Essa estória já está escrita há um tempo, mas eu ainda acho que foi a melhor que eu já fiz até hoje.

E vocês, o que acharam?

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Ele é o cara mais incrível que você já viu, você sabe tudo sobre ele, você o admira, o entende, o apóia. Ele não sabe nem o seu nome. Você conhece todos os detalhes da vida dele, desde nota da escola, relacionamentos anteriores, email, telefone. Ele é o irmão mais velho do seu amigo. Você é apenas um coleguinha que a mãe dele chamou pro almoço.

E pelos últimos três anos, ele é tudo o que você mais quer, você não sabe o que fazer pra estar perto dele, mas você sabe que precisa. Você não consegue agir naturalmente perto dele, você sempre está falando nele, você sempre defende ele, mesmo sabendo que ele está errado. E você faz as coisas mais ridículas por ele. Desde que se descobriu apaixonado pelo irmão do seu melhor amigo- a parte, 'eu sou gay' você já havia superado- você tem agido como um verdadeiro retardado.

O que te deu na cabeça pra começar a ir aos bares que ele freqüenta? No que você estava pensando quando leu os livros que ele leu, assistiu os filmes preferidos dele e ouviu aquelas bandas que você nem conseguia entender o que estava tocando? Só pra ele te achar legal e prestar atenção na sua existência?

Aqueles olhares que ele retribuía depois de você passar quase vinte minutos o fitando, não é o bastante? O sorriso de canto sempre que você baixava a cabeça com as bochechas queimando de vermelha, não te satisfazia, não é? Tudo bem, é compreensível. Afinal, por que se contentar com esse pouquinho, se você sabe que se expor mais um tanto, a recompensa é maior? Você se tornou praticamente o segurança dele, o anjo da guarda. Você sabe onde ele está, quando e por que. E ele nem nota que você está sempre por perto. Sempre ali, se contentando com migalhas da atenção dele, invejando aquele bando de estranhos que são os amigos dele. E você se pergunta o que te falta para que ele te note.

E você não sabe o que fazer com esse bolo na sua garganta. Esse bolo que te faz querer berrar, e ficar invisível ao mesmo tempo. Que não importa o quanto você engula em seco, só faz aumentar. E essa tristeza que vem como bônus, e tudo o que você queria é que ele te visse, é que ele te abraçasse e dissesse que não vai deixar você chorar de novo. E você se pergunta se vale a pena mesmo, se ele vale isso tudo. E aí, você desiste, você diz que vai tirar ele da cabeça, que sofrer à toa e sozinho não compensa.

E você cria um ódio dele. Você passa a odiar ele por te fazer sentir tudo isso, por te fazer feliz e triste ao mesmo tempo, você o odeia por não notar que você é capaz de fazer ele mudar de opinião quanto à relacionamentos. Você o odeia muito por te deixar sozinho nessa guerra, nessa avalanche de sentimentos desconhecidos que você não faz a menor idéia como lidar. E você diz que não vai se deixar encantar por ninguém assim novamente.

E então, no dia seguinte ao término do seu amor por ele, você o vê. E você não acha que já tenha visto algo tão perfeito, tão bonito, tão sexy, tão Gerard em toda sua vida. É como se ele tivesse visto sua crise ontem à noite e estivesse fazendo isso tudo pra te reconquistar. E você cai nessa feito um patinho, você não consegue desviar o olhar dele, é um imã.

Aquele cabelo oleosamente macio, a pele de pêssego tão branca que te faz querer morder-lo só pra deixar algo vermelhinho nele, e esses malditos olhos perfeitamente olivas, que te encaram como se você fosse mais um poste que compõe a paisagem. E você fica lá, suspirando apaixonadamente enquanto o mundo parece um borrão. E você fica tentando imaginar o que se passa na cabeça dele quando ele passa por você.

Será que enfim ele te viu? Será que finalmente suas lágrimas de decepção consigo mesmo cessarão? E você cria mais uma de suas cenas, aonde ele vem até você, e vocês conversaram num café e ele se vê apaixonado por você, e vocês têm um relacionamento conturbado, cheio de briguinhas e reconciliações, mas nada que não se resolva, porque acima de qualquer coisa vocês se amam. E você ri de sua própria estúpida cabeça e você se odeia dessa vez. Porque mesmo que você tente, você nunca vai conseguir superá-lo.

Aí, você se rende, e caí aos pedaços no banheiro da escola. Você se esconde na última cabine do banheiro, e lá você tenta liberar todo esse inferno em que você se meteu, você implora por uma solução, por uma chance, por um buraco onde você pudesse se esconder. Ou então, que você pudesse esquecer, você implora pra que isso tudo, que seu coração, seja arrancado de você, e enfim você possa ter paz. Você implora por não sentir mais nada, nunca. Porque é triste, é dolorido, e ninguém deveria poder fazer isso com você. Ele não deveria ter o direito de fazer isso.

E você se revolta, não adianta ficar na escola e esperar mais um intervalo pra ver ele, você não quer mais se machucar, você definitivamente está desistindo do seu príncipe. E você inventa qualquer desculpa pra dar ao porteiro, e vai pra casa. Mas você esqueceu como o mundo te odeia, e antes de sair, Mikey te vê. E vê também o estado em que você se encontra.

"Frank, o que houve?"

E tudo o que você quer fazer é mandar ele e o mundo se foder, mas você não é capaz de fazer isso. E você só dá um sorriso triste e quase sem mover os lábios, diz que não é nada, e só quer ir pra casa. E ele te deixa ir, porque ele sabe que quando você quiser falar, você vai falar. E ele vai ser o primeiro saber o que está acontecendo, você só precisa de um tempo.

E quando você chega em casa, você está um tanto melhor, mas ainda precisa desabafar, você tem que colocar isso pra fora. Talvez assim, talvez tirando o que você sente de dentro de você, você se liberte disso. E talvez assim, você volte a ter aquela paz, que você nem lembra mais como é.

E você resolve escrever tudo o que você quer, você faz uma lista dos pontos que você mais odeia nele. Como se um dia ele fosse ler, como se sequer isso passasse pela cabeça dele. E você passa a tarde escrevendo, e só se dar conta que já está escuro porque sua cabeça começou a doer pelo esforço de escrever em pouca luz. E você se lembra de Mikey, e que ele deve estar preocupado com você.

E você vai à casa dos Way. E parece que você esqueceu o que ir à casa dos Way significa. E só quando aperta a campainha e um Gerard descabelado e suado te atende, é que você cai na real. E seu coração nem tem tempo de funcionar, ou você soltar a respiração que você nem se lembra de ter prendido. E você se arrepende da hora em que acordou, quando ele lança aquele sorriso atravessado e entra em casa gritando.

"É pra você, Mikey". Sem nome, sem boa noite, sem um pode entrar, nada. Ele faz questão de ser cruel, de te ignorar.

"Quem é, Gee?" E nesse momento você queria ser o Mikey, só pra poder chamar ele de Gee, poder vê-lo a qualquer momento, em qualquer ocasião. Você queria que ele ao menos te direcionasse um olhar.

"É o pequeno." Bastardo, é tudo que você pensa. Não é possível que ele seja tão indiferente, tão nem aí pra você que não possa nem dizer seu nome. "Desce logo, eu preciso de um banho!"

E você não consegue fingir que não imaginou a cena. Não consegue disfarçar o ofego que saiu entre seus lábios mordidos, só pela citação dessa frase. Maldito e provocador, isso é o que ele é. E por dois minutos, você viajou totalmente nessa idéia, por dois minutos você esqueceu o porquê de estar ali, e suspirou mais uma vez. E enfim, Mikey aparece, e você acha que nunca ficou tão feliz com as palavras "Vamos pro meu quarto, Frank." Porque lá ninguém vai ouvir vocês, lá você vai poder chorar no colo do seu amigo, e ninguém vai descobrir, ninguém se importa de você chorando, de qualquer maneira.

"Eu estou tão desesperado, Mikes." E antes mesmo que ele tivesse a oportunidade de fechar a porta do quarto, você se joga nos braços dele e começa um choro intenso, um choro libertador, onde você nem se dá conta da preocupação que está estampada no rosto dele, na forma como ele te abraça e pede pra você se acalmar. Você não quer se acalmar. Pra que? Se quando você parar de chorar, você sabe que vai tudo voltar a ficar como era. Você não vê solução, você quer se declarar, mas você sabe que essa é a coisa mais estúpida a se fazer. "Eu estou tão apaixonado por ele, Mikes. Eu o amo tanto, e ele nem sabe que eu existo."

"Quem, Frank? Do que você está falando?" E você nem escuta o que ele diz, tudo o que você prende tanto, há tanto tempo, simplesmente sai, escapa de uma forma tão fácil, que você se pergunta se sairia assim, caso você intencionasse.

"Eu não sei mais o que fazer pra ele ver que eu existo. Eu sou tão insignificante assim? Será que eu sou tão estranho que ele nem é capaz de me notar? Por que ele? Com tanta gente no mundo, por que eu fui amar justo ele, Mikey?"

E o carinho que ele fazia na sua cabeça, o abraço apertado era tudo o que você precisava no momento, era o combustível que você precisava pra continuar aliviando seu coração. Você retribuía o abraço com todo seu desespero, você apertava suas mãos na camisa dele, como se isso fosse capaz de tirar toda a dor que você sentia. Como se ao apertar a camisa dele, você fosse capaz de fazer com que o aperto no seu coração diminuísse, mas não funciona. Não importa que você esteja praticamente rasgando a camisa de algodão dele, não funciona. O seu coração dói, infernos, dói muito e isso vai tirar seu juízo.

"Frank, calma. Respira fundo, pelo amor de Deus." E você obedeceu, você tentou fazer com que o oxigênio transpassasse o nó que tinha na sua garganta, mas não deu. Então, parecendo um pequeno bebê, você puxava o ar várias vezes, soluçando. "Isso, assim. Agora, por favor, me explica o que está acontecendo com você."

"Eu estou apaixonado pelo Gerard, Mikey." E você agradeceu por seus olhos estarem embaçados, assim você não teve que encarar a reação dele. Você colocou as mãos no rosto, tanto pra se proteger do que ele dissesse, como para tentar colocar a cabeça no lugar. Sua última sentença foi muito longe de qualquer coisa que você já tinha dito. Nem pra si mesmo, você foi capaz de dizer com todas as letras o que você sente. "E eu não sei o que fazer, eu o quero tanto. Eu preciso dele, e eu nem falo com ele. Isso é tão ridículo, eu me sinto tão patético, Mikey, tão patético."

"Sabe, eu fico horas sonhando acordado, eu passo a porra do meu intervalo todo olhando pra ele, suspirando por ele. Eu faço tudo pra estar perto dele, e de que vale? Cadê ele? Onde está ele, que não está aqui me consolando? É revoltante!"

"Você nem fala com ele, Frankie. Como você ama alguém que você não conhece? Acorda, cara."

"Eu o conheço. Eu sei tudo dele, eu sei todas as cachorradas que ele é capaz de fazer, sei tudo o que ele gosta e não. Ele só não sabe que eu sei. Ele só não dá a mínima pra isso."

E você passa as mãos por suas feições tristes, e você seca seu rosto banhado em lágrimas com as costas das mãos. E então tudo está claro de novo, você se dá conta de onde você está, e você olha no rosto do seu melhor amigo e pergunta com os olhos o que fazer, você espera olhar pra ele e ver a solução dos seus problemas. Ele é o irmão dele, oras. Ele tem a obrigação em te ajudar, não é? Claro que não, você nunca foi disso, não vai ser agora que você vai virar uma marica que precisa de alguém pra conseguir o que é seu.

E então você vê um vulto na porta e você reza a todos os santos que você conhece pra que não seja quem você está pensando. E as lágrimas começam a escorrer livremente quando você percebe que sim, essa é a sua passagem sem escalas para o inferno. Ele está parado lá, com uma expressão confusa no rosto bonito. E ele descobriu. Da forma mais ridícula, estúpida e infantil possível. E agora você está chorando de vergonha, por que você realmente não sabe como vai sair desse quarto, como vai fazer pra esquecê-lo, porque depois dessa não tem mais salvação. Ele vai rir de você e já era suas esperanças.

Mas você conseguiu o que queria, não conseguiu? Ele te notou, ele sabe que você está apaixonado, que você segue ele, que você é paga-pau dele. Que mais que você quer, não? Agora você vai pra casa, ligar o gás, e deixar que aquilo te livre do seu problema. Muito adulto da sua parte.

E com esse pensamento, você entra em uma crise nervosa de riso, porque você simplesmente acabou de passar a maior vergonha da sua vida. Sair pelado na escola, cair no meio do pátio, perder de ano, apanhar de algum brutamonte. Puts, isso é fichinha, isso em dois dias, três no máximo, você já superou. Agora Gerard sabendo de você, te olhando com aquele ar superior e te ignorar mais do que já faz, e ainda correr o risco de virar piadinha pros amigos dele? Isso sim é insuperável, isso sim é motivo suficiente pra implorar a seus pais pra mudar de planeta.

E a cara de Mikey quando você começou a rir, é a ainda mais divertida, e suas gargalhadas são tão altas que você teme que os pais dele reclamem, mas você só não consegue controlar. O cenho franzido em confusão e os óculos quase caindo pelo nariz fino, além da cabeça jogada um pouco pro lado. Cara, você deveria tirar foto disso, é digna de mural, com certeza. Mas aí, você ouve a risada de alguém soar mais alta que a sua no telefone, e esse alguém, está marcando um encontro com outro alguém -que você sabe quem é- e está saindo. E você agradece por isso, porque você não queria mesmo ter que encarar ele hoje, na verdade, você não quer encarar ele mais nessa vida.

E agindo o mais contraditoriamente possível, você sai do quarto exatamente na hora em que ouve os passos dele subindo pela escada. Você precisa vê-lo, seu coração já está despedaçado mesmo, que custa mais uma olhadinha? E vale a pena, ele te olha, ele passa por você e ele te olha. E você não sabe o que fazer, porque ele está te olhando. E você pode jurar por qualquer coisa que ele parou por um milésimo de segundo, esperando sua reação. Que não veio. Você está congelado e você sente suas bochechas queimando, e o máximo que você consegue fazer, é abrir a boca e fechar, e descer as escadas quase que tropeçando.

"Hey Pequeno!" Você está ficando louco, olha até que ponto você chegou. Você já ouve vozes, você precisa de tratamento, é sério. "Você já vai?"

E você está num estado tão grave de doença, que você já está o ouve perguntando algo a você, querendo saber de você, mas será mesmo possível? E com o máximo de coragem que te sobra, você olha pro topo da escada. E você segura firme no corrimão, porque porra, ele está lá, ele está com aquele sorriso enviesado e com a mão na nuca. E você sabe muito bem quando ele faz isso. Quando ele está flertando com alguém, quando ele estava jogando seu charme em alguém. E você não quer -como também não pode- acreditar que é com você isso.

"E-eu?" E sim, você olhou para trás para conferir se tinha alguém. E sim, você quase engasgou ao engolir em seco tão fundo. Ele está falando com você, ele não te odeia e esses olhos estão dirigidos a você. Sim, esse sorriso se abrindo é por sua causa! "É, estou. Eu já falei com o Mikey e... É."

"Hum, é que eu vou à casa do Bob, que é vizinho seu, e se você esperar um pouquinho, enquanto eu troco de roupa, eu posso te acompanhar..."

E você se está quase se matando pra não abrir o maior sorriso da sua vida e dar saltinhos por isso. Então você pigarreia, e fala o mais normal possível, o que vem a ser com um sorriso realmente feliz no rosto. "Tá, eu espero aqui embaixo."

"Não demoro." E, por todos os deuses, ele piscou. Gerard-seu príncipe-Way, piscou pra você! E ele entrou no quarto a passos rápidos, porque você está esperando aqui fora. E você se libera, você dá três pulinhos de felicidade e olha pro teto, sei lá, você só está agradecendo. E toda aquela dor, todo aquele pesar, foi tudo embora, não sobrou mais nada. Você nem consegue lembrar a dor aguda e cruel que você sentia há o que, três minutos atrás?

E você começa a ensaiar sobre o que vão conversar, e imaginar como vai ser o beijo, será que ele vai pedir? Será que vai ser escondido? Será que ele vai segurar sua mão? Ou vai ser atrevido? Porque você sabe o que está acontecendo na casa do Bob, é uma festa, uma orgia, pra ser mais claro. E era disso que você estava falando, quando mencionou que sabe das cachorradas dele. Mas é a vida dele, ele gosta e tudo que você pode fazer, é rezar pra que ele se cuide, ou não pegue ninguém.

E o cheiro delicioso daquela colônia que ele usa, invadiu a casa. Tomou sua respiração e você inalou profundamente e fechou os olhos pra sentir todo aquele aroma, pra sentir ele da forma mais impregnante que você já viu. "Desculpa, não estava achando essa blusa, vamos?"

E depois dessa aparição, tudo o que você pode pensar em dizer é que você iria com ele a qualquer lugar, você faria qualquer coisa, por ele, pra estar com ele. E sim, você não se importa o quão submisso está soando, você é dele, você necessita dele. Logo, ele pode fazer o que quiser com você, ao menos você está com ele. "Uhum."

E vocês começam a andar em direção à sua casa, sua cabeça está cheia do que vocês poderiam estar conversando. Você nem consegue acreditar ele está do seu lado, e você não sabe se aproveita essa chance pra captar todos os detalhes que você não consegue ver do outro lado do prédio da escola, ou se finge que o chão é mais interessante e não levanta a cabeça.

Você opta pela segunda opção, é melhor ser prudente. Se você der sorte, é capaz até de que ele fale com você nos intervalos, e isso seria realmente o máximo. Você nem percebe o sorriso que toma seu rosto, por estar olhando o all star preto básico dele, você está no céu só por isso. E você sente esse impulso de tocar ele, só pra ver se é de verdade, só porque nos seus sonhos você não pode, mas coragem é tudo o que você não tem. Então você aperta suas mãos juntas, pra evitar que elas se descontrolem. E você não consegue evitar que seus olhos procurem pelo corpo dele, você o fita de canto de olho, tentando ser o mais discreto que pode.

"Está uma noite agradável, não é?" Você não acha que é possível que seu coração bata mais rápido, e que seu estomago aperte ainda mais esse nó, fora suas pernas... Cara, amar não é saudável.

"É, o tempo está bom hoje. A chuva de ontem foi realmente chata, não pude sair o tempo todo."

E por causa do tempo, oh clichê, vocês começaram uma conversa sobre amenidades. Tão engraçado ele falando sobre coisas que você já sabia, e sempre que isso acontecia, você tinha que morder o seu lábio inferior pra não parecer tão por dentro do assunto, ou pra não rir quando ele falava empolgado sobre um caso que você presenciou, e viu exatamente como aconteceu. E o jeito que ele movia os lábios, gesticulava, ria, por Deus, você estava no paraíso e sua casa nunca esteve tão perto, só por causa disso.

Você só notou que já estavam no portão da sua casa, por causa de um desses momentos em que o silêncio toma conta, enquanto um novo assunto está sendo elaborado. E com um suspiro inconformado, você imagina como se despedir dele, como o deixar participar daquela festa e correr o risco dele conhecer alguém que tome seu lugar.

"Aqui estamos, então."

"Pois é, foi bom te conhecer, pequeno. A gente se vê."

"Por que você não me chama pelo nome?" Você disse, na verdade era só um pensamento, e você torce pra que tenha saído tão baixo que ele não tenha entendido, ou que não tem soado tão arrogante, como soou para você.

"Porque todo mundo te chama pelo nome, é meio... Simples demais."

Você franze um pouco as sobrancelhas em confusão, mas não fala mais nada. Você não quer que ele te ache um chato e suma de sua vida, nem pensar. Logo agora que seu coração parece que encontrou um compasso, num ritmo bem mais alto que o normal, mas ainda assim, um compasso. E você acha que um sorriso de canto é o suficiente, e se vira pra entrar em casa.

"Espera, eu quero te pergunta uma coisa."

E pela primeira vez na sua vida, ele te tocou. Mais que isso, ele te segurou, ele está te impedindo de entrar em casa e sabe por quê? Porque ele tem algo para falar com você, e você quase enfarta com a sensação dos cinco dedos dele em volta do seu pulso, e você olha fixamente pra isso, como se fosse a coisa mais fantástica que já aconteceu, e é! Cara, você paralisa, você quer sentir esses dedos no seu pulso até a hora de morrer. O que vai acontecer, caso você não volte a respirar.

"Frankie, você está bem?" E por tudo o que é mais sagrado, você não faz a menor idéia do que responder. Não pode estar bem! Você mal consegue se apoiar em suas pernas, como é possível que esteja bem? Mas é tão bom, você sente que isso é mais um motivo que você acredita que você está no céu, no inferno, que seja. É aqui que você pertence, é a ele. E você olha no rosto dele, nos olhos dele, Deus! Ele é de verdade? Ele está aqui mesmo? Você não está sonhando de novo?

Antes que você pudesse parar, seus dedos tocam a bochecha dele e você engole em seco, quando o macio, suave e quente da pele dele encosta em seus dígitos. Você não está raciocinando, e é só por isso que você esfrega a ponta de seus dedos pela pele dele. Tocando tudo aquilo que você chorou tanto por. Você não consegue enviar a quantidade de sangue que seu coração pede e essa adrenalina que corre por seu corpo praticamente te joga no abismo que é se atrever a dar mais um passo próximo a ele.

E sua mão alcança aqueles fios negros, brilhantes, tão macios, tão finos e oleosos. E ainda sem noção do perigo, você estuda a forma perfeita com que os fios de cabelo dele escorrem entre seus dedos e voltam pro lugar. E você faz isso de novo, porque você precisa ter isso memorizado na sua cabeça para o resto de seus dias.

Você é brutalmente puxado de volta a realidade, quando uma mão toca sua cintura. E quando, com os olhos arregalados, você o fita, ele está sorrindo. Aquele malditamente perfeito sorriso que faz com que você perca todos os sentidos, na verdade você não os perde, eles apenas estão totalmente focados em Gerard. E ele está soltando seu pulso, você seria capaz de reclamar se não fosse tão petulante da sua parte. E se ele não estivesse fazendo isso para entrelaçar seus dedos com os dele. Deus, suas mãos se encaixam tão perfeitamente, seus dedos estão tão bem acomodados nesse aperto forte. A palma dele é quente, contrastando com a sua que está gelada, e isso envia arrepios por toda sua espinha. Você quase fecha os olhos pra sentir isso com a intensidade que merece.

Sua mão no cabelo dele começa a fazer uma massagem suave em sua nuca. É a forma que você encontrou de dar a ele um pouco de prazer nisso também. Você sente como se tivesse se aproveitando dele por estar tão próximo, por sentir a ponta do nariz dele roçando na sua bochecha. Você fecha os olhos, você os aperta bem forte porque a respiração que ele soltou contra o seu maxilar foi capaz de fazer a situação piorar mais ainda. A sensação foi tão arrebatadora, que você não intencionou quando puxou o cabelo dele levemente, quando umedeceu os lábios. E você sentiu um aperto suave na sua cintura, como se estivesse te alertando que sim, ele estava ali, com você, por você.

E você juntou toda a coragem que não tinha, tirando a confiança de não sabe onde, você virou seu rosto. E você encostou seus lábios no canto dos lábios dele e deixou lá. Você não se moveu, você ficou apenas lá, sentindo a textura da pele dele nos seus lábios, sentindo a respiração que saia pelo nariz dele na sua bochecha. E no segundo seguinte, seus lábios conectaram.

Ele os pressionou firmemente contra os seus, e nesse momento você quase chorou de alegria. Na verdade, você nem sabe se não chorou mesmo, porque tudo estava girando, porque você sentia seu coração tentando quebrar suas costelas, você sentia que estava no meio do universo, não havia chão, parede, teto, nada. Só os seus lábios conectados, suas mãos apertadas juntas, a mão dele que agora estava no meio das suas costas, te puxando pra perto e a sua mão que arranhava a nuca dele.

E então você o sentiu friccionando seus lábios juntos e a ponta de sua língua tocando levemente seu lábio superior, pedindo passagem. E você podia jurar que estava a ponto de desmaiar, porque Ger, o seu Ger, está querendo te beijar, ele está tentando invadir a sua boca porque ele também quer sentir o seu gosto. E você a deixou entrar. E quem é você para negar qualquer coisa a seu príncipe, não é verdade? E quando suas línguas se tocaram, você podia jurar por qualquer coisa, que era capaz de ouvir sininhos tocando na sua cabeça, as estrelinhas já faziam parte do cenário desde que o viu no topo da escada, já havia se acostumado.

E você o beija com toda a paixão que sente, todo o amor reprimido por quase três anos estava sendo liberado na forma quase que insana que vocês moviam os lábios. E a sincronia desses movimentos te fez duvidar se realmente era a primeira vez que se beijavam. Se numa vida passada, vocês também não estavam juntos.

O ritmo do beijo só faz aumentar, é como se a cada vez que suas línguas se tocam, a cada vez que vocês mudam a posição da cabeça, é como se essa fosse a única forma que você encontra pra dizer que o ama, que o adora, o venera com cada fibra que compõe sua tez. Você o ama com sua alma. E isso é a única coisa que você pode pensar com certeza no momento.

E tudo parece tanto com um sonho, que você começa a se desesperar quando fica o oxigênio se torna escasso. Você não quer aceitar a hipótese de ter que se descolar desses lábios e acordar pra uma realidade onde você não vai poder tocá-lo de novo, onde você vai voltar a fazer parte da paisagem, e isso vai ter ficado só na sua mente. Então, você termina esse beijo, o enchendo de selinhos e ainda com os olhos fechados você o abraça fortemente, pedindo por carinho, implorando pra que ele não termine com seu sonho tão rapidamente como você imaginava.

E ele não se afasta, pelo contrário, ele passa os dois braços por suas costas, te abraçando protetoramente, devotamente. E você encaixa a cabeça no pescoço dele, e você abre o maior sorriso de sua vida por estar inalando tão profundamente o cheiro de banho dele, você duvida se alguém é capaz de ser tão único e tão perfeito pra você, como ele. E você beija suavemente o seu pescoço, e se lembra de todas as vezes que se imaginou deixando uma marca lá.

E é impossível resistir a essas "lembranças" com o pescoço dele assim tão próximo. Uma pequena, suave e doce mordida. E como resposta, você ganha um som gutural e um aperto ainda maior no abraço. E você ri de canto, não acreditando que você, Frank Iero, achou um ponto sensível em Gerard Way, esse é o tipo de coisa que você jamais saberia de outra maneira. E ele se afasta de você, o suficiente pra olhar no seu rosto e selar seus lábios mais uma vez.

"Vamos ao cinema amanhã?" E o tamanho do sorriso que você abre, o brilho mais que apaixonado que afeta seus olhos, cara, você não tem como demonstrar mais que o ama.

"Claro, eu adoraria."

E até parece que você seria capaz de negar alguma coisa a ele, que você seria capaz de dispensar a companhia dele. Afinal, ele é o seu estúpido amor platônico, e só isso é o suficiente pra você aceitar ir até a Lua com ele, por ele. Contanto que ele esteja lá com você, guiando você.

FIM.

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