Magia
Eliza estivera doente a vida inteira, ele soubera. Ela era uma criança supreendentemente bonita e gentil que não podia por sequer os pés pra fora da cama.
O jovem Johann Fausto VIII ia brincar com ela, às vezes.
"Vou te mostrar uma coisa." Ele declarou. Tirou uma moeda do bolso e estendeu-a para a garota. "Está vendo?" Ela olhou bem de perto e fez que sim com a cabeça. De repente, com um movimento de mão, a moeda desapareceu. Eliza soltou uma exclamação de surpresa.
"Como fez isso?"
Fausto sorriu. "Mágica."
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"Johann?" Ela perguntou, depois de várias horas em silêncio.
"Ja?"
"Como é o mar?"
Ela olhava pela janela as ruas que seus pezinhos jamais tinham tocado, o vento que jamais sentira no rosto. Fausto comoveu-se tanto quanto uma criança de oito anos pode se comover.
"Eu queria ver," Ela abraçou os joelhos, ciente de que não teria uma resposta. "como será que é andar pela areia?"
"Algum dia, eu te levo lá. Prometo."
Ela riu, um pouco machucada. "Eu não posso andar, Johann, seu bobo."
"M-meu pai," Fausto engoliu em seco. "disse que não consegue descobrir o que está errado com as suas pernas."
Silêncio. Frio, apesar do sol.
"Então eu posso andar?"
"Não sei," Fausto admitiu. "ele disse que ia conferir seus nervos, mas que não há nada errado com os ossos."
Eliza fitou o garoto à sua frente e ele corou, sem saber se dissera a coisa certa. Não queria machucá-la. Ela era linda, e cheirava à cor-de-rosa e limão.
"Johann," Ela falou de repente, mexendo-se. "me ajude aqui."
Fausto levantou-se e correu para ela. Pela primeira vez, suas mãos ásperas tocaram as dela. Um segundo antes que acontecesse, ele soube.
Apoiando-se firmemente nele, Eliza pôs os pés para fora da cama.
"E-Eliza," Ele estava apreensivo ao vê-la de pé, mesmo que inteiramente apoiada nos seus braços. Era leve como uma porcelana. "não sei se é uma boa idéia."
"Eu também não." Ela admitiu, ainda corajosa e maravilhosamente de pé. "Você não precisa ficar aqui, Johann."
"Eu sei que não."
Mas ele ficou, e ela deu seu primeiro passo, incerto e abençoado.
"Mágica."
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Fausto pediu que a levassem para a sala de operação. Mas, antes que a ordem fosse cumprida, sentiu que a mão dela, da maca, agarrava a sua. Fausto sentiu como se um choque elétrico percorresse seu corpo. A mão dela era macia, cheirava a milagre.
"Johann?" Ela disse com voz fraca. "Estou com medo."
Não deveria estar, lhe ocorreu dizer. Ele estudara medicina desde os dez anos só para aquele momento. Formara-se na faculdade com méritos. Pesquisara aquela doença incessantemente até descobrir a cura. E não ia deixar alguma coisa dar errado agora. Não agora.
"Vai ficar tudo bem," Ele sorriu, soltando a mão dela gentilmente. Sua mão era suja demais, impura demais para tocar na dela. "você vai ver. Será como mágica."
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Ele levantou a cabeça dela do chão frio da cozinha. O tiro que atravessara sua testa parecia uma jóia indiana, um terceiro olho.
Ele não chorou. Só choraria muito depois, e não conseguiria parar por horas. Mas, nesse momento, seus olhos estavam secos e arregalados.
Ela não podia estar morta. Eliza não morria, pois não era humana. Era uma fada, uma deusa, um anjo. Ele a amava demais para deixá-la morrer.
Talvez, se ele a beijasse, ela acordaria. Como a Bela Adormecida. Como a Branca de Neve. Seria como mágica, como sempre fora.
Sempre fora como mágica. Exceto daquela vez.
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Mais um para a gincana MDF! O tema era mágica. (E depois vocês dizem que não acreditam quando eu digo que não tenho criatividade para títulos...)
Essa fic é, na verdade, uma colagem dos momentos FaustoEliza da minha outra fic não publicada Die Ermordung. Só sofreram algumas alterações para encaixar no tema e não exceder o limite de palavras.
Enfim, espero que tenham gostado 8D Obrigada para a Nanase Kei por cortar mais de 100 palavras aí pra mim.
