Nós Esperaremos: uma história de Bellatrix Lestrange © Lady Lestrange (ladylestrange arroba hotmail. com)
Will Wait: a story of Bellatrix Lestrange - http/www. fanfiction. net/s/1510318/1/
Tradução, capa e betagem por Ameria Black
Imagem © Amanda Keeys
Copyright © Jan/2004
ESTA FANFIC É UMA TRADUÇÃO
Nós
Esperaremos: uma história de Bellatrix Lestrange
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Ela cruzava as marcas em grupo de sete em vez de cinco, assim podia contar as semanas mais facilmente. Não sabia por que fazia aquilo, na verdade. Não tinha mais nada para fazer além de contar as marcas. Poderia tê-las contado inúmeras vezes nos anos em que estivera ali — de fato poderia. Alguns dias ela as decorava com linhas enfeitando em cima. Às vezes fingia que eram cobras. A cobra dele... Ela quase podia ouvi-las ao fechar os olhos. Cobras para dias especiais. Mas que dias eram especiais em Azkaban? O aniversário de sua prisão, os solstícios e equinócios, Halloweens, Candlemas, o aniversário do Lorde das Trevas, o aniversário dos seus filhos gêmeos.
Ela estava em Azkaban havia vinte e cinco semanas e um dia quando seus filhos gêmeos nasceram. Nunca os segurou. Um flash de cabelos pretos e eles foram para longe, para sempre longe do seu alcance. "Nós seremos recompensados. Só nós fomos fiéis. Nós esperaremos!" Ela dissera, mas era quase demais para suportar. Tinham se passado quase seis meses e Narcissa e seu marido Lucius não tinham encontrado o Lorde das Trevas e restaurado seu poder.
Bellatrix Lestrange pôs as mãos na cabeça e chorou. Queria saber se tinham contado a seu marido que os gêmeos tinham nascido. Ela não o tinha visto — não tinha falado com ele. Nem sabia se ele estava vivo ou morto. Não que o casamento deles fosse por amor. Ele a tinha escolhido, como em tantos casamentos sonserinos, era uma combinação de boa família, dinheiro e sangue. Eles não estavam apaixonados, mas estavam satisfeitos. Seus objetivos eram parecidos. Ela não queria vê-lo morto. Bellatrix se levantou e começou a andar pela cela. Não rastejaria para o Lorde das Trevas quando ele viesse para ela. Andaria orgulhosamente, como uma Black.
Ah, sim, ela se orgulhava daquele dia no tribunal. Sabia que já estava julgada e condenada antes do julgamento começar. De que adiantaria chorar e se lamentar? De nada. Ela não se humilharia àquele nível. Ela era uma Black. Se lembrava de Barty Crouch gritando e chorando como um bebê. Bem, na verdade, ele não era muito mais que uma criança. Sentia muito por ele. Seu pai não sabia o que era família e lealdade. Permitir o próprio filho a ser sentenciado naquele inferno era uma atrocidade. Aquele homem não merecia respirar o mesmo ar que Barty. Se tivesse uma varinha, o teria matado na hora — e não submetido-o ao Cruciatus até perder a razão, como os Longbottom. Ah, essa era uma lembrança agradável. Gargalhou e de repente percebeu que a cela estava mais fria que o normal. Os dementadores demoníacos estavam espreitando.
— Vão embora! — gritou para eles. — Eu não tenho alma.
Eles ficaram indecisos por um momento e então desapareceram como os fantasmas que eram. Pareceram acreditar nela. Ela nunca manteve um pensamento bom na cabeça por mais que um momento. Se orgulhava de sua habilidade de expulsar tudo que já foi bom em sua vida da cabeça. Foi como vinha sobrevivendo. Continuou andando.
Não era difícil esquecer todas as coisas boas. Azkaban estava localizada no meio do oceano, mas a água elementar era ausente. Não havia mágica em Azkaban. O contato com os Elementares era impossível. Esse era o tipo de terra que os trouxas criaram. Esta era a devastação a que eles estavam condenando o mundo mágico. Ela manteve esse pensamento, como um mantra. Manteve sua raiva. Se cada bruxo e bruxa fosse submetido à somente poucos momentos em Azkaban, eles entenderiam por que os trouxas têm que morrer. Eles entenderiam, e não haveria guerra. Entrariam num acordo, mas o Ministério não ouviria. Amantes de trouxas como Dumbledore não ouviriam. Maldito seja. Ela o queria morto.
Essa era uma razão para continuar respirando, mas quando pôs os pés pela primeira vez no chão firme, achou que tinha sido a única que tinha morrido. Queria morrer. Não podia respirar. Não podia enxergar. Um rugido em seus ouvidos a fez tropeçar e cair em cima do dementador que a segurava. Foi pior que mil Crucios. Foi vasto e vazio. Completamente sem magia. Foi o inferno.
— Muitos morrem quando vêm para nossa ilha — dissera Rookwood. — O choque da falta de magia é muito grande para eles. Com o tempo, os que não morrem se recuperam, mas os dementadores já os afetaram e eles nunca mais são os mesmos.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Estava em Azkaban há uma semana e seis dias quando Rookwood, o verme miserável, veio até ela para ficar olhando malignamente, mas Bellatrix não considerou as notícias dele ruins.
— Seu primo Sirius Black veio hoje, chorando e gritando — contou. — Foi transferido da torre sul — Rookwood espirrou. — Talvez ele não tenha gostado da vista.
— Meu primo? Sirius? — Havia esperança para ele depois de tudo? Ela gostaria de saber se era possível ele ter ido para o lado do Lorde das Trevas. Isso significava que tinham encontrado o Lorde das Trevas. Quando? Quando isto tinha acontecido? Suas contas não tinham como dizer, mas a esperança cresceu nela. Dentro de segundos, o lugar estava fervilhando de dementadores.
Rookwood disse o encanto que os chamou de volta para a Caixa de Pandora, e, por um momento, os fantasmas se foram.
Bellatrix não pôde terminar o pensamento. Meu primo. Meu primo Sirius está aqui em Azkaban? Por quê? Ela não tinha como saber. Não ouvia nada de Sirius há meses.
Quando a hora dos gêmeos nascerem foi chegando, ela pensava menos e menos no primo. Só pensava nos seus bebês e tinha esperança que o Lorde das Trevas viesse antes de eles nascerem.
— Meus bebês — sussurrou. — O que isso fará aos meus bebês? Eles não podem nascer aqui nesse lugar isento de magia.
Os dementadores não se preocupavam, e ela não viu outros bruxos ou bruxas até estar no laboratório — isso faz doze anos hoje. Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. E ficou íntima de Rookwood, o verme. Muito íntima.
Sua mãe tinha trazido as crianças para visitá-la seis vezes. Quando eles eram muito jovens, não pareciam notar a ausência de magia, mas quando tinham uns quatro anos, Bellatrix pode ver sua aflição. Eles estavam com medo.
— Ensine-os, mãe. Ensine-os a não ter medo de nada — ela tinha dito. — E, mãe, não os traga aqui denovo. Eu os verei denovo ao lado do Lorde das Trevas. Eu posso esperar.
Carman concordou e levou os anjos negros embora.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Começou seu ritual de andar pela cela. Passo. Passo. Passo. A cada passo ela estava mais próxima da liberdade. Praticou todos os encantos que pôde imaginar — todos eles. Estava esperando pela liberdade — para respirar ar fresco, do tipo cheio de ar elementar, não esse vazio. Uma janela seria agradável, mas não havia janelas para Bellatrix Lestrange. Ela não era digna. Então olhou para fora da cela, para o corredor sujo.
Alguma coisa estava se mexendo — uma sombra negra. De início ela achou que fosse um dementador e recuou, endurecendo contra o vazio gelado, mas não era. Era um cão preto. Ele passou em passos silenciosos pela cela dela. Não a olhou, não a reconheceu.
— Sirius — ela sussurrou, serpenteando os dedos através das barras para tocar a pelagem dele. — Lembre-se de mim. — Vários dos pelos negros dele ficaram na mão dela quando ele passou. Por um longo tempo ela segurou os pelos nas mãos, imaginando se ele a ajudaria. Se Sirius tinha de fato ido para o lado do Lorde das Trevas, então os doze anos passados disseram a ela que o Lorde das Trevas ainda estava derrotado enquanto ela esperava naquela prisão. Se Sirius era inocente dos seus crimes, então ele ainda estava do lado de Dumbledore. Ele se lembraria dela se se livrasse?
Apertou os pelos e desejou sucesso a ele. Ele se lembraria dela. Ela era da família.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Ela ficou de pé no meio da cela e fechou os olhos, lembrando da sensação atordoante de aparatar. Manteve os olhos fechados se imaginando em casa com seus meninos. Se imaginou sendo convocada por Ele, indo até Ele, beijando Suas roupas.
Estava de pé com os olhos fechados quando ouviu Rookwood.
— Bellatrix? Bella, minha linda... — ele cacarejou. — Linda nunca mais — ela manteve os olhos fechados, ainda imaginando seu Lorde das Trevas, mas não foi ele quem falou. Foi Rookwood, o verme. — Eu te trouxe um presente.
Ela abriu os olhos. Presentes de Rookwood sempre tinham um preço. Ele mostrou uma barra de sabonete. Tinha um cheiro doce de algum tipo de flor — jacinto, ela decidiu. Ao longo dos anos, Rookwood tinha trazido muitos presentes para ela — roupas limpas, sabonete e pasta de dente, uma escova, meias quentes — ela tinha pagado por todos eles, pagado muito.
Tentou alcançar o sabonete.
— Não tão rápido —disse ele tirando-o do alcance dela. — Você não é mais rainha da Magia Negra. Seu Lorde está morto e se foi, e você vai apodrecer aqui até morrer. Eu controlo todas as coisas boas que você tem. Diga!
— Você é meu lorde — disse ela indiferente. — Eu não sou a rainha de nada. Não sou nada além de um elfo doméstico...
— Ah... você está quase morta. Talvez eu deva encontrar outro para dar esse sabonete...
— Não! Por favor!
— Isso. Implore — ele exigiu.
E ela implorou, pensando todo o tempo que se o Lorde das Trevas viesse a ela, a primeira coisa que faria seria cuidar daquele verme. Fantasiou sobre que crucio usaria — quantos — até finalmente permitir que o feitiço saísse de controle e ele morreria... lentamente... dolorosamente.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Ela tinha certeza de que hoje era quatro de maio, aniversário de Ethan e Edward. Eles fariam treze anos. Era um ano mágico. Por um momento teve um desejo tão intenso que quase soluçou alto. Nunca tinha os segurado no peito. Nunca os tinha abraçado ou ensinado seus primeiros feitiços. Nunca os tinha visto pilotar uma vassoura ou experimentar magia sem varinha. Tinha perdido toda a infância deles, e agora eles eram jovens homens.
Treze. A idade de seu próprio despertar. Imaginou que novas magias apareceriam deles, agora que eram adolescentes. Quando pensou nisso ela teve um momento de pânico. Não conseguia se lembrar como era magia. Fazia tanto tempo desde que tinha tido magia nas mãos e sentido seu poder. Um tempo terrivelmente longo.
Pôs o rosto entre as mãos e soluçou. Ninguém estava lá para vê-la. Estava tudo bem se desabasse só por um momento. Não era nada além de uma massa de dor e infelicidade. Ela era um animal. Não. Não era. Ela era Bellatrix Lestrange. Uma bruxa. Uma mulher de poder. Jogou a cabeça para trás e gritou, um grito de animal para animal numa jaula.
— Nós esperaremos — gritou. — NÓS ESPERAREMOS! — e alguém no final do corredor bateu na cela. Bang. Bang. Bang. Os pulsos rítmicos tocaram alguma corda nela enquanto se lembrava dos feitiços. Bang. Bang. Bang. Pondo abaixo uma porta de trouxas. Se lembrou dos gritos. Eles estavam tão vivos, os monstrinhos miseráveis — roubando nossa magia. Crucio! Crucio! Crucio!
Claro, o feitiço não funcionou no buraco infernal que era lá, aquele lugar de desolação, mas ela precisava que funcionasse. Precisava da magia com cada fibra de seu ser, e ele não estava vindo. Ele não estava vindo para eles. Tinha os esquecido. Eles eram fiéis, mas Ele os tinha esquecido. O desespero dominou sua alma.
— Crucio — murmurou entre as mãos, e trouxe os dentes para junto da carne entre o polegar e o indicador. Enquanto friccionava os dentes — eles tinham que se encontrar — ela os forçou a se juntarem através de sua carne. Murmurou "Crucio" e sentiu o gosto de sangue.
Sim, ela ainda estava viva. Ainda esperando. Ainda Bellatrix Lestrange.
Depois de um momento sua mão estava paralisada, a dor se dissipando. Puxou os dentes distanciando-os e mordeu denovo, os dentes triturando para sentir a dor, e então sabia que estava viva.
— Nós esperaremos — murmurou. — Eu sei, não devia ter duvidado de você, milorde. Vou parar de duvidar. Eu vou... É tão difícil esperar... Eu não posso. Sou fraca — soluçou e apertou os dentes viscosamente na carne de sua mão.
— Crucio! — murmurou. As mãos de Bellatrix estavam tão assustadoras e enrugadas quanto as do Lorde das Trevas. Seu corpo estava ferido, mas sua mente ainda era aguçada. Odiou a fraqueza de seus companheiros de cela, que choramingavam e gritavam por pena quando esta não existia. Ela continuaria forte. Continuaria fiel. Estaria pronta quando ele a chamasse.
Se levantou e começou a andar pela cela — cinco passos a frente, quatro passos largos, sete na diagonal. Sete era um bom número — o número completo. Ela completaria sua conta. Para trás e um quarto. Para trás e um quarto. Enquanto andava, mentalmente contava os feitiços que seus filhos deviam saber agora; listou os ingredientes da poção polissuco, veraxis e veritaserum. Se esforçou para lembrar das diferentes marcas dos ingredientes adicionais. Costumava saber. Era imperativo lembrar. No fim se lembrou, mas não tinha certeza. Se irritou com isso. Tinha que ter certeza — quase certeza. Listou os encantamentos para fazer uma chave de portal que se ativava ao toque, que se ativava numa certa hora, que se ativava por um certo evento.
Terminou o ritual de andar e listar mais cedo naquele dia. Escovou os cabelos imundos e gastou outra hora tirando parasitas deles. Esmagou cada um deles com as unhas sujas, dizendo crucio e se lembrando de como praticava aquele feitiço em insetos com Carman, sua mãe. Ela tinha dez anos.
— Você deve saber disso antes de ir para Hogwarts — Carman tinha insistido. — Você irá para a Sonserina e deve ser capaz de lutar por seu lugar na hierarquia.
— Crucio! — disse, esmagando outro parasita.
Uma súbita dor queimante em seu braço a pegou de surpresa. Ela quase não a reconheceu. O sentimento era tão estranho naquele lugar sem magia. Era magia. Era a sua Marca Negra, queimando negra. Era a magia Dele dentro dela — a Marca Dele, enviada por Barty Crouch. Barty Crouch! Como poderia ser? Como ele escapou e ela ainda estava apodrecendo ali? Como? Como? Como? Então, subitamente, isso não importava. Só importava que a gente dele estava movimentando-se denovo. Seus Comensais da Morte estavam se reunindo. Ele se reergueria, e ela estaria esperando.
Queria aparatar, mas estava privada desse prazer. Em vez disso, começou a bater na porta das celas. — Ele se reerguerá! — gritou, sentindo a esperança crescendo dentro de si. — Ele se reerguerá!
Outros ouviram o chamado e, rapidamente, o lugar estava cheio de dementadores.
— Cale-se! — zombou Rookwood, e ela olhou para ele horrorizada. — Você sentiu a Marca dele queimar! — disse. — E ainda joga os dementadores contra nós? Traidor!
— Não foi Ele! — exclamou Rookwood. — Foi Barty. O Lorde das Trevas está morto. Ele não está voltando. Estava na profecia: um bebê deve derrubá-lo. Você viu sua Marca antes de agora?
— Não — ela sussurrou, a esperança morrendo enquanto os dementadores aglomeravam-se. Sentiu suas bocas geladas... Sugando... Sugando... Uma vez ela teria gritado para Rookwood colocá-los de volta na caixa, mas agora já se sentia vazia. Como eles poderiam sugar algo dela? Não restava nada.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Empurrou os farrapos que restavam das mangas de suas roupas para fora de seu caminho enquanto fazia a marca. Algo em sua pele prendeu sua visão. Era sua Marca Negra. Ela podia fazer o contorno do crânio. Duas semanas depois podia ver a cobra. Três semanas depois podia identificar as escamas individuais nas costas da cobra. Ele não estava morto. Ele voltaria para eles... para ela.
— Eu esperarei — murmurou ela. — Eu devo...
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela — marca após marca após marca e a cada dia não havia notícias Dele. A cada dia ela checava sua Marca, procurando por sinais de vida nela. Memorizou cada escama da cobra, todos os sulcos do crânio. Traçou sua forma com o dedo, um dedo coberto de sujeira. Ela não devia estar assim quando ele viesse. Devia estar pronta. Tinha sido bela, mas agora, magra, suja, desiludida, ela não era mais. Se levantou e começou a andar. Podia não conseguir beleza, mas pelo menos não estaria coberta de sujeira. Mudou de idéia. Tinha um plano.
Quando viu Rookwood implorou a ele por água, sabonete, roupas limpas.
— Você é a única razão pela qual esse lugar é suportável... — ela se fez dizer a palavra, a palavra que estava reservada somente para o Lorde das Trevas. — Você é a única razão pela qual esse lugar é suportável... Mestre.
Ele sorriu para ela.
— Você está certo — ela disse. — Faz meses que Barty Crouch enviou a Marca Negra. Nosso Lorde das Trevas... Ele não está voltando, está?
— Não sei — disse Rookwood, mirando a forma sombria de sua própria Marca Negra. — A Marca está ficando escura e escura... Ainda... — ele deu de ombros. — Acho que eu talvez deva ir procurar o sabonete...
Quase nove meses depois, Bellatrix cortou outra conta, 20 de junho — terceiro. Suas mãos estavam tão limpas quanto ela pôde fazê-las ficar. Seu cabelo estava penteado. Estava anoitecendo. O dia estava quase terminado quando a Marca queimou. Desta vez, ela sabia, era Ele. Sentiu sua magia. Sentiu seu poder. Machucou, mas a dor foi bem vinda. Era um tipo bom de dor... a dor de pertencer... a dor de antes de encontrá-lo. Ela não queria que acabasse. Era esperança. Era liberdade. Era êxtase. Ele estava vivo.
Prendeu a respiração, pondo a mão direita na Marca, deixando o calor queimar em sua mão direita tanto quanto em seu braço esquerdo. Queria segurá-la, guardá-la. Queria desesperadamente segurar a magia dentro de si, mas tão logo estava passando. Pôs a boca contra a Marca sugando gentilmente, sentindo a magia negra, quente. Em breve, começou a cantarolar para si mesma. Breve. Breve. E quando a dor se foi completamente, restando somente uma lembrança, ela se levantou e começou a bater na cela.
— O Lorde das Trevas se reergueu! — gritou. — Ele está chamando os fiéis! Ele virá para nós! Quem sentiu seu poder?
O canto ecoou através das celas enquanto os outros correspondiam a ele.
Não havia dementadores neste dia, vindo para sugar sua esperança. Rookwood os manteve na caixa. O próprio Rookwood não se aventurou na área das celas até muito depois e Bellatrix sabia o porquê. Estava com medo.
Meus filhos, pensou enquanto se balançava no chão de pedra gelado. Meus filhos fizeram isso. Eles tiveram sucesso onde os outros falharam. Eles têm treze anos. Jovens homens. Bruxos poderosos. Ela sabia disso apesar de nunca tê-los visto fazer magia. Fechou os olhos e se lembrou de seus cabelos encaracolados como os dela. Edward um pouco menor que Ethan, mas ambos pequenos anjos negros na idade de quatro anos, da última vez que os vira, nove anos atrás. Se perguntou se as Marcas Negras deles queimavam em seus braços. Como eles encaravam a dor? Entendiam o quão importante era sofrer por uma causa maior que si mesmos? Entendiam que a Marca os ligava a essa causa?
Era difícil imaginar como eles tinham crescido. Usariam os cabelos curtos ou longos? Ambos teriam os seus olhos — olhos que nada deixavam escapar? Seriam altos como o pai? Pensou brevemente em Rodolphus e desejou poder lembrar de seu rosto. Só se lembrava de que ele era alto e tinha dedos longos e firmes, como os do Lorde das Trevas. Por que ela não podia se lembrar do rosto dele? Se lembrava do rosto do Lorde das Trevas — e mais que isso — se lembrava de sua magia. Em breve ela O veria. Em breve veria seus filhos. Tocou a tatuagem sensível, pensando nos filhos, pensando Nele.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Era mais fácil agora que ela sabia que ele estava vivo. Ele viria. Tinha que vir. Ela era fiel.
Bellatrix Lestrange riscou outra marca na conta na parede de sua cela. Era primeiro de setembro. Ela andou com crescente vigor. Ele deve estar vindo logo. A encontraria pronta. O dia tinha quase terminado quando a Marca Negra queimou negra. Ela gritou, segurando o braço próximo, mas não por causa da dor. A dor não era nada. Isto era esperança.
Sentiu a magia Dele queimando mais forte que nunca — quente e feroz — e a Marca enviada por... Ela embalou o braço como uma criança recém-nascida. A Marca fora enviada por seu filho mais velho — sim! Ah, sim! Lágrimas rolaram por sua face, e os dementadores se aglomeraram em cima dela, alimentando-se de sua esperança, mas não podiam tirá-la dela.
