Ano novo, vida nova

"Nenhum caminho é longo demais quando um amigo nos acompanha."


- Não acredito! Ainda não consigo acreditar!

Uma pequena pedra rolou para longe, com o impulso do pontapé do garoto.

Harry rolou os olhos. Ainda a noite passada, na estalagem de Madame Rosmerta, onde tinham dormido, tiveram aquela conversa.

- Ron, não és só tu que não queres voltar a Hogwarts. Também não queria ter de repetir o sétimo ano, mas não temos outra hipótese. A guerra acabou há três meses… Não conseguimos conciliar os estudos com as lutas que tínhamos de travar: e não fomos os únicos!

- A Hermione conseguiu… E até já trabalha – Ron sentiu o coração apertado: Ia estar longe da namorada durante tanto tempo… Ele a estudar, ela a trabalhar. Não lhe interessava o que os professores pensassem: iria visitá-la todos os fins-de-semana.. Dormiria n'A Toca de sábado para domingo. Os Grangers não o iam deixar dormir em casa deles, claro.

Estava decidido. Já tinha dezoito anos! Podia fazer o que queria, ora!

- A Hermione foi uma das únicas três pessoas que passaram o sétimo ano. - retorquiu Harry, acordando Ron dos seus pensamentos- O que também não admira, com a cabeça dela. E claro, quase ninguém voltou para Hogwarts, o ano passado. A escola estava tão vazia, lembras-te?Não ficava surpreendido se a McGonagall tiver de fazer duas turmas do sétimo ano por equipa: há tanta gente a repetir o ano!

- Sim. - disse Ron, por fim – Tens razão. Este ano vai ser muito confuso. A guerra transformou tudo…

Permaneceram o resto do caminho que faziam de Hogsmeade para Hogwarts em silêncio. Os alunos que iam repetir o sétimo ano tinham sido autorizados a chegar um dia antes do começo das aulas, para não sobrecarregar o expresso de Hogwarts: O número de alunos nesse ano iria ser extraordinariamente grande.

"A guerra transformou tudo…" Ron repetia mentalmente as suas próprias palavras. E enquanto olhava para o amigo, que caminhava de mãos nos bolsos, a olhar para o castelo que já estavam a alcançar, com uma expressão melancólica, Ron sentiu uma profunda tristeza pelo amigo: Os horrores que Harry passara não se comparavam com os seus problemas. Algumas vezes, muitas vezes na verdade, Ron desejara ser como o amigo. Agora não. Apenas queria poder ajudá-lo.

Harry era visto como uma lenda viva durante os últimos três meses. Não parava de receber cartas e de ser perseguido por fanáticos, por uma coisa que não escolhera, não queria. Ele teve que matar Voldemort.

E o que mais surpreendia Ron, é que apesar de todas as dificuldades, Harry nunca baixara a cabeça, nem nunca a erguera demais. Esforçava-se por ser apenas Harry Potter, não o menino-que-sobreviveu, ou o menino-que-nos-fez-sobreviver-a-todos, mas apenas ele próprio. O Harry.

Os pensamentos de Ron foram, no entanto, interrompidos pelas fortes pancadas que o amigo dava nas portadas da escola.

Tinham chegado.


Naquela noite, antes de se deitar, Ron sentou-se na sua poltrona preferida, no salão comunal, a escrever uma carta para Hermione. Naquela tarde, ele Harry e os outros repetentes do sétimo ano tinham tido uma reunião com a directora, a professora McGonagall. A sua cabeça estava cheia com as novidades daquele dia. Precisava de lhas contar ainda hoje:

Querida Hermione:

Ainda hoje cheguei a Hogwarts e já estou com saudades. Tive de te escrever porque há imensas novidades, e tenho a certeza que vais querer saber de tudo.

Em primeiro lugar, ao contrário que tu e o Harry desconfiavam, não vai haver duas turmas do sétimo ano por equipa. Isso apenas vai acontecer aos alunos do sexto ano.

Pois é, no nosso ano, não vai haver tanta gente como imaginávamos. Alguns não vão fazer o sétimo ano, como o Dino Thomas (soubemos pela McGonagall que está a fazer um curso de técnicas e feitiços de desenho, para ser um ilustrador profissional), a Parvati ou a Lilá ( Ah, Ah! Aposto que estás contente por ela não estar cá a estudar! Morrias de ciúmes dela, lembras-te!). Há também muita gente da nossa idade que mudou de escola: a grande maioria são Sonserinos. Algo me diz que não vou sentir a falta deles. E claro, há o Neville, que foi " para a Amazónia estudar plantas tropicais mágicas no seu habitat natural", como ele mesmo nos disse, o mês passado.

Isto significa que vamos estar na mesma turma da Ginny, para minha infelicidade mas, suspeito eu, para felicidade do Harry. Aqueles dois não falaram muito durante as férias, pois não? Bem, pode ser que agora se resolvam. E nem imaginas: como o Neville e o Dino já não estão cá, vamos partilhar o dormitório com dois pigmeus do primeiro ano! Nem sei o que pensar sobre isso…Acho que ainda não tive tempo para assimilar a ideia...!

Tenho outra novidade, e esta é das melhores: O professor de Defesa Contra as Artes das Trevas é o Lupin! Pois é, ele não nos disse nada, mas é verdade! Encontrámo-lo hoje na escola e ele deu-nos a boa notícia. Parece que ele e a Tonks se mudaram para Hogsmeade. E acho que agora que o "quem-nós-sabemos" morreu, o Lupin veio para ficar. O lugar já não está amaldiçoado, certo?

A carta já está enorme, nem me estou a reconhecer! No entanto, ainda não disse o mais importante. Ainda não te disse que quando fui à biblioteca hoje, esperava ver uma morena de cabelos encaracolados com a cabeça enfiada num livro, mas não vi. Foi então que caiu realmente a ficha: tu não vais estar aqui comigo, connosco, este ano.

Como é que eu vou sobreviver sem ti? Com quem é que eu vou discutir? De quem é que eu vou copiar os trabalhos de casa? Quem é que vai salvar os elfos desta escola? Quem é que vai deixar os professores de boca aberta?

Vais fazer falta, Hermione. Vais fazer-me falta.

Com amor,

Ron Weasley

Ron dobrou a carta com todo o cuidado e deu-a a Pichi que piava exitadamente.

- Entrega a carta a Hermione, Pichi. E tem cuidado contigo – recomendou Ron a sua coruja, afagando-lhe as penas.

E Pichi voou pela noite dentro, determinada a cumprir a sua função, que era a de levar um pedaço do seu dono a quem já tinha o seu coração.


Nota da Autora: Como quem leu este primeiro capítulo notou, apesar de a fic estar escrita em português de Portugal, os nomes das personagens e alguns conceitos estão como na versão brasileira de HP. Fiz isto porque achei que émais facil para os leitores brasileiros perceberem. Só não fui capaz de mudar Ginny para Gina, e Ron para Rony.

Por favor, se leram, comentem!...