PRIMEIRAS IMPRESSÕES

ShiryuForever94

Categoria: Presente de Amigo Secreto CdZ 2012 para FABINHO, [Projeto] A música começa onde acaba a fala, Fanmix Amazonas das Letras, Songfic, Música: Something About The Way You Look Tonight, Elton John. Saint Seiya (CDZ - Cavaleiros do Zodíaco), Slash, MxM Relationship, Kardia e Degel.

Advertências: Insinuação de relacionamento sexual

Resumo: Às vezes nos enganamos ao analisar alguém. Para Kardia e Dégel, talvez seja melhor não confiar na primeira impressão.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

UM

A primeira vez que se viram não havia sido nada romântico, muito pelo contrário, fora antagonismo à primeira vista.

O gênio forte, egoístico, belicoso do senhor do templo de escorpião em contraste com o jeito calmo, centrado, sério, quase silencioso, do representante do signo de aquário nas casas dos guardiões dourados.

Era um dia ensolarado, quente, com aprendizes por todos os lados, barulho, agitação. Um dia ao gosto do espirituoso e letal escorpiano, grego de nascimento, tez bronzeada pelo intenso treino e trabalho ao ar livre, cabelos longos levemente volumosos, num tom azulado que somente deuses gregos como ele poderiam ter.

Um dia detestável para o jeito recluso do estudioso que Dégel de Aquário era. Pálido, de origem francesa, mais esguio que seu colega escorpiano, era alto, flexível e de inacreditavelmente longos fios azul petróleo que lhe alcançavam as coxas. Os olhos profundamente azuis eram como os de Kardia, só que sem a malícia inerente à personalidade do grego.

Encontraram-se em meio à balbúrdia da reconstrução de partes destruídas da Arena de treinos. Eram jovens demais, tanto quanto um cavaleiro poderia ser. Mal tinham feito quatorze anos.

Sísifo de Sagitário também trabalhava incessantemente. Era um dos mais velhos e sempre acompanhava os dourados mais novos. Seus vinte e três anos o tornavam quase um guia para os outros cavaleiros de ouro. Era sempre protetor e cuidadoso. Parou o que fazia para prestar atenção no diálogo exasperado dos dois cavaleiros adolescentes.

"Poderia olhar por onde anda?" Dégel falou em tom baixo quando quase foi atropelado por um fortíssimo Kardia que carregava nada mais nada menos que uma coluna de granito.

"Poderia prestar atenção por estar no meio de um local em obras ao invés de ficar ajustando esses óculos e lendo livros?" Kardia respondeu.

"Ao menos meu cérebro serve para algo mais que levantar peso."

"E o meu serve para saber quando alguém quer uma surra!" Uma unha vermelha e longa surgiu na mão poderosa do cavaleiro de escorpião.

"Ora, vamos, dois cavaleiros não devem se portar assim." Dohko interveio antes que brigassem.

"Estou trabalhando enquanto o fresquinho aí fica lendo. E ainda me critica!" Kardia era maior e mais forte, mesmo os dois tendo a mesma idade.

"Meu trabalho é intelectual e estou aprendendo o que posso para ajudar a proteger Atena." Dégel redarguiu sem alterar a face de traços perfeitos. "Além disso, não me conhece o bastante para saber se sou forte ou não."

"E fala como um velho de trezentos anos!" Kardia bufou atirando a coluna de granito no lugar como se não pesasse nada.

"Nossas almas são velhas, caso tenha faltado a essa lição." O vento fez voarem os já longos cabelos de Dégel e alguns fios bateram no rosto do escorpiano que se espantou um pouco ao sentir como eram lisos, pesados e macios.

"Você tem cabelo de mulher." Kardia falou sem pensar.

Dégel continuou observando o genioso escorpiano e mediu-o de cima até embaixo, sem dizer palavra.

"O que está olhando?" O escorpiano se incomodou, ficando sem graça e vendo Sísifo sorrir de maneira estranha.

"Se você já tem tamanho para servir como decoração pela eternidade" Não havia nenhuma ameaça explícita, mas os olhos de Dégel pareciam congelar. Ficaram brancos e de repente, um arbusto aos pés de Kardia viu-se confinado numa caixa de gelo translúcido.

"Akueriasu no Dejeru! (Dégel de Aquário)" Sísifo falou alto, em japonês, uma das muitas línguas que todos sabiam no Santuário, postando-se à frente do cavaleiro de aquário. "Não deve usar seus poderes em causa própria!"

Kardia tinha os olhos esbugalhados. O aquariano nem parecia ter se mexido! Ao mesmo tempo, seu orgulho não queria deixa-lo aceitar que ficara surpreendido. "O que é isso? É especialista em marcenaria?"

Dégel quase sorriu, mas não daria esse gostinho àquele pomposo. Deu meia volta e seguiu para as doze casas, sem dar nenhuma resposta.

"Não sabe com o que, ou quem, está lidando, Kardia, não abuse da sorte." Sísifo pegou o arbusto preso dentro do bloco de gelo e entregou-o ao grego. "Tente quebrar que vai me compreender."

O escorpiano pegou a pequena caixa que parecia de vidro e arqueou uma sobrancelha. Ora, era só quebrar, não era? "Ah, Sísifo, como assim? É só quebrar!" Impacientou-se.

O sagitariano dourado sorriu amplamente e cruzou os braços. "Pois então faça e me mostre o quão forte você é." A armadura de sagitário dava um ar um tanto teatral ao cavaleiro que deixou as longas asas empinarem e apenas esperou.

Kardia deu um chute certeiro na caixa e arregalou os olhos ao ver que ela sequer trincara. "Mas, como..." Chamou sua armadura e pisou a peça quadrada com o solado metálico e pesado da vestimenta. Nada.

E assim foi por algum tempo. Golpes, pisões, até agulhas envenenadas, seu golpe mortal, Kardia disparou contra o bloco de gelo.

Logo se passaram horas... E nada da tal caixa quebrar.

"Cansou?" O sagitariano comentou, vendo suor no rosto anguloso e bonito do escorpiano. "Sabe que não pode exagerar." Não era segredo para ninguém a doença congênita cardíaca do cavaleiro de escorpião.

"Eu nunca me canso." O coração acelerado no peito, o suor, a dor no meio do esterno, ele teria que parar um pouco e aquilo o irritou ainda mais.

Kardia sentiu, mais que viu, que Dégel estava por perto e virou-se a tempo de vê-lo bem atrás de si, imponente em sua armadura e com olhar pétreo.

"Talvez agora entenda que força física não é páreo para qualidade e estratégia com armas ou poderes." A voz calma e cerimonial.

"Acho que vocês dois deveriam conversar. Temos que estar unidos para um futuro combate que infelizmente não vai tardar. Se bem que ainda teremos algum tempo, talvez alguns anos." Sísifo apenas se afastou. Havia grandes indícios de que haveria uma sangrenta luta, mas não por enquanto. Ele, El Cid, Shion e Dohko conversavam bastante com o Grande Mestre tentando manter as informações sobre Hades bem atualizadas. O cavaleiro de sagitário sorriu. Se conhecia algo de Dégel era que ele era temperamental, mas também muito justo. Quem sabe fosse um bom amigo para o belicoso escorpiano.

"Você é sempre irritante assim?" Kardia sentou-se, com a mão no peito, sentindo calor e um tanto de dor.

"Teimosia é algo que você tem de sobra. Está sentindo muita dor?" Dégel se inclinou e tocou com a mão pálida o centro do peito do colega, espalhando um pouco de frio e ouvindo os arfares do escorpiano.

"Que lhe importa?" Kardia sentiu algum alívio e ergueu o rosto vendo os profundos olhos azuis em tons cada vez mais brancos. Corou levemente ao sentir o vento jogar os cabelos de Dégel em seu rosto.

"Nossa vida provavelmente será curta, mas nem por isso devemos desperdiçar nosso pouco tempo sofrendo. Respire devagar, logo vai passar. Andei lendo a respeito de sua condição, creio que o frio irá melhorar bastante seus sintomas." Dégel afastou a mão e sentou-se ao lado do cavaleiro de escorpião.

Kardia sentia-se um idiota. Irritara-se tanto com ele e agora... "Obrigado."

"De nada."

Dégel deslizou a mão pelo pescoço de Kardia e concentrou-se. "Sua pulsação melhorou. Que tal apenas não se exaltar tanto?" Não olhava para o homem ao seu lado, apenas dizia as frases com calma e profundidade.

"Você parece tão mais velho quando usa esses óculos. Tem a mesma idade que eu, não é mesmo?"

Dégel suspirou vendo cores diversas no céu anunciarem a noite que viria logo. "Por que apenas não apreciamos o entardecer?" O aquariano estava cansado. Por ser o que anos depois chamariam de nerd, não era muito simpático, nem era popular, mas se esforçava para ser útil e contribuir como pudesse para todo o santuário.

Kardia viu o homem ao seu lado estirar-se na relva e deitou ao seu lado, vendo o céu ir escurecendo devagar. Estava grato pelo silêncio. Não era difícil ficar perto de Dégel, ele o intrigava. Parecia sempre tão distante e perfeitinho. "Não sinto mais dor."

"Isso é bom."

"Você não é de falar muito, é?" Virou-se sobre um braço, observando o perfil bonito do outro já meio escurecido pela falta de luz.

"Sou complicado. Apenas isso. Quando não tenho nada a dizer, não o faço. Prefiro que as pessoas apenas sigam suas vidas e, se for necessário, cumprirei meu papel de cavaleiro. Não vejo porque ter longos colóquios."

"Conversas." Kardia retrucou com um meio sorriso.

"Hein?" O arquear das sobrancelhas destacou ainda mais os aros finos do óculos.

"Escolha palavras menos complexas e todos deixarão de achar que você é um pedante insuportável. Sei que sua cultura é imensa, eu também estudei bastante, mas se quer realmente um pouco de sossego, que tal se adaptar ao que seria normal ao invés de parecer um dos filósofos gregos? Tem hábitos peripatéticos também ou apenas estudou demais sobre Aristóteles?"

"Você... Entende filosofia?" Dégel parecia um tanto chocado. E de onde aquele ali tirara que ele era pedante? Seria mesmo a imagem que passava aos demais?

Kardia riu baixinho ao ver o olhar curioso do aquariano. "Eu disse que estudei bastante. Digamos que li e estudei grande parte das obras clássicas e isso inclui Platão, Sócrates, Aristóteles, Teofrasto, Epicuro... Apenas não ando por aí dando amostras de tudo que me vai na cabeça, pois é bem mais fácil ser apenas um homem forte de corpo que fazer outros verem que meu intelecto não é exatamente o de um neandertal... Aposto que achava que eu era apenas um brigão burro."

"Na verdade, não gosto de fazer julgamentos. Apenas o achava beligerante e inquieto demais, do pouco que o vi até hoje. Aliás, só o conhecia de vista, mal e mal nos cruzamos no Santuário."

"Talvez por que eu tenha querido causar essa impressão?" Os olhos azuis estavam escondidos pela escuridão crescente, mas a voz era calma e até suave. Kardia era inteligente, enigmático, ótimo estrategista, mas não fazia a menor questão que soubessem disso.

"Você pode ser surpreendente." Dégel se levantou e estendeu a mão. "Quase hora do jantar, vamos?"

"Está me convidando?" Kardia segurou na mão firme e ergueu-se a um só movimento, ficando perto do outro cavaleiro.

"Se gostar de frango ensopado, eu faço um bem razoável. Gosta de vinho tinto?" A aparência calma e controlada de Dégel parecia menos forçada agora.

"Só se o vinho for bom. Eu sou um pouco enólogo demais para beber qualquer coisa."

"Temos qualidades em comum." Dégel abriu um leve sorriso e o frescor da noite começou a se espalhar pelo ambiente.

"Gosta da noite?" Kardia foi andando ao lado de Dégel, calmamente, subindo as escadarias, observando os templos, alguns locais precisando de mais reparos.

"Gosto de um pouco de frescor. Se ainda não notou, meu elemento é o gelo, ou talvez melhor dizer as baixas temperaturas e com o controle sobre elas faço algumas coisas, como o esquife de gelo no qual coloquei a planta que viu. Ninguém conseguiria quebrá-lo, nem em mil anos..." Um orgulho discreto nas palavras do jovem cavaleiro.

"Você é da França, não é mesmo? Eu sou grego."

"Eu sei."

"Certo, você é o super estudioso, certamente que sabe de onde somos, todos nós."

"Exatamente. Também faço ideia dos seus poderes, dos talentos de cada um e de como podemos ter boas estratégias de luta. Eu me preocupo com o futuro do Santuário, e com o nosso em particular. Sabe que vivemos para lutar e provavelmente morrer, não é mesmo?" Não havia dor, nem medo, na voz de Dégel, apenas certo tom de inevitabilidade.

"Compreendo sua intenção e pontos de vista, mas no momento, gostaria de apenas comer um tal ensopado que me prometeram..."

"Também gosta de mudar de assunto quando não quer falar a respeito."

Kardia parou de andar e revirou os olhos, fazendo uma pose engraçada com a mão na cintura. "Dégel, podemos tentar ser amigos, mas se ficar me analisando acho que o mato com agulhadas antes do final da noite..."

"Sabia que é característica dos escorpianos não gostarem que se metam em suas vidas, que os conheçam bem ou que saibam seus segredos?" Dégel ajeitou a lente fina dos óculos e continuou a caminhar, não fazendo caso do aviso do escorpiano.

"Por Atena, será que vamos continuar com doze cavaleiros até o final da semana?" Kardia seguiu-o, no entanto, achando divertido o jeito como ele falava como se estivesse fazendo uma preleção. É, o tal cavaleiro de aquário era inteligente e gostava disso nele.

Foi apenas a primeira de várias vezes em que conversaram. Vez por outra Dégel cozinhava para Kardia e vice-versa.

O aquariano descobriu que seu amigo de armas era muito inteligente, embora um brigão de marca maior, que gostava de arrumar problemas com basicamente qualquer um que lhe desse vontade e que seu espírito predatório poderia ser um problema imenso numa guerra santa.

No entanto, Dégel admirava a maneira como Kardia lidava com sua doença. Jamais o via reclamar, nem achar que era um pobre coitado. O orgulhoso escorpiano forçava seus limites muitas vezes e lá tinha que ir Dégel acalmar o fogo que consumia o coração do grego.


Nota da autora: Nada como começar o ano com um pouco de yaoi. Espero que tenham gostado. O próximo capítulo é também o último. Será postado em uma semana, ou quinze dias, a depender do interesse de vocês. Feliz Ano Novo.