Não era como se de repente tudo voltasse ao normal, não, definitivamente não funcionava assim

Don't be afraid

Prólogo

Mudanças.

Não era como se de repente tudo voltasse ao normal, não, definitivamente não funcionava assim.

Era isso de Marik tentava explicar a sua família que havia deixado o bom senso junto com o faraó. Porque diabos ele, justamente ele que não gostava de se envolver em nada, estava indo para o maldito Japão?

-Você vai se divertir – Disse sua adorável irmã.

Marik girou os olhos em resposta e voltou a se afundar no banco confortável do avião, eles poderiam estar indo de primeira classe, mas isso não mudava o fato de que sua terra natal estava sendo deixada de lado, seus amigos e seus costumes estavam sendo trocados por kanjis e comida sem gosto. É claro que na mente de um garoto de dez anos isso é o máximo de ruim que poderia acontecer em sua vida.

Você pode revoltar uma criança de muitas formas, não comprando o brinquedo que ela lhe pediu por meses, a ignorando, roubando a última batata-frita do prato, destruindo seu castelo de areia ou...

-NÃO! Isso é ridículo!

Ishizu fuzilou o irmão com os olhos, graças ao seu grito muito discreto, todas as pessoas da loja estavam olhando para eles, mas o loiro parecia não estar nem aí e sequer percebido os olhares.

-É estupidamente cafona, eu me recuso – E bateu pé – E não. Não ouse levar isso – Diz sério e encarando a irmã que apenas desiste e devolve a blusa de volta ao cabide.

Definitivamente, fazer compras com o irmãozinho de onze anos não era tão agradável assim, como se já não bastasse o fato deles chamarem atenção, Marik tinha o cabelo muito claro e pele bem morena, não é necessário dizer que no Japão isso só acontece com as garotas que se bronzeiam para parecem ocidentais.

Mas não é como se eles sofressem de algum preconceito, bom... não nesse gênero, era claro que eles não eram Japoneses.

-Você também não precisa gritar era só uma blusa – Disse indignada enquanto saiam da pequena loja e caminhavam pelas ruas tumultuadas do centro da cidade, Marik apenas virou o rosto em resposta, mas algo chamou sua atenção.

-Ei mana, olha isso!

Ishizu pensa seriamente em ignorá-lo depois da vergonha que passou por causa dele, mas como era difícil o irmão se interessar por qualquer coisa que não fosse passagem de volta para o Egito, ela voltou alguns passos indo até a loja onde ele se encontrava com a cara colada no vidro.

-O que você achou de interessante? – Pergunta de braços cruzados.

Era uma loja de tatuagens e piercings, havia dois grandes pôsteres colados ao vidro, mostrando belas tatuagens e diferentes lugares para os brincos pontiagudos e coloridos.

-Ah você deve estar brincando.

Se já não fosse ruim o bastante tentar fazer o pequeno irmão usar roupas normais e que não chamassem tanto a atenção, agora ele de repente havia descoberto que furar e desenhar no corpo era legal?

-Marik.

Ele ignorou o chamado da irmã, mesmo que sua voz já estivesse alterada. Ele olhou para os piercings, eram tão incríveis e diferentes, ele poderia colocar várias argolas na orelha.

-Marik Ishtar, vamos voltar pra casa, agora.

Um casal que deixava a loja olhou para o garoto e riram baixo, ambos usavam roupas bem diferentes, calças rasgas, coturno e cintos caídos de lado que só serviam de enfeite já que não seguravam a calça, munhequeira nos braços e o cabelo repicado e colorido.

Ah sim. Marik já sabia o que queria, se ele ia mesmo morar naquele país estranho, ele estava decidido a tornar as coisas muito mais agradáveis e é claro ao seu estilo.

-Sinto informar, mas isso aqui não pode ser chamado de casa – Diz Marik enquanto fechava a porta e ajudava a irmã com pesadas sacolas de roupas.

-É uma casa Marik, nós pagamos todo mês – Diz Ishizu já cansada por ouvir a mesma coisa há cinco anos.

-Não, isso é um hotel, não podemos simplesmente comprar uma casa e vivermos em paz?

-Você vivendo num lugar sem serviço de quarto? Marik você não sabe nem fazer um omelete, é uma benção estarmos assim e além do mais, ninguém precisa arrumar a "casa" – E com isso aponta para o "quarto" do garoto que estava com roupas pelo chão.

A "casa" não passava de um quarto quase que presidencial, havia dois quartos, ambos com suíte, sala e todo o conforto, por mais tentador que fosse aquilo não podia ser chamado de vida, Marik só se sentia preso.

-Posso parar de estudar em casa? – Perguntou enquanto se jogava no sofá.

A irmã deixou as sacolas sobre a cama e curiosa se aproximou de braços cruzados ela fez um sinal com a cabeça para que ele continuasse a expor seus planos.

-Eu já tenho 15 anos, e não ganho nada aprendendo aqui.

-Foi escolha sua.

-Eu tinha 10 anos! Esperava mesmo me mandar para um lugar cheio de trogloditas? Eu seria carne fresca e importada!

Ishizu riu com gosto, o irmão sempre tinha que colocar as coisas desse jeito, mas ele falava sério e ela podia ver o brilho determinado em seus olhos claros.

-Se você quer assim... vamos escolher uma escola e—

-Não. Eu já escolhi.

Marik não tomava partido de nada a não ser que tivesse realmente interessado, e nos últimos anos a única coisa em que ele se preocupou era sobre o guarda-roupa que mantinha boa parte em roupas egípcias, com túnicas claras e roupas macias.

-Precisamos fazer a matrícula... essas coisas não são tão simples.

-Eu sei disso – E pegou uma pasta que estava debaixo do sofá, tirou a papelada e colocou sobre a pequena mesa de centro – Eu já preenchi os campos, mas precisa de uma foto e eu não tenho nenhuma atual.

Ishizu viu um sorriso insano se formar nos lábios do irmão. Não, ir para uma escola não era um objetivo ele tinha muita coisa planejada e parecia que já havia calculado tudo até suas próprias falas.

-Então vamos tirar as fotos e levamos os documentos até lá.

-Sim, mas não vou fazer isso agora – Disse bem relaxado.

-Qual o problema? – Questionou erguendo a sobrancelha bem delineada.

-Nenhum, adorável irmã, nenhum.

-Parece que vamos ter um aluno novo – Comenta uma garota de cabelos loiros e olhos azuis, ela ficava perfeita em seu uniforme colegial de saia vermelha e blusa branca ao estilo marinheiro.

-Já não era sem tempo – Diz um outro de cabelos brancos que não estava nem aí em estar com os pés em cima da carteira de outra pessoa.

-Garoto? Garota? – Pergunta um com o cabelo comprido e roxo, a menina loira balança a cabeça negativamente.

-Eu não sei – Diz desanimada.

-Tanto faz, nós vamos dar ótimas "boas vindas" – Diz o garoto tirando os pés da carteira e se sentando corretamente na cadeira.

Continua.

N/A: Vocês já devem ter percebido, mas só quero que fique claro, uma coisa chata dessa fanfic é que ela entra em flash-back quase que todo capítulo e ao mesmo tempo em que as cenas vão passando o tempo varia em semanas, meses e anos até voltar ao "atual".