Victor.
De qualquer maneira, Amélia esperou até que Elizabeth houvesse desaparecido pela porta lateral.
"Vai cometer sua excentricidade noturna", murmurou rancorosa.
Elizabeth gostava de pequenas caminhadas ao longo das amuradas à luz da lua. Fazia-se acompanhar da aia, Anna, e se contentava com duas modestas rondas e alguns minutos de meditação num banco postado entre as cavalariças e a ferraria. Dali, poderia ver a lua nas noites de verão e outono bem tranqüila. O trabalho ali se encerrava nas primeiras horas da noite. À hora da ceia, já estava tudo quieto. Victor teria preferido que a cunhada se restringisse ao terraço oculto no vão entre as torres leste e sul, mas Elizabeth detestava o lugar. O muro era alto demais para se poder admirar a vista do rio ou do vale e Irene havia enchido-o com um pomar de laranjeiras e limoeiros deixando espaço para três bancos de mármore acanhados num ambiente sem conforto ou graça.
Para completar, os aposentos do Sr. Tannis tinham acesso privilegiado ao terraço... O pomar exótico oferecia tanto abrigo contra isso quanto contra o sol.
Duas rondas silenciosas, exceto pelos cumprimentos do capitão da guarda e seu sargento quando passou sobre o portão principal. Então, chegou ao banco. Havia uma luz fraca vinda de uma janelinha no final da construção, mas tudo parecia vazio. Anna postou-se estrategicamente junto ao pessegueiro que era a única coisa verde no pátio de forma a ficar de frente para a parte central do grande largo que dava à porta principal do castelo sem perder a patroa de vista. Dali poderia flertar com o soldado louro de guarda junto à primeira torre do portão e perceber se Elizabeth a chamasse.
No estábulo, ouviu os sons de cavalos inquietos. Elizabeth olhou ao redor e não notou nenhum movimento. Talvez, os animais também tivessem dificuldade para dormir... Suspirou, concentrou-se para iniciar uma fieira de orações com o olhar devotamente fixado na lua que emitia um brilho excepcional naquela noite.
Os cavalos continuavam inquietos, mas para Elizabeth isso já não tinha importância. Um piado de pássaro chamou-lhe a atenção. Olhou instintivamente para cima, na direção da torre mais afastada das ameias: a torre leste onde Victor acomodava sua família em aposentos grandes e lúgubres. Na janela mais alta, brilhava a luz de muitas velas.
Victor estava morrendo.
E já o fazia há meses agora. Supersticiosamente, não deixava que o quarto ficasse escuro. Velas deveriam ser em quantidade suficiente para iluminar seu quarto quase tanto quanto o sol. Seus três capitães se revezavam à sua cabeceira. Amélia o encontrava pela manhã, quando seu humor era melhor. Victor fazia questão de reservar o melhor para a esposa: não a queria aborrecida com alguma grosseria fruto de dor ou cansaço.
Tannis geralmente chegava à hora do repasto. Anotava os ditados de Victor, especializando-se em interpretar-lhe os sibilos e sussurros. E tolerando pacientemente seus urros e guinchos. Não havia limites para a tolerância instilada num bajulador do quilate de Tannis. Um observador superficial acharia que ele não passava de um guarda-livros aprimorado, mas o homem demonstrara grande tenacidade em ganhar sua ascensão às custas de autonegação e um talento literário vazio de estilo, mas prenhe de senso de oportunidade. O secretário pessoal de Victor poderia tomar o evento mais ordinário e quotidiano e pintá-lo como um espetáculo de sabedoria, magnanimidade ou grandeza.
Tannis estava construindo um estadista a partir de um senhor feudal cujo maior talento havia consistido em gastar dois terços da herança paterna na formação de um exército de dimensões modestas, mas absurdamente profissional. Com o terço restante, comprou as graças do Duque Alexis e levara sua filha mais velha com o melhor butim por dote. A caçula, pequena, foi casada para a conveniência de Victor.
O dote de Irene comprara terras e sua ascendência que se gabava bizantina, prestígio junto aos reinos e principados mais importantes da Europa Oriental. Victor era tratado como um igual por cabeças coroadas e seu apoio era cortejado por elas. Nunca era um vassalo que quisessem submeter, mas um aliado que pretendiam cooptar.
A ambição e a ganância de Victor eram as únicas coisas que não definhavam com sua doença. Mesmo às portas da morte, estava lúcido para se preocupar em despacharElizabeth para o convento a fim de "administrar-lhe" a fortuna legada por um marido morto tolamente numa batalha sem importância contra os Turcos. Nemet Von Brühl cometera a maior das tolices antes disso: em quinze anos de casamento não conseguira a façanha de engendrar descendência. Seu patrimônio e sua viúva eram presas fáceis para o novo pater familias da linha de Galati.
O dinheiro deElizabeth compraria maiores honrarias ou mais tropas. Victor ainda não se havia decidido sobre o melhor emprego. Havia um número considerável de propriedades – inclusive em cidades como Bucareste e Sófia.
Elizabeth imaginava que o amor ao dinheiro conservaria Victor vivo pelo tempo suficiente para desferir o golpe contra ela. Mas, um novo fôlego foi dado à carcaça do cunhado pela visita de um estranho, um estrangeiro.
Há um mês, contudo, algo estranho acontecia no andar mais alto da torre. Somente os capitães e soldados haviam sido mantidos no serviço de quarto de Victor. E apenas os membros maisaltos da corte eram admitidos com regularidade a sua alcova. As alterações ocorreram após a chegada do forasteiro na noite de 1º de maio.
O soldado disseraà Anna que se tratava de um cavalheiro muito distinto, montando um cavalo e envergando armadura caríssimos. Era um nobre senhor de posses. Viera da Hungria confessadamente em busca de ajuda de Victor e de seus exércitos.
Ninguém via muito o tal visitante. Ele só ia à presença de Victor à noite e, nestes encontros, somente Amélia, o Capitão Sebastian Farkas, e, após umas duas semanas, Tannis podiam privar da companhia de Lord Markus Corvinus.
Pelas fofocas na caserna, escassas e truncadas, Markus recorria à ajuda profissional para debelar um poderoso inimigo que estava arrasando suas terras húngaras. Não se tinha certeza se eram Turcos, bárbaros ou animais selvagens. O que quer que ameaçasse os domínios de Corvinus se encaixava em descrições aplicáveis a guerreiros implacáveis e a infestações de gafanhotos ou raposas.
Elizabeth não queria desculpas para visitar o cunhado. Depois queMarkus se instalou no antigo quarto da primeira mulher de Lord Victor, seu acesso ao último andar da torre fora convenientemente cortado. Sonja, a sobrinha – filha única de Victor – foi rebaixada ao andar de sua tia. E então Elizabeth teve certeza de que grandes negociações e planos eram engendrados nos aposentos de Victor.
Era estranho que em seus últimos dias, Victor se consumisse com maquinações e alianças com um misterioso e esquivo nobre de uma linhagem pouco conhecida...
Markus separou-se da presa de súbito. Respirou fundo e o ar estava impregnado com o cheiro do sangue fresco. Era só o aroma: o cavalo era como uma taça vazia.
De quem seria o cavalo? Ali, decócoras, Markus se viu preocupado com aquela questão tão mesquinha, mas suficientemente inquietante. Era o segundo cavalo em menos de dois meses. Imaginava se não iriam associá-lo com animais mortos de forma tão selvagem. Fitouo animal, um belo corcel branco, forte e manso. Alisou-lhe a crina e sentiu pena.
Mas, ele era, antes de tudo, um resignado com sua natureza e as necessidades que ela lhe impunha. Eram os cavalos ou, pelas suas contas, metade da criadagem – ou os campesinos dispersos no vilarejo a meio quilômetro das muralhas do castelo de Victor.
Ergueu-se perfeitamente satisfeito e consciente de que era hora de subir ao seu quarto, aprumar-se e apresentar-se à sala daLady Amélia. Seria cortês e gentil o suficiente para que todos se esquecessem de sua palidez mórbida e de seus olhos de um azul aguado mas ligeiramente luminescente. Lady Amélia lhe disse que seria bom se conhecesse o círculo cortesão de Victor para testar-lhes o escol e os merecimentos. Avaliar o potencial daquela gente de quem Lord Victor tanto se orgulhava.
Fitou o cavalo de novo perguntando-se se não seria o caso de atirá-lo por sobre as muralhas ao sul, sepultando-o no desfiladeiro que guarnecia naturalmente aquela porção da fortaleza. Como fazia desde criança, coçou o queixo tomado de pena e calculando a probabilidade de se armar uma confusão entre a soldadesca e a criadagem acerca de um bem do senhor do castelo subitamente desaparecido.
Olhou para a mão e notou-a suja de sangue. Fez um muxoxo e casualmente olhou pela janelinha a sua frente e avistou a criada deElizabeth. A moça estava entretida com algo que ele não podia ver. Algo oculto pela ferraria adiante.
Esgueirou-se divertido até a porta do estábulo e quando se atreveu a por a cabeça para fora, ficou paralisado.
Ali, a uns dez metros de distância, Lady Elizabeth jazia sentada na mais perfeita imobilidade. Uma estátua fixa no ato de rezar contritamente com os olhos vidrados na lua. O efeito foi instantâneo sobre ele. Um arrebatamento que só poderia ser comparado às descrições de êxtases experimentados pelos santos cujas histórias inundavam a biblioteca de seu pai. A atração era tal que logo estava de pé à porta do estábulo, o corpo teso olhando a criaturinha estática.
Se seu coração ainda pudesse bater, já teria saído pela boca. Era um misto de agonia e de alegria que o pregava no chão, fazia surgir mil palavras de amor em sua mente e deixava sua língua dormente na boca. Levou as mãos ao peito, apertou-as ali. Como gostaria que seu coração batesse. Um pulso que fosse, para fazer justiça à felicidade que sentia.
Olhou para suas mãos, incapazes de dar vida ao seu coração inerte e, então, se deu conta: seu rosto, seus braços e seu peito estavam sujos de sangue. Num milésimo de segundo ocultou-se atrás da parede do estábulo. Surpreendeu-se porque estava realmente ofegando. O peito arfava instintivamente. Olhou ao redor envergonhado e apreensivo.
No final do corredor das baias jazia a cabeça do cavalo. Num gancho acima dela, suas roupas: uma túnica simples, das que se veste no quarto, e um cinto fino com a adaga que seu pai lhe dera ainda menino. Um mimo decorativo com cabo de marfim talhado com a história de Alexandre, o Grande e seu encontro mítico com o seu maior e mais fiel companheiro: Bucéfalo.
E ele acabara de matar o bucéfalo de alguém...
Ali fora, a razão de sua existência contemplava a lua com fervor de santa e se ele se apresentasse a ela naquele estado, estaria perdido. Uma imagem maligna digna de repulsa e medo.
Pôs-se a rodar comoum animal bêbado e sem rumo pelo corredor do estábulo em busca de um balde com água, um cocho ou uma mísera esponja úmida que pudesse se prestar a limpar-lhe as evidências do jantar. Quando se recompusesse, seria impertinente. Caminharia até ela e se apresentaria sem pudores. E ela saberia só de olhar nos seus olhos que ele era todo amor.
Fantasiava os presentes que lhe daria, os versos que comporia e a glória de, enfim, estar com ela, entregar-se como um brinquedo, um escravo... Quando a abraçasse e a cobrisse de beijos, não se separariam jamais!
"Lady Elizabeth?", chamou alguém ali fora.
Markus havia achado um cocho, mas sua atenção foi atraída pela voz que dava nome a sua alma. Conhecia aquela voz e os sentimentos que vibravam nela o fizeram tremer de ódio.
O Sr. Tannis, o guarda-livros presunçoso de Lord Victor. O secretário que seu anfitrião julgava digno de compartilhar a grandiosidade das propostas queMarkus tinha a fazer para o grande senhor da guerra do sul. Tannis era um sicofanta que amargava uma longa escada rumo ao topo – o topo sendo o escabelo em que Victor pousasse os pés. Um bajulador sofre de uma espécie mórbida de desprendimento: define-se por seu objeto de bajulação e só pode conceber um mundo em que ele não exista se conseguir substituí-lo por alguém maior e melhor.
Pessoalmente, fazer de Tannis uma criatura como ele, era, na opinião deMarkus, um desperdício e uma ofensa. Afinal, Tannis já era um sanguessuga, não era mesmo? Para quê dar-lhe a imortalidade?
Mas, agora, Tannis estava ali fora, mal administrando seu baixo-ventre. Markus concentrou-se no balde e lavou-se da melhor maneira que pôde. Esfregou o rosto, o peito e os braços. Examinou-se e achou que estava ao menos livre dos vestígios de sua dieta sangrenta. Vestiu-se, cingiu-se com sua adaga de menino e inflou o peito.
Ali fora, Tannis ousava ficar sob o mesmo céu que sua dama. Ele deu um passo e surpreendeu-se ao vacilar ligeiramente. Conteve-se apoiando-se na parede do estábulo. Arfava de novo. Tannis saíra de seu pensamento: ela o preenchia todo agora. Tudo o que ele queria era sair, jogar-se aos seus pés e implorar que ela o fizesse seu. Que ela reclamasse o que já não podia ser de mais ninguém.
Ele encheu o peito de novo, um sorriso de triunfo varando o rosto, e avançou. Em dois passos, estava novamente à porta das cavalariças.
A cara de Tannis era um consolo. Mesmo sob a fraca luz do luar, notava-se que ele ficara lívido, encolhendo-se. Deu dois passospara trás e Markus sabia que só muito autocontrole o impedia de sair correndo quando ele, Markus, pôs-se a caminhar em direção ao pequeno grupo.
A esta altura, Anna, que se havia conservado a uma distância nada conveniente à reputação de sua senhora, ficou na dúvida se deveria seguir os termos de seu contrato com Tannis. Decidiu-se a apressar-se para o lado deElizabeth que se virou na direção da causa de tanto espanto e pavor.
Markus se deteve acuado pela dúvida. O que ela veria? Gostaria dele? Deixaria que ele se aproximasse? Aceitaria sua ousadia de apresentar-se no meio do pátio, sem a presença de Victor ou Amélia para tornar o fato inocente? Ela notaria seu tom de pele tão alvo e seus olhos algo sinistros?
Ele já não sorria. Estava indeciso e inseguro. Tanto amor explodindo em seu peito e a vontade de jogar-se a seus pés e se declarar coisa sua ainda martelando em sua cabeça...
"Tannis,", ela disse sem tirar os olhos dele, "Vossa Senhoria não nos apresenta?".
Tannis engoliu em seco – ele podia ouvir o som do choque e do terror contra a garganta seca – mas não ousou dar um mísero passo a frente. O covarde a colocava entre eles: se o monstro do norte atacasse, ele teria chance de fugir para o castelo.
"Lady Elizabeth, eisaí Lord Markus Corvinus, hóspede de seu irmão.", apresentou mal disfarçando o pavor.
Ela fez uma reverência e ele, impulsivamente, levou as mãos ao peito contrito e sinceramente consternado. "Perdoe-me, Senhora, se até hoje me mantive recluso e não fiz justiça à hospitalidade da Senhora, Sua Irmã."
"Tenho certeza, Lord Markus, que a esposa de meu irmão não se importa, pois sabe que o Senhor veio tratar de assuntos sérios."
Ela olhou para o chão, ajeitou o vestido verde-escuro e se viroupara Anna. A mocinha fitou o chão também, mas não parecia disposta a erguer as vistas dali. Elizabeth olhou para Tannis imediatamente e adivinhou a coisa toda. Voltou-separa Lord Markus e se espantou com a intensidade de seu olhar. Agradeceu a parca luz noturna, do contrário, ele teria observado suas faces vermelhas de vergonha. Desviou os olhos, mas algo a fez mirá-lo de novo. Ele ainda a olhava e então ela pôde perceber que não era a espécie de olhar que lhe deitava Tannis ou o marido na primeira vez em que o vira.
"O senhor certamente faria a gentileza de prestigiarLady Amélia. Ela está reunida com a corte de meu irmão. Há tanto tempo ouvimos falar do Senhor. Gostaríamos de conhecê-lo.". Dizendo isso, deu um passo para o lado, dando meia volta, mas mantendo os olhos nele.
Lord Markus andou devagar até ela, inebriado, sem a menor intenção de disfarçar o encantamento. Estendeu-lheo braço e Elizabeth pousou a mão sobre a dele. Se ela se incomodou com o toque frio de sua pele, não o demonstrou. Sorriu-lhe timidamente e se virou para frente.
Markus se deixaria guiar por ela. Era cego para o mundo agora. Só veria o que ela lhe quisesse mostrar.
Tannis, encorajado pelo fato de que todos ainda estavam vivos e bem, resolveu completar o serviço:
"Lord Markus, estaé Lady Elizabeth, Baronesa Von Brühl, irmã de meu gentil Lord Victor."
"Irmã?", repetiu ele na dúvida.
"Cunhada.", esclareceuElizabeth fitando-o novamente. "Sou irmã da primeira esposa de Lord Victor."
Markus se deu conta de que talvez sua amada fosse comprometida. Já não sabia como impor-se mais. Mas, era hora de se juntarem aos cortesãos de Victor e descobrir se havia um Barão Von Brühl e imaginar o que faria a respeito disso...
Avançaram pelo pátio. Das ameias a guarda olhava intrigada com o pequeno grupo que se dirigiaaté o portão principal. Markus caminhava devagar: queria estar a sós com ela o máximo de tempo possível. Que outra desculpa teria para obrigá-la a ficar em sua companhia? Que outrachance teria?
Tannis os seguia sem saber o que pensar. Era evidente queLord Markus estava impressionadocom Elizabeth. Será que isso teria alguma utilidade para Victor? Será que a viuvinha rica e carrancuda poderia ser usada para melhorar os termos da barganha para seu cunhado? Se os sentimentos deMarkus fossem, por assim dizer, egrégios, Elizabeth era um tesouro a ser vendido muito caro. A idéia deveria ser manifestada a Victor na manhã seguinte. Seu senhor certamente saberia o que fazer com a oportunidade.
Chegaram às portas do salão e entraram sem qualquer alarde. Foi Amélia quem se obrigou a dar ao momento a importância que tinha. Dirigiu-se rapidamente a Bukowski e o instou a segui-la ao encontro do nobre do norte que viera até Victor em importante missão.
Amélia notou queMarkus tinha dificuldades em olhar para qualquer outro ponto que não fosseElizabeth. E o fazia com patentes ternura e fascínio.
Markus Corvinus, o monstro do Norte, o mensageiro de um mundo de pesadelo e terror – o homem que precisava de Victor para dar cabo da ameaça tenebrosa que se alastrava perigosamente em direção às fronteiras dos seus domínios. Ali estava ele, derramando-se ao redor deElizabeth, incapaz de tomar conhecimento das dezenas de pessoas que enchiam o grande salão do castelo.
No quê aquilo a afetaria? A pergunta se instalou de imediato em sua mente. E crescia implacável.
