CAPÍTULO 01

Fazia um domingo de sol no Rio de Janeiro, e ela estava sentada à frente de uma sorveteria refrescando-se com um sorvete e observando o movimento da rua, fugindo do sol escaldante de meio dia.

Estava pensativa, aproveitando o dia de descanso para pensar na vida e é claro na sua fic. Já a algum tempo que ela se via totalmente envolvida na trama da autora inglesa. Não pela história em si, mas por uma serie de acontecimentos que envolviam um intrigante e misterioso personagem.

Ao sair de seus devaneios se deu conta que a noite já estava chegando, e passara mais uma vez a tarde inteira divagando sobre as fics e informações intrigantes.

Chegou em casa e quase imediatamente ligou o computador. Suas amigas já estavam on-line. Quando ia se sentar ouviu a sua mãe chamando-a para jantar.

Depois de jantar e tomar um banho, finalmente foi para o computador onde continuou a escrever sua fic junto com a sua amiga Fernanda Black. Acabou o capítulo tarde da madrugada. Estava exausta e morrendo de sono, desligou o computador e foi logo dormir.

Acordou sentindo um pouco de frio. "Estranho"- pensou ela. Estavam em pleno verão... Ao abrir os olhos reprimiu um grito de terror. Não estava no seu quarto, e nem na sua casa. O lugar onde ela se encontrava era escuro e cheio de poeira.

Levantou-se e passou os braços pelos ombros tentando inutilmente se esquentar, precisava saber aonde estava. Abriu a porta e se deparou com um longo corredor escuro e uma grande escada que ela supôs dar acesso ao andar debaixo.

Caminhou lentamente até o cômodo que ficava no final do corredor. A luz estava acesa e de lá vinham vozes alegres. Abriu a porta e mais uma vez tentou segurar um grito de espanto.

As pessoas presentes no cômodo olharam para ela espantadas, afinal ela estava de pijamas.

— Quem é você? E o que você faz aqui? – perguntou um homem de cabelos e barba compridos, com um rosto familiar a ela.

— E-eu sou Ana – balbuciou ela. – Ana Paula Medeiros. – Não sei aonde estou e nem como vim para aqui. – ela disse esperando que suas suspeitas fossem confirmadas.

— Calma Sirius – disse uma mulher de cabelos bem escuros e olhos muito azuis. – Ela deve estar com frio e você está a assustando. Sente-se aqui na mesa conosco, por favor!

— Obrigada. – disse ela sentando-se na cadeira mais perto do fogão aceso.

— Olá! O meu nome é Ravenah. – disse uma mulher loira de olhos azuis. Ana tremeu. Conhecia aquelas pessoas, mas não podia ser...

— Oh, desculpe! Meu nome é Elise Marie – disse a moça de cabelos escuros. – E esses são Sirius e Remus. – Ela apontou para os dois homens presentes no cômodo.

— Olá, tudo bem com você? – perguntou Remus.

— Oi – respondeu ela nervosa. – Tudo bem, eu acho. Mas aonde eu estou? " Por favor! Que eu não esteja na sede da Ordem"- pensou ela desesperada.

— Na minha casa. – respondeu Sirius. " Droga"

— Er... Em que anos nós estamos? – perguntou Ana meio receosa.

Todos olharam para ela espantados, afinal não saber em que ano está, normalmente era conseqüência de alguma coisa séria.

— 1995 – respondeu Ravenah. E ao ouvir a resposta, Ana se desesperou e viu tudo escurecer.

Acordou sentindo um cheiro forte. Abriu os olhos e viu todos a olhando atentamente.

— Graças a Deus você acordou – exclamou Elise ajudando-a a levantar. – Você está bem?

— Sim – respondeu fracamente. – Obrigada.

— Porque você desmaiou ao saber o ano em que nós nos encontramos? – perguntou Sirius curioso

— Er... Por mais estranho que isso pareça para vocês... Para mim era o ano 2007 – notou a cara de espanto de todos. – E eu morava no Brasil...

— Mas.. Como você veio para aqui? – perguntou Remus confuso.

— Não tenho a mínima idéia – respondeu ela sinceramente. – E a propósito, eu sou trouxa.

Sirius olhou confuso para Elise e recebeu o mesmo olhar em resposta.

— Como assim, trouxa? – tentou Ravenah.

— Não possuo nenhum poder mágico e nem minha família. – esclareceu Ana.

Ela notou a tensão no ar. Afinal eles não estavam preparados para receber uma trouxa no largo Grimmauld. Muito menos uma trouxa que sabia da existência do mundo mágico.

— Vou chamar o diretor! – Sirius saiu rapidamente em direção a sala de estar para chamar o diretor pela rede flu.

Elise andava de um lado para o outro, pensativa e Ravenah olhava para o fogo que crepitava no fogão.

— Não se preocupe, Ana. O diretor vai resolver tudo – tentou tranqüiliza-la Ravenah.

— Quer tomar alguma coisa? Trocar de roupa? – ofereceu Elise.

— Uma roupa quente seria bom. Estou morrendo de frio. Lá no Brasil estávamos no verão. – respondeu Ana agradecida.

As três mulheres saíram da cozinha e caminharam pelo extenso corredor até chegar em um quarto grande e relativamente mais limpo do que o que Ana dormira.

Elise abriu o armário a procura de uma roupa para emprestar enquanto Ravenah procurava um sapato.

— Em que época do ano estamos? – perguntou Ana quebrando o silencio que havia se formado no quarto.

— Setembro. – respondeu Ravenah. - E para você que mês era?

— Março – falou Ana. - E vocês, o que fazem da vida? Trabalham? Estudam? – "Como se eu já não soubesse a resposta!"

— Eu não tenho um trabalho aqui na Inglaterra – respondeu Ravenah "Ainda não" pensou Ana.

— Eu sou auror... – Elise parou a frase no meio. Não sabia se Ana tinha uma noção do que era o mundo bruxo.

— Oh! Não precisa ficar receosa. Eu tenho uma noção sobre o mundo de vocês. – esclareceu Ana. "Mais do que vocês imaginam" - Sei o que é um auror, Ministro da magia, entre outras coisas.

Elise olhou para ela um pouco espantada, mas logo se recuperou e respondeu:

— Ah, ok!

Depois de vestir uma roupa quente e um sapato Ana acompanhou as outras até a cozinha, aonde já se encontravam o diretor, Remus e Sirius.

— Bom dia! Eu me chamo Alvo Dumbledore - disse ele sorrindo bondosamente. – A senhorita deve ser a moça que o Sr. Black que informou.

— Prazer, meu nome é Ana Paula Medeiros. – respondeu o sorriso.

— Bem...As circunstâncias que me trazem aqui são inesperadas. – começou o diretor. - Ao que me parece a senhorita, veio do futuro e não sabe como ou porque.

— Exatamente. – respondeu Ana

— E a senhorita não possui nenhum poder mágico? Nenhuma ligação com o mundo bruxo? – perguntou o diretor

— Não, senhor. – respondeu ela. - Tudo o que sei foi o que li.

— Leu? – perguntaram Elise, Remus e Sirius em coro.

— Er... Sim... – ela não sabia como responder, afinal poderia comprometer o futuro. " apesar de ele ser diferente dos livros de qualquer modo". Tomou coragem – Tudo que eu sei está nas paginas dos livros da J.K Rowling.

— E quem seria J.K Rowling? – perguntou o diretor.

— Uma escritora trouxa inglesa, que escreveu os livros da série "Harry Potter". – esclareceu ela.

— Existem livros sobre o Harry? – perguntou Sirius

— Sim. A autora disse que na série seriam sete livros, um para cada ano de Harry em Hogwarts – explicou ela. - Mas ainda não foram lançados todos. Até agora já foram lançados 6...

— E o que contém nesses livros? – perguntou o diretor.

— Acho que basicamente toda a vida de Harry desde que ele descobriu o mundo bruxo. – respondeu Ana. - O primeiro livro se chama Harry Potter e a Pedra Filosofal, e conta toda a trajetória de Harry em seu primeiro ano em Hogwarts. Do dia em que ele recebeu a carta até a captura da pedra filosofal.

— Você disse seis livros? – perguntou o diretor. – Quer dizer... Até o sexto ano de Harry?

— Sim – respondeu num sussurro." Burra".

— Entendo... – disse o diretor. - Bem, já que você está no nosso mundo e no nosso tempo, temos que arranjar um jeito de acomoda-la, até você voltar para casa. – virou-se para Sirius. – Se importaria se ela morasse aqui com você durante um tempo?

— Er.. Não! Claro que não. – respondeu ele dando um de seus sorrisos. " Se a Fefa estivesse aqui..."

— Obrigada! – agradeceu a Sirius.

— Agora se vocês me derem licença, eu tenho que voltar para a escola – disse Dumbledore. – Mais tarde eu volto... – ele levantou e se dirigiu a porta. – Tchau e tenham um bom dia.

— Tchau, diretor. – despediu-se Ana. – Até mais.

— Até mais, diretor. – disseram todos em coro. E depois de um aceno com a mão ele se foi.

— Bom... Como hoje é sábado e a gente não tem nada para fazer – disse Elise. - A gente poderia passar o dia conversando e você aproveita e conta um pouco sobre a sua vida, Ana. Que tal?

— Por nós tudo bem... – disseram Lupin, Sirius e Ravenah.

— Ok, então. – concordou Ana meio hesitante.

Tomaram café da manhã e foram se sentar na sala de estar. Um silencio mortal pairou na sala. Ninguém sabia por onde começar as perguntas.

— Er... Bem, como eu já disse, eu morava no Brasil e no ano de 2007 – começou Ana quebrando o silencio. – E eu conheci o mundo bruxo através dos livros.

— Você poderia nos explicar melhor sobre esses livros? – perguntou Remus educadamente.

— Claro. – ela tentou sorrir. – Os livros contam a vida de Harry . São eles: Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban – Ela olhou significativamente para Sirius – Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix... - Parou de falar. Sentiu todos os olhares voltados para ela.

— Ordem da Fênix? – perguntou Ravenah

— Sim... – afirmou Ana. – O grupo do qual todos vocês fazem parte, e a sede é aqui.

Não pode deixar de notar que eles estavam desconfortáveis com a sua presença. Não sabiam como agir com ela. Afinal ela era uma trouxa. Lembrou-se de Nina.

— Desculpa.. É que eu esqueço que eu sou uma trouxa e que vocês não estão acostumados com a presença de uma que sabe sobre vocês. – falou Ana tristemente. – E o pior é que eu conheço vocês mais do que vocês imaginam... E isso é estranho.

— Como assim, nos conhece? – perguntou Sirius confuso.

— Bem... Na história original vocês duas – disse Ana apontando para Elise e Ravenah - Não existem. - Notou a expressão de confusão das duas.

— É muito difícil para mim explicar isso para vocês. – Ana fechou os olhos por um tempo e quando os reabriu, se sentia mais confiante. – Os livros contam tudo sobre a vida de Harry... Sobre Voldemort, A Ordem, Os marotos. – deu um pequeno sorriso. – Por isso eu conheço vocês, Sirius.

— Mas como a autora demora muito tempo para publicar os livros, os fãs criaram um meio de passar o tempo. – ela respirou fundo. – As fanfictions. São histórias criadas pelos fãs baseadas na trama da J.K...

— Ainda não consegui entender aonde você quer chegar. Como assim nós não fazemos parte da história? – perguntou Elise.

— Estou chegando lá, Elise. – falou Ana calmamente. – Eu e uma amiga minha entramos no mundo das fanfics a pouco tempo e resolvemos escrever uma fic chamada " Unidas pelo Destino.".

— Essa fic se passa no 5º ano do Harry em Hogwarts e conta a histórias de duas amigas que depois de algum tempo se reencontram. Seus nomes são : Elise Marie Beauregarth e Ravenah Ellora McCormarck Snape. – Ana fechou os olhos para não ver as reações que as suas palavras provocaram. Mas não foi o suficiente.

— O QUÊ???? – gritou Elise indignada. – VOCÊ TÁ DIZENDO QUE VOCÊ ME CRIOU???? QUE EU NÃO SOU REAL?

— Calma, Lis. Deve estar havendo algum mal entendido – falou Ravenah. – Nós somos reais, você sabe disso. – virou-se para Ana. – Você poderia explicar isso melhor?

— Bem.. Eu não sei como explicar – falou sinceramente. – Até ontem a noite eu estava em casa escrevendo sobre a vida de vocês, sobre os seus futuros. E hoje eu estou aqui VIVENDO com vocês. Estou tão confusa quanto vocês.

— Mas não é possível nós sermos personagens da sua imaginação. Ou é? – perguntou Elise.

— Não sei. Também achava que não era possível voltar no tempo... – falou Ana

— Mas como podemos ter certeza que somos realmente as personagens que você criou? Pode ter havido uma enorme coincidência – concluiu sabiamente Ravenah.

— Bem... Na verdade eu criei apenas você, Ravenah. – explicou Ana. – Sei tudo sobre você, seus segredos, seus sentimentos, seus pensamentos... Deve ser muito estranho para você ouvir isso.

— Você não imagina o quanto. – Ravenah tentou sorrir. – Então quer dizer que você escreveu tudo o que passei e sofri até hoje? Você foi a responsável?

— Eu receio que sim, me desculpe. Por tudo. – Ana sentiu-se uma pessoa horrível. Para se divertir ela fez a vida de uma pessoa um inferno. Mesmo que inconscientemente.

— Não precisa se desculpar. O que passou, passou. E você não sabia que isso era realidade, certo? – Ravenah tentou animar a sua nova amiga.

— Certo. – Ana se sentiu aliviada. Pelo menos Ravenah não a odiava. Não podia dizer a mesma coisa de Elise, afinal ela não tinha dito nenhuma palavra desde a explosão.

— Oh Deus! Não é possível que tenha acontecido tudo o que eu escrevi! Não é justo!

— Não sei o que você escreveu, Ana. Mas nós já passamos por poucas e boas – respondeu Ravenah sorrindo.

— Não posso culpá-la de nada. Afinal foi por sua causa que eu conheci o Sirius, e eu estou muito feliz com isso. – falou Elise para Ana.

— Que bom que você está feliz. Mas vocês estarem juntos não é mérito meu, e sim da minha amiga Fernanda Black. – Ana sorriu verdadeiramente pela primeira vez desde o começo da conversa. - Ela é apaixonada por você Sirius. Principalmente quando você tinha 15 anos.

— Verdade? – perguntou Sirius. – É... Eu sei que eu sou lindo. - E caiu na gargalhada, enquanto Elise fechava a cara.

— Não precisa ter ciúmes Elise. Afinal ela te criou e que ver vocês juntos. - Ana estava se divertindo com a situação. Elise realmente era muito parecida com a sua criadora. - E a Fefa tem apenas 15 anos.

Ao ouvir a explicação de Ana, Elise abriu um sorriso. Estava com ciúmes de uma garota de 15 anos. Não pode conter uma gargalhada.

Passaram a tarde toda de divertindo e conversando. Para Ana era engraçado ouvir histórias que ela mesmo criou sobre a vida de Ravenah ou Elise. Escrever sobre elas era totalmente diferente de conviver. Tinha que admitir que elas eram bem mais legais na vida "real".

Quando o relógio marcou seis horas ouviu-se uma batida na porta.

— Nossa! Que pontualidade! – exclamou Sirius - Deve ser o Alastor.

— Vai haver uma reunião da Ordem hoje? – perguntou Ana nervosa

— Sim, e os membros já começaram a chegar - disse Ravenah apontando para Alastor que tinha acabado de entrar na sala.

— 'Noite! – cumprimentou ele secamente

— Boa noite! – responderam em coro.

— Alguém já chegou? – perguntou ele.

— Ainda não – respondeu Lupin e Ana pensou ter o ouvido falar "incompetentes".

Os membros foram chegando um a um e as sete em ponto a reunião finalmente começou. O diretor debateu todos os assuntos sobre a segurança da escola e ações dos comensais; e por último falou:

— Como vocês podem ver nós temos mais uma integrante nessa reunião – Ana sentiu todos os olhares voltados para ela. - Ana Paula foi trazida do futuro por motivos ainda desconhecidos e por enquanto ficará morando aqui na sede da Ordem. Até nós acharmos um jeito de mandá-la para o mundo dela.

— Mundo dela? – perguntou Tonks

— Oh, sim. Ela é trouxa – respondeu Dumbledore. – Bem, já discutimos tudo. Reunião encerrada.

Como era sábado a senhora Weasley ficou para fazer o jantar.

— Querida, está tudo bem com você? – perguntou ela preocupada para Ana. - Deve ser difícil vir para outra época, outro mundo. Se precisar de alguma coisa é só pedir.

— Obrigada, Molly. – Ana sorriu. Sabia que as palavras da outra eram verdadeiras.

Ana pode constatar que o jantar estava delicioso, e que ela estava faminta. Afinal não tinha almoçado. Lembrou-se da mãe.

O jantar acabou e todos os membros da Ordem foram embora, restando apenas Ana, Elise, Ravenah, Sirius e Remus.

— Pessoal, eu estou morrendo de cansaço. – falou Ana se largando numa poltrona da sala de estar. – Onde eu vou dormir?

— Não tenho a mínima idéia. – falou Sirius - Todos os quartos dessa casa estão sujos e mofados.

— Eu percebi... Mas pode-se dar um jeito, certo? – perguntou Ana

— Claro. Um feitiço de limpeza com certeza deixará o quarto mais apresentável – falou Ravenah

— Então... Algum de vocês pode fazer esse favor para mim? – Ana perguntou.

— Claro! Vamos lá escolher um quarto que eu limpo para você – falou Elise se levantando.

— Eu te ajudo, Lis. – Ravenah se levantou e seguiu as duas até o andar de cima

Ana escolheu um quarto ao lado do de Sirius, ele parecia menos sujo do que os outros e mais aconchegante. Se é que isso era possível. Depois da devida limpeza Ana deitou-se e dormiu imediatamente.