Disclaimer: Os personagens dessa história pertencem à J.K. Rowling. Apenas a pequena moça uniformizada pertence a mim! E eu tenho muito orgulho dela! ;)
N/A: Um Scorpius totalmente deprimido e inseguro. Tenham paciência com ele que ele vai mudar nos próximos capítulos.
Capítulo 1
Pequeno Café
Scorpius estava sentado a uma pequena mesa redonda na área para fumantes daquele pequeno café. Área para fumantes era uma ironia, visando que todos os lugares de Paris eram áreas para fumantes. Mas aquele espaço aberto com mesinhas de tampo de vidro jateado e armações em ferro verde sob guarda-sóis creme, era o seu lugar preferido para olhar o pouco movimento da rua nas tardes de terça-feira. Toda terça-feira ele entrava no pequeno café e ouvia o sino da porta chamar a atenção da atendente que ficava atrás do balcão com uma pequena estufa de vidro e vários bolinhos de chocolate dentro dela. Sorria simpaticamente para a pequena moça uniformizada e pedia um mocaccino sem canela e com chantili extra. Atravessava a porta de vidro com uma placa vermelha escrita em branco: fumeur e se sentava na mesinha mais perto da cerca baixa do mesmo metal verde das armações das mesas e cadeiras do pequeno café. Esperava pacientemente a pequena moça uniformizada trazer o seu mocaccino e admirava a árvore do outro lado da rua. Sempre exatamente como na terça-feira anterior. Mudava um pouco quando as estações iam passeando por aquela cidade que vivia apenas de inverno, outono e primavera. Paris tinha muito pouco de verão. Até mesmo as tardes mais ensolaradas eram invadidas por ventos frios e folhas dançantes. E essa tarde era uma dessas. Bebericava aos poucos o seu café morno enquanto contava as estrias da árvore. Como se ele não conhecesse cada uma dessas estrias de cor. Mas contava mesmo assim, pensando em números e os esquecendo assim que pensava em sua última letra. Sem saber exatamente à que altura da contagem, ele começava a devanear pela sua vida e suas lembranças. Nunca pensava no que gostaria de fazer ou ser, pois achava que planejar muito era o começo para um caminho de decepção. Decepcionava-se muito fácil com tudo, simplesmente porque tudo era muito sem emoção para ele. A culpa, sem a menor dúvida, era dele que estava sempre com medo demais para encontrar as emoções das coisas. Mas foi criado dessa forma, sempre com muito cuidado e objeções. Sua mãe via perigo até mesmo em uma delicada borboleta. E era por isso que ele estava naquele pequeno café. Devaneando sobre sua pequena vida. Aos vinte e três anos mudara-se para Paris, fugindo da loucura de sua mãe e deixando para trás um pai deprimido. Agora, um ano depois, ele se via psicologicamente preso aos medos insanos de Astoria e, pior, sem coragem para voltar e admitir que não era mais capaz de mudar.
"Merci" ouviu uma voz feminina, com forte sotaque inglês, atrás dele.
Olhou com interesse. Aquele era um pequeno café pouquíssimo freqüentado. O dono, milionário graças a uma fascinante idéia de vender roupas de grifes famosas para bebês, mantivera o local aberto em memória da falecida esposa, primeira proprietária do local. Mas era um lugar publicamente falido e era exatamente isso que atraía Scorpius. O silêncio de um pequeno café vazio. A garota estava sentada há duas mesas de distância. Tinha os cabelos vermelhos soltos e brilhantes contra o tão tímido sol de verão. Usava uma boina marrom que combinava com a armação de seus óculos retangulares, uma blusa branca de cashmere de gola alta e mangas compridas. Segurava seu copo de papelão com as duas mãos entrelaçadas, deixando à vista o esmalte escuro em suas unhas. A cabeça estava levemente inclinada para baixo e seus olhos corriam de um lado para o outro lendo rapidamente as linhas do livro aberto entre seus braços. Sentiu vontade de conversar com ela em inglês, sua língua materna, mas não tinha coragem para tanto. Scorpius era, acima de tudo, inseguro. Tinha todo o dinheiro do mundo. Todo o luxo do mundo. Todo o conhecimento do mundo. Mas era extremamente inseguro. Quando se tem todo o mundo, ele fica pequeno demais e você o carrega no bolso, o tornando tão insignificante quanto uma velha bolinha de gude. Ela lhe parecia inteligente com os seus óculos de armação quadrada e sua rapidez nos olhos leitores. Scorpius era inteligente também, mas e se não fosse tanto quanto ela?
"Você tem trinta segundos para tomar vergonha na cara e falar com ela" uma voz sussurrada chegou ao seu ouvido. Era a pequena moça uniformizada.
"Pensei que você tivesse que falar francês com os seus clientes" Scorpius desconversou. Sentiu-se envergonhado por ter sido percebido interessado na ruiva desconhecida.
"Só com os clientes franceses. Mas nenhum deles entra aqui" a pequena moça uniformizada sorriu enquanto pegava o mocaccino não terminado dele e o colocava na bandeja "fale com ela".
Scorpius sorriu de volta, mas não respondeu. Suas pequenas conversas com a pequena moça uniformizada sempre acabavam com sorrisos.
"Você deveria se aproveitar de toda essa sua beleza" a pequena moça uniformizada deu de ombros enquanto voltava para o seu balcão.
Beleza. Seu pai, com certeza, era um homem bonito aos olhos da sociedade inglesa. E muitos adversários políticos diziam que seus votos vinham, de grande parte, de mulheres apaixonadas pelos cabelos loiros platinados e pelos olhos acinzentados. Sua mãe, se deixasse que lhe vissem, também seria uma mulher bonita aos olhos da sociedade inglesa. Mas ela sempre estava a repetir sobre a sujeira que havia nas sociedades. E Scorpius sabia que ela não se referia aos desonestos e hipócritas, e sim aos milhões de micróbios que esses homens de dinheiro que apertam mãos de outros homens de dinheiro, tinham em seus corpos. Contudo, Scorpius não era um rapaz relativamente bonito. E ele sabia isso porque se olhava nos espelhos todas as manhãs e via seus olhos esverdeados sobre profundas marcas arroxeadas que indicavam suas péssimas noites de sono. Via seus cabelos loiros transparentes, não tão cheios quanto os de sua mãe e nem tão lisos quanto o de seu pai. Via sua pele translúcida que lhe dava um aspecto vampiresco quando combinada com as olheiras. Como poderiam achá-lo bonito, quando toda sua aparência lembrava o vazio morto que era sua vida?
Suspirou timidamente enquanto considerava a idéia de falar com a ruiva desconhecida. O pior que poderia lhe acontecer era ser - não publicamente - humilhado com a negativa para sua oferta de amizade. Não havia ninguém, no pequeno café, que não fosse participar dessa possível conversa. Pensou em todos os assuntos que ele poderia abordar: tempo; política; o último escândalo milionário dos policiais suecos; Tanta coisa que ele saberia conversar e mostrar toda a sua atualização globalizada. Mas talvez ela preferisse falar sobre livros, e ele – sem a menor dúvida – já tinha lido todos os livros que ela tinha ouvido falar. Essa era a vantagem e a desvantagem do dinheiro sem limites dos seus pais. Scorpius não tinha que trabalhar e lhe restava muito tempo livre para se interessar por tudo e para saber sobre tudo. Aprendera a tocar vários instrumentos, a fazer poesias, a ler em cinco diferentes línguas. Conseguiria conversar sobre qualquer coisa que ela quisesse, mas, talvez, ela sentiria-se inferior ou o acharia arrogante. Ninguém gosta de conversar com um sabe-tudo. Pelo menos ele acreditava nisso, já que nunca teve um círculo social, para usar como referência. Provavelmente porque era um sabe-tudo.
Mas aquela garota era linda. E ele não tinha muito que perder. A não ser, quem sabe, o direito de voltar às terças-feiras ao pequeno café. Não teria coragem de sorrir para a pequena moça uniformizada sabendo que ela estava rindo em segredo de sua tentativa estúpida de se socializar. E então, além de não conseguir uma nova amiga ruiva, ainda perderia as poucas palavras e sorrisos que tinha em sua pequena vida. Não poderia continuar a sorrir para a pequena moça uniformizada, se ela risse dele em segredo. Era totalmente antiético rir dos outros em segredo, e ele não era o tipo de cara que incentivava a falta de ética. Ele não era tipo nenhum. E também não era um cara. Porque caras são descolados e joviais ao mesmo tempo. E ele não era nenhum, nem outro. Quem diria os dois.
Imaginou que se seu pai estivesse em seu lugar – com vinte e cinco anos, solteiro e em Paris – ele conversaria com a ruiva desconhecida. Porque seu pai era um cara. E perguntou-se porque nunca tinha aprendido muito com ele. Mas ele sabia que a resposta era porque sua mãe não lhe deixava muito com seu pai e com os milionários sujos que ele tinha como companhia.
Talvez, ele permitiu-se sonhar uma única vez, ele soubesse como ser um cara. Poderia imitar algum de seus grandes ídolos dos milhares de filmes que assistia sozinho todos os finais de semana. Poderia imitar Jack Nicholson em seu clássico filme Chinatown. Porque, categoricamente, Jack Nicholson era sempre o cara.
Ouviu-a fechando o livro e olhou mais uma vez. Essa era a sua última chance de se socializar com alguém que não fosse lhe servir o café. Respirou fundo tomando coragem e levantou-se antes de ter a chance de se arrepender. E, como esperado, se arrependeu muito e só não voltou a sentar-se porque achou que pareceria ridículo. E isso também causaria uma crise de risadas em segredo na pequena moça uniformizada. Andou até a mesa da ruiva desconhecida e colocou uma mão no encosto da cadeira vazia que estava encostada a mesa. A ruiva desconhecida não olhou para cima ou, ao menos, para a sua mão. Ficou bebericando seu café e olhando para a árvore do outro lado da rua.
"Posso me sentar aqui?" perguntou tentando disfarçar a insegurança em sua voz.
"É um país livre" a ruiva desconhecida respondeu, sem tirar os olhos da árvore "eu acho" completou pensativa.
Scorpius puxou a cadeira e desejou que seus pés de ferro não tivessem gritado contra a pedra do chão. Sentou-se e esperou que ela lhe desse alguma dica do que gostaria de conversar. Mas a ruiva desconhecida não deu e ele frustrou-se com isso. Demorou um pouco para perceber que não sabia seu nome, achou que seria um inicio natural.
"Eu posso saber o seu nome?"
"Lily" ela respondeu simplesmente.
"Lily o quê?"
Esse era o problema de ser criado entre filhos de políticos. Todos tinham interesse em saber o sobrenome um do outro. Porque assim saberiam quem era o seu pai e quão mais influente do que o pai dele, o seu era.
"Lily já está bom" ela sorriu para ele.
Seu sorriso era lindo.
"Eu sou Scorpius Malfoy, Srta. Já Está Bom" ele brincou. Nunca pensou que poderia ter senso de humor, mas agora – pensando melhor no que disse – não saberia se isso era realmente uma boa piada.
"Eu não ligo"
Scorpius assustou com a forma que ela conseguia ser docemente rude. Sentiu-se envergonhado e, ainda assim, mais interessado na ruiva Lily.
"Oh!" foi o máximo que pôde responder.
Lily suspirou impaciente e levantou as pontas internas das sobrancelhas em uma expressão que Scorpius conhecia muito bem: pena.
"Não é nada contra você" ela explicou com a voz ainda doce "É que eu sou egoísta demais para me importar com qualquer coisa que não seja eu mesma e o meu próprio bem. E quando você se apaixonar por mim – e você vai se apaixonar – eu não terei tempo de ouvir suas lamentações sobre a minha falta de atenção com o nosso namoro. Simplesmente porque eu não ligo para você e para o nosso namoro. E também não ligo para suas datas especiais, ou seus presentes e parentes esquisitos. E você vai sofrer com isso. Na verdade, eu só ligo para aquilo que você pode me dar que realmente me interesse. E eu vou deixar de ligar assim que você não puder mais me dar nada ou quando eu perceber que você não é o meu tipo. O que não vai demorar muito porque, apesar de bonito, eu já acho que você não faz o meu tipo"
Scorpius ficou pelo menos uns trinta segundos tentando absorver toda a informação. E depois que conseguiu entender tudo o que ela tinha dito, percebeu que aquilo não fazia sentido.
"Se você não se importa, porque tentou me poupar de sofrer com isso?" perguntou não sabendo se deveria perguntar.
"Porque eu vou me importar quando você me ligar quatro horas da manhã implorando para eu voltar para você, porque você não consegue mais viver sem mim"
"Oh!" novamente não havia nada melhor do que isso para responder.
Lily levantou-se e pegou seu livro e sua bolsa que estava pendurada pelas alças no encosto da cadeira. Scorpius levantou também, somente porque tinha visto seu pai fazer isso toda a sua vida. Tentou ignorar o pensamento permanente de que teria que encontrar outro pequeno café falido, com outra pequena moça uniformizada. Já conseguia ouvir as risadas em segredo da moça uniformizada desse pequeno café falido.
"Não vai pedir meu telefone?" Lily perguntou com uma sobrancelha erguida.
"Achei que não fosse o seu tipo" ele se limitou a responder. Agora ouvia a risada em segredo de Lily, também.
Lily pegou uma caneta dentro da bolsa e tirou a luva de papelão que protegia o seu copo vazio. Tirou a tampa da caneta com a boca e anotou oito dígitos na luva de papelão. Voltou a fechar a caneta enquanto lhe entregava o número.
"E não faz. Mas se estiver com muita vontade de me ver – e somente se for realmente muita vontade – você pode me ligar".
E atravessou a porta de vidro que dava para a parte de dentro do pequeno café. E depois atravessou a porta com o sino. Andando sem olhar para trás, com os seus cabelos dançando no vento do verão quase inexistente de Paris.
Scorpius sorriu vitorioso enquanto guardava a luva de papelão no bolso da calça. Passou pela pequena moça uniformizada sabendo que ela não riria em segredo. Ouviu o sino da porta enquanto saía do pequeno café.
Esse tinha sido um dia de duas grandes vitórias para ele. Ganhara o telefone da ruiva (não mais) desconhecida e, melhor de tudo, ganhou também o direito de continuar a freqüentar o pequeno café todas as terças-feiras do ano.
N/A: Esse é um capítulo bem curtinho, mas é assim que os outros todos serão. Quem teve a paciência de ler até aqui, obrigada. Por favor comente.
Beijos e até o próximo capítulo.
