Em que Marco é um universitário novato e sem amigos que tem uma inclinação por stalkear o garoto de cabelo bicolor da sua aula de Astronomia. Considerando o fato de que é uma fic de jeanmarco, eles provavelmente se tornarão amigos e, sei lá, talvez se apaixonem um pelo outro.

Deixando o sarcasmo de lado, esse é um UA não original e bobo, completo com diversão, fofura e drama. Exceto pelas cruéis referências ao canon e montes de meias-piadas.

Essa é a história de como Marco Bodt ofereceu seu coração pulsante a Jean Kirschtein.


Capítulo 1 – A arte da observação

Sumário: Marco é um creeper.


When you fall like a statue
I'm gon' be there to catch you
Put you on your feet, you on your feet
And if your well is empty
Not a thing will prevent me
Tell me what you need, what do you need

I surrender honestly
You've always done the same for me

So I would do it for you

-Phillip Phillips, (Gone, Gone, Gone)


Não tem nenhuma boa introdução para esta história.

Nada de primeiras palavras fascinantes, nem detalhes "hipnotizantes"...

Mas ainda assim é uma história importante para mim. É essencial para tudo o que eu sou hoje. É a história de como a minha vida rapidamente se tornou tão entrelaçada à vida do amigo mais próximo que eu já tive.

E pode parecer ridículo…

Mas esta é a história de como eu ofereci meu coração pulsante a Jean Kirschtein.


Também não posso dizer que o começo foi tão espetacular. Eu era apenas o novato na Universidade Trost, quase incapaz de achar meu caminho de classe em classe. Eu não conhecia ninguém. Isso mesmo – não conhecia pessoa alguma. Nem tinha um colega de quarto – aquele com quem ia ficar pediu transferência para outro dormitório no dia da mudança.

Então lá estava eu, vadiando com o mapa do campus em minha mão, meus horários na outra, e meus olhos estavam direcionados para o mapa quando alguma coisa bateu no meu ombro e me fez girar.

"Merda!" ele praguejou, e eu me vi encarando um garoto magro de cabelos cor de areia, o rosto acidamente contorcido numa carranca venenosa enquanto ele me encarava. "Olha por onde anda!" ele resmungou, massageando o próprio ombro com sua mão livre; a outra segurava um copo de Starbucks fumegante. O cara parecia alguém com quem você não gostaria de se meter antes dele conseguir cafeína (o que mais tarde se provou verdade), e eu não sou o tipo de pessoa que parte pra briga, então dei alguns passos para trás e pedi desculpas, aflito. Eu poderia ser alguns centímetros mais alto que ele, mas tinha certeza de que o cara podia me nocautear com facilidade.

Ele murmurou um "que seja" e seguiu seu caminho, e fim. Eu prestei atenção por onde andava a partir de então.

O resto da semana se passou sem problemas. E por "sem problemas", eu quero dizer tirando os problemas típicos de novatos. Eu lutava para encontrar minhas salas, e até cheguei atrasado a algumas. Ainda não tinha sido posto com nenhum colega de quarto, e honestamente, a não ser que alguém de outro dormitório decidisse se transferir para o Sina, eu não ia ter um. A maioria das pessoas mataria para ter um quarto só para si e nenhum colega com quem dividi-lo, mas para mim aquilo era bem solitário. Quer dizer, eu tinha uma TV de tela fina que meus pais haviam comprado e montado na minha parede, só pra mim. O que não era tão ruim, eu acho… mas ainda solitário. E sempre que eu saia para comer, era sem ninguém. Eu sentia muita falta de casa durante as refeições. Mas tirando isso, as coisas estavam indo bem.

Foi apenas na outra segunda-feira, exatamente uma semana depois do incidente com o cara do café, que eu percebi…

O rapaz magro de cabelos cor de areia? Ele estava na minha classe de Astronomia.

Durante uma breve pausa na aula, eu tomei a oportunidade para levantar os olhos do caderno e observar a classe… e lá estava ele. Uma fileira em frente a minha, dois assentos para a esquerda. Eu me encontrei hipnotizado por ele, meus olhos errantes mirando confortavelmente a forma de seus ombros ossudos, um casaco cinza pendurado neles. Meu olhar deslizou até seu rosto, parcialmente visível daquele ângulo, e me peguei admirando sua figura. Ele tinha uma mandíbula forte, bem marcada, e seu nariz era ressaltado, pontudo… eu não conseguia ver seus olhos muito bem, mas suas sobrancelhas estavam franzidas enquanto ele encarava o caderno, longos e ágeis dedos segurando fortemente a caneta enquanto o garoto escrevia. Não pude deixar de sorrir levemente pela sua expressão ranzinza… talvez ele tivesse aquela cara brava naturalmente. Aquela suposição me fez sentir muito melhor por ter trombado nele na semana anterior. Ele provavelmente não tinha ficado tão irritado quanto parecia… certo?

Sem querer considerar as piores possibilidades para o fiasco da semana passada, eu rapidamente voltei minha atenção para as anotações.

Mas a visão do garoto magro de cabelos de areia se tornou uma freqüente distração por todo o resto daquela aula.

E na outra aula também.

E na outra.

E na outra.

E pelas próximas semanas, na verdade.

Não era como se eu sentisse algo por esse cara aleatório que eu acabei irritando no primeiro dia de aula… era diferente. Eu nunca nem pensava no cara fora da classe, pra ser honesto. Minha fascinação por ele se confinava naquela sala de aula. Mas eu não tinha certeza que me atraíra neve em primeiro lugar, o que tinha nele que me deixava tão fascinado, só que era algo indecifrável… inexplicável. Olhando de relance para ele no caminhar das semanas, eu passei a aprender mais sobre o garoto: pequenos detalhes, tiques inúteis, manias estranhas dele… e com cada nova descoberta, eu ficava mais interessado do que antes, mergulhando cada vez mais fundo em minha própria curiosidade.

Por exemplo, às vezes, quando usava um lápis ao invés da caneta, ele inconscientemente mascava a borracha. Nessas raras ocasiões eu tinha que conter o riso quando seus dentes colidiam com o metal do lápis e seu rosto se contorcia numa expressão que só pode ser descrita como "amargo desgosto".

Eu também descobri que ele nem sempre fechava a cara. Na maioria das vezes era por estar concentrado. Porém, sempre que ele desviava o olhar das notas para prestar atenção ao professor, sua expressão se tornava tranquila, mais viva e séria… sua mandíbula se descontraía e seu semblante relaxava, e vê-lo daquele jeito me fazia pensar que talvez ele não fosse assim tão amedrontador.

Não que eu tivesse medo dele.

Era mais… "apreensão". Com um pouco de "timidez".

O que era ridículo, porque eu já o tinha visto equilibrando a caneta em seu lábio superior e encarando suas anotações com a cara mais séria do mundo em múltiplas ocasiões. Eu me perguntava frequentemente como podia levar um panaca tão a sério.

Mas o que eu podia ter certeza, pela seriedade com que ele anotava a matéria e pelo encontro desastroso no primeiro dia de aula, era de que ele era um rapaz bem sério. Então talvez ele fosse um panaca por acidente. Melhor ainda.

Tudo o que ele fazia, fosse coçar a cabeça com a caneta ou se espreguiçar e arquear as costas do assento ou se curvar com o queixo apoiado à mão, era um deleite para mim. Eventualmente o garoto se tornou para mim o aspecto mais interessante na aula de Astronomia, e eu nem sabia seu nome.

Mas um dia, na primeira semana de Outubro, o homem sem nome não compareceu à aula. Eu achei aquilo um pouco estranho (já mencionei que ele era estudioso) e fiquei um pouco desapontado pela minha distração estar ausente, mas apesar disso ele não passou mais pela minha cabeça. Afinal ainda era segunda-feira, e nós tínhamos Astronomia todos os dias exceto sexta, então eu esperava vê-lo no dia seguinte como sempre. Ele provavelmente só tinha dormido demais sem querer.

Exceto pelo fato de que ele faltou no outro dia também.

Intrigado e um pouco preocupado, eu olhei em volta e, para minha surpresa, metade da sala estava vazia.

"Psst… ei!"

Virei para a direita para encontrar um careca baixinho sorrindo e acenando pra mim, como que parar chamar minha atenção.

"Parece que nós estamos entre os sobreviventes do apocalipse zumbi, huh?" ele riu.

"A-apocalipse?" do que é que ele estava falando?

"Calma, cara, é uma piada. Tenho certeza que todo mundo só pegou gripe. Sempre tem epidemia nessa época do ano, sabe?"

"Oh…" eu relaxei um pouco, olhando de relance para o lugar onde ele geralmente sentava. Então era só isso: uma gripe.

Sorrindo, eu voltei a fitar o mais baixo e disse, "Então acho que somos os próximos."

Ele fez careta, balançando a cabeça. "Não, pelo amor de Deus! Não sei quanto a você, mas eu com certeza não planejo ficar doente."

O professor então começou sua aula, a voz antiga oscilando fracamente e ricocheteando nas paredes na sala meio vazia, e nós voltamos a atenção para ele e não nos falamos mais. Mas eu me peguei desejando, durante a classe, que minha distração sarasse logo.

No dia seguinte, sem falta, lá estava ele.

Apesar de que não estava lá essas coisas, tenho que admitir. Do meu lugar, podia ver claramente que sua pele estava pálida, as olheiras fazendo-o parecer como se tivesse encarado a face da morte. Seu nariz pontudo estava muito vermelho, e eu me sentia tão mal por ele… ele estava acabado. Mal conseguia anotar as coisas – seus olhos estavam úmidos demais – e julgado pelas suas fungadas, também estava com o nariz entupido. Sua tosse estava horrível também. Ao final da aula, minha vontade era de enrolá-lo num cobertor, enfiar xarope pela sua goela abaixo, e não deixá-lo voltar para a escola até ele se sentir melhor. Acabei por reprimir esse pensamento.

Na verdade, outra coisa aconteceu.

E sim, alguma coisa aconteceu de verdade depois daquela aula.

Essa não é uma história em que eu persigo um cara que nem conheço, afinal.

Eu estava guardando meu material enquanto a maioria dos alunos já tinha ido embora, me perguntando sobre o que deveria comer no almoço quando senti que estava sendo observado. Quando tornei a olhar para cima, o par de olhos âmbar mais brilhantes que já vi me encaravam. Eu congelei.

Era quase como se eu pensasse que se não me mexesse, ele não me veria.

Ele me viu, caso você esteja se perguntando.

"Eu não te conheço de algum lugar?"

Mmmmmerda.

Eu senti meu coração subir ara a garganta. Ele tinha notado que eu o observo de longe? Eu não sou um stalker, eu juro! Pensei. Tentando me livrar desses pensamentos, sorri inocentemente para ele, apesar de não ser capaz de olhá-lo nos olhos.

"Uh, é, mais ou menos… eu esbarrei em você no primeiro dia de aula." Respondi timidamente. Não queria lembrá-lo do incidente, mas era melhor do que falar "Ah, então você notou minhas encaradas? É, você não me conhece de mais nenhum lugar, eu só sou obcecado por ficar te olhando, não é nada demais."

"Não, eu quis dizer antes disso."

Aquilo me pegou desprevenido. Eu achava que não…? Quer dizer, seria maravilhoso se sim, explicaria o meu fascínio pelo garoto, mas…

"Lamento, mas não..."

Sua expressão tornou-se dura e seus olhos se estreitaram novamente, e eu prendi a respiração até perceber que o garoto estava apenas concentrado em se lembrar de onde me conhecia.

"Foi mal, então" ele se desculpou, "É só que você parece muito familiar."

"Ah, sem problemas! Acontece comigo o tempo todo" eu menti.

Ele espirrou e coçou o nariz. "Eu meio que queria que a gente já tivesse se conhecido… porque aí não seria tão estranho pedir pelas suas anotações dos últimos dois dias."

Demorou um instante para entender o que ele queria, mas quando me dei conta, ri de leve.

"Se é só isso, tudo bem, eu posso te emprestar meu caderno."

O garoto piscou, confuso. "Sério? Você nem me conhece…"

Mas era tarde demais, eu já estava tirando o caderninho preto da mochila e pensando eu estive te observando que nem um psicopata pelos últimos meses, acho que isso é o mínimo que posso fazer. Mas eu não disse isso. O que saiu da minha boca foi "Eu preciso conhecer?"

"… você é tão legal assim?"

"Eu tento ser."

Ele ergue a sobrancelha. "Você parece muito incapaz de dizer não."

"Puxa, obrigado" respondi sarcasticamente, "Isso realmente me faz querer te emprestar o caderno."

"Ah! Ei, eu só to falando a verdade."

"Aham" eu murmurei, procurando as páginas de que ele precisava. E estava prestes a entregá-las quando…

Olhando para as anotações… bem…

"O que foi?" ele perguntou.

"É que… argh. Tem um monte de coisa que precisa de explicação…" me virei para ele. "Quando é sua próxima aula?"

"A próxima só começa às 2:30."

Tornei a encarar meu caderno antes de lhe responder. "Tem planos para o almoço?"

Houve uma pausa desconfortável antes de eu me corrigir apressadamente, tropeçando nas palavras. "É-é só pra explicar o que você não entender, s-só isso…!"

Ele sorriu ironicamente. "Você gosta mesmo de ir com tudo, não?"

"Você quer as anotações ou não?" eu bufei, mas seu sorriso arrogante me fez sorrir também.

"Quero, quero" ele respondeu, desviando das cadeiras para sair daquela sala, eu peguei a mochila e o segui, observando o modo como suas pernas se moviam. Ele fica bem de calça skinny pensei. Já fora da classe, ele parou, e eu tornei rapidamente a fitar seu rosto.

"A propósito, qual o seu nome?" ele perguntou, virando-se para mim.

"Ah, é… eu sou Marco. E você é?"

"Meu nome é Jean."

Jean… então era essa o nome do garoto que eu vinha espionando na cara dura por um mês e meio. Bom saber.

"Jsh-ahn" eu repeti, surpreso que um nome com vogais e consoantes tão suaves pertencesse a alguém tão impertinente. "Francês?"

O garoto me encarou por um longo tempo, e eu pensei ter dito algo errado até ele responder. "É… d-de qualquer forma, onde você quer comer? Eu geralmente só almoço nos refeitórios."

"Eu também" murmurei, "Acho que estamos decididos então, huh?" lhe passei o caderno e caminhei em sua frente, saindo do prédio para a claridade da tarde com Jean me seguindo de perto. Nós seguimos para o refeitório mais próximo, abrindo passagem entre a multidão de universitários.

Às vezes eu tinha certeza que o tinha perdido completamente, mas um espirro ou uma tosse sempre acusavam sua presença. Quando estávamos livres, distantes da parte mais movimentada do campus, Jean desacelerou o passo consideravelmente.

Olhando por cima do ombro, pude ver que ele abrira o caderno, nas páginas de segunda-feira, e as encarava intensamente enquanto caminhava.

"Que porra são essas letras gregas?" ele disse.

"Tem uma legenda e algumas fórmulas na parte de cima, lado direito" respondi, tentando não rir quando ele tropeçava nas próprias pernas. Depois de uns dois minutos de caminhada, tornei a fitá-lo e o encontrei com os olhos ainda mais semicerrados para o caderno.

"Você não tava brincando… ainda não entendi merda nenhuma." Ele murmurou.

"Eu te disse…" eu virei à esquerda, mas Jean continuou seguindo reto com a cara enfiada nas anotações. Tive que chamar sua atenção com um "Ei, Jean, por aqui!"

Sua carranca se intensificou depois disso, bochechas ligeiramente mais rosadas por baixo da pele pálida, mas ele enfiou meu caderno debaixo do braço e seguiu prestando mais atenção aonde ia.

"… e não esquece, você tem que achar a mudança no comprimento da onda antes."

"E esse é a delta lambda?"

"Isso!"

Eu tomei mais um gole de Pepsi enquanto observava Jean terminar os exercícios, meu prato limpo já há bastante tempo.

"Calma… quando você achar a velocidade do raio, tem que dividir pela velocidade da luz, lembra?" eu me debrucei sobra a ,essa para lhe indicar o que estava dizendo.

"E essa é a fórmula c…"

"Isso aí! Eeee… acabou!" eu sorri para o garoto como que parar encorajá-lo.

Jean endireitou as costas, massageando as têmporas. "Velocidade do raio é uma merda" ele resmungou, e eu ri.

"Sei como se sente" concordei.

"Hey Marco."

"Hmm?"

"Obrigado… eu estaria ferrado sem a sua ajuda."

"Sem problemas" eu respondi, enquanto ele sacava o celular para de algumas páginas do caderno. "É só que…"

"Que foi?" ele colocou o celular no bolso e voltou a me encarar.

"Você poderia ter faltado mais um dia. Está mais pálido que um fantasma."

Como para provar meu ponto, ele teve uma crise de tosse.

Ele tossiu por quase dois minutos direto até eu trazer um copo cheio d'água, que ele tomou de uma vez.

"Uh-uh" ele finalmente conseguiu dizer. "Eu não posso perder mais nenhuma aula. Já tive muito tempo pra me recuperar. Já to perdido depois de dois dias sem vir!"

Tombei a cabeça para o lado e o censurei com o olhar.

"Estava perdido depois de dois dias" ele corrigiu, e eu sorri em aprovação.

"Ok, verdade, mas desse jeito você só ta ajudando a espalhar a gripe."

"Eu não me aproximo das pessoas o suficiente pra espalhar gripe." Foi sua desculpa.

Ergui minhas sobrancelhas e ele balbuciou "Eu—merda. Se você ficar doente por minha causa, eu vou te recompensar, eu juro!"

Eu ri. "Não precisa se preocupar. Meu sistema imunológico é bem forte, então duvido que eu fique doente."

Jean apenas me encarou ceticamente e acabou de tomar sua água.

O barulho de risadas irrompeu na mesa atrás de mim e eu pulei, surpreso. "Eles estão passando 'Invocação do Mal' hoje, no cinema do campus, cara, você tem que ir!" alguém da mesa gritou.

De frente para mim, Jean moveu-se para a esquerda para espreitar a algazarra e voltou a se afundar na cadeira e descansar o queixo nas mãos, os cotovelos na mesa.

"Estamos na época do Halloween, né?" pensei alto, me dirigindo a Jean, "Você vai ver algum filme de terror esse mês?"

Ele balançou a cabeça freneticamente. "Nem ferrando."

"Não é fã de filmes de terror?" eu sorri.

"Você não sabia? Jean odeia filmes de terror! Ele mija nas calças e grita como uma garotinha" eu me virei para onde a voz vinha; era o baixinho careca da aula de astronomia.

"CONNIE!" Jean gritou, e a mesa inteira tornou a gargalhar.

O careca – seu nome era Connie – levantou-se e se aproximou da nossa mesa, sorrindo maliciosamente.

"Ah! Então você conheceu o Jean." Ele me disse.

Jean encarou a nós dois. "Vocês se conhecem?"

"Não" Connie disse, "quer dizer, mais ou menos. A gente estava conversando ontem sobre como nós dois sobrevivemos ao surto de gripe até agora. Mas nem todos tem essa sorte, né?"

"Cala a boca." Jean suspirou, fungando logo em seguida.

Connie virou-se para mim, "Eu nem sei seu nome, cara."

"É Marco."

"Ok, Marco, eu sou Connie. Você é bem vindo se quiser assistir 'Invocação do Mal' conosco hoje, já que o Jean com certeza não vai" ele ofereceu.

Eu ri. "Obrigado, mas vou ter que recusar. Tenho muita lição de casa" menti. Para Sr sincero, sair do meu quarto para me divertir seria uma mudança boa… ficar trancado no dormitório o dia todo era muito solitário. Mas eu não conhecia Connie e seus amigos também, e me sentiria desconfortável se saísse com um grupo de estranhos que já fossem amigos.

"Tudo bem então. Bom, se mudar de ideia, nós vamos estar no cinema do campus hoje! Vejo vocês mais tarde" eu acenei para o garoto enquanto ele voltava para sua mesa. Jean bufou ironicamente.

"São seus amigos?" perguntei.

"Mais ou menos… ele é um dos meus colegas de quarto."

Eu franzi as sobrancelhas. "Você não gosta dele?"

"Hah?" ele disse, a voz nasalada. "Não, ele é legal. Quer dizer, ele é meio irritante de vez em quando, é, e é difícil lidar com ele às vezes, mas a gente se dá bem… o que é mais do que eu posso dizer da maioria das pessoas. Por quê?"

"Hmm, nada." Eu peguei meu celular para checar as horas. "Oh!" já era 12:45.

"Que foi?"

"Minha próxima aula começa em 15 minutos, eu tenho que ir…"

Jean me devolveu o caderno e eu o coloquei na mochila antes de ajeitá-la em minhas costas. Mas eu hesitei em levantar.

Jean me fitou confusamente. E eu estava nervoso em perguntar, mas… aquela era a minha chance.

"Ei, Jean?"

"Sim?"

"Você pode me passar seu número?"

Esperava que ele perguntasse por que, e eu não tinha motivo nenhum para pedir seu número, mas—

"Claro."

"S-sério?"

"É, por que não?"

Tudo o que fiz foi dar de ombros, e nós rapidamente trocamos contato antes de cada um seguir seu lado. Eu não sabia o porquê, mas ter conseguido o número do Jean me encheu de uma estranha sensação de missão cumprida.

E cheguei à sala muito mais bem-humorado.


Naquela noite, debruçado à escrivaninha e acabando a lição de casa, minha mente continuou a repassar os eventos do dia, em particular o almoço com Jean, e toda vez que isso acontecia eu não conseguia deixar de sorrir. Fazia tanto tempo assim desde que eu consegui socializar com alguém? Quer dizer, eu tinha muitos amigos em casa que sentiam saudades de mim, e meus familiares telefonavam pelo menos duas vezes por semana…

Mas eu estava isolado. Incrivelmente isolado.

Eu ficava sozinho no quarto.

Acho que é isso que acontece quando você não se envolve nas atividades da faculdade.

Nenhum clube me interessava, eu não gostava muito da ideia de fazer parte de uma fraternidade, e não era muito religioso, então os ministérios do campus estavam fora de questão.

Sem problemas, eu dei de ombros, e pensei que faria amigos de qualquer jeito. Aparentemente, eu estava errado.

Por isso, a perspectiva de chamar o Jean de 'novo amigo' chegava a me dar frio na barriga. Quem poderia imaginar que eu me daria tão bem com o cara que eu espionava no último mês?

Eu realmente gostei de Jean. Ele era esperto e sarcástico e, mesmo que não soubesse, um grande panaca. Ainda que parecesse rude a primeira vista, ele na verdade era bem legal. Ele só… eu não sei. Não tinha medo de falar o que pensava. E eu gostei muito disso.

Suspirando e sorrindo estupidamente, peguei meu celular e vaguei pelos contatos até achar seu nome. 'Jean'. Tive que resistir a vontade de não lhe mandar uma mensagem naquele instante.

Eu esperava ter outra chance de falar com ele.


Prontamente, a chance se apresentou na manhã seguinte.

No instante em que me levantei da cama (evitando por pouco de bater a cabeça na parte superior vaga do beliche, como sempre), meu crânio latejava dolorosamente a cada pulsação, e eu enfiei a cara dentro da lata de lixo. Ela se encheu de fluidos estomacais e alimentos liquefeitos em segundos.

Caso você esteja se perguntando, eu decidi não ir à aula. Com o nariz escorrendo e tremendo incontrolavelmente, me enrolei no lençol e voltei para a cama. Sem conseguir voltar a dormir, eu apenas continuei deitado e tossindo no meu travesseiro pela próxima meia hora. Jean, seu filho da puta, pensei, encarando hostilmente meu celular, carregando a bateria do outro lado do quarto. Eu estava doente e com preguiça demais para mancar pelo chão frio até onde o aparelho estava, mesmo que quisesse desesperadamente brigar com Jean por me deixar tão mal. Ele provavelmente saberia o que aconteceu quando chegasse à sala e eu não estivesse lá, de qualquer forma.

Bzzt. Bzzt.

Duas virações. Uma mensagem.

Ao invés de levantar da cama de verdade, eu só… rolei pelo chão, ainda embolado em cobertores, e rastejei até a escrivaninha. Uma vez ali, tateei a superfície até encontrar o celular.

(1) Nova mensagem

Adivinha quem era?

De: Jean

Me fala q vc n ta

Eu sorri – espirrei – e sorri de novo. Deitado no chão frio de madeira, me ajeitei nos cobertores e digitei uma resposta.

Para: Jean

Como você vai me recompensar, Jean?

A resposta veio em menos de 20 segundos.

De: Jean

"sistema imunologico bm forte" meu cu.

Eu ri daquilo, mas rir apenas trazia dor de cabeça e mais tosse.

Para: Jean

É… isso é horrível. :(

De: Jean

Ah, cara, eu sinto mto mto mesmo. Q q eu posso fazer p recompensar?

Eu sorri maliciosamente. Hmmm, então Jean estava em débito, certo? Perfeito.

Para: Jean

Sopa e um filme.

De: Jean

Sopa E um filme?

Para: Jean

Eu já tenho o filme aqui, você só tem que assistir comigo. Mas eu realmente preciso de sopa… eu não acho que consigo ir até o refeitório sozinho. :(

De: Jean

Ok. Vc vai me fazer ver um filme? Eu tenho q começar a t dever +. Vou trazer a sopa mais tarde entaum. Pode ser 7h30?

Para: Jean:

Tá ótimo!

Oh… e Jean?

De: Jean

Oi

Para: Jean:

É um filme de terror. :)

Controlar meus risinhos enquanto eu apertava o 'enviar' era difícil o suficiente,mas quando a resposta veio eu quase morri de gargalhar.

De: Jean

EH SERIO ISSO?

Para: Jean

Hehe.

De: Jean

N vem c "hehe" pra cima d mim, seu merdinha! Eu n vou concordar com isso, fodase a vida

Eu suspirei.

Para: Jean

Mas Jean! Você me deve! Eu me sinto horrível e gostaria de companhia… :( Por favor?

De: Jean

A sopa n eh o suficiente?

Para: Jean

Não. :(

:(

:(

:(

Eu tive que dar trabalho extra às carinhas tristes. Sua resposta agora demorou mais de cinco minutos.

De: Jean

TA BOM

Eu me mexi de felicidade no chão, me embolando ainda mais nos cobertores.

Para: Jean

Yaaaay! Te vejo às 7h30. Eu moro em Sina, 323 :)

De: Jean

PORRA.

N/A: Muito obrigada por ler!

Eu estive trabalhando nesse capítulo por pelo menos dois dias, mas principalmente nas últimas oito horas. Críticas e comentários seriam muito bem apreciados – não tenha medo de apontar os erros ortográficos ou qualquer outro problema que encontrar, eu fico muito agradecida por isso! (:

Espero que haja motivação para continuar essa fic, yo!

Eu nunca postei nenhuma fanfic online antes, então espero que essa seja uma experiência positiva…? Talvez?

Amo vocês! Espero que estejam gostando da história!

3

N/T: Ah meu deus, isso está acontecendo.

Primeiro trabalho publicado, primeira tradução, primeiro tudo.

A ideia inicial era só traduzir a fic para uma amiga, que adora JeanMarco e deve concordar comigo que não existem histórias suficientes do casal em português. A fanfic original foi escrita pela maravilhosa Lownly (cujo link para o perfil/tumblr planejo deixar na minha descrição) e eu senti que o mundo precisava saber dela.

Muito obrigada por ler! E reviews são muito bem vindas (já repetindo a autora, haha).

Ah, sim! Estou traduzindo também His Beating Heart (o ponto de vista do Jean nessa história). Não deixem de ler o capítulo dele, sim?

Adiós~~