Colégio Ouran

O início

-Primeiro dia de aula após as férias, classe 1A-

Uma garota relativamente alta, de olhos cor de mel, cabelo castanho-claro levemente rosa, o olhar distante mas destemido, o corpo esbelto e uma versão, pode-se assim dizer, mais vulgar do uniforme do colégio. Ela simplesmente entra sem pedir, mascando um chiclete.

Olha ao redor, aparentemente desinteressada, até achar uma carteira vazia. Enquanto anda, demonstra não se importar com os olhares lançados à sua roupa: um vestido tomara-que-caia de um dourado fraco e claro, até o meio das coxas, justo até a cintura e com a saia composta por varias camadas.

Ela era quem mudaria aquela vida deles.

Seu lugar era atrás de Kaoru, entre os de Hikaru e de Haruhi. Seu desinteresse era óbvio, afinal, tudo o que o professor perguntava ela sabia.

Então, interrompendo a fala do professor, ela levantou a mão.

-- Pois não, srta. Higuchi?

-- Sinceramente falando… Posso sair da sala?

A surpresa geral não passou despercebida.

-- Meu professor particular já me ensinou isso. Poderia mandar me chamar quando algo realmente interessante for escolhido? – ela se levantou e saiu, largando tudo, exceto a bolsa, na sala.

Vagava pelos corredores, até encontrar a Terceira Sala de Música.

-- Então é aqui? – ela preparou uma kunai – Vamos ver se é tudo que dizem…

Ela abriu a porta e logo veio a "chuva" de pétalas de rosa. A reação foi imediata. Ela arremessou a kunai no meio, prendendo uma pétala na parede à sua frente e interrompendo tudo aquilo.

-- Er… Bem-vinda… - Tamaki-senpai se mostrou assustado no começo, mas logo se recompôs – O Clube de Anfitriões ainda não está aberto… O que a traz aqui, querida?

-- Vim saber que horas vocês põem isso para funcionar. E confirmar sobre as rosas. – ela se dirigiu para onde arremessara a kunai – É ridículo… - tirou a kunai e se virou para Tamaki – Você é o rei?

-- S-sou…

-- Patético…

Todos presentes pareceram se chocar com aquilo.

-- Bom, vou andando. Ganho muito mais perguntando o horário a qualquer outro.

Dito isso, Sakura se retirou sem a mínima delicadeza. Mas não foi embora, preferiu ficar recostada à porta e ouvir. Sabia que falariam dela.

-- Quem ela pensa que é?! – Tamaki-senpai estava perceptivelmente irritado.

-- Ela é nova, deixe que se acostume. E ela terá que pagar pelo estrago na parede. – Kyouya-senpai ajeitou os óculos. Estava indiferente ao acontecimento.

-- Ela me pareceu meio… Solitária… Não acham? – Hani-senpai abraçava seu coelho e parecia um pouco triste. Olhava pela janela, se lembrando da expressão de Sakura.

-- Sim. – Mori-senpai estava ao seu lado.

Nem Tamaki nem Kyouya, porém, pareciam entender.

-- O que quer dizer com isso, Hani-senpai? Para mim ela parecia ser arrogante e mimada. – Tamaki parecia e se sentia mais confuso do que Kyouya.

-- Você quer dizer que a arrogância que vimos agora a pouco… Era um jeito de esconder sua solidão? – Kyouya estava começando a entender.

Sakura, que já não agüentava mais ouvir, abriu com violência a porta. Seu rosto estava molhado, mas nenhuma lágrima escorria mais. Sua expressão era de fúria.

-- Calem a boca! Vocês não sabem de nada! – ela arremessou a mesma kunai, ao lado de onde havia arremessado antes.

-- Agora terá que pagar por isso também… - Kyouya ignorava os sentimentos da garota.

-- Seus idiotas! Como um clube desses pode fazer tanto sucesso?! Entrei para essa escola na esperança de conhecer garotos descentes, mas são todos iguais! São todos uns idiotas completos! – as lágrimas voltaram a escorrer por seu rosto.

-- Sakura-chan… Eu quero te ajudar a perder essa sensação… Não quero que você se sinta sozinha de novo… Porque isso é… Muito triste… - Hani-senpai estava na frente dela, com uma expressão tristonha.

-- Você deve ser Hani-senpai, do tipo lolito… - ela deu um tapa no rosto do garoto – Pare de falar o que não sabe… Não ache que sua fofura será seu escudo… Você é apenas… Apenas mais um que não sabe de nada!

Sakura chorava e havia e havia levantado a mão para bater-lhe novamente, mas Mori-senpai a segurou.

-- Solte-me já! Não me importa quem é, mas me solte!

Todos apenas observavam. Então Mori-senpai fez algo inesperado, algo que deixou até mesmo Sakura, arrogante e dura até então, sem reação.

Ele a abraçou.

-- Hani-senpai só quer te ajudar. Se você não quer aceitar, então o problema é seu, mas não ouse bater nele novamente. Entendeu? – ele então a soltou.

-- Idiota… - Sakura parara de chorar ao ser abraçada e agora estava com a cabeça abaixada e os punhos fechados.

Hani-senpai se aproximou.

-- Sakura-chan…

-- Sai de perto de mim! – assim que acabou de falar, Sakura saiu correndo, batendo a porta ao sair. As lágrimas escorrendo.

Sakura estava vagando pelos corredores, quando trombou com alguém.

-- Ai! Por que não olha por onde anda?!

-- Ah, Higuchi-san! Finalmente te encontrei! – Haruhi estava de pé e estendia a mão para ajudar Sakura. Estava sorrindo.

-- Você não é a… Haruhi? – Sakura se levantou, mas sem encostar-se à outra.

-- Sim, eu mesma. Como sabe…?

-- Seu segredo? Pesquisei sobre o Clube de Anfitriões antes de vir para cá… Por que se veste como garoto?

-- Longa história… - Haruhi suspirou – Venha, vamos voltar para a sala.

Caminharam em silêncio, como se falar fosse perigoso, como se tudo de antes fosse ocorrer ali, naquele momento.

Quando chegaram a seus lugares, Sakura conseguiu ouvir Haruhi dizer aos gêmeos, da forma mais discreta que conseguiu:

-- Ela sabe.

-O Clube de Anfitriões está em andamento-

Sakura abriu a porta com a maior expressão de indiferença que pôde.

Sentou-se a uma mesa próxima à janela e ficou observando. Só até Hani-senpai aparecer e interromper sua linha de pensamentos.

-- O que você quer, Sakura-chan? – o garoto falava como se nada tivesse acontecido durante a manhã.

-- Tamaki-senpai. – Sakura mantinha-se indiferente.

-- Entendi! – ele sorriu e foi atrás de Tamaki – Tamakiiiiiiiiiiii! Sakura-chan quer vocêêêêê!

Dois minutos depois, Tamaki estava sentado à frente de Sakura, que continuava a olhar pela janela.

-- Sinto muito por hoje de manhã… Por te chamar de patético… Se Haruhi gosta de você, deve ser uma boa pessoa então…

-- Querida, que bom que está melhor… Mas Haruhi… O que sinto é apenas um sentimento pat… - a fala de Tamaki foi cortada por Sakura.

-- Não falei do que você sentia… Mas do que ela sente…Pena que ela ainda se passe por homem e vocês não possam ficar juntos… - ela desviou o olhar para Tamaki, olhando-o com pena – Deve ser terrível… Mas vamos ao que interessa… Você é o anfitrião, me agrade. – ela tinha um sorriso desafiador nos lábios.

Tamaki tentou por um longo tempo, mas Sakura nunca se mostrou encantada. Na verdade, parecia achar ridículo e engraçado.

-- Tamaki-senpai, por favor, pare… Desse jeito não vou parar nunca de rir…

-- Querida, o que preciso fazer para chegar ao seu coração? O que derreterá o gelo sobre ele? O que me abrirá caminho?

-- Sinceridade, pureza, o amor verdadeiro… - ela o olhava desafiadoramente.

Eles sorriram, estavam se entendendo.

Enquanto isso, os gêmeos, que observavam tudo escondidos, não paravam de falar.

-- E então, Kaoru? Acha que o senhor deixará de gostar de Haruhi?

-- Duvido, Hikaru… Ela é apenas mais uma cliente que ficará encantada por nosso senhor.

-- Até que ela é bonitinha…

-- E usa umas roupas interessantes…

-- Se ela não se interessar por nosso senhor, talvez se interesse em nós… Não é uma boa idéia, Kaoru?

-- É ótima! Nenhuma garota até agora resistiu a nós… Você é brilhante, Hikaru!

-- Veja! Ela já está indo embora?

-- Parece que sim… Que pena…

-- Não se preocupem. – Kyouya apareceu atrás deles, assustando-os.

-- C-como sabe…? – Hikaru falou primeiro.

-- A dívida. Ela tem que pagar de alguma forma e sabe. Acho que ela quer aproveitar e se desculpar por hoje de manhã…

-- O que houve hoje de manhã? – os gêmeos não entendiam, deixando isso claro em seus rostos.

-- Ela arremessou uma kunai em nossas pétalas de rosas e abriu um pequeno buraco em nossa parede. – Kyouya ajeitou os óculos.

-- Er… U-um… Buraco…? – Kaoru estava mais assustado do que Hikaru.

-- Exatamente.

-Motor de alta potência-

-- Por que vocês não a tornam uma anfitriã? Vão ganhar mais dinheiro, sabiam? – Renge apareceu com sua risadinha habitual.

-- Renge-kun…! Dá para você perder essa mania…?! – os três estavam visivelmente irritados. Por pouco não resolveram bater nela.

-- Ora, ora! Clientes! Até mais! – e Renge voltou para de onde saiu.

-Dois dias depois O Clube de Anfitriões está em andamento-

-- Kyouya-senpai…! Você disse que ela viria ontem e ela não apareceu! Como você explica isso?! – os gêmeos pareciam frustrados com o acontecimento.

-- Ela não é tão previsível assim… Além de ser nova na escola. – Kyouya parecia não se abalar com a expressão dos dois.

-- Ei! Tem alguém aqui para atender nossa cliente recém-chegada? – Haruhi apareceu atrás deles.

-- Eu vou ver o que ela quer. – Kyouya saiu anotando algo – Ah, Higuchi-san. – ele sorriu – O que deseja?

-- Olá, Kyouya-senpai. – Sakura sorriu para ele. Estava na mesma mesa de dois dias antes – Pode me chamar de Sakura apenas.Hoje o dia não parece mais bonito? – ela agora olhava pela janela, apoiando a cabeça em uma das mãos.

-- Certamente, mas não creio que veio aqui para ficar apreciando a vista…

-- Tem razão… - o sorriso de seus lábios sumiu – Tamaki-senpai está livre? Preciso falar com ele… É importante…

-- Vou chamá-lo então.

-- Obrigada, Kyouya-kun.

Ao ouvir Sakura chamando-o não mais por "senpai", Kyouya sentiu um calafrio nas costas. Lembrou-se então de que era a mesma, porém mais forte desta vez, sensação de dois dias atrás, quando a ouviu rindo.

Algum tempo depois, Sakura percebeu a presença de Tamaki, que a encarava como se tentasse ler sua mente.

-- Aaaaaaaaaaaaah! Tamaki-senpai! O-o que está fazendo…? – ela se recuperava do choque.

-- Só queria tentar descobrir o que se passava em sua mente… - ele se recostou na cadeira e cruzou os braços, a tranqüilidade que sentia exposta em seu rosto – Então, o que queria falar comigo?

-- Queria fazer umas perguntas a você…

-- Faça-as então.

-- Por que criou esse clube e como cada um dos anfitriões e… Renge-san se envolveram nisso?

-Flash-Backs enquanto Tamaki explica (todas as situações são explicadas no anime)-

-- Entendo… - Sakura voltou a olhar pela janela, com os braços cruzados sobre a mesa – Sabe, você não é um bom anfitrião… Ainda não me fez feliz.

-- Pois é, né…? Hehe… - Tamaki engoliu em seco.

-- Não vai tentar?

-- Não, sei que não sou a pessoa certa para isso… - ele voltara a sorrir com tranqüilidade – E você deixou isso bastante claro da última vez… Bom, gostaria de comer ou beber algo?

-- Não… Obrigada, Tamaki-kun.

Ele sentiu-se corar de leve. Era a primeira vez que alguém o chamava assim.

-- Tamaki-senpai, se quiser atender outras clientes, sinta-se à vontade… Mas traga alguém aqui para meu divertimento… - Sakura não tirava os olhos da janela, como se estivesse atraída.

Tamaki se levantou, a expressão serena em seu rosto. Logo seu lugar foi tomado por Haruhi.

-- Como você descobriu, Higuchi-san? – Haruhi se referia ao fato de Sakura saber que ela era uma garota – Não pode ser só pela pesquisa que fez… - ela sentia curiosidade por sua nova colega de classe.

-- Tem razão… Pesquisei os nomes dos anfitriões e de Renge-san no site da escola, mas depois fiz uma rápida pesquisa sobre cada um… Só não achei de você. Incapacidade? Talvez… Mas na hora em que parei os olhos em você pude perceber que você não é de família rica e é mulher. O resto eu sei que descubro convivendo com você…

-- E como concluiu isso? – Haruhi parecia não entender.

Sakura desviou o olhar a Haruhi antes de voltar a falar, mas assim que sua voz começou a sair, seus olhos estavam de novo voltados para a janela.

-- Características básicas… Os traços femininos são extremamente únicos. E se fosse rica, não teria de se vestir assim.

-- Você foi bastante rápida em sua análise…

-- Fui criada assim…

-- Higuchi-san, perdoe minha pergunta, mas… Você já estudou em alguma escola antes?

A expressão distante e tranqüila que estava no rosto de Sakura até então simplesmente sumiu, sua voz atingiu um ar frio, seu rosto parecia mais sério.

-- Fui educada em casa sempre. Por quê?

-- Não é nada… É só que no primeiro dia… Bem, você parecia um pouco insegura sobre como agir…

A expressão de Sakura passou para uma mais tristonha. Ela se lembrou então do que aconteceu depois que deixou a sala de aula.

-- Acontece… Bom, se me permite, eu já vou embora. – Sakura se levantou e saiu, séria, sem falar ou olhar para alguém.