Título: Pouco a Pouco

Resumo: Eles são totalmente diferentes e pouco a pouco se tornaram amigos. Mas personalidades conflitantes e passados obscuros podem acabar com um bom relacionamento... Ou tornar o mesmo mais forte e profundo.

Anime: Saint Seiya

Casal: Milo e Kamus.

Classificação: UA, YAOI, Romance, Drama, Comédia, Variação Mental...

Disclaimer: Todos os personagens de Saint Seiya pertencem a Massami Kurumada, Toei Animation e Bandai. Só estou escrevendo esse treco por que, num belo dia, uma idéia esquisita caiu do nada na minha cabeça contendo alguns personagens desta série. Doeu muito! Então resolvi escreve-la para ver se me livro do trauma... Oo'

Uma breve explicação:...

Coloquei no meio da Fic personagens que não aparecem na série de TV ou no Mangá. Pode ser que eu invente mais alguns pais, mães, irmãos, tios, sogras, papagaios, patos, cachorros ou qualquer outra coisa viva que vá aparecer nesse treco. .

Orientação Psicológica (muhauhau!):

ISSAKI É FIC YAOI! OU SEJA, CONTÉM RELACIONAMENTO AMOROSO (ou de qualquer outro tipo mais caliente) ENTRE HOMENS.
Por tanto, se não gosta do assunto ou tem menos de 18 anos, não leia, por favor. Não vai ser bom pra você... T.T'


Uma Boa Leitura!


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Pouco a Pouco

Capítulo I: Eu Te Conheço?
1ª parte

Aparição e Existência.

Ô sensaçãozinha boa! Apesar de algo estar tremendamente estranho na mesma... Parecia que quando chegava mais perto daquela pessoa, a imagem ficava completamente turva, ou talvez alguma coisa dentro de sua cabeça desligasse do nada. Podia ser também o efeito de alguma bebida... E aquela dança completamente sensual... Os corpos se roçando levemente naquele ritmo provocativo, os lábios sendo examinados em todos os sentidos, os olhos fitando sem pudor algum todas as partes mais lúbricas e convidativas um do outro... E aquelas mãos perfeitas e quentes correndo pelo seu corpo, distribuindo caricias eletrizantes, deslizando pela pele morena e levemente úmida pelo suor, apertando seus pontos mais sensíveis, mapeando ao redor de cada músculo e sempre descendo, descendo cada vez mais até o ponto de maior...

–... ACORDA MILO!

– O QUÊ! COMO! ONDE! – Saltou da cama um grego desesperado, olhando em volta e procurando algum foco de incêndio. Segundos depois olhou para o lado percebendo uma conhecida cara pálida e de poucos amigos.

– Finalmente! – O companheiro levanta as mãos em sinal de agradecimento aos céus. – Cheguei a pensar que estivesse morto... E o café ta na mesa.

– Shaka! – Rosnou o rapaz tentando tirar algumas, das muitas, mechas loiras do rosto indignado por tê-lo acordado na melhor parte do seu sonho. – Sua Barbiezinha mal acabada, quantas vezes já falei que não precisa gritar! Uma hora eu acordo!

– Só se for à uma hora da tarde mesmo. – Replicou o outro cruzando os braços demonstrando sua falta de paciência com o colega. – E se não estou enganado esta é a terceira vez que entro no seu quarto para lhe chamar.

– Mesmo assim! – Colocou uma das mãos no peito tentando relaxar e controlar a respiração acelerada. – Se for pra me assustar deste jeito chama o Bin Laden de uma vez!...

– Não temos Bin Laden, mas temos Aioria. – E, por fim, um sorriso sarcástico brotou no canto dos lábios do indiano. – Que me diz de ele voltar a acordá-lo?

Sentindo um leve arrepio acabou por lembrar do que aquele leão maldito era capaz de fazer. Da última vez, num inverno que era o inferno, Aioria fez questão de levá-lo, no colo e ainda dormindo, para o banheiro enfiando-o de uma só vez numa banheira cheia de água em temperatura ambiente. Sem contar dois dias depois quando pegou uma gripe feia ficando de cama durante uma semana.

– Obrigado por me acordar, pequeno Buda! – Respondeu na habitual cara de pau. – Já disse que te amo hoje?

– E nem adianta dizer. – Continuou com o mesmo sorrisinho impassível a sua frente.

– Ta bom, esquece! – Deu-se por vencido apanhando uma toalha e dirigindo-se ao banheiro, pois aquilo só podia significar uma coisa: Ninguém faria a gentileza de prepará-lhe um belo suco de laranjas naquela manhã.

Enquanto Shaka voltava à cozinha retomando sua discussão matinal sobre boa alimentação com Aioria, Milo adentrava o banheiro espreguiçando-se relaxadamente igual a um gato que acabava de sair de cima de almofadas. Ainda sentia aquela lombeira que só mesmo um sono mal acabado poderia produzir. Coçou aqui, coçou ali, deu uma longa olhada no espelho constatando sua cara sonsa e contrariada. "Noites de internet fazem isso com você..." pensou enquanto pendurava a toalha em algum lugar. Olhou em volta meio zonzo tentando se lembrar onde estava, de onde vinha e pra onde ia, finalmente dando de ombros e voltando à rotina de movimentos mecânicos no recinto. Por fim, deu-se conta de estar debaixo do chuveiro morno, saindo de seu estado hipnotizado e se perguntando algo sobre ter esquecido das suas necessidades fisiológicas... Bah! Agora só depois do banho e olhe lá, pois com certeza estava alguns minutinhos atrasado.

– MIIIIIILOOOOOOOO! – Ouviu-se a grave voz do leonino enquanto um certo virginiano revirava os olhos depois de ter se assustado com o berro repentino. – VAI QUERER CARONA?

– É CLAAARO, PELUDINHO! – Respondeu o escorpiano, deixando Shaka ainda mais fulo com toda aquela gritaria.

– ENTÃO ANDA LOGO! AINDA TENHO QUE PEGAR A MARIN NA CASA DELA! – Clamou Aioria, arrancando suspiros desanimados do irritado indiano na cozinha. – E PELUDINHO É A PxTx Qxx Tx PxRxx!

– VAI-TE A MxRDx, FELINO!

– Oh, Buda... Dá-me força... ­– Shaka, recobrando um pouco da paciência, continuou em prece esperando que seu sentido da audição não fosse afetado pelos brados escandalosos. Por mais que quisesse, infelizmente não conseguia se acostumar com a algazarra que aqueles dois gregos teimavam em aprontar. E quando seus dois amigos engatavam numa animada conversa cada um em um cômodo diferente? Acabavam com a concentração de qualquer um, tendo de se apelar para ameaças não muito eficazes como greve de arrumação do apartamento e fogão. Isso o lembrava que, pouco tempo atrás, havia dito que deixaria de cozinhar para aqueles folgados... Mas no dia seguinte, para sua tristeza e preocupação, a casa amanheceu cheia de pacotinhos de biscoitos, chips de todos os sabores artificiais, latinhas de cerveja abarrotando a geladeira, dezenas de cup-noodles na dispensa, e várias caixas com o conhecido "M" amarelo da McDonald's entulhando a lixeira da cozinha. – Esses dois ainda vão me colocar num hospício...

– Que nada, Loiro! – Pode-se ouvir uma gostosa e debochada risada. – Este apê já é um manicômio, olha só! – Disse Milo que, após sair do banheiro, foi se enxugar na cozinha somente para bagunçar os cabelos de Aioria que tentava se desvencilhar desesperado, pois os cabelos daquele diabinho estavam encharcando sua camisa. – Pronto, Leãozinho, agora você tem o que fazer enquanto me espera arrumar e tomar café.

– ORA SEU... – Levantou-se o leonino pronto pra sair no braço com seu conterrâneo.

– CALMA, CALMA, ESPERA! – O outro levantou as mãos em sinal de paz. – Você não agarraria um cara Super-Ultra-Mega-Sexy e peladão como eu, agarraria?...

A resposta veio como um pesado cascudo daqueles de encherem os olhos d'água, fazendo com que Aioria se sentisse mais calmo e conformado a escolher outra roupa e mais uma vez pentear seus cabelos. Shaka apenas denunciava sua vontade de rir por trás de um sorrisinho apertado nos lábios enquanto observava o escorpiano alcançar seu quarto segurando sua cabeça dolorida.

– Tenho duas crianças dentro de casa... – Comentou o indiano ainda rindo e voltando a seus afazeres matinais.

Num dos quartos a bagunça estava armada pela quantidade de roupas empilhadas na cama do escorpião. A "barbie" que o perdoasse, mas não havia muito tempo se quisesse tomar um café bem reforçado e ainda se aproveitar de uma carona pra faculdade. Chegaria cedo, só que enfrentar ônibus naquela hora da manhã era desanimador.

Vestiu rapidamente uma calça Jeans rasgada nos joelhos e colada nas coxas musculosas, acompanhada duma blusa de algodão leve exibindo em degradê a sombra de um escorpião na lateral direita. Calçou meias, tênis e desembaraçou os cabelos desgrenhando-os logo em seguida para que caíssem naturalmente por seus ombros e costas. Visualizou-se no grande espelho do armário.

"Divino!" Pensou se exibindo com mil caras e poses. "Só não sou mais bonito por falta de espaço!" Este sim era um narcisista de primeiríssima categoria. Aquela cabeleira loira ondulada e repicada era um de seus maiores orgulhos. Também tinha o fato de ser relativamente alto, olhos azuis irresistíveis, ombros largos, saldo negativo de barriga com músculos no formato tanquinho, pernas e braços fortes, lábios bem delineados e... "PELOS DEUSES! Se eu tivesse um gêmeo daria em incesto com certeza!" Sentiu-se tentado a fazer um clone se fosse possível!

Continuou admirado, esquecendo do tempo que se tornava cada vez mais escasso quando uma voz zombeteira o tirou de seus devaneios.

– Pare de se comer ou Aioria vai deixá-lo pra trás...

– AAH! – Deu um pulo na mesma hora assustado com a figura pálida e esguia de um de seus companheiros escorado na porta. – Que susto! Há quanto tempo está me observando!

– Não muito... – E Shaka esboçou um sorriso malicioso. – Acho que o bastante para presenciar e apreciar o seu auto-hipnotismo.

– Vê se não enche! – O grego voltou a se olhar fingindo dar pequenos retoques na franja escondendo a vermelhidão que lhe tomou o rosto.

– Ok, não encho... E que zona é essa? – Retrucou o indiano dirigindo-se a cama de Milo já com seu habitual semblante de irritação pela bagunça.

– Relaxa pequeno Buda que quando eu voltar arrumo tudo... – Sorriu satisfeito por aquilo estar incomodando o outro.

– Vou fingir que acredito. – E sem fitar o garoto sorridente atrás de si, sentou-se na beirada da cama começando a dobrar as peças de roupas espalhadas. – Vai logo tomar seu café, fedelho!

– Sim, Mamãe! – Correu antes que pudesse servir de alvo para o próprio travesseiro.

Milo entrou na cozinha com seu estomago gritando por socorro e seus olhos brilharam com a visão da mesa repleta de frutas, torradas, biscoitos variados, geléias e bolinhos doces. Sem contar seu lugarzinho arrumado e pronto com um prato cheio de panquecas quentinhas e um enorme copo de suco de laranjas puro, com duas pedras de gelo boiando junto aos favinhos da fruta. Tudo muito bem caprichado assim como qualquer coisa que Shaka fazia naquele espaço do apartamento. Não conteve um longo suspiro de adoração ao sentar e dar as primeiras mordidas no seu precioso café da manhã. Ah, e o sabor... Chegava a pensar que esse era digno de competir com qualquer tipo de orgasmo e ainda ganhar primeiro prêmio tamanho o prazer que proporcionava.

Terminado de se empanturrar rapidamente, e muito a contragosto, ouviu a porta de um dos quartos bater e a voz de Aioria ecoar novamente pelos corredores.

– SIMBORA, MILO! – Berrou o leonino mais uma vez.

Entornando o resto do suco goela a baixo, o escorpiano correu até seu quarto para apanhar seu material e se despedir de sua "mamãe" dando-lhe um estalado beijo na bochecha. Shaka desatou a xingá-lo em Hindu de tão desconsertado que ficou ao ver o grego distanciando-se as gargalhadas.

– Por Buda! – Suspirou sabendo que aquele ali não tinha mais conserto. – Só pode ser karma...

...o§O§o...

Campus da Universidade de Atenas, Centro. Faculdade de Publicidade.

Boa parte das pessoas ainda não estava no campus devido ao horário. Era muito cedo, mas como carona por parte do leãozinho era coisa rara demais, resolveu aproveitar aprontando todas e mais algumas dentro do veículo, arrancando boas gargalhadas de Marin e altos xingamentos do motorista que tentava a todo custo não enfiar o carro na traseira de qualquer outro a sua frente.

Já em sua sala, cumprimentou as pessoas presentes arrancando suspiros e olhares desejosos de todas as garotas e de alguns rapazes. Sentiu-se em casa acomodado em sua usual carteira enquanto certos observadores famintos comentavam, maliciosos e nada discretos, sobre o belo e sensual moreno de madeixas douradas que dava o ar da graça meia hora antes das aulas começarem.

– Como foi de final de semana, seu Grego? – Disse a voz bastante conhecida e brincalhona de sempre.

– Chamando alguém de grego em plena Grécia só podia ser espanhol mesmo... – Girou na cadeira dando de cara com Shura exibindo-lhe um sorriso de orelha a orelha.

Cumprimentaram-se com um aperto de mãos diferente do normal. Coisa de jovens. Riram bastante aos comentários do final de semana quando saíram os dois juntos de Aioria, Marin, Máscara, Afrodite, entre outros para uma boate muito conhecida nos arredores chamada "Geminis' Dimension", que era dirigida pelos gêmeos Saga e Kanon, também amigos da turma. Como sempre nas suas baladas dançaram, pularam, beberam, zoaram a ponto de quase serem expulsos do local. Só não foram por intervenção de Kanon, pois Saga ponderou bastante sobre os motivos do segurança, que teve suas calças arrancadas pelas duas pestes embebedadas.

– E você também me preocupou bastante. – Continuou Shura. – Saiu do local vomitando, pálido igual uma vela e sendo carregado pelo Aioria.

– Disso eu lembro! – Fez uma careta pesarosa. – E depois de melhorar levei um cascudo daqueles... Ainda devo estar com o mesmo galo na cabeça.

– Pois eu passei o domingo maravilhosamente bem. – O espanhol sorriu com a cara mais safada do mundo. – Lembra daquela gata que tava comigo? A Shina? Amiga da Marin?

– Claro que lembro! Maior gostosa!

– Acabou me levando pro apartamento dela e, amigo, que mulher! – O capricorniano passou as mãos pelo rosto deliciado com as lembranças do dia anterior.

– Mas que droga! – exclamou Milo injuriado. – Pelo visto só eu mesmo que passei o domingo fazendo companhia pra uma privada...

– E deixando o Shaka um tanto pt com isso, não?

– Verdade. – Concordou o grego com carinha de criança a qual não entendeu bem o que foi que fez de errado. – Ainda me passou um sermão daqueles e...

Um burburinho cheio de gritinhos e suspiros se formou na sala antes que Milo pudesse continuar contando mais sobre seu final de semana beijando privadas. As garotas estavam em polvorosa e muitos rapazes estavam indignados e admirados ao mesmo tempo, enquanto suas caras se contorciam por suas namoradas permanecerem hipnotizadas pelo recém chegado aluno.

Milo virou-se novamente curioso para saber de quem se tratava e logo viu a figura alta e elegante caminhando silenciosamente até uma das carteiras mais à frente. Percebeu que a maioria das pessoas em volta prendia a respiração acompanhando o belo jovem ruivo depositar seus pertences na mesinha e puxar a cadeira tomando o máximo de cuidado para não fazer barulhos. Acomodou-se com leveza e cautela para que os cabelos lisos, muito pesados, não ficassem presos entre suas costas e o encosto da cadeira. Soltou as mechas vagarosamente deixando-as escorrerem por seus dedos longos e delicados. A cascata cor de sangue reluzia em ondas, enquanto a cabeça era levemente balançada para que os fios pudessem chegar a seus devidos lugares. Todos acompanhavam a cena numa espécie de transe, esquecendo do que faziam e deixando o local no mais puro silêncio.

A figura continuou alheia a tudo. Não parecia prestar atenção aos olhares cobiçosos que lhe eram dirigidos. Ou parecia ignorá-los. Puxou um livrinho de um dos compartimentos de sua mochila, e pôs-se a ler não dando brechas àqueles que tentavam em vão cumprimentá-lo.

Milo voltou seu olhar a Shura erguendo uma sobrancelha um tanto interrogativa com relação ao comportamento da turma diante da presença daquele colega de classe.

– Pelo jeito nunca entrou em sala antes do fulaninho aí em frente... – Observou o espanhol percebendo que seu amigo estava um tanto perdido com a reação de todos. – Sempre que ele chega é como se todos estivessem vislumbrando a oitava maravilha do mundo.

– Não diga... – Respondeu voltando seu olhar para a longa cabeleira avermelhada, tentando esconder, por trás do sorrisinho falsamente curioso, seus ciúmes por terem lhe tirado o troféu de atração principal do local.

Não teve mais ânimo para continuar com sua conversa. Concentrou em arrumar seu material em cima da mesa enquanto esperava as lições começarem, o que ocorreria dali a dez minutos. Mesmo assim não conseguiu permanecer quieto. A presença de certa pessoa que nunca havia reparado antes estava o incomodando demais.

"Quem esse metidinho a príncipe, pensa que é?" Bufou em sua própria mente voltando a fitar as costas daquele ser. "Entra em cena como se fosse o protagonista da estória, não da atenção a uma alma viva, pega a porcaria de um livro qualquer dando uma de superior e intelectual fazendo questão de ignorar todo mundo". Continuava a pensar mil e uma coisas não querendo admitir para si o fato de ter perdido o trono de gostosão da sala, e só ficar sabendo disso no dia em que chegou adiantado podendo, então, comparar a reação das pessoas com relação à popularidade dos dois. Estava evidente que o ruivo se destacava muito mais. "Que é que ele tem de tão especial?"

Não precisou se perguntar uma segunda vez, pois naquele exato momento o filme fora rebobinado em seu cérebro e estava passando em câmera lenta a lembrança da mesma entrada de minutos atrás. Seu andar leve e sensual como se pisasse em nuvens. Os cabelos balançando pesadamente de um lado a outro em suas costas exibindo um brilho avermelhado e intenso. As madeixas rubras emoldurando-lhe a testa e os lados do rosto pálido sustentador de um magnífico par de íris azuis liquidamente frias. O nariz perfeitamente afilado em estilo europeu e a boca bem delineada, fina e delicadamente tentadora. Devia ter a mesma estatura que a sua, exibia ombros largos, e a firmeza de seus músculos podia ser notada sob a roupa que os marcava de acordo com seus movimentos. Aquele era Camus Mondeclair. Um dos homens mais cobiçados de toda a faculdade. Pra completar ainda era francês e seu sotaque desarmava o autocontrole de qualquer um.

Não gostou de fazer a contagem das tantas qualidades que tinha o estrangeiro. Sem contar o fato de não saber de onde poderia vir tamanha popularidade, sendo que o outro não fazia um mínimo de esforço para conquistar tantos admiradores. Até mesmo os professores pareciam enfeitiçados pelo rapaz, que, apenas observava e escutava as lições em total silêncio, anotando coisas em seu caderno e grifando passagens nos livros ainda não mostrando interesse algum no que fazia, para no final sempre tirar as maiores notas da turma.

– Milo?... Tudo bem com você, cara? – Shura mais uma vez, preocupado com a repentina quietude ao seu lado. – Ta passando mal ainda?

– O que?... – Foi tirado de seu transe.

– É que você está tão quieto... – Preocupou-se o espanhol. – Deve ser fraqueza por causa de ontem...

– Preocupa não, já estou melhor! – Sorriu agradecendo a preocupação do amigo, e também por lembrar-se de que todos os outros pareciam tratá-lo e mimá-lo da mesma forma, como se fosse criança. – É só sono mesmo.

Teve inicio a primeira aula, mas a cabeça do escorpiano parecia muito distante dali. Ou melhor, algumas carteiras à frente. Qualquer movimento do seu "concorrente" lhe tirava a concentração. Por mais que se esforçasse, não conseguia parar de desviar os olhos do professor para o mesmo ponto adiante. Sua observação estava sendo atraída como se aquele indivíduo fosse uma espécie de imã, só não sabia dizer se era sua curiosidade ou se estava mesmo se corroendo por despeito. Despeito? Até parece... Sabia que era lindo, charmoso, gostoso, desejado. Não havia motivos para sentir-se inferior àquele cara que estava sempre na dele se isolando de todos. Raramente o via falar com alguém da sala, só dizia o necessário e... Espere um pouco. Seria timidez?... Não! Uma pessoa tímida não conseguiria sustentar aquele tipo de olhar e postura durante muito tempo. Pela sua expressão, e por estar sempre de cabeça erguida esse daí era mesmo muito seguro de si. Talvez só não fosse uma pessoa sociável e comunicativa...

Em que diabos estava pensando? Nunca havia reparado direito no cara e lá estava ele divagando sobre sua personalidade? Contudo, o silencioso ruivo conseguia se tornar uma das coisas mais intrigantes para ele. E isso o deixava com a cabeça a mil por hora. Era uma péssima mania, mas infelizmente inevitável para Milo. Principalmente quando cismava com alguém a ponto de sentir-se incomodado por não saber nada sobre aquela pessoa. Xingava-se mentalmente por não ter nada a ver com o sujeito e, ainda assim, ficar se corroendo de curiosidade para saber mais sobre seus modos, manias, paixões, objetivos futuros... E o principal: o que será que se escondia por trás daqueles olhos congelados.

Pronto! De principezinho metido a besta, o francês havia sido promovido ao maior mistério do século. Riu de seus pensamentos conturbados e esquisitos. Nem ele mesmo às vezes conseguia seguir sua própria linha de raciocínio. Mas com toda a certeza uma coisa já estava decidida: Iria se aproximar daquele cara e descobrir qual era a dele nesta vida, usando de sua capacidade infalível de fazer amigos onde quer que fosse.

– Ai, ai... – Suspirou conformado. – Eu e meus caprichos idiotas...

...o§O§o...

"Fazer compras..." Pensou ao mesmo tempo em que anotava coisas completamente diferentes no caderno. "Passar na lavanderia, trabalhos a serem completados, problemas no banco, doença na família... Droga..." Fechou os olhos na intenção de concentrar-se melhor pousando sua caneta. "Não sei mais que desculpa arranjar para despistar Clarice desta vez...".

Sabia que seria impossível escapar naquele dia, iriam almoçar como o de costume, e a senhorita provavelmente tentaria convencê-lo a dar uma passadinha na festa de aniversário do priminho Hyoga que estaria completando 17 anos no próximo sábado. Se aceitasse, iria mais do que contrariado podendo desenvolver uma gastrite nervosa passando a noite no meio duma manada de adolescentes amigos do loirinho. Se recusasse estaria em maus lençóis, pois com toda a certeza, a garota iria puni-lo de alguma forma embaraçosa.

Certa vez, passou o maior carão no centro de Atenas, ainda perto do local da faculdade, quando recusou comparecer na festa de seu próprio aniversário na casa dos tios. Mal disse o motivo e a louca começou a dar-lhe pancadas com uma pesada bolsa de couro em plena rua aos berros e lágrimas xingando-o de tarado, sem vergonha, pervertido, entre outras palavras do gênero. Todas as pessoas do local, pararam para assistir a dramática cena daquela "donzela" aflita defendendo-se de um depravado qualquer. Uma outra situação terrivelmente constrangedora, foi quando ela e Hyoga conseguiram que ficasse trancado fora de seu apartamento todo molhado, somente com uma toalha de banho e mais nada que lhe cobrisse o corpo. Isso porque havia desistido de sair com os dois quase que em cima da hora, inventando uma dor de cabeça qualquer... Só faltou arrombar a porta desesperado, pois se os três estrupícios de vizinhas encalhadas que moravam no andar de cima o vissem naquele estado, com certeza seus dias de paz e sossego iriam pelo ralo. Conseguiu voltar para dentro somente depois de concordar em pelo menos pegar um cineminha.

Imaginando o que poderia estar por vir, arrepiou-se até os ossos quando a figura daquele belo rosto de fisionomia inocente, apareceu no meio de seus pensamentos ostentando o velho sorriso sarcástico que apenas ele mesmo sabia o quanto temer.

"E agora, senhor Kamus Mondeclair?".

E assim passou o resto das aulas. Matutando uma forma de fugir de seu martírio mesmo sabendo que as conseqüências seriam aterradoras.

Guardou seus objetos, rumou para a saída atordoado e distraído. Pessoas iam, pessoas voltavam, mas nenhum rosto era conhecido o suficiente a ponto de pará-lo. E mesmo que a face lhe fosse interessante e chamativa, não desviaria de seu caminho, afinal, a rotina de "estudos e estudos" era o que mais importava no presente momento, não dando espaço a uma vida normal como a de qualquer outro jovem em sua idade.

Foi tirado de seus pensamentos sentindo um dos braços ser bruscamente fisgado. No mesmo instante virou espantado com a ousadia de quem quer que fosse.

– Mas o que...? – Estacou. – Clarice!

– "Mas o que?" Pergunto eu, Kamus! Tem andado muito distraído. Nem me viu na sua frente? – Disse a voz suave e bem conhecida, mas a última que esperaria escutar naquele corredor. Grandes olhos verde-água o miraram ameaçadores, e um sorriso suspeito formou-se nos lábios levemente rubros e delicados. – Já se decidiu? – Continuou, agora, ansiosa por uma resposta, apertando levemente o pulso de seu prisioneiro.

Kamus suspirou controlando seu nervosismo ao máximo. Seu castigo seria avassalador se aquela maluca resolvesse surtar em pleno corredor da faculdade, onde dezenas de colegas de classe desfilavam ao seu redor. Clarisse por sua vez, teve o pequeno rosto mudado de apreensivo para uma expressão vazia e pensativa, estudando a feição fria e impassível a sua frente. Vislumbrou uma pequena gota de suor escorregar nervosamente pela face pálida do ruivo. Não conseguiu resistir a um sorriso deliciado com o suposto conflito que se passava na cabeça daquele francês.

– Por favor, mon cher! – Disse a garota com carinha de anjo perdido e fazendo com que sua voz fosse ouvida o mais doce possível. – Não pode ser tanto sacrifício assim...

– Clarice... – Sussurrou Kamus sentindo certo desconforto nas palavras aveludadas da menina. – Sacrifício é pouco. Você sabe que detesto lugares lotados!

– Hyoga ficaria tão feliz se aparecesse nem que fosse por 10 minutos... – O tom da garota ficou mais sério e seus olhos estavam carregados de tristeza.

– Non me olhe assim...

– Kamus, você não pode continuar assim. – Exaltou-se antes que o outro pudesse continuar. – Essa vida que você leva não é normal! Nunca vai a lugar algum, não se diverte, estuda feito um louco como se não existisse outra coisa pra se fazer, afasta e afasta-se de todos que lhe querem bem, inclusive a própria família, não tem amigos e se...

– Isso non é problema seu! – Cortou-a com sua voz fria e firme, soltando seu braço das mãos alvas e delicadas. Tentou assustá-la para que o assunto terminasse ali.

– Ok... Já entendi... – levantou o rosto sustentando uma expressão tão congelada quanto à de seu ouvinte fitando-lhe nas íris azuis com seus olhos estranhamente opacos. – Hora de executar o plano B.

Kamus gelou dos pés a cabeça. Então era isso! Ela não estava ali pensando em buscá-lo e sim para aprontar mais uma das suas como temia. Tentou desarma-la posando-se de ameaçador com a conhecida expressão de "não se atreva" enquanto que por dentro, seu estomago parecia dar cambalhotas não tendo a menor idéia do que vinha a seguir. Seria louco de esperar! Continuou seu caminho em direção a saída como se nada de mais estivesse acontecendo, mas sentiu a blusa ser puxada em suas costas parando-o imediatamente, significando que aquela diaba realmente não se intimidava com nada. Clarisse inspirou todo o ar que seus pulmões podiam comportar e na hora de dar seu primeiro berro...

– Atrapalho!...

Viraram-se instantaneamente deparando com uma figura morena de longos cabelos dourados observando-os com um visível quê de duvida em seu rosto. Mas ao contrário de parecer receoso estava mesmo se mostrando um tanto divertido, e vendo que nenhum dos dois estava disposto a se manifestar primeiro, aproximou-se felinamente de Kamus contornando-lhe os ombros com um de seus braços.

– Qual é Kamus? – Disse o belo rapaz sacudindo seu cativo com certo ânimo, colocando logo em seguida um livro de porte médio diante de seu nariz. – Você esqueceu isso na sua carteira! Cuidado pra não esquecer a cabeça da próxima vez... – Riu deliciado com a expressão de pura confusão dos outros dois.

Olhou em seguida para a garota que mantinha um ar desconfiado daquela repentina presença. Avaliou-a de cima abaixo reparando seus cabelos castanho-claros ondulados nas pontas, seu rosto oval e delicado, lábios que lembravam bastante um pequeno botão de rosa, trajava roupas casuais e comportadas, mas que não escondiam o lindo e gracioso formato de seu corpo, olhos tão claros que pareciam cristais transparentes.

"Nota mental:" – Pensou o Grego achando muita graça em sua recente descoberta. – "O francesinho tem bom gosto!".

– Como é, cara? – Voltou-se novamente para encarar o ruivo maliciosamente, aproximando bastante suas faces, fazendo Kamus arregalar os olhos e mostrar-se um pouco corado pela pequena distância. – Não vai me apresentar essa beldade?

Clarice pareceu ter voltado a terra depois deste último comentário. Analisou os dois que pareciam muito próximos, o rapaz sorria abertamente enquanto pendurava-se em Kamus, que por sua vez, continuava ou parecia continuar sério como sempre. Sério e incomodado, mas não o repelia fazendo a cena parecer um tanto suspeita, principalmente pelo fato de estar corado. Assustou-se ainda mais quando o desconhecido começou a desgrenhar os cabelos ruivos do outro fazendo piadinhas e acordando-o do transe, tentando se afastar da posição incomoda sem sucesso, pois o grego era forte e hábil. Não se contendo mais de curiosidade a garota disparou.

– Perdão, mas... Quem é você?

O loiro olhou de volta ainda segurando o francês pelo pescoço, e não se importando com os protestos nervosos do mesmo.

– Meu nome é Milo Tyronepulos! – Respondeu. – Não me diga que nunca ouviu falar de mim!

– Desculpe... – Respondeu a menina ainda descrente. – Nunca ouvi...

– Eu imaginei. – Voltou a bagunçar os cabelos do outro. – Kamus, você é mesmo um insensível! – O francês ficava cada vez mais irado com a situação e principalmente com o fato de não poder se livrar. – E ainda por cima nem conseguiu me apresentar direito! Justo eu que sou seu melhor amigo!

Concluiu demonstrando total convicção em seus dizeres, deixando Clarice e Kamus boquiabertos.

Continua...


Cenas do próximo capítulo...

– Isso! – Exclamou o loiro novamente confiante, puxando Kamus mais para si e dando-lhe um estalado beijo na bochecha.

Acordando do choque e indignado com o acontecido o francês tentou protestar, mas teve os lábios tampados pela mão firme do escorpião que lhe puxava discretamente para um canto mais reservado do corredor.


... ... ... ...
... ... ...
... ...
...

IAÊ!
Sobreviveu?...'o.0

Que bom que deu pra chegar a salvo até aqui, não?

Então vamos as mais algumas explicaçõezinhas... Acho que devo certas satisfações antes de partir para o restante do conto. Bem, bem, vamos lá! XD

#° 01 – É meu primeiro FIC de Saint Seiya e até agora não tenho a menor idéia de onde isso aqui vai dar! Por tanto, paciência, please! ARIGATOU! XD

#° 02 – Acho que vou acabar poupando um pouco na descrição de locais, pois sou péssima pra isso... Mal consigo descrever o recinto em que me encontro neste exato momento... 0.o'

#° 03 – Faculdade de Publicidade!... Essa nem eu mesma entendi... (Se ela não, imagina eu 'Litha falando'... se ela me pega aqui me mata)

#° 04 – O Milo desta Fic é uma pessoa super curiosa e está sempre fazendo das suas asneiras sem pensar meia vez. E como podem perceber, pela linha de raciocínio confusa do mesmo, o cara é piradinho na batata e por isso está constantemente se metendo em confusões. Sem contar que, sendo um pouco (?) narcisista, acha que todos ao seu redor precisam saber de sua existência, nem que para isto precise forçar sua presença na vida de alguém.

#° 05 – Coitado do Kamus por ser a próxima vítima...

#° 06 – Clarice não é meu alter-ego! Acabei criando a doida pela mistura da personalidade e aparência de duas conhecidas minhas. Tinha que arrumar alguém pra ajudar a por lenha na fogueira. Ela é uma personagem inventada para atazanar o Aquariano junto com Hyoga que é seu primo. Os dois dividem a mesma idéia de que, se o francês continuar vivendo a mesma vida sem graça e solitária de sempre vai acabar ajudando aumentar a taxa de suicídio Europeu nos próximos anos.

#° 07 – Mais uma vez, coitado do Kamus...

#° 08 – Tyronepulos! Mas que raios de sobrenome é este! O nome Tyrone significa Rei... ou algo do tipo. E Pulos um sufixo que geralmente é colocado junto ao nome grego e que significa "filho de". Então o sobrenome quer dizer "Filho do Rei..." e talz... Combina com a personalidade do dito cujo... T.T

#° 09 – Kamus e olhos azuis? Bem, poderia ser usado olhos castanhos com leve tom avermelhado, mas não teria impacto. Olhos rubros acabaria não se enquadrando bem em uma fic que puxa mais para o real (?), então a escritora tomou a liberdade de mesclar, os cabelos ruivos do mangá com os olhos de Kamus do anime. (nota escrita por Litha sem a autora saber)

#º 10 – Meu santo Zeus do cachimbo rosa de bolinhas verde musgo! Arrumei uma Beta Maluca! (Nota escrita depois da Betagem...'o0)

Agora chega de explicações senão fico aqui até amanhã escrevendo... .

Mandem comentários, por favor!
Pode ser para qualquer coisa, reclamar, elogiar, conversar, sugerir, dicas para escrever melhor e mais rápido e se tiver alguma coisa que caiu na contradição, por favor, avisem, pois minha cabeça é meio fraca e acabo deixando passar batido...

Abraços a todos, em especial para Litha-Chan que acabou betando essa coisa pra mim.

(Sobra para mim, mas vocês acham que eu reclamo? Nuuunnncaaaa XD Deixa sair de fininho que ela nem sabe que to aqui deixando minhas patinhas de raposa...)

HUAHUAHUAHUAHUHAUHAUAAAA! (Washu rindo igual condenada! XD)

E até o segundo capítulo!

Washu M (Escreveu não leu... manda Betar! XD).

12/10/2006