Disclamer: Saint Seiya e seus personagens obviamente não me pertencem.A música desta fic chama-se Roda Viva e pertence a Chico Buarque. Esta fic obviamente também não tem fins lucrativos.
Comentários da Autora: Eu comecei esta fic para o aniversário de Mu. Porém estava em um momento meio "depressivo" o que aparece claramente no decorrer do texto. Acabei abandonando-a. Agora que o momento passou, resolvi terminá-la. Não alterei uma linha do momento "baixo-astral" mas tentei mostrar no final o sentido, pelo menos para mim de uma frase que uso muito. "No final tudo dá certo, se nem tudo está certo, ainda não é o fim." Me perdoem se os personagens ficaram meio OOC, mas era preciso e necessário. Gostaria de receber comentários. Apesar de ter escrito este texto para desafogar minhas próprias mágoas espero que ele agrade a quem o ler. Mas chega de blá-blá-blá, vamos ao que interessa.
27 de Março
Não sei exatamente o que está acontecendo comigo. Hoje é meu aniversário e se eu pudesse ficaria escondido debaixo da cama, com todas as portas lacradas, sem uma fresta de luz a me informar que existe dia do lado de fora.
Minha vida anda uma merda, uma merda se eu for, no mínimo benevolente. Não porque diabos não me deixaram morto, preso àquela rocha ridícula. Certamente eu estaria sofrendo menos. Ao sofrimento eterno de um santo eu já estava acostumado, mas o que vivo agora...
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
Eu sei o que é a morte, o que é o sacrifício, mas não sei viver, não sei envelhecer, não sei ser engolido por este mundo. Não sei sobreviver vendo tudo em que acredito mudar ou ruir. Não seria melhor ter morrido de verdade?
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Eu queria realmente poder gritar, me rebelar, quebrar tudo, mudar e manter o status quo ao mesmo tempo. Queria ser dono de minha própria vida sem ter que me adaptar. Pode parecer egoísmo, mas quando sacrificamos tudo pelo mundo, deveríamos ter o direito de pedir um pequeno sacrifício por nós.
Eu fiz tudo. Eu dei tudo. E agora? O que me restou? Um Santuário em ruínas, notícias cada vez piores chegando de todos os lados, a ignorância, o esquecimento. Nem mesmo nossos deuses ainda são lembrados ou honrados. Se os tolos soubessem... Se eles tivessem a mínima idéia do que acontece nos bastidores...
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Eu nem sei porque ainda questiono tudo isso. São fatos. Fatos que ocorrem a milênios. Muito antes da minha existência. O mundo gira em torno de si mesmo, o tempo passa e joga a areia do esquecimento sobre o que realmente é importante. Mas o ser humano é tão vaidoso que é incapaz de ver que não somos nada, não valemos nada.
E o mundo continua a girar e eu aqui igual um tolo mais uma vez me questionando sobre a imutabilidade das coisas. Filosofando e me martirizando. De que vale? De que adianta? Pra que serve a minha vida?
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Cansei, cansei de lutar, cansei de entregar minha vida para tolos ignorantes que nem mesmo acreditam na minha existência, cansei de tentar agradar a uma Deusa, ingênua, vaidosa e mimada, cansei de entregar meu coração a um homem arrogante, meticuloso e irritantemente burro no tocante a sentimentos. Joguei a toalha.
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Entreguei os pontos de vez. Eu desisto. Eu não quero mais tentar. Eu não quero mais me iludir. Eu não quero mais viver. Quantas vezes eu implorei? Quantas vezes eu gritei? Quantas vezes tentei nadar contra a corrente do destino? Inúmeras. Incontáveis. Hilariantemente inúteis. O destino sempre me mostra que ele é mais forte que eu. Eu vou embora. Vou embora da vida, embora do mundo. Estou me despedindo no dia em que nasci. Quem sabe assim eu feche o ciclo estupidamente inútil da minha existência. Quem sabe assim pelo menos Ele se lembre de mim. Quem sabe agora eu consiga o descanso e a paz que tento almejo.
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Ele estava prestes a fazer a maior besteira que um ser humano pode fazer, dar fim a sua própria vida. Chegara ao limite do suportável e não conseguia lidar com tantas nuances, tantas reviravoltas, tantos "ses" e "senãos", mas a vida ao mesmo tempo tão dura, tão cruel, também é capaz de nos surpreender de forma vela, de forma grandiosa.
Ele caminhava desesperadamente a beira do grande precipício que circundava sua morada particular e estava pronto a se atirar em um vôo letal. Não era o super-homem, sabia sim, era verdade, viajar a velocidade da luz, se teleportar, mas não sabia voar e era assim que queria acabar com sua própria vida, mergulhando no vazio, como se mergulhasse dentro de si mesmo.
Mas tudo que vivera até agora fora uma ilusão. Inclusive sua própria depressão fora uma funesta ilusão. Perniciosa, Fatídica.
Mais um passo. Era apenas um pequeno passo para o nada, para o descanso, para o esquecimento. Estava prestes a dá-lo quando sente algo suave tocando seu ombro.
- O que pretende fazer?
- Não parece óbvio? – não tenho mais que dar explicações, não tenho porquê ser educado.
- Você sabe que não foi isso que perguntei. Eu sei o que pretende fazer, mas não me parece digno de você.
- E o que é digno de mim? Esta vida de merda? Este sofrimento infindo?
- Eu pensei que era digno de você, mas vejo que estava redondamente enganado...
Pela primeira vez ele se virou e encarou os olhos azuis límpidos daquele que o impedira, que o segurara. Viu lágrimas, viu desespero, ou será que estava apenas vendo um reflexo do que mostrava seus próprios olhos.
- Se realmente está decidido a fazer o que estava prestes a executar, me permita ao menos acompanhá-lo.
- Você iria comigo?
- A qualquer lugar, de qualquer maneira, nem que fosse renegando a dádiva da vida recebida novamente.
- Eu te amo.
- Eu sei. E também te amo. Me perdoe por demorar tanto a perceber isso. Me perdoe por te fazer sofrer. Me perdoe.
Um abraço. Olhos violetas e olhos azuis se encontrando de verdade pela primeira vez. Unidos para sempre.
