Inspirada nas personagens da série Versailles, portanto não me pertencem. As histórias são apenas diversão, não têm fins lucrativos.
DRAMATIS PERSONAE-
Philippe- Irmão caçula do Rei Louis XIV, quando pequeno era tratado de "Petit Monsieur", pois o tratamento "Monsieur era dado ao irmão nascido após o rei. Quando seu tio Gaston (irmão de seu pai, Louis XIII) morreu, Phillippe passou a ser conhecido como "Monsieur" e o título de Duque de Orléans, usado pelo tio, passou para ele.
Louis XIV - O Rei Sol, filho de Louis XIII e Anne d'Autriche (Ana de Áustria, infanta espanhola), irmão mais velho de Philippe
Chevalier de Lorraine- Nobre, amante de Philippe
Marie-Thérèse- A Rainha da França, infanta da Espanha por nascimento, sobrinha de Ana de Áustria e prima de Louis e Philippe.
Liselotte- Elisabeth-Charlotte do Palatinado, Liselotte, a Princesa Palatina, segunda esposa de Philippe, Duquesa de Orléans.
Henriette-Anne - Princesa inglesa, prima do rei Louis, primeira esposa do primo Philippe, foi Duquesa de Orléans
Madame de Maintenon - favorita do rei Louis XIV
Alexandre Bontemps - valete do rei
Fabien Marchal (personagem fictício) - responsável pela segurança do rei e de Versailles
De como Monsieur le Frère unique du Roi recebe uma visita ilustre logo de manhã e o Baile do Olimpo é posto em marcha.
I.
Monsieur pulou da cama extremamente cedo para os seus padrões. Tinha um encontro com um novo arquiteto que iria começar as reformas. A noite anterior com teatro, ceia e jogo de cartas – onde ganhara uma pequena fortuna- não conseguira deixá-lo cansado. Acordara sentindo algo no ar, mas não sabia definir o que era.
Enquanto os valetes terminavam de vesti-lo, um gemido saiu das cobertas.
-Mas já?- balbuciou o Chevalier de Lorraine.
-Fique dormindo, meu querido, tenho coisas a fazer.
Debruçou-se sobre o Chevalier beijou-lhe os lábios e a testa. O outro já voltara a ressonar.
Tomou a direção da ala onde ficavam os aposentos da esposa. Ela ocupava um apartamento bonito, recentemente decorado. Deixara os antigos cômodos de Henriette para visitas de cerimônia. Por isso, ao passar pela porta dos quartos usualmente fechados, viu duas criadas saindo e ruídos inabituais de vozes atrás das portas. Apressou o passo em direção ao quarto da esposa, mas ficou surpreso. A porta da alcova do filho de três meses, Alexandre, estava aberta. Sentiu um leve sobressalto pensando que o bebê talvez tivesse adoecido. Lá dentro estavam sua esposa Liselotte, duas criadas e a rainha com o pequeno ao colo. Era gordinho, muito esperto, tinha olhos azuis e um tufo de cabelos castanhos. Ela parecia deliciada com o bebê. A rainha era ordinariamente uma criatura muito tímida.
-Es um niño muy hermoso.
Philippe lembrou da mãe, que em pequeno muitas vezes o tratara assim. A sua natural antipatia pela prima e cunhada, Marie-Thérèse, desapareceu momentâneamente. Monsieur disfarçou a surpresa, fez uma mesura e armou-se de um sorriso falso.
-Senhora, a que devo a honra? Não me avisaram da sua chegada.
A rainha continuava a sorrir para o sobrinho.
-Bom dia, irmão. Vai me permitir roubar a sua esposa por algumas horas?
Liselotte tomou a palavra.
-Meu caro marido, a rainha parou aqui por um instante, antes de ir a Paris.
Monsieur parecia surpreso. A mulher percebeu. Mas não perdeu a compostura em momento algum. Quando queria, era um mestre na arte das boas maneiras.
-É uma honra. Meu irmão também veio?
-O rei ficou em Versailles.
Típico de Louis, despachar a mulher para ficar mais à vontade.
A esposa era fina em pegar as coisas no ar, percebeu que ele queria explicações. Entraram as duas damas da rainha e Liselotte aproveitou a deixa.
-Minha senhora, vou pegar meu chapéu e as luvas para sairmos. E vou entregar a carta do rei a meu esposo.
No corredor, Monsieur foi levando a esposa apressadamente pelo braço. Entraram no quarto dela. Juntaram as cabeças, em tom de cumplicidade.
-O que significa isso? Que faz a minha cunhada por aqui?
Liselotte entregou-lhe uma carta. Ele rompeu o lacre. Era um convite para um baile de mascaras mitológico em comemoração pelo aniversário do irmão.
Balançou a cabeça, penalizado.
-Que aborrecimento! Todo o ano a mesma xaropada!
II.
O Duque de Orléans e o Chevalier de Lorraine esperavam a Duquesa voltar de Paris. A rainha arranjara um costureiro excepcional, um verdadeiro portento que cobrava os olhos da cara e que faria as roupas do baile para ambas. As despesas correriam por conta do rei.
-Maçada por quê? Vamos chegar os três, causando no salão. Posso até imaginar...
- Causando? Os três? Como assim?- Philippe não entendeu.
-Sim, Mignonette. Este ano teremos um acréscimo ao nosso empreendimento: a sua esposa.
Monsieur le Duc estava desconsolado.
-Meu irmão estragou a ideia que eu tinha para o meu aniversário. Ele aniversaria no dia 5, o estupor da minha cunhada no dia 10, eu no dia 21, minha querida mãe era do dia 22, meu pai , o falecido rei, do dia 27 – todos em setembro. Um fazendo sombra ao outro. Se bem que meu pobre pai morreu quando nós ainda éramos bem pequenos...
-Mas isso não impede que você comemore, mon coeur.
-Eu ia fazer um lindo Baile da Arcádia, com fantasias de pastores, ninfas, deuses, enfim... um primor de bom gosto. Só com pessoas selecionadas, o que há de mais interessante na corte francesa. E ia me vestir de bergère. Vi uma seda em tom salmão... parfaite. Eu ia ficar lindo, sem falsa modéstia.
O Chevalier abriu a boca para fechá-la em seguida.
-O que foi?
-Nada.
-Pode falar.
-Não me julgue um estraga-prazeres Mignonette, mas pessoas selecionadas eu até entendo, porém, interessantes... Se você é obrigado a convidar a rainha, a Marquesa de Maintenon e até, não se ofenda, seu irmão, o rei, não dá para se falar de gente interessante.
Philippe fuzilou-o com o olhar. O tempo passava e a curiosidade aumentava, junto com o tédio da espera.
-Se eu soubesse, teria ido com a sua mulher.
-Para quê?
-Para opinar sobre a fantasia dela, é claro. Tive uma ideia excepcional. Sabe o meu retrato?
-Sim, o do seu quarto. A pintura mitológica.
-Então, resolvi ir fantasiado de Ganimedes. Pensei em fantasias coordenadas.
O Chevalier havia servido de modelo para um Ganimedes, de autoria de Baldassare Franceschini, quando de sua permanência na Itália.
Philippe pensou uns segundos. Era uma obra-prima de um mestre italiano. Gostou do conceito. Os dois entrando, triunfais. Ele de Júpiter -na verdade achava o nome grego "Zeus" mais imponente- trazendo seu amante mortal, o príncipe raptado e levado para viver no Olimpo, servindo o néctar aos deuses. O irmão iria ficar roxo com tanta audácia. Aprovou intimamente.
-É uma boa ideia. Tem ousadia, tem classe.
-Se você vai de Zeus, Madame pode ir de deusa Juno ou Hera, enfim, a rainha traída do Olimpo, com seu pavão. Dá para fazer um vestido azul e dourado, cheio de pedrarias. Quem sabe até umas plumas... Porque eu não sou egoísta, Mignonette, não me faz feliz brilhar sozinho.
Monsieur mostrou-se reticente.
-É uma ideia exgerada. Duvido muito que ela aceite.
-Se você fechar questão...
Nesse momento chegou Madame. Parecia tremendamente cansada. Desabou numa cadeirinha perto deles.
O Chevalier explicou-lhe a ideia das fantasias coordenadas. Ela ouviu pacientemente.
-Agradeço a inclusão, mas não vai acontecer.
-Por que não?- o Chevalier alçou a cabeça com vivacidade.
-O costureiro, Monsieur de Villeneuve, é temperamental, cheio de segredos. Tirou nossas medidas, mas só vamos ter notícia das fantasias no dia. E ele falou que nem eu nem a rainha fazemos o tipo "ostentoso". Dito isso... acho pouco provável que eu apareça de deusa Juno. Talvez Minerva ou, no máximo, Diana. Bom, vou ver meu filho. Boa noite, senhores.
Quando ela saiu o Chevalier resmungou:
-Que falta de graça, de interesse.
Monsieur nada disse, estava pensativo.
Glossário
mon coeur- meu coração
bergère- pastora de rebanhos
