796 UC. 486 IC.

Quando fora designado para compor a ponte do então capitão Fritz Joseph Bittenfeld como tenente há 2 anos atrás, Edward Eugen logo percebeu o porquê da rotatividade frequente dos subordinados: o temperamento impetuoso aliado aos excessos de seu comandante com a bebida. Sempre controlado, chamou para si a missão inglória de controlar pelo menos o estado etílico de seu superior, afinal, que moral teria um comandante bebum perante as tropas? Nesse lapso de tempo que se seguiu, ele virara tanto o confidente quanto o contraponto racional para o conhecido caráter impetuoso e imediatista de seu superior. A tripulação e os praças comemoravam a vitória na batalha de Lügen nos corredores. Enquanto conversava com outros colegas, percebera que ele repentinamente sumira da ponte e de sua vista.

Suspirou. Ele devia estar no mesmo esconderijo de sempre: um corredor sem saída nos confins da Konigs Tiger. Dito e feito. Não era a primeira vez que o encontrara ali. Já o resgatara daquele mesmo lugar, devido a bebedeira desenfreada, em situações anteriores. O Vice-Almirante tomava longos goles uma garrafa de whisky recém-aberta, sentado, com os olhos semicerrados fitando para o espaço cheio de destroços. A face tinta de vermelho denunciava o excesso de álcool no corpo. O Almirante se apercebera da presença dele.

- Seja quem for não precisa me dizer que eu bebi demais. Eu sei disso, mas foda-se... Tô bebendo pra me lembrar daqueles que sempre partem e pela nossa vitória. Vai uma dose ai? Whisky 15 anos. Senta aí soldado... Acho que a gente não se conhece. Todo mundo parece igual com esse uniforme preto! E aqui tá tudo meio escuro... Vou me apresentar: sou o Vice-Almirante Imperial Fritz Joseph Bittenfeld. 30 anos, mas com disposição e corpo de 18! Sou líder da mais temida e orgulhosa frota Imperial: os Lanceiros Negros. Eu e minha frota somos os mais fodas, os mais valentes de toda a armada. Ninguém pode com a gente! Amo esses caras que trabalham comigo aqui. São a minha família. Só sinto falta de mulher... mas eu nunca sei o que fazer quando encontro uma, mas eu gosto muito delas sabe? Mesmo que elas sejam de outra dimensão onde homem algum jamais esteve. Acredite em mim soldado. Elas são de uma raça alienígena. Jamais duvide disso.

- Sábias palavras senhor. – Foi tudo o que conseguiu dizer perante as palavras do seu superior. Achou por bem não contrariar um bêbado, ainda mais um bêbado do porte de Bittenfeld que poderia ter rompantes de violência a qualquer momento.

- Obrigado soldado... Qual é teu nome e patente mesmo?

- Capitão Edward Eugen.

- Então Eugen-kun, eu estava falando sobre mulheres. Sabe, toda a vez que eu me lembro de mulher, não sei por que raios, eu também me lembro daquele loiro com pinta de galã do Mittermeyer. Porra, o Wolf casou bem jovem, quando não tinha nem sinal de barba naquela cara de playboy e com um docinho que olha, vou te contar, um anjo... E como é o nome daquela mulher dele? É Eva alguma coisa.

- Acho que é Evangeline senhor.

- Isso aí que eu disse. Tá bem informado nas fofocas hein? Enfim... Aquele cara que agora virou o lobo da rajada de vento é um cara de muita sorte... Talvez ele seja mais sortudo que o Lohengramm. Toda a vez que as nossas tropas voltam para Odin, ele pode ter a certeza de que vai haver uma mulher linda esperando por ele em casa e que vai poder foder numa boa. E todo mundo sabe como ele é apaixonado por ela. Quantos têm esse privilégio, soldado?

- Poucos senhor.

- E você é um desses?

- Não senhor... Como muitos oficiais, sou da opinião de que a frota é minha amante.

- Mas quem foi o filho da puta que inventou esse ditado idiota? Deve ter sido um viadão fracassado! Tudo na vida se resume a uma coisa para homens como nós: ser amado e amar uma mulher. Não tem frota que te dê isso! Talvez seja a única coisa que realmente invejo naqueles rebeldes... Dizem que lá as mulheres podem entrar nas forças armadas e eles servem juntos... O sexo deve rolar solto, mas acho que deve dar para encontrar a cara-metade naquele monte de gente. Taí um grande negócio, você trabalha e ainda tem uma chance de se ajuntar com uma mulher... Une o útil ao agradável.

- Certamente senhor.

- Qual é o seu maior medo, Eugen-kun?

- Não poder voltar para casa vivo senhor.

- É um bom motivo, mas o meu é bem maior: é morrer solteiro. Por isso eu quero que essa guerra acabe logo para eu arranjar uma mulher para casar. Casar deve ser bom sabe? Olhar e ver que o outro lado da cama não tá vazio. Que vai poder ter uma mulher pra chamar de sua pra sempre. – Eugen vê pela primeira vez lágrimas silenciosas saírem dos olhos castanhos de seu comandante. Sentiu pena dele e pensou como era surreal aquela situação. O temido almirante abrindo seu coração e refletindo o sentimento da maioria dos homens sob o seu comando. Todos, da boca para fora, muito bravos e metidos a valentes. Todos, no íntimo, carentes de alguém. Bittenfeld se levantou com certa dificuldade, sendo acompanhado pelo seu subordinado até seus aposentos.

- Obrigado por me ouvir Eugen-kun. Juro que da próxima eu vou maneirar na dose. De qualquer forma, quero dizer que você é o homem em quem eu mais confio e obrigado por me acompanhar por todo esse tempo. Isso é difícil de achar por aí.

Eugen bateu continência e deu um sorriso de agradecimento, seguindo para o seu dormitório e desejando com todas as forças que seu comandante realizasse aquele desejo tão simples: ter alguém para amar.

FIM