Disclaimer: Naruto não me pertence.
Na escuridão - Capitulo um
"O que fiz de mal? Perdi um amigo. Em algum lugar no meio dessa amargura, eu teria ficado com você a noite toda. Se eu soubesse como salvar uma vida." - The Fray
Culpa
Cinco anos. Fazem cinco anos que ganhamos a guerra. Cinco anos que perdemos amigos. Cinco anos desde que ele voltou.
Ainda me lembro do sorriso do Naruto ao acordar no hospital. "Eu consegui Sakura, cumpri a minha promessa. Eu trouxe o Sasuke para casa." Aqueles olhos azuis brilhando, retratando uma felicidade que não se pode medir.
Finalmente ele estava em casa. Finalmente ele estava perto daqueles que o amavam. Mas eu sabia, pra ele isso era apenas uma obrigação. Ele se sentia no dever de honrar a memória de Itachi, que matou e morreu para proteger Konoha.
Não vou fingir que sei o que se passa na cabeça dele, acho que a unica pessoa capaz disso é o Naruto. Afinal, durante o tempo em que ficou preso esperando julgamento, Naruto foi a unica pessoa que ele permitiu que lhe visitasse. O único contato que tive com Sasuke foi quando o tratei após a sua luta com Naruto e mesmo assim ele estava inconsciente.
Desde que ele me deixou naquele banco, eu sonhei com o dia de seu retorno. Havia tanta coisas que eu queria lhe dizer. Queria estar ao lado dele, ajuda-lo a enfrentar seus demônios, ajuda-lo a voltar a viver novamente. Mas isso não seria possível.
Toda vez que fecho os meus olhos imagens do seu genjutsu me vem a memória. Cenas horríveis de batalhas, a morte de seus pais, a morte de seu irmão E a minha própria morte. De todas as maneiras possíveis. O recado que ele quis transmitir com aquilo ficou claro. Ele não me queria próxima a ele. Eu não era nada, apenas um empecilho. Algo que devia ser ignorado.
Afinal, não foi isso o que ele sempre fez? Ignorou-me?
Ele foi absolvido de seus crimes internacionais (apesar do Raikage ainda querer vingança por conta de seu braço) o fato dele ter nos ajudado a vencer a guerra foi um fator importantíssimo. Por conta de sua deserção a Konoha, ele ficou em uma espécie de liberdade condicional. Durante um ano teria uma escolta ANBU o seguindo 24h por dia, sair da vila só seria permitido após dois anos, porém ele poderia treinar livremente dentro dos limites da aldeia, e voltar a fazer parte do shinobis se assim desejasse.
Naruto o convenceu a fazer o exame chunnin, hoje, cinco anos depois, ele é um jounin. Um dos melhores. Poderia até ser um ANBU.
Eu o vejo a vezes, na rua, na torre da Hokage, mas nós não nos falamos, não nos reconhecemos. Toda vez que o vejo, meu coração para, eu sei o motivo, porque eu o amo. Sempre amei. É bem provável que sempre vou amar.
Mas o que ele sente por mim? A resposta é simples. NADA.
No começo Naruto estranhou o meu distanciamento, ele (e toda a vila) esperava que assim que Sasuke saísse da prisão eu iria me lançar no pescoço dele e declamar o meu amor aos quatro ventos,mas eu não o fiz. Isso seria apenas mais uma humilhante cena de Sakura Haruno e eu estava cansada desse filme. Ele sabia do meu amor, e mesmo assim escolheu me machucar de todas as formas possíveis.
Deus. Como eu queria odiá-lo. Ter forças para enfrenta-lo.
Mas ao invés disso eu tentei seguir a minha vida, e até certo ponto eu consegui.
Até um certo dia, em que fui chamada até a sala da Hokage...
E ele estava lá. Em toda a sua gloria.
Fui chamada porque houve um ataque a uma aldeia perto da fronteira. Havia vários feridos. Duas equipes seriam mandadas. Uma equipe de médicos comandados por mim. Deveríamos procurar por sobreviventes e tentar salvas a maior quantidade de vidas possíveis.
E a segunda equipe, que deveria vasculhar a área e tentar encontrar quem foi o responsável pelo ataque. E adivinha quem era o capitão da segunda equipe?
Pois é. Deveria ser o meu dia de sorte.
Partimos em quinze minutos. A equipe de Sasuke agiria como uma escolta para mim e os outros médicos. Evitando assim que qualquer coisa nos interrompesse de salvar a vida daquelas pessoas.
Porém ao chegar na aldeia, percebi que havia pouco o que pudéssemos fazer.
A aldeia estava em ruínas, em chamas. Ficamos horas procurando sobreviventes e encontramos apenas uns 30 por entre os escombros, quem quer que fosse responsável por aquele ataque deveria ser um ninja de grande poder. Haviam 473 habitantes nessa aldeia.
Sasuke quis montar uma tenda para que tratássemos os feridos, mas havia um prédio intacto na aldeia e eu sabia que iria precisar de uma estrutura maior que uma tenda para tratar aquelas pessoas. Então eu insisti. O prédio era a nossa melhor opção.
"Faz o que você quiser então." Foi tudo o que Sasuke me disse antes de partir com os integrantes de sua equipe para vasculhar a área.
Dos trinta feridos, sete morreram devido a gravidade de seus ferimentos. Eu e minha equipe nos focamos em tratar os ferimento mais graves primeiro. Havia muitas fraturas, lacerações e ferimentos internos. Trabalhamos a noite toda curando aquelas pessoas. Pelo o que eu conversei com os meus pacientes, um grupo de aproximadamente 3 ninjas atacaram a aldeia. Por ser uma aldeia civil, eles não possuem conhecimentos de jutsus ou manuseio de armas, não puderam fazer nada contra os invasores.
O dia já estava raiando, eu estava cuidando de uma garotinha, ela tinha um perna quebrada e três costelas trincadas, mas nenhum ferimento letal. Eu estava tentando fazer-la rir, odeio ver crianças tristes, a família dela morreu, a unica pessoa que ela tinha era seu avô, que eu já havia tratado. Como alguem invade uma aldeia e destrói tudo sem nenhum motivo aparente? Que tipo de monstro faria isso?
Eu estava enfaixando a perna da garota, completamente curada agora, quando o senti atrás de mim. Poderiam se passar mil anos, mas eu sempre saberia quando ele estava por perto. Era como se ele fosse um imã, sempre me atraindo.
Eu me virei, e o encontrei ferido. Ao que parece ele achou o inimigo, e teve uma luta feroz.
"Então você achou melhor trazer-los para o prédio?"
"Me pareceu a melhor ideia Sasuke. Vem cá, deixa eu dar uma olhada em seus ferimentos."
Enquanto eu o curava- ele teve várias faturas, cortes profundos e um ombro deslocado- mantive os meus olhos longe dos dele. Tentei manter a minha atitude o mais profissional possível. Mas quando fui curar o seu ombro deslocado, não pude evitar de encontrar aqueles olhos negros.
Aqueles olhos negros que me assombram em meus sonhos. Eles pareciam cansados, como se já tivessem vividos séculos e lutado em batalhas sem descanso por milênios, aqueles olhos que escondem dor e sofrimento.
"Você teve sorte, suas costelas quebradas não perfuraram nenhum órgão. E seu ombro irá ficar bem, talvez fique um pouco dolorido por alguns dias." Eu disse, tentando iniciar uma conversa. "Essa vila está completamente destruída, você descobriu como fizeram isso?"
"Eram ninjas da vila do Tornado, muito fortes, mas não demonstraram nenhum jutsu que possa ter causado tanto estrago. Hiro e Kato estão dando uma olhada nos escombros para obter alguma pista." Ele me disse, Sasuke podia ser frio e distante, mas sei que ele nunca gostou de injustiças, pelo modo como seu punho se fechou quando chegamos na aldeia, eu já sabia que ele ia fazer a pessoa que causou tanto estrago sofrer.
"Já cuidamos dos sobreviventes, estão todos estabilizados, eles me disseram que há uma aldeia há alguns quilômetros, eles irão procurar abrigo por lá. Acho que já podemos retornar a Konoha, a não ser que você queira fazer mais uma varredura na região."
"Hn"
Sempre com as respostas monossilábicas.
"O que seria isso? Sim, podemos retornar a konoha? Ou, não, quero me certificar que peguei o bastardo que fez isso? Sabe eu não entendo o que 'hn' quer dizer, se importa em elaborar um pouco mais?" Como ele conseguia se manter frio e desapegado diante de todo o horror que vimos ao chegar a essa aldeia, como ele conseguia agir tão friamente, tão , tão...
Eu sabia que não era isso que estava me incomodando. Mas sim o fato de eu estar a beira de um ataque de nervos, somente pelo fato de estar perto dele. Porque ele significa muito para mim. Mas ele, não parece afetado nem um pouco pela minha presença. Será que ele não podia facilitar ao menos uma vez? Ele não via o quanto estava me custando trata-lo como qualquer outro companheiro ninja?
Você não significa nada pra ele, lembra? Então porque ele estaria afetado?
"Podemos voltar para Konoha." Ele disse por entre os dentes.
"Ótimo, acho que não há necessidade de ter pressa, podemos levar os sobreviventes até a aldeia próxima e depois seguir viagem até Konoha."
Antes que ele pudesse abrir a boca pra dizer algo, houve uma explosão na parte de trás do prédio, tão alta que fez meus ouvidos doeram. O chão começou a tremer, e senti os braços dele em minha cintura, me teletransportando para fora do prédio que começou a desabar.
Do lado de fora, ele começou a dar ordens a sua equipe, para que montassem um perímetro e descobrissem da onde veio aquela explosão. Seu braço, nunca deixando a minha cintura mas naquele momento eu não me importava . Minha equipe médica estava naquele prédio, os sobreviventes do ataque estavam naquele prédio. A garotinha com perna quebrada - Akina era o nome dela- estava naquele prédio. Prédio este que havia desabado, pegado fogo por conta da explosão.
Tudo aconteceu tão rápido e ao mesmo tempo tão lento. Em um instante eu estava falando com o Sasuke, no próximo eu estava do lado de fora, com o braço dele em minha cintura, me segurando pra que eu não corresse para as ruínas em chamas do prédio.
"Sakura, você sabe que não tem como ajuda-los. Acabou." Ele disse em meu ouvido. Naquela voz profunda.
"Me solta! Você não sabe! Alguém pode estar vivo!" Eu gritei, enquanto tentava me desvincilhar de seu braço. " Me solta, Sasuke!"
"Sakura, acabou. Eles morreram."
Eles morreram, por minha culpa.
A viagem de volta a Konoha se passou num borrão. A explosão foi causada por uma bomba que de alguma forma, eu não percebi quando inspecionei o prédio, os 23 sobreviventes, mais a minha equipe morreram naquela explosão, pelo menos foi isso o que eu ouvi o Sasuke dizer a Tsunade-shishou. Eu não conseguia dizer nada. Não consegui nem mesmo olhar nos olhos da minha mestra ou de Naruto que estava no canto da sala.
Como eu pude ser tão desatenta?
Era minha culpa que eles estavam mortos. Fui eu que mandei alocar os feridos naquele prédio, fui eu que não prestei atenção , que não fiz uma checagem mais minuciosa do prédio, agora todos estavam mortos. A minha equipe médica estava morta. Sasuke cumpriu a sua missão, pegou os malditos que atacaram a vila, porém eu falhei, não consegui salvar nenhuma vida. Alias, até adicionei mais nomes ao mortos.
"Sakura, eu entendo que você esteja abalada, mas nada disso foi sua culpa. Estou lhe dando folga, tire alguns dias para descansar e relaxar." Eu conseguia ouvir Tsunade falando, mas era como se suas palavras tivessem sendo abafadas. Eu não conseguia compreende-las. Tudo o que eu conseguia ouvir, era o barulho da explosão. Tudo o que eu conseguia ver, era os pedaços dos corpos entre o entulho do desmoronamento.
A verdade é que se não fosse pela velocidade de Sasuke em nos teletransportar, aquele prédio teria caído sobre nossas cabeças.
Mas se ele me salvou, porque não fez o mesmo com Akina, que estava apenas a alguns metros de nós "Sakura?" ouvi um voz chamando. "Sakura você ao menos ouviu o que eu disse? Sakura?" De quem era mesmo essa voz. Tsunade-shishou talvez?
"Sakura." Naruto disse.
"Sim." Eu sai de meu devaneio, estava na sala da Hokage, Sasuke estava apresentando os detalhes da missão. Eu tive que me lembrar de onde eu estava, e encarar minha mestra, que tinha seus olhos preocupados travados nos meus.
"Eu sei que perder a sua equipe foi um baque Sakura, Mas você precisa sair dessa." Ela disse, seus olhos cor de mel ficando mais compreensíveis a cada palavra.
"Eu estou bem Shishou." Não, eu não estava bem.
"Vá pra casa e descanse Sakura."
Eu me virei, indo em direção a porta, mas ao passar por Sasuke vi algo em seus olhos. Aquilo era ... não, não é possível, mas por um milésimo de segundo, me pareceu haver preocupação em seu olhar.
No dia em que o ultimo Uchiha se preocupar comigo, será o dia em que Naruto alegará odiar ramem.
Eu devo estar tão exausta, física e emocionalmente, que a minha mente começou a pregar peças em mim. Só pode.
Ao chegar em casa, finalmente pude chorar por tudo o que aconteceu. Fechei a porta e desabei ali mesmo. Chorei até não haver mais lágrimas para chorar, quando finalmente peguei no sono, sonhei com o Sasuke
Sasuke me salvando da explosão, Sasuke me segurando pela cintura, para evitar que eu fosse até os escombros, Sasuke continuando me segurando mesmo após eu ter parado de mexer.
Isso tudo aconteceu mesmo, ou foi apenas um sonho?
De acordo com a Tsunade shishou eu estou sofrendo de estresse pós-traumático. De acordo com o meu psicologo eu me culpo pela morte daquelas pessoas. De acordo com o Naruto, eu não deveria me culpar.
Como posso não me culpar, se para todo lugar que eu vou eu vejo o rosto daqueles que morreram?
Passaram-se dois meses após aquela missão. Mesmo após dois meses, eu ainda não havia retornado ao meu trabalho. Eu simplesmente não conseguia chegar perto do hospital, não conseguia nem mesmo canalizar chakra em minhas mãos. Culpa do tal estresse pós-traumático. Todos estão sendo compreensíveis comigo, Tsunade me deu uma licença, disse que devo levar o tempo que achar necessário para por a cabeça no lugar. Ino todos os dias almoçava comigo. Naruto todas as manhãs antes de ir á torre da Hokage, passava em meu apartamento para tomar café da manhã. Bem eu tomava café, ele comia ramem.
Eles estavam tentando de todas as formas possíveis fazer com que eu me recupere.
Mas eles não entendiam. Eles não tinham pesadelos, eles não sentiam gosto de sangue toda vez que tentam comer algo. Eles não estavam sendo consumidos pela culpa.
Eu estava visivelmente mais magra, minha pele mais pálida, meu cabelo e olhos sem brilho, sem vida. Eu tinha a aparência de um zumbi. Tudo o que eu conseguia fazer era ficar pensando naquelas pessoas, tais pensamentos me impediam de dormir, comer, viver.
Meu médico me prescreveu um calmante, devo tomar uma pilula antes de dormir, mas calmantes não inibem os pesadelos, apenas me deixam incapaz de acordar deles antes que o sol raie.
Naquela noite, novamente eu não conseguia dormir. Estava andando a esmo pelo meu apartamento. Estava quase amanhecendo e eu ainda não havia fechado os olhos. Há quanto tempo eu estava acordada? Pra mim parecia uma eternidade.
Mesmo acordada imagens daquele dia me assombravam, o brilho no olho de Akina quando a encontramos, o sorriso de Sora, meu aprendiz, quando me disse que todos estavam estabilizados e que poderiam ir embora dali, o brilho esverdeado em minhas mãos enquanto eu curava o Sasuke. O clarão da explosão, o fogo, os destroços, os corpos.
De repente era tudo demais pra eu aguentar. Eu não queria rever essas imagens todos os dias, eu não queria ficar presa neste pesadelo. A terapia deveria ajudar, mas estava apenas piorando. Eu queria sumir, fechar os olhos e não estar mais aqui, não sofrer mais pelos meus erros. Agora entendo pelo que o pai do Kakashi-sensei passou.
Num momento de desespero, corri até o meu quarto, peguei a caixa de comprimidos, mesmo apesar da minha instabilidade, sou uma médica, sei quantos comprimidos tomar para obter o efeito desejado. Joguei sete comprimidos em minha mão. Fui até a minha cama, olhei pela janela. O sol estava nascendo. Seria mais um belo dia em Konoha.
Suspirei. Os dias mais belos são os piores. Porque sei que todas aquelas pessoas que matei, não veriam o sol, ou sentiriam o vento.
Espero que Naruto me perdoe.
Minha decisão estava tomada, engoli os comprimidos, deitei em minha cama e esperei que fizessem efeito. Aos poucos minha visão ficou turva, meus pensamentos nublados, então quando eu estava deslizando para inconsciência lembrei me de algo.
Dos olhos dele, negros, profundos.
Eu te amo, Sasuke.
Essa é a minha primeira fic, eu não consegui resistir as ideias que brotavam em minha cabeça. Ainda não sei ao certo o quão longe essa fic vai chegar. Mas precisava escreve-la.
Quero agradecer a minha amiga Athalya, por ter me incentivado e ter sido uma critica literária fenomenal!
E agradecer a BrunaSchan, por ter me infernizado, e também pelos nossos papos, que me deram coragem para postar a fic.
Me digam se gostaram ou odiaram a fic okay? Qualquer opinião é válida.
