Indecoroso

"Amizade, paixão, amor e sexo. Não necessariamente nessa ordem. Afinal, ela só queria um beijo, ele queria muito mais."


Porque às vezes o que a gente procura, não é o que a gente procura, e sim o que a gente encontra.

Para Kahli Hime, por me ensinar a valorisar minhas fanfics.

Disclaimer: No dia em que a série for minha, mudarei o nome dela para "Sasuke". Fufufufu...


Capítulo 1. Amizade

15 de março, 1996

Os orbes esverdeados já estavam vermelhos, denunciando o tempo daquele choro incontido. Os soluços que irrompiam a envergonhavam, detestava demonstrar fraqueza, mesmo que fosse de fato frágil.

Não era fácil se manter firme e aguentar as gozações sozinha, sua mãe apenas pedia para que tivesse paciência, e que não revidasse ou se mostrasse mal com aquilo, já que assim só pioraria. Ser chamada de testuda era um apelido injusto, não tinha nada de tão grande assim na sua testa. Havia perdido à conta de quantas vezes a analisara em frente ao espelho.

Por uma longa semana lutou para não se importar, para ignorar aquela maldade. Por uma longa semana não derramou uma lágrima sequer e, agora, as mesmas pareciam querer recompensar o tempo perdido. Todo seu esforço havia sido em vão, eles não parariam de rir dela, e ela não pararia de se magoar com aquilo.

- Eles não vão parar se você continuar se importando.

Sobressaltou-se ao ouvir a voz infantil vindo bem em frente donde estava. Por ter o rosto encostado nos braços, encolhida, não via nada nem ninguém. Olhou o garotinho na sua frente. E irritou-se com ele.

- Que diferença isso faz para você? – indagou, ríspida.

Ele não se moveu. E se tinha se incomodado com seu tom de voz, não deixou transparecer no rosto indiferente. Os grandes olhos negros a encaravam de maneira tão profunda que ela se encolheu, com medo de que ele fosse tirar sarro dela também.

Vendo a reação da pequena rosada, se permitiu um suspiro. O que ele estava fazendo ali, não sabia. Ou melhor, ele não sabia o que ela estava fazendo ali, na sua árvore. Enfiou as mãos no bolso e começou a observá-la melhor. Os braços finos estavam cheios de vergões, e os joelhos, ralados. Parecia aquele tipo de garota estabanada, o tipo de garota que ele simplesmente tentava manter distância.

- Eu não vou colocar apelidos em você. – Porque ele podia ser reservado, mas não era surdo. – É que essa é a minha árvore.

- Onde está seu nome aqui?

Petulante. Era isso que ela era. Petulante, e muito irritante também. Tinha todo o direito de estar irritada com as crianças que tiravam sarro dela, mas não o de descontar nele. Que nunca tinha nem reparado que seu cabelo era rosa. Aliás, que cor estranha para o cabelo de uma criança.

- Eu sempre sento aqui – ele não sabia por que estava lhe explicando algo.

Ela o olhou, irritada e chorosa ao mesmo tempo. À contragosto se afastou um pouco, deixando um espaço para ele se sentar. O pequeno Uchiha levantou a sobrancelha de forma indagadora. Ele se sentava ali exatamente porque era o canto mais afastado da escola, o que, logicamente, significava que ele queria estar sozinho. E isso incluía não ter uma garota de cabelo rosa chorando ao seu lado. Mas ela não pareceu ter notado isso.

E mesmo com ela usurpando seu lugar de direito – porque quando você frequenta um lugar inabitado, ele se torna seu depois de um tempo – o moreno se sentou ao seu lado. Só que ele queria que ela fosse embora, e pela primeira vez, não sabia como falar algo para alguém.

- Como é seu nome?

Ela levantou o rosto, desconfiada. Era tão difícil deixarem-na sozinha quando ela queria estar?

- Haruno Sakura. – respondeu, num fio de voz.

- Sou Uchiha Sasuke.

Seus lábios se curvaram num sorrisinho sarcástico.

- Eu sei.

É claro que ela sabia, toda a população feminina sabia quem ele era. Mesmo aos nove anos de idade, Sasuke Uchiha era o sonho de consumo de muitas. E, secretamente, dela também. Mas ele não precisava saber disso, aliás, ele não iria saber. Porque já bastava ser chamada de testuda, não queria ser rechaçada e dar mais um motivo para virar piada em toda a escola.

- Eles não vão parar se você continuar se importando. – Ele repetiu.

- Você já disse isso... – sussurrou e soltou um longo suspiro resignado, apoiando o queixo nos braços cruzados sobre o joelho. – Todos já disseram isso, a Tsunade-sensei, a minha mãe, todos. Só que não é fácil simplesmente não se importar.

- Eu não me importo...

- E como você se importaria? – Ela gritou, exasperada, levantando-se num salto, apertando os pequenos punhos ao lado do corpo. – Você é Uchiha Sasuke, o queridinho de todo mundo! Pode ter quantos amigos quiser e precisar. Mesmo que algo te magoe você tem seu irmão pra te apoiar, você tem amigos. Eu nem amigos tenho! Preciso aguentar tudo sozinha e ficar ouvindo minha mãe, ocupada demais pra me consolar, dizer que "eles não vão parar se você continuar se importando". É muito fácil falar, mas não se importar é difícil, principalmente quando não se tem nenhum amigo. Nenhum.

O choro havia voltado mais violento do que antes. Os soluços sacudiam seu corpo que após a explosão escorregava pelo tronco da árvore. O moreno, mesmo sem ter dito uma palavra, tinha os olhos arregalados de maneira discreta. Não poderia ter imaginado que a rosada fosse tão solitária, nunca tinha prestado atenção nela até o dia em que ela ursupara seu lugar.

Suspirou, algo que não era de seu feitio e que repetia pela segunda vez em menos de dez minutos. Em seguida pressionou os sulcos da sobrancelha, como que para se preparar do sacrifício que estava prestes a fazer: sua tão amada solidão.

Olhou novamente para a garota de grandes olhos verdes, de como ela parecia triste e frágil. Vê-la assim despertava-lhe um sentimento antagônico ao seu corportamento usual, a compaixão e a vontade de proteger alguém.

- Você acha que se tivesse um amigo seria mais fácil de enfrentar tudo isso? - ele perguntou, distante, olhando para o céu atravéz das copas das àrvores. Quanto a viu confirmar pela visão periférica, deu um sorrisinho de canto. - Então, serei seu amigo.

Ela silenciou-se no mesmo instante. Os olhos piscando freneticamente como se aquilo fosse lhe ajudar a compreender o que o moreno dizia. Uchiha Sasuke, o indiferente e arrogante garoto da sua classe, queria ser seu... amigo? Sorriu, amplamente. Dedicou ao mais novo amigo o seu melhor sorriso, para logo após estralar um beijo em sua bochecha e lhe abraçar apertado.

O Uchiha mais novo pareceu um pouco desconfortável, mas a visão daquele sorriso ainda amortecia seu temperamento. Era assim que ele queria vê-la sempre, sorrindo.


Continua...


Cá estou eu com a minha primeira e mais nova short-fic. Serão quatro capítulos (ganha uma dedicatória no próximo quem adivinhar o nome dos quatro) curtinhos, mas cheio de significados.

Entre cada um será um periodo de cinco anos. E tentarei postar no máximo uma vez por mês (por que tem Sala Vazia, vocês sabem...), claro que, se a quantidade de reviews for, tipo, uau! eu continuo mais rápido.

Espero que tenham gostado.

Lembrem-se: reviews movem montanhas, ou melhor, capítulos.

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Beijos!