Capítulo 1 – Segurança
Parecia um dia qualquer, simples, como qualquer outro que já tivesse passado na sua vida. Mas em sua mente, muitas coisas não poderiam ser mais como antes. Com apenas desesseis anos, Harry James Potter, o menino que sobreviveu, tentava viver cada dia. As alegrias que antes aqueciam seu coração davam espaço para as recentes tristezas, para o vazio e as dúvidas que pairavam seus pensamentos. Nada seria como antes. Até mesmo a calmaria na casa dos Dusleys, não era normal. Ainda era de tarde quando Harry terminava sua carta para Ron.
"Caro Ron,
Sei que depois de amanhã será o casamento do seu irmão, mas não sei o que dar para eles, não pensei em nada. Minha cabeça viaja sempre para o mesmo lugar: Hogwarts, minha casa, meu lar. Sei que se eu não aparecer no casamento, sua mãe vai me matar e a Gina vai ficar furiosa. Pois bem, me ajude a arranjar um bom presente pro seu irmão. Fale com a Mione, ela pode ajudar também. Espero vocês amanhã à tarde.
Abraços, Harry."
Abriu a gaiola de Edwirges, amarrou a carta e disse para ela bicar o Ron se ele demorasse com a resposta. Ela piou como se tivesse gostado do recado e voou rapidamente. Harry fechou a janela. Quando ia voltar a deitar na cama ouviu passo vindo do corredor e logo depois a porta se abriu. Era Tia Petúnia.
- Harry, já te disse que não quero aquela coisa voando por ai, principalmente a luz do dia. Por que não começou a fazer o jantar. E...- olhando para todos os cantos do quarto - por que isso aqui não está brilhando!
Harry a olhou com firmeza nos olhos e percebeu algo no olhar da tia. Alguma coisa tinha mudado, não tinha percebido. Só fazia apenas três semanas que tinha voltado. Mal tinha saído do quarto, mesmo na hora de comer preferia ficar sozinho.
- Tudo bem, vou arrumar tudo aqui e já desço, tia Petúnia. Mais alguma coisa?
- Sim, já que você não sai deste quanto, e mal fala ou olha pra mim, quero saber por que você voltou mais cedo e por que desta cara de velório? Foi expulso? – disse ela num tom de deboche.
Sentiu um frio na barriga e uma vontade de gritar com a tia. – Em primeiro lugar, tia, por que as aulas foram canceladas e o segundo e que sim houve um velório...Sentiu sua voz falhar -...Meu professor, Dumbledore morreu, alias, foi assassinado, como meus pais! Satisfeita?
Tia Petúnia pareceu assusta-se com as palavras de Harry e se sentou na cama com as mãos na barriga.
- Morto! Morto! Dumbledore, morto! – Uma lágrima surgiu. Não piscava.
- O que foi Tia? - assustou se Harry.
- Ele disse que ia te proteger, que você ia ficar bem perto dele...
Harry começou a não entender nada. Sua Tia parecia que tinha recebido a notícia como se uma faca atravessasse seu coração. Chorar. Nunca pensou que veria ela chorando, principalmente por uma pessoa como ele, um bruxo.
- Harry, quem o matou? – Perguntou a tia com a voz embargada.
- Outro professor, Snape. Sentiu ódio ao falar aquele nome. Maldito Snape!
Rapidamente, Tia Petúnia se levantou, olhou para Harry e disse:
- Você está com medo? – Seu olhar mudou, não parecia com aqueles de raivas que ele havia visto durante toda sua vida.
- Não sei. Estou nervoso. Por que teria medo?
- De quem a senhora está falando?
- Daquele bruxo que matou seus pais. Agora ele virá atrás de você novamente, não é?
- Não sei, tia. – Estranhando a pergunta. – Ele pode vir, ou eu posso ir até ele, quando eu estiver pronto.
Tia Petúnia pegou Harry pelo braço e ambos sentarão na cama.
- Harry - disse Tia Petúnia – Não sou sua mãe, sei que não gosta muito de nós, mas saiba, aqui você está em segurança, por enquanto. Não saia daqui sozinho, ainda não. Sei, pelo próprio Dumbledore, seu professor, que ninguém pode te fazer mal aqui em casa até você completar dezessete anos.
Harry olhou estranhamente para a tia. Como ela sabia de tudo isso, o que é que está acontecendo aqui? E a Tia continuou.
- Existe um outro lugar que é seguro para você, Harry, mas você só poderá ir para lá quando fizer dezessete anos, a casa de seus pais.
- Como? A casa dos meus pais? – Levantou da cama num pulo, e andou até o armário. Virou de repente – O que é que tá acontecendo aqui? Que história é essa de casa dos meus pais? Por que Dumbledore falou isso pra você? – Harry gritava essas palavras, parecia que tudo tinha se misturado em sua cabeça, tudo estava mais confuso.
- Calminho aí rapaz! – disse a tia – Senta que eu vou te falar. Mas se você vai começar a ficar todo ofendidozinho, berrando desse jeito, eu vou deixar você gritando ai pras paredes. Endurecendo a voz e fechando a cara.
- E o seguinte, Potter. – Falou rispidamente. - Dias antes de eu ter o Dudinha, eu recebi a primeira das três cartas que sua mãe mandou para mim antes de ela morrer. Neta carta, dizia ela que, ela estava grávida, que estava feliz, mas estava com medo de perdê-lo. Tinha pedido que eu, sua única parente viva, cuidasse dele ou dela caso acontecesse algo com ela e com aquele Potter. Disse que confiava em mim.
Harry olhou para ela, tentava ver aonde aquilo iria levá-lo.
- A outra carta eu recebi quando você nasceu. Dizia as mesmas coisas, mas tinha um tom de medo. – disse olhando para os olhos de Harry como se fosse para os olhos de Lílian que olhasse – Eu nunca vi minha irmã, Lílian Evans com medo, nunca. Minha irmã poderia ser qualquer coisa, menos medrosa. Ela disse que confiava que eu poderia ser a mãe que a nossa mãe foi para nós duas. Disse que me queria muito bem. Mandou junto com a carta a foto dela com você nos braços.
Nisto a voz de tia Petúnia foi diminuindo. Ela se levantou virou de costas e continuou a falar.
- A terceira foi dois dias antes de você aparecer aqui em casa. Eu já te esperava. Essa carta foi uma despedida. Sua mãe dizia que a vida de vocês três estava em perigo, que ela estava com medo e que queria saber se eu e meu marido aceitaríamos cuidar de você por um tempo. Pedia para que não comentasse isso com ninguém e que mandaria dinheiro para as despesas. - parou ela de repente e tirou o colar que estava usando, dizendo:
-Ela, junto com a carta mandou que isso fosse entregue a você quando fizesse dezessete anos. Disse que eu jamais conseguiria abri-lo, pois era uma herança de bruxo e que somente você, se estivesse vivo poderia abrir e saber o que é. – e entregando o colar, disse - Por isso não abra até lá. No dia do seu aniversário eu te levarei para a sua casa, a casa de seus pais.
Tia Petúnia saiu do quarto calada, andando rápido, fechando a porta.
Harry levantou o colar de sua mãe a frente dos olhos. Eles pareciam brilhar mais ainda.
- Minha mãe! – disse baixinho – Uma herança da minha mãe, uma casa, um lar? Harry começou a se perder em pensamentos sobre sua mãe, de como seriam suas cartas, do porque de confiar tanto em tia Petúnia e porque não poderia abrir sua herança de bruxo.
Não agüentou a curiosidade, colocou o colar no bolso da calça e saiu do quarto em direção a cozinha.
Chegou esbaforido a porta. Tio Valter o olhou com cara de zangado. Duda comia um saco de pipoca na frente da tv. Tia Petúnia mexia no fogão e, olhando para Harry, perguntou:
- O que é que você quer ainda, moleque?
- Preciso que a senhora me dê aquelas coisas da minha mãe, são importantes! – Disse sem enrolar.
- Depois conversamos, moleque, agora vou fazer o jantar que você não fez. – sua cara era de preocupação.
Um dia chuvoso amanheceu, um vento frio soprava do lado de fora, e com ele Edwirges aparece na janela e tenta acordar o jovem deitado sobre um caderno com bicadas que parecem que vai quebrar o vidro em pedaços.
Harry havia pensado durante a noite somente em sua mãe. Pensava nas palavras de Tia Petúnia. Sobre sua mãe ter tido medo de perdê-lo. Dormiu profundamente. Sonhou ou teve uma lembrança de infância, não sabia dizer, sobre a noite da morte de seus pais.
"Estava com sua mãe. Ela olhava para ele com aqueles olhos verdes brilhantes, pegava em suas mãos, beijava-o, falava que o amava e que ele era especial demais para correr tanto perigo. Um barulho de porta abrindo. Mamãe fica assustada e sai carregando ele. Papai sai correndo e fica apontando pra porta. Mamãe fica me segurando até escutar um grito. Mamãe entra no quarto depressa e me pega no colo muito rápido, então eu começo a chorar. Ela chamou pela varinha e começou a falar coisas que eu não conseguia entender. Mas a porta explode. Mamãe me protege da explosão.
Um homem de capa verde escura entra. Mamãe pede que ele vá embora, que ela não deixará que faça mal a mim. Ela me põe no berço. E ele diz que poupará a vida preciosa dela no caso dela lhe entregar o bebê. Ela grita nunca. Eu reconheço o rosto malformado, era Voldemort. Ele diz que não quer matá-la por causa de um moleque que só dará tristeza a ela. Ela balança a cabeça, dizendo que não. Pedia pela minha vida. Então, ele aponta sua varinha para mim e diz gritando: "Afaste-se sua tola! AVADA KEDRAVA! Mamãe pula na minha frente. Ela me olha com lágrima nos olhos, mas sem dizer nada. Ela cai de lado. Ele vem em minha direção e lança mais uma vez a maldição só que ela rebateu numa espécie de escudo que voltou em direção a Voldemort. Ele grita, um outro homem vai em sua direção. De repente, as roupas de Voldemort vão ao chão. Tudo fica em silêncio. A pessoa que seguia Voldemort sai do quarto em disparada. Eu começo a chorar. A marca aparece na minha testa pois começa a arder."
Acordo com o barulho da coruja.
O sonho parecia, sonho não, era tão nítido, que ele sentia ainda o cheiro de sua mãe.
- Calma moçinha, já vou abrir. Será que o Ron não podia ter mandado isso ontem?
Depois de abrir a janela e dar o resto das bolachas para a coruja, Harry pegou a carta do pé de Edwirges.
"Harry,
Você é um bundão mesmo, precisava pedir pra sua coruja me bicar, cara.
Doeu, viu!
Pois bem, falei com a Mione, ela disse pra comprar alguma coisa que sirva pra ter numa casa (trouxa ou não). Eu vou dar um quadro da família. Não pensei em alguma coisa melhor.
Eu brinquei com a mamãe. Falei que você não ia mais voltar aqui em casa, e ela abriu o berreiro. Depois que eu disse que era mentira, ela quase bateu com uma colher de pau na minha cabeça. Ela ta muito sensível esses dias. Ela disse que vai junto com o papai pegar você em casa. Pode-se preparar.
Sabe, Harry, eu também fico pensando muito em tudo o que aconteceu, se vamos voltar, se vamos sai e procurar as "coisas" do Dumbledore, mas, eu tô do seu lado amigo! Eu vou te ajudar como eu puder!
Outra coisa, a minha casa também é sua.
A Tonks e o Lupin estão vindo aqui quase todos os dias, parece que estão nos vigiando.
Eles estão investigando a morte do professor.
Até daqui a pouco,
Ron
P.S: A Gina tá muito quieta. Mas falei que você perguntou por ela e ela abriu um sorriso. Fale com ela quando você chegar."
Harry riu sobre o negócio da coruja. E ficou feliz por saber que era amado por aquela família, e que ele também os amava muito. Sentia saudades de todos, principalmente do Ron e da Gina. Pensou em Gina, nos seus olhos, seu cabelo ruivo, do mesmo jeito que a viu após o enterro de Dumbledore. Sentia sua falta, sentia que não seria o mesmo depois de tudo isso, que faltava algo entre os dois e por conta disso, não poderia ficar com ela.
Sua tia entrou devagar no quarto, Harry só percebeu quando ela lhe dirigiu a palavra.
- Harry! Aqui estão as coisas que você me pediu. Só te peço que não fale comigo daquele jeito de novo e que não me peça mais nada. Já chega de coisas de bruxo aqui em casa. Ouviu bem! – Falou Tia Petúnia entre os dentes para ninguém escutar.
Harry fez que sim com a cabeça. Mas se lembro de que os Weasley vinham pegá-lo no final da tarde.
- Tia Petúnia. Meus amigos bruxos firam me pegar para eu ir a um casamento. Volto em dois dias, tudo bem?
- Tudo bem! Mas não quero que eles fiquem muito tempo aqui e nem quero saber de nenhum aqui em casa passando férias.
Do mesmo jeito que entro, ela saiu.
Harry arrumou algumas coisas para passar os dois dias na casa dos Weasley. Pegou algum dinheiro trouxa e algum dinheiro bruxo e separou numa bolsa. Sua varinha, sua capa de invisibilidade, a roupa do casamento, bem, tudo que precisava.
Ficou esperando até que escutou um grito na sala. E era sua tia Petúnia. Sua carona tinha chegado.
