Capítulo 01- Estrelas
Eu me lembro muito bem daquela sensação como se fosse ontem. Era inverno,perto do Natal. A cidade já estava coberta de neve e ainda nevava fraco. O lugar estava muito mais vivo,as luzes decoradas nas casas brilhavam forte,iluminando as ruas com o tom de vermelho e dourado,a alegria das crianças brincando na neve ou vendo os incríveis brinquedos e doces na vitrine era contagiante. Risos,conversas e murmúrios constantes parecia que nada de ruim havia lá,o que estavam plenamente enganados. Os enfeites natalinos atraiam os olhares curiosos,a admiração da beleza dos lugares e claro,clientes. Um clima perfeito para namorados e famílias,o que obviamente era constante de ser ver. A rua estava movimentada,cheio de vida. Éramos só nós dois,debaixo de um guarda chuva azul marinho grande,passeando de mãos dadas,felizes. Você olhava as coisas como uma criança tímida e silenciosa,que por dentro o que mais queria fazer é poder adquirir tudo aquilo. Andava meio desajeitada,pois vivia tropeçando na grossa neve no chão e não queria pagar o mico de cair de novo. "Não se preocupe,pois sempre estarei aqui para te pegar" comentei,rindo. Sorriu,tão inocentemente,que escorregou e caiu. Não pude deixar de rir da cara incrédula que fez. "Você não cumpriu o que disse!" exclamou emburrada e não aceitou minha ajuda na hora de levantar. Tirou toda neve da roupa e me ignorou,andando na minha frente. Apenas me conformei e a segui.
Então comecei a observá-la,a admirar as curvas de seu corpo por trás daquele grosso casaco escuro. Os cabelos eram escorrido,tão negro como a noite,a roupa também preto,um tanto curta e provocativa,mas tudo escondido pelo casaco. Os olhos eram dourados,o ouro que apenas me pertencia,seu olhar era penetrante e amendrotador quando queria, infantil e tranqüila também. A pele era macia e rosada,me lembrava um pêssego doce e suculento. Toda aquela sombria e forte aparência a deixava ainda mais linda em contraste com a inocência branca da neve. O que se podia resumir de você: uma carneiro com pele de lobo. Sim,exatamente isso. Se mostrava forte por fora,mas por dentro era tão delicada como uma flor,ao mesmo tempo alguém decidida e egoísta. Tão egoísta como eu. Nunca me perguntou por que eu nunca ia as aulas,como estavam minhas notas,se estava bem com a minha família. A única coisa que importava era eu ficar com você,só pensava nisso,em ter meus cabelos loiros e olhos verdes só para você. Mas não a culpava,eu era mesma coisa. Sabia dos perigos que corria comigo,sabia que coisa ruim poderia acontecer por minha causa,mas ainda assim te queria em meus braços,seus lábios tocando no meu,sentir seu perfume do corpo...te monopolizar inteiramente.
Não resisti e te abracei por trás,entrelaçando meus braços em sua cintura,mergulhando meu rosto em seus cabelos que cheiravam baunilha e fechei os olhos,para sentir tudo. Você pareceu assustada com a minha súbita ação,mas não se importou. O calor de seu corpo,da sua voz terna era tudo para mim,só assim aprendi que amar uma humana era muito melhor que uma vampira. Muito mais caloroso,muito mais amável. O que faria sem você? Já nem lembro mais como eu vivia antes,todas as minhas lembranças era só de você. O que acontecerá comigo quando você partir para o outro mundo,como uma humana? Não...queria que fosse eterna,como eu. Não...não queria que ele te mordesse,seria demais para mim. Demais. Eu estava com medo de saber as respostas. Sai de trás e peguei sua mão,sorrindo. Andamos por algum tempo até que pediu para esperar fora,que compraria algo de uma loja. Entrou numa loja e esperei do lado de fora,sem imaginar quem encontraria. Sim,era ele,com os mãos dentro do bolso do casaco marrom,olhando para mim,sorrindo,aquele habitual sorriso que significava milhares de coisas,mas nunca boa. Aproximou-se e começou a falar,aquela voz que encantava as garotas e assustava os para que você demorasse para sair.
"Ichijou,uma ótima noite para sair,não é?" comentou.
Demorei para responder,pois estava imerso no pensamento,tentando descobrir o que realmente queria.
"Sim,uma ótima noite." Respondi,formalmente.
Logo atrás,Yuuki apareceu,sorrindo e segurando o braço de seu irmão. Claro,estava passeando com sua amada irmã. Uma bela desculpa,tinha certeza. Ela me cumprimentou com um aceno com cabeça e retribui com um sorriso carinhoso.
"O que está fazendo aqui,Ichijou?Não é triste sair sozinho?" ela perguntou.
Não tive tempo de responder,você saiu de lá segurando uma sacola,,me chamando e virou-se assustada quando viu os dois de frente a mim. Não passou nem um minuto daquele silêncio,quando você inacreditavelmente de meu um forte tapa nas costas e começou a gargalhar escandalosamente.
" Née,Ichijou? Acabei de comprar um presente para você.Não queria dar para um primo idiota como você,mas sua tia insistiu que eu desse,só porque você me deu um ano passado. Aqui está,o presente. Mande lembrança para tia e tio. Até!"e saiu correndo de lá,com um grande sorriso na de lá em um instante.
Os dois nada disseram. Yuuki parecia a mais perdida,olhou para Kaname-sama,tentando entender o que se passava ali. Eu também estava confuso,mas fiquei me lamentando pela tentativa falha de enganá-los. Suspirei,só de pensar no mico que você tinha pagado agora. Gostava de sua esperteza,da maneira de perceber as coisas rapidamente. Mas Kaname ficou indiferente por um tempo,até que deu um sorriso malicioso.
"Ah!Aquela não era..." Yuuki parecia que a conhecia,se lembrando de repente,mas interrompida por seu irmão.
"...sua comida?" ele completou. Logicamente não era isso que Yuuki ia dizer,mas eu me arrepiei.
Comida. Só de ouvir essa palavra vindo dele,me deixava desanimado. Tive que mentir,mesmo indo contra a minha lealdade perante Kaname-sama.
"É...mais ou menos..." respondi vagamente,incerto.
"Mas você não pode,Ichijou-kun!" Yuuki me reprovou,fazendo cara feia.
Ichijou besta! Tinha esquecido completamente desse detalhe. Sabia que Kaname-sama desconfiaria agora,pois eu de jeito nenhum era de desrespeitar suas regras. E agora? Se disfarçar-se pioraria as coisas,mas antes que eu pudesse responder,perguntou a sua irmã se não gostaria de comprar roupas novas numa loja que tinha apontado. Respondeu que sim,os dois despediram de mim e se foram. Como estava sem fôlego,nervoso na situação a qual tinha me metido. Com certeza se você tivesse visto meu erro,estaria dando broncas por eu ser bonzinho demais. Sai a procura de você,mas te achei rápido,escondida em um beco,assustada. Estranhei,normalmente ela não ligava para os dois. Perguntei por que estava assim.
"Ele...ele me viu. Yuuki entrou numa loja de roupa e ficou esperando do lado de fora,não sei como mas percebeu que estava ali. Tive que fingir que tinha deixado algo cair e que estava procurando no beco. Me ajudou a procurar e quando desistimos,me disse que nos veríamos em breve...O que ele quis dizer com isso?" perguntou,pensativa.
Eu fiquei quieto. Não sabia o que responder. Não havia lógica no que tinha falado. Por que Kaname ficaria interessado nela? Será que realmente não aprovava essa relação de vampiro com humano? Ou era interessante demais para deixar passar?Além disso,com certeza não havia descoberto sobre aquilo. Aí sim ele teria motivo de sobra para não deixar em branco. Fiquei preocupado,o começo de meu pesadelo estava próximo,a um passo a frente. O que fazer quando começar? Ficaria perigoso quando as aulas começassem. Tentaria impedir seu contato com a Night Class o máximo que conseguisse. Se conseguisse. Peguei a mão dela e começamos a andar de volta para seu apartamento.
"Por favor,prometa que vai continuar a ir no dormitório no mesmo horário de sempre,assim que as aulas começarem?Que não vai sair de noite sem minha companhia?"
Você não hesitou nem um segundo para responder.
"Prometo. Nunca fui com a cara deles e sei que por trás daquele rosto lindo de Kaname, algo terrível se esconde no fundo. Ah,nem quero imaginar o que pode ser..." comentou e depois arregalou os olhos,tampando sua boca,como se tivesse dito algo errado.
"A-Algo errado?" perguntei,ê apenas sorriu,balançando a cabeça negativamente.
Engoli seco. Só de pensar que eu era igual a Kaname-sama,me sentia nojo. O que será que você faria se descobrisse? Abandonaria,me largaria por ser um ser que sugava sangue dos outros? Ficaria sozinho novamente? Tantas perguntas sem respostas. Novamente...sentia a escuridão que envolvia a maioria dos vampiros,sempre tão frios e sérios. Antes de te conhecer,eu seriamente não me importava com isso,em ser um vampiro,em ser diferente. Vivia alegremente na escola,apenas preocupado com a situação entre os estudantes das duas classes. Mas acho que mudei muito,acho que...fiquei mais sombrio,sim,a escuridão tomou conta de mim. Eu...eu estava te culpando naquele momento. A sensação que eu simplesmente ignorava,estava em minha volta,por sua causa. Me senti horrível,um monstro. Não tinha percebido,mas tinha parado de andar e estava chorando. Você meu olhou assustada e eu escondi minhas lágrimas com a mão,envergonhado de ter pensado assim,tão mal de você. Então,beijou minha bochecha,onde tinha uma gota caindo. Eu te amo. Tive vontade de falar,apesar de todos os pensamentos horrível,mas engoli. Te abracei,carente,apoiando minha cabeça em seu ombro e então beijei seus lábios de mel. Queria esquecer tudo que acontecia ao meu redor e coração,poder escapar dessa realidade e viver só nós dois juntos,longe dali,longe das trevas. Roçava meus lábios no seu,senti seus cabelos perfumado quando um rápido vento brincou neles,toquei em seu braço macio,rosada,só para me certificar que nada era um sonho. Um longo e apaixonado beijo. Desculpe-me por culpá-la,me perdoe,era tudo que queria pedir,mas não adiantaria nada,pois o mesmo erro cometeria mais tarde.
Chegamos no apartamento,sorrindo. Era pequeno o lugar, tendo todos os cômodos necessários em espaço mediana,além de uma lavanderia. Estava enfeitado com o tema natalino,eu não queria,mas você insistiu que nem uma cachorrinha abandonada. Não podia dizer não. Além das luzes,havia uma guirlanda na porta e uma árvore enfeitada,esperando por os dois presentes. Como era só você que vivia ali,além de eu visitá-la frequentemente, achei que estava em bom tamanho. Entramos lá rindo,quando nos deparamos com um visitante desagradável.O loiro de olhos azuis acenou,com seu sorriso de cara de pau,sentado de joelhos na mesa. Não pensei duas vezes em avançar contra ele,enforcando-o,sentindo a maior raiva da minha vida,meus olhos ardendo com o fogo da desgraça que via ali na minha frente. Sim,era tudo culpa DELE. Sem exceção. Ele começou a pedir ajuda para você,mas acho que pensava a mesma coisa e o ignorou,colocando os dois presentes debaixo da árvore e então indo na cozinha. Gostaria de saber como é que ele conseguia entrar lá sem chave. Apertei suas bochechas contra a boca e comecei a gritar,era uma cena meio cômica,pensando bem.
"Por que-você-contou-a-ele?" ele tentou replicar,mas não dava para entender o que dizia.
Aidou era o único que sabia de você. No começo,ele desconfiou porque eu faltava tanto nas aulas,o que não era uma coisa comum de eu fazer. E do jeito que ele era curioso,mexeriqueiro e teimoso,me seguiu discretamente até o seu apartamento e descobriu tudo. Quando deparamos com sua presença,chantageou que se não contarmos o que estava acontecendo,denunciaria a Kaname-sama. Um pentelho desgraçado,sem dúvida. Nós fizemos o prometer que guardaria tudo em segredo,mas no fundo sabia que não adiantaria. Do jeito que ele era um boca grande,mimado e atrapalhado,não guardaria por muito tempo. E eu estava certo.
"F-Foi sem querer! Soltei quando estava conversando com Shiki e Kaname-sama estava bem atrás de mim. Não disse nada e foi embora. Pensei que não tinha escutado nada..." respondeu,massageando as bochechas,logo quando o soltei.
Você tinha voltado com uma bandeja de metal,para servir o chá. Pos na mesinha na qual estávamos discutindo e preparou,tudo na mais pura tranqüilidade. Não era de agir assim quando estava lá. Suspeitei que viria uma bomba. Terminou e levantou-se,até que inesperadamente bateu a bandeja na cabeça de Aidou. Não pude deixar de rir da cara dele. Bem feito.
"Eu sabia que sua tagarelice estragaria tudo! Como as garotas gostam de você,hein? Só tem rosto bonito,porque de resto..." segurou o riso,sem completar a frase. Me perguntei o que tinha pensado,com certeza algo hilário.
Claro que Aidou não gostou nem um pouco,não deixaria barato nem a pau.
"E você? Nunca se perguntou por que Ichijou esconde você dos outros da Night Class? O motivo pode ser ruim,sabia?" perguntou,emburrado.
Você parou na entrada da cozinha,de costas para gente,segurando a bandeja. Parecia pensativa.
"Eu já tive curiosidade de perguntar,mas..." respondeu em tom vago e não disse mais nada,até que entrou na cozinha,em silêncio.
Me perguntei o que você falaria naquele momento. Eu só saberia a resposta mais tarde,meio chocado. Dei graças que você não continuou. O que responderia,se me perguntasse? Eu não fazia a mínima idéia,contar a verdade seria muito confuso. Aidou ficou ainda mais frustrado pela derrota silenciosa,batendo nervosamente na mesa,dizendo que assim não era justo. De repente,você apareceu de mansinho,como um gato astucioso,mostrando uma caixa de Pocky em sua mão. Não pude deixar de ficar boquiaberto na reação do vampiro,ficou imediatamente com os olhos brilhando,como um cachorrinho. O enrolou o bastante para irritá-lo,rir e depois deu a caixa vermelho. Eu gargalhei bastante,ele se submeter a isso só por causa de um doce. É claro que Aidou ficou com vergonha,mas nos divertimos. Depois,quando tudo acalmou-se,contamos sobre a visita de Kaname-sama. Ele nada disse,apenas ficou entediado com a conversa toda,olhando para a varanda ou para a xícara de chá,que nem tinha tocado. Ficamos um bom tempo em silêncio. Época de feriado era chato para o loirinho,pois todos os alunos estavam em suas casas,deixando a escola vazia,sem ninguém para os vampiros encherem o saco ao tentar beber seu sangue e provocar. Então do nada,Aidou comentou algo.
"Ichijou...se não acha que está indo contra Kaname-sama?"
Foi uma pergunta pouco inesperada,mas respondi normalmente.
"Não,por que estaria?"
Eu não tinha certeza se realmente não estava indo contra ele. Nunca citou algo que era proibido namorar vampiro com humanos,mas ainda assim,seria bem inusitado,diferente. Achei que estaria tudo bem enquanto ele não soubesse,mas agora...estou contra Kaname-sama? Não podia ser. A culpa não era minha. Será que me repreenderia depois de todo apoio que dei quando Rido acordou?...Não,ele é justo. Temer por causa disso era bobagem,mas ainda assim,não poderia revelar nada sobre você. Não queria que ninguém a descobrissem,nem Aidou sabia sobre isso. Abaixei os olhos,entristecido. Senti você me olhando,como se soubesse que estava inseguro quanto a resposta,virou a cabeça bruscamente para Aidou.
"Você só atrai desgraça!" reprovou,brava.
Ele ficou sombrio de repente,como se fosse ter um ataque discreto de raiva,levantou-se para gritar.
"Nada disso teria acontecido se você não tivesse aparecido!"
"Agora a culpa é minha? Foi você que soltou tudo! Se não tivesse falado,tudo estaria bem e Ichijou não teria ficado mal." Você levantou-se,para brigar a altura.
"Ingrata!Eu guardei segredo como me pediram."
"Mas eu agradeci comprando aquele Pocky de verão!"
Fiquei incrédulo com o motivo da briga dos dois. Tive vontade de sair e fingir que não conhecia-os. Apartei a briga e os dois sentaram e tomaram um gole de chá,um de mal do outro. Suspirei,ainda incrédulo. Apesar de brigarem quase toda vez que Aidou vinha lá,sabia que no fundo os dois se gostavam muito. Quantas vezes já não os flagrei conversando e rindo e depois quando chegava,disfarçavam,fingindo que brigavam. Você quebrou o silêncio que tinha se instalado na sala.
"De qualquer jeito,não será culpa de Ichijou que o fez ir contra Kaname,e sim minha. Eu o aceitei,eu o escolhi. Mas não será por causa disso que abaixarei a cabeça de culpa e não farei nada. Se tiver de enfrentá-lo,que assim seja. Não tenho medo." Comentou,com determinação.
Você enfrentá-lo era tão...difícil. Acho que mais como um sonho. Até Aidou deu uma risadinha discreta. Era apenas uma humana,sem poder,nem nada. Se quisesse poderia te esmagar em migalhas e nem teria tempo de reagir. Sim,tinha certeza que lutaria com todas as suas forças,até não sobrar nada,do jeito que era tão teimosa. Mas falou com tanta confiança e vontade,que fiquei um pouco comovido,talvez feliz. Não sei se era por causa disso,ou se porque você não tinha esquecido aquelas palavras naquele dia. "Escolha-me,Aki. Escolha-me" em uma voz baixa e de suplica, abafada pela pesada chuva,debaixo de um guarda-chuva. Foi um momento difícil,mas inesquecível.
Aidou levantou-se,conformado.
"Boa sorte nessa hora,Aki. Bem,vou me indo." ele disse,indo em direção a porta.
Você também tinha se levantando e fez um sinal para esperar,indo para o quarto. Eu não sabia o que estava fazendo e nós dois espiamos dentro. Debaixo da cama,puxou uma sacola. Rapidamente Aidou fez um comentário malicioso,indo na sala.
"Cama de casal,huh..." sorriu maliciosamente.
Eu ri,querendo dar um tapa na cara dele,pela falta de privacidade que estava sentindo naquele momento. Por isso o coloquei para esperar no lado de fora do apartamento. Murmurou um ""seu idiota" e você deu o presente para ele. Não fazia idéia que tinha comprado até para ele,por isso fiquei meio surpreso. E não é que fez uma cara de surpreso também,meio sem graça? Eu não esperaria um presente de alguém com quem freqüentemente brigaria. Eu apenas sorri,de felicidade. Pegou e não disse nada,estava espantado. Nós vampiros não tínhamos esse costume de troca de presente,de comer todo mundo junto festejando algo ou até mesmo de decoração. Não nos importava com esses costumes humanos e fúteis.
" Seu presente de Natal adiantado. Comprei para agradecer por ter guardado,ou melhor,ter tentado guardar nosso segredo. Não se acostume-se,não terei mais motivo para fazer isso,afinal,sempre brigamos quando estamos juntos." Disse sem graça,olhando para o lado,tentando esconder o fato de realmente ter comprado porque gostava dele.
Aidou continuou olhando o presente até que se deu conta no que ela tinha falado. Não podia ficar quieto.
"Hmpf,isso acontece porque você começa!" virou a cara,emburrado.
Você ia discutir,só que pensou duas vezes e ficou em silêncio,sorrindo para o vazio. O loiro de olhos azuis não resistiu e abriu o presente,revelando ser um box especial de Pocky de todos os sabores,incluindo um especial de Natal. Seus olhos brilharem de alegria,ficou um silêncio total depois que ele fez isso. Pude sentir uma aura maligna vinda de você. Deduzi o que aconteceria em seguida. Só pude suspirar de incredulidade,pois tudo veio ao mesmo tempo. Você gritou algo como "Idiota! Era para você ter aberto no Natal! Até nisso é inútil?" e Aidou disse algo " Pooooocky! Pocky para toda minha vida!" e beijou a caixa,enquanto ignorava seus gritos. Tive que tampar os ouvidos e tentar novamente apartar a briga. Tive que gritar também. No fim,ele foi embora e finalmente ficou só nós dois. Suspiramos de cansaço ao mesmo tempo. Você foi até a porta da varanda e ficou olhando para fora,pensativa,como se tivesse raciocinando tudo que havia acontecido essa noite. Não resisti em te abraçar,envolvendo meus braços em sua cintura e roçando meu rosto em seus cabelos. Não reagiu,continuou pensativa,até que quebrou o silêncio.
"Por que Kaname é tão importante?" me perguntou. Eu imediatamente afastei de você.
Por que se importar com ele? O assunto não tinha finalmente acabado? Olhei para o lado,irritado e com raiva,tentei manter a calma na hora de responder.
"Bem...ele é o presidente da Night Class. E também o aluno mais rico da escola. A verdade é que é graças a nós,da turma da noite,que a escola se mantém bem,organizada. Nós pagamos por isso e Kaname-sama é o que mais contribui,por isso tem mais privilégio...a família dele é poderosa. Até nossas devem algo para ele,por isso que o obedecemos sem reclamar,um modo de pagar pelo o que devem." não me pergunte como eu consegui bolar essa mentira.
"Mas até em relação pessoal ele afeta? Isso seria demais..."
Por que começou a fazer essas perguntas? Estava me irritando demais,me incomodando,parecia que tinha ciúmes. Tentava manter a calma,para não gritar com você. Mas estava a ponto de explodir. Apertei meus punhos fortemente.
"Por que...por que quer saber tudo isso?" controlei minha voz para não parecer nervoso.
"Bem...se eu for enfrentar Kaname,é melhor eu estar ciente de tudo,certo?Além disso,não há ninguém melhor que o vice presidente." ainda continuava a olhar pela varanda.
Ah,egoísmo. As vezes achava que você era cruel demais,não se dava conta no que estava falando ou nos sentimentos,só importava em adquirir o que queria. Não pude conter minha raiva e explodi. Segurei seus ombros com força e senti meus olhos se encherem de lágrima,mas sem soltar alguma. Falei nervosamente,desesperado,pois pensamentos horríveis vinham a minha cabeça. Hipóteses,cenas,sangue. Você me olhou assustada,espantada.
"Não!Não permitirei que enfrente-o,não vou deixar!" a sacudi de raiva e desespero. "O-Olha,a Night Class...Kaname-sama acha que vocês da Day Class são pobres,hipócritas,sujos...é-é isso...Ele acha que vocês são..." não pude terminar a frase.
Comida. Era isso que falaria,sem hesitar,apesar que isso era proibido. Lágrimas escorreram do meu rosto e abri a porta da varanda,sentindo o vento frio do inverno. Eu era um monstro,um miserável. Estava apenas protegendo-a para que não virasse comida de vampiro...que seria só minha,apesar de não ter coragem de fazer. Não deixaria ninguém tocá-la,ninguém machucar sua pele perfeita.
Você me virou delicadamente e enxugou minhas lágrimas com a mão. A peguei e rocei delicadamente contra minha pele. Sussurrou um "me perdoe" tristemente,como se soubesse que essas lágrimas era por sua causa. Sorri e te abracei. Graças a você senti como a ternura,a quentura era um sentimento tão bom,tão confortável. Obrigada por ser meu motivo de felicidade. Obrigada por me fazer me sentir tão bem,tão amado e necessário. Obrigado por não ter me deixado sozinho nesse mundo. Eu te amo Aki.
"Ichijou!Olhe! Estrela cadente!" você afastou-se de mim e apontou para cima,sorrindo
Pude ver vários riscos brancos cortando o céu,como lágrimas cortam o rosto. Seu sorriso era o mais puro que tinha visto,uma alegria imensa,os olhos tão reluzentes como metal polido. Ouvi você murmurando algo "ah não,não são estrelas cadentes..." e ficou pensativa. Lembrei-me que uma vez tinha me dito que seu maior sonho era estudar astronomia,para poder ficar a noite inteira acordada,observando as estrelas,o planetas e desvendar todo esse mistério por trás das trevas. Na verdade,era uma chuva de meteoritos.
"Eu queria ser uma estrela,Ichijou. Porque na mais pura escuridão do universo frio e silencioso,sempre estão brilhando para aqueles que as amam vê-las. Como são vaidosas. Além disso,você poderia estar sempre me observando,toda noite."
Sorri carinhosamente,mas não sentia felicidade, tudo que tomou conta do coração foi a tristeza. Sentia no fundo do meu peito que você realmente viraria uma estrela,algum dia. Não,não queria-a longe de mim,não me abandone Aki! Que desapareça todas as estrelas,que deixasse a noite no mais puro breu,mas não a leve! Fique comigo,para sempre. Por favor...
"Por que sorri,Ichijou? Eu...eu não vejo sua felicidade agora." Comentou,assustada.
Não consegui ficar ereto e me curvei,colocando minhas mãos em seus braços e encostando a cabeça em seu peito. Não consegui manter as lágrimas dentro de mim,tive que soltá-las. Preciosa demais para ser levada embora.
"Não seja como as estrelas,Aki. Porque elas sempre serão solitárias no universo."
Obrigado por tudo,Aki.
E mesmo que virássemos,duas estrelas nunca ficam juntas na imensidão das trevas.
