Uma one que me veio enquanto fazia uma viagem de carro que durou cinco horas :O
É pequenininha mesmo.
Boa leitura!
Momentos
Devo começar dizendo que você está simplesmente linda. Mesmo com seu cabelo bagunçado pela brisa do mar e um simples conjunto de short, blusa e sandálias de dedo. Mesmo com a ponta do nariz descascando do sol e o tom avermelhado da pele em alguns lugares onde a roupa não cobriu. Você está...
Eu nunca tive o prazer de passar meus dedos entre os fios do seu cabelo, nem ver o que você esconde por baixo dessas roupas tão simples. Nunca beijei a ponta do seu nariz ou qualquer parte do seu corpo além do rosto. Mas mesmo assim... mesmo assim me reservo o direto de dizer que você está linda.
Você é linda.
Apesar de toda essa observação a despeito dessa beleza tão sua, a primeira coisa que meus olhos captam quando te vêm são seus dedos, de unhas pintadas em um azul clarinho, fincados na areia, revirando-a como se estivesse desenterrando um tesouro.
Eu quase desejo que você não o encontre.
Não encontre, por favor. Por favor.
Você está tão concentrada na tarefa, o cenho franzido, os olhos estreitos e a boca cerrada. Pareceria até mesmo brava não fosse a pequena curva no canto dos lábios que denuncia um sorriso escondido e o brilho da curiosidade em seus olhos comprimidos.
Não encontre. Deixe que se perca nessas areias. Levanta-se, diga que está cansada dessa brincadeira e corra para o mar. Só... só não encontre.
Por um breve momento sua expressão de concentração me leva de volta no tempo, transportando-me quatro anos atrás, quando estávamos no colegial e eu te vi pela primeira vez. Quando meus olhos esquadrinharam cada pedacinho do seu rosto e percebi que aquilo era o que as pessoas chamavam de amor à primeira vista.
Os sentimentos ainda são os mesmos até hoje.
Não encontre. Não encontre.
Sou trazido de volta pelo som tímido do que seria uma risada de contentamento do meu melhor amigo, que está sentado ao meu lado na varanda apreciando o mesmo show. Ele também está feliz e seus olhos refletem o que as palavras não dizem.
Você encontra o tesouro, no fim das contas.
Por favor...
O que você tanto procurava trata-se de uma joia, cuja tal eu ajudei a escolher. Você ergue a cabeça e seus olhos encontram a varanda, poucos metros à sua frente, e meu coração para uma batida apenas com a visão do seu sorriso incandescente que remete nada mais que felicidade.
Deus, como você é linda!
Sim, você é.
Mas eu sei da realidade, eu sei que você não está olhando para mim. Seu sorriso não é meu e tampouco é para os meus braços que você corre quando se ergue do chão e pega a pequena caixinha vermelha, antes lustrosa, mas agora suja de areia.
E percebo o quanto fui tolo de pensar que nada sentiria quando chegasse o momento. Como se o fato de eu ter ido ajuda-lo a comprar o anel e o ouvido falar de você a viagem toda fosse fazer com que doesse menos.
Não dói menos.
O engraçado de tudo isso é que eu sei que ele também te ama. Eu sei, pois há quatro anos ele te viu pela primeira vez. Ele esquadrinhou seu rosto detalhadamente. Ele soube que era amor à primeira vista. E ele me disse. Foi a primeira e única vez que ele revelara seus sentimentos assim tão abertamente.
Eu sei.
Não dói menos.
Eu a olho e me vejo obrigado a expressar felicidade através de um sorriso. Eu deveria estar feliz. Eu deveria...
Dói muito. Muito. Muito.
E essa é só a primeira parte. É apenas o fim do primeiro ato do meu sofrimento, logo, logo as cortinas se abrirão novamente e você se tornará a mulher de outro. Por isso, de antemão, e com um sorriso no rosto, eu dou adeus ao meu amor por Sakura Haruno e desejo felicidades à Sakura Uchiha.
Adeus, meu amor.
—
Eu sei que você está me olhando. Estou me sentindo ridícula com meu cabelo assanhado pelo vento e minhas roupas simples demais. Sem falar na pele queimada e descascando do sol. Apesar de que uma hora atrás, quando passou os dedos pelos fios do meu cabelo enquanto tocava meu corpo sem roupas, você beijou a ponta do meu nariz e disse que eu estava linda.
Você também é lindo.
Minha mente vaga, relembrando os nuances da nossa noite de amor enquanto meus dedos buscam mais fundo nesse pequeno espaço de terra, onde pediu para eu cavar e encontrar algo. Minhas unhas estão cheias de areia e descascam o esmalte azul celeste que as cobre, mas continuou cavando.
Que eu encontre logo.
Tenho vontade de desistir da brincadeira e exigir que você revele logo o que tem aqui, mas algo em meu intimo já sabe.
Sei que você está com a aquele risinho de canto enquanto me olha e me concentro de cara fechada fingindo-me de brava. Apesar do sorriso que teima em querer sair e a curiosidade que me atiça a continuar procurando.
Preciso encontrar. Não deixarei que se perca nessa areia toda. Que seja o que eu desejo. Por favor, por favor. Só... Só quero encontrar.
Meus dedos finalmente topam em algo e eu automaticamente já sei do que se trata. Flashes de memórias passam por minha mente enquanto puxo-a para a fora. Lembro-me de quatro anos atrás, quando te vi e soube que era amor à primeira vista.
Eu ainda te amo do mesmo jeito.
Logo vejo-me com uma caixinha vermelha em mãos. Olho imediatamente em sua direção e avisto-o sentando ao lado de seu melhor amigo. Aquele que você ama tanto quanto a mim. Você está feliz. Sei disso, pois meus olhos não desviam dos seus.
Eu sei que você também me ama.
Eu sei. Eu sei. Eu sei.
Corro para os seus braços com nenhum outro pensamento senão o de que em breve serei oficialmente sua mulher. É com lágrimas nos olhos que abro mão do sobrenome Haruno e aceito de bom grado o Uchiha.
Seja bem-vinda, felicidade.
—
Você deve estar a achando tão linda quanto eu enquanto a observa buscar a preciosidade que escondi na areia. Ela está perdida em pensamentos, tão alheia aos seus observadores e no efeito que está causando em nós. Nos dois.
Ela está mesmo linda.
Ela é linda.
Eu quase posso ouvir seus pensamentos enquanto os dedos dela chagam cada vez mais perto do seu objetivo. É impossível não perceber seu estado com você bem aqui ao meu lado e eu quase desejo que ela encontre logo.
Encontre-o. Acabe logo com isso, por favor.
Você está tão concentrado nela que não percebe que estou o observando. Seus olhos seguem os movimentos dos dedos delicados, cuja as unhas estão pintadas naquele azul que ela adora e o qual é tão difícil de encontrar, mas que movo céus e terras para adquiri-lo.
Encontre. Não deixe que isso se prolongue. Só... só diga que aceita.
Por um momento seus olhos saem dela e se voltam para o mar a frente. E eu sei que está relembrando de quando a viu pela primeira vez, você a olhou da mesma forma que está olhando agora. Você ainda a ama.
Mas o problema, meu amigo, é que eu também a amo.
Encontre. Encontre.
E quando ela finalmente acha o que eu tanto desejo e me olha com aqueles olhos incríveis, sei que minha expressão é tão idiota quanto há quatro anos, quando a vi pela primeira vez e a amei.
Por Deus, como amei!
Aceite. Por favor.
Peço desculpas por fazê-lo passar por isso, por leva-lo para me ajudar a escolher o anel que agora ela traz até nós dentro da pequena caixa vermelha.
Eu sei que dói.
Aceite...
Eu sofro por vê-lo sofrer, pois você é meu melhor amigo, é minha família. Eu o respeito, e é justamente por respeitá-lo que deixei bem claro desde o primeiro momento o quanto estava apaixonado por ela.
Ainda estou apaixonado.
Dó. Dói. Dói olhar para você agora.
Por isso me limito a me perder nos olhos verdes que me fitam, e sua dona aqui em meus braços, prestes a se tornar minha mulher. Em breve ela se chamará Sakura Uchiha.
Me perdoe, meu amigo.
