Capítulo I – Prólogo
Watari House, o orfanato criado pelo falecido Quillsh Wammy para
abrigar crianças brilhantes, é um lugar que poucos
podem chamar de lar. Mas ele podia. A mesma entrada arborizada. O
cheiro de grama fresca. Velhos conhecidos. Novos estranhos. Ele não
devia estar ali, não podia, pois o mundo precisava dele. Mesmo
assim, o mundo podia esperar...
Pois Near precisava cumprir uma
promessa.
Galgando os degraus envelhecidos, alcançando o
arco de entrada, a figura pitoresca prostrou-se silenciosa frente ao
portão. Silencioso, pensativo. O olhar visava o chão.
Dedos enroscados no cabelo. O leve balouçar do vento em seus
ouvidos.
A porta abriu-se e uma velha figura apareceu. Near
levantou o rosto:
- Olá senhor Diretor, disse o garoto
franzino
- Near! surpresa e hesitação na voz do
homem. Você avisou que viria fazer-nos uma visita, mas pensei
que não estava falando sério.
- Por acaso eu
mentiria? falou friamente.
- Não, não... venha,
entre.
Near hesitou um momento. Aquela casa era parte de seu
passado. Um passado solitário, triste. Mas ele queria revê-lo.
Adentrando o estabelecimento, pôde sentir na pele o aroma do
passado, a fragrância da nostalgia. Memórias de um rapaz
loiro afloravam em sua cabeça. Um rapaz que foi o mais próximo
que ele já pode ter de um amigo.
Acabou. O filho pródigo
voltou. Kira está morto. Viu L? Está acabado. Viu
Mello? Eu venci. Acabou. Acabou. Finalmente, haverá paz.
Finalmente. Sob meu guia, este mundo irá poder caminhar para
uma paz verdadeira. Uma justiça verdadeira! Acabou!
O
velho senhor via o franzino rapaz andando corcunda em direção
as escadas que davam para o segundo andar. Aquela figura franzina não
era o mesmo Near que saíra do orfanato. Era mais um zumbi que
um ser humano. E aquele cabelo... tão artificial, tão
errado, tão preto... o velho senhor não conseguiu
segurar as palavras e bradou alto para o menino que começava a
subir pela escada
- Near... você pintou o cabelo??!
Não houve resposta. Só uma insana risada, enquanto o
jovem desaparecia nos degraus.
Subiu
avidamente pela escuridão. Não precisava de olhos, pois
conhecia aquele lugar tal qual um morto conhece teu caixão.
Apalpando seu caminho cego, alcançou uma dentre várias
e inúmeras portas e forçou seu caminho para dentro.
Um quarto simples, com uma cama simples e um armarinho simples, e
nada mais. Tal simplório cômodo escondia a grandeza de
seu antigo usuário. Near tocou cada fibra de madeira, cada
fenda no assoalho, cada falha na tintura. Ele as conhecia de cor. Era
um enorme quebra-cabeça o seu quarto antigo, e ele lembrava-se
que passava horas memorizando cada fragmento de porção.
Fazia tantos anos que quase se esquecera do cheiro. Quase.
Voltou para o corredor escuro. Galgou seu caminho até outra
porta e novamente entrou no aposento. Mal chegou sentiu o cheiro de
chocolate envelhecido. Um sorriso brotou em seus lábios. O
quarto de seu antigo rival permanecia o mesmo desde o dia em que ele
deixou o orfanato. O cheiro de chocolate jamais desimpregnou aquele
chão carcomido e as paredes surradas. A lembrança de
Mello trouxe lágrimas na mente de Near. Mas ele não
tinha tempo para chorar.
Voltou ao corredor escuro pois tinha
mais um aposento para visitar. Foi para um canto afastado, até
o final de um estreito corredor, que dava para uma saliinha apertada,
provavelmente uma dispensa. Dentro dela, havia uma cadeira vermelha
acolchoada. Aquele era o apertado dormitório do homem que se
intitulava L.
Near avidamente caminhou até seu trono. O
mundo estava sob seus pés. Kira não existia mais. Mello
foi derrotado. Todos foram derrotados! E por ele! Near! Nate River!
"L, você tem um novo sucessor!", disse para si mesmo.
Caminhando até a poltrona, Near se empoleirou, deixando um
riso maligno fixar-se
Finalmente, este era o final verdadeiro.
Near é o novo L. O mundo voltará a ter paz. A justiça
finalmente prevalecerá
E quem sabe, um dia, o mundo não irá precisar mais de um L e ele, Near, poderá existir como uma pessoa normal...
