#Capítulo 1: Um noivado longo demais#
O
toque do telefone celular chamou a atenção de Draco Malfoy.
Mexeu-se em sua poltrona de couro de dragão, tateando os bolsos do
paletó para pegar o aparelhinho. Não era muito chegado a objetos
trouxas, mas teve que admitir que um telefonema ou um e-mail eram
muito mais rápidos que enviar uma coruja. Sorriu ao ver quem ligava:
Pansy, sua melhor amiga. E noiva, nas horas vagas.
-Alô?
-Oi,
Draco. Tá muito ocupado?
-Não,
pode falar.
-Vamos
almoçar?
-Ok,
passo pra te pegar em 30 minutos.
-Estarei
esperando. Beijo.
-Outro.
– desligou o telefone e sorriu mais. Parecia que Pansy sempre sabia
a hora exata de lhe telefonar. Aquele dia estava sendo um inferno.
Seu pai aparecera de surpresa pra fazer inspeções (ou bisbilhotar o
trabalho dele, em bom português), a Companhia de Vassouras Firebolt®
estava com problemas de marketing e ele, como vice-presidente da
empresa que detinha a maioria das ações, tinha que resolver isso
logo. Ou teria prejuízo. Blaise, seu sócio e amigo, não ajudava
muito, pois não sabia nada de negócios. Desde que o dinheiro
estivesse lá, ele estava satisfeito.
-Draco,
vamos conversar. – disse Lucius, entrando na sala, sem ser
anunciado.
-Pai,
o senhor de novo por aqui...
-Eu
reparei que você não tem falado mais no seu casamento. – começou
o Malfoy-mor, sem rodeios – Terminou com a Pansy?
-Não!
Claro que não. – Draco respondeu tão rápido que pareceu
suspeito. – Eu não falo porque não temos nenhuma novidade.
-Bom,
e quando vão ter? Esse noivado de vocês já está mais longo que
alguns casamentos. Quantos anos já são?
-Sete.
– resmungou Draco.
-Sete
anos... Se eu tivesse quebrado um espelho no dia do seu noivado, a má
sorte já teria passado.
-Pai,
não começa. – o rapaz começou a arrumar a mesa pra sair – Já
tô com a cabeça cheia de problemas pra agüentar sermão.
-Só
fique sabendo que não vai herdar essa empresa se não se casar.
-E
que diferença vai fazer um papel e uma aliança? Eu já mando nessa
empresa sendo solteiro, acha que se me casar, vou ser mais
competente?
Lucius
ergueu as sobrancelhas e Draco percebeu que fora longe demais.
-Pensa
que é quem pra falar nesse tom comigo, rapaz?
-Me
desculpe. Não pretendia me exaltar. – o toque do celular de Draco
se fez ouvir e ele o pegou, aliviado. "Tomara que seja a Pans!",
pensou antes de olhar o visor e ver o nome de Blaise. "Ah, que se
dane, vai ter que servir" – Oi querida.
-Iih,
qual é, Draco? Tá me estranhando?
-Eu
já to saindo. Tô terminando uma conversa com meu pai.
-Ah,
o paizão tá botando uma pressão, né?
-É,
isso mesmo. Vou te buscar, tô saindo agora.
-Tá
bom, meu amor. – debochou Blaise – Vou bater um bolo pra você,
tá?
-Até
daqui a pouco, tchau. – e desligou. A farsa pareceu enganar o pai,
pois este estava com uma expressão mais satisfeita – Bom, se o
senhor me dá licença, vou encontrar minha noiva.
-Aproveite
pra marcar a data. Pare de enrolar a moça.
Draco
vestiu o paletó, despediu-se rapidamente do pai e saiu. Tinha que
falar com Pansy pra acabarem de vez com aquilo, seus pais não
mereciam serem enganados
assim.
+
-Ai,
Merlin, o quê aconteceu com esse vestido?
-Eu
não sei. Chegou assim da confecção!
-Está
arruinado! – Pansy passou as mãos nos cabelos e fechou os olhos
com força.
-Acalme-se,
podemos tentar dar um jeito. – disse a secretária, cautelosa.
-Que
jeito?! Jane, esse vestido tem que ser entregue a Celestina Warbeck
até amanhã! É um modelo exclusivo que ela vai usar na entrega do
Prêmio Sathirus. Agora me diz, como eu vou explicar pra uma das
cantoras mais famosas do país que ela não vai ter o que
vestir??
-Podemos
modificar um dos modelos prontos e pedir urgência na confecção. –
sugeriu Jane.
A
morena sentou em um pufe e afundou o rosto nas mãos. Odiava quando
as coisas fugiam ao seu controle. Falou com a secretária sem
levantar a cabeça.
-Pega
aquele vestido azul-petróleo que tem xale de seda, é o único que
vai caber nela mesmo...
Mais
que depressa, a assistente trouxe a peça e a pôs num cabide. Pansy
pegou uma prancheta e com um lápis fez o esboço e as modificações
necessárias. Seus olhos e mãos trabalhavam febrilmente.
-Jane,
arranja outra confecção. Com essa, eu não trabalho mais. –
disse, sem tirar os olhos do vestido e da prancheta.
-Ok.
– antes que a moça chegasse ao telefone, este começou a tocar.
Jane apressou-se a atender, antes que a chefe tivesse uma crise
nervosa – Alô?
-Aqui
é a senhora Parkinson. Eu quero falar com a minha filha.
-Pois
não, sra. – dirigiu-se à morena – Pansy, é sua mãe.
-O
que ela quer?
-Acredito
que queira falar sobre o casamento. Em geral, ela só liga pra tratar
desse assunto.
-Ai
Merlin, daí-me paciência. – pegou o fone – Alô?
-Querida,
estava conversando com a Narcisa e comentei que suas flores favoritas
são lírios, mas ela disse que Draco é alérgico. O que você acha
de trocarmos por rosas brancas?
-Mãe,
do que você tá falando?
-Do
seu casamento, filha. Do que mais seria? – Melissa Parkinson usou
aquele tom de "isso não é óbvio?" ao responder.
-Mãe,
aconteceu uma tragédia aqui no ateliê e você liga pra falar de
casamento? O que você tem na cabeça? – esbravejou a moça.
-Eu
me preocupo com a sua vida. O que é mais importante do que o seu
relacionamento?
-Qualquer
coisa! Agora, por favor, mãe, me deixa trabalhar. Tchauzinho. – e
desligou. A secretária atônita, a encarava com a boca entreaberta –
O que foi, Jane?
-A
sua mãe deve estar muito zangada agora.
-Bom,
ela não vai morrer por causa disso. Parece não saber que o mundo
não gira em torno dela...
-Pansy,
o que ela não sabe é que você não quer se casar com o Malfoy. Pra
ela, os preparativos estão indo muito bem.
-Ai,
não quero pensar na minha mãe agora. O lançamento da próxima
coleção tá aí e eu não tive nenhuma idéia genial pro tema do
desfile. – o som do celular pareceu acalmar a morena, pois
reconheceu o toque exclusivo – Oi Draco. Já to descendo. –
dirigiu-se à secretária – Jane, eu não volto hoje. Se alguém
perguntar, você inventa alguma coisa, tá? E se minha mãe ligar de
novo, diz que eu fui almoçar com o meu noivo.
-Ok.
-E,
por favor, manda o vestido pra confecção.
-Aquela
de emergência?
-É.
E procure uma confecção nova.
-Sim,
senhora. – respondeu a secretária, sentando à mesa e pegando o
telefone.
Pansy
pegou suas coisas e saiu, absolutamente preocupada com a obsessão
que sua mãe tinha pelo seu
casamento.
+
Draco
e Pansy foram a um simpático restaurante que já freqüentavam há
algum tempo. Ocuparam sua mesa reservada.
-Você
me salvou de uma boa hoje. – começou Draco.
-Por
que?
-Meu
pai foi me interrogar.
-Deve
ter combinado com a minha mãe, então. Ela propôs trocar os lírios
por rosas brancas porque você é alérgico.
-Realmente
sou alérgico, mas do quê ela estava falando?
-Decoração
do casamento.
O
louro suspirou, cansado. Aquele assunto já se tornara mais do que
cansativo.
-Meu
pai me intimou. Disse com todas as letras que se eu não me casar,
não herdo a empresa.
-Ele
já não fez isso antes? – perguntou a morena, sorrindo.
-Já,
mas dessa vez foi mais sério. Não tá dando mais pra enrolar, Pans.
Estamos oficialmente noivos há 7 anos! É muito tempo!
-Eu
sei, mas meus pais terão um ataque se eu disser simplesmente "Gente,
apesar de ter passado 7 anos noiva, eu não me casar com o Draco.
Vocês entendem, não?" Minha mãe jogaria um sapato na minha
cabeça...
-Isso
seria ainda melhor que ser azarado. Não espero menos de Lucius
Malfoy. – o louro fez uma pausa –Mas não tem outro jeito. Nós
temos que terminar.
-Dá
tempo de comprar uma passagem só de ida pro fim do mundo? –
brincou Pansy.
-Não
mesmo. Estamos ficando sem tempo. E sem desculpas.
