O lar é onde o coração está

Autor: Phoenix

Trilha: Dream On (Aerosmith – Cd Greatest Hits 1973 - 1988)

"O seu coração está onde está o seu tesouro.
E seu tesouro precisa ser encontrado
- para que tudo possa
fazer sentido"

INTRODUÇÃO

As coisas não eram as mesmas na casa da árvore, e os dias se arrastavam em seu infindável continuar melancólico. Havia se passado muito tempo desde que o grupo havia chegado aquele lugar estranho onde o tempo parecia ter parado. Tantas coisas absurdas aconteciam ali, que qualquer que ouvisse seus relatos acharia que eles tinham ficado loucos. Eles haviam se tornado uma família formada pelas artimanhas do destino; mas o quem ou quem comandaria o destino, esta força caótica e incompreensível que move as vidas de um lado para o outro? Por que aquelas pessoas haviam sido escolhidas para fazer parte de uma expedição rumo ao desconhecido e fadadas a aprender a difícil lição da convivência em grupo?

Com certeza incontáveis por quês povoavam a mente dos aventureiros, ainda mais agora que dois de seus amigos não estavam mais lá. Passaram por muitas coisas juntos, aprenderam a dividir, se preocupar uns com os outros, mas não foram capazes de impedir que cada um, aos poucos, seguisse seu próprio caminho, para o bem ou para o mal. O que teria acontecido a Summerlee? Teria ele sucumbido à fatalidade no rio ou, como seus amigos preferiam acreditar, ele teria chegado a Londres, contado sua história e estaria procurando uma forma de voltar para buscá-los? E quanto à Malone? Onde estaria ele? Bem? Vivo? Como estaria se virando o jovem e inseguro jornalista; estaria ele preenchendo seus diários com suas aventuras fantasiosas ou elas agora seriam aventuras de fato?

Aquele era mais um dia como todos os outros no Plateau. Talvez um pouco mais triste para Verônica, que dia após dia ia perdendo as esperanças de que Malone realmente voltasse um dia como havia afirmado na carta que deixou. Ela acordou cedo como de costume e encontrou Challenger debruçado na varanda com o olhar perdido no horizonte.

"Bom dia George."

"Bom dia Verônica – respondeu ele com uma voz fraca e titubeante"

"Você está bem? Parece um pouco desanimado...."

"Está tudo bem..... acordei cedo, mas não estava com vontade de ir ao laboratório, então resolvi pensar um pouco aqui.... a vista é tão bonita e inspiradora..."

"A vista....inspiradora?! Acho que nunca ouvi você falando assim! As únicas vezes em que o vi aí, foi tentando ver alguma movimentação estranha ou procurando algum detalhe para mapear..."

"Acho que vc tem razão.... nunca parei para ver como este lugar é bonito de verdade. Não só belo para a ciência com o que podemos descobrir aqui, mas como a paisagem deste lugar é capaz de despertar sentimentos de ...."

"De...? Que tipo de sentimentos??"

"Bem... acho que já estou mais disposto... já está na hora de voltar ao trabalho, afinal de contas não sabemos até quando ficaremos aqui, precisamos de algum conforto e a ciência está a serviço do homem para isso..."

"Mas..."

Neste momento Roxton e Marguerite chegaram, falando alto e rindo, em mais uma de suas discussões, que na verdade poderiam ser melhor classificadas como charmosas disputas de ego. Challenger aproveitou a distração de Verônica e entocou-se em seu laboratório, sem dizer mais nada sobre que sentimento seria esse; um habitante oculto, recém descoberto, que nem mesmo ele sabia bem o que era. Falar sobre coisas pessoais nunca foi o forte de Challenger, e seus sentimentos eram o que ele tinha de mais profundo e, portanto mais secreto.

Entretanto Verônica não se deteve muito tempo pensando sobre o que Challenger poderia querer dizer; seus próprios pensamentos estavam se tornando cada vez mais dominadores, fazendo com que ela passasse cada vez mais tempo sozinha com suas próprias lembranças. Ela realizava suas tarefas ia até o rio, mas nada disso era feito com a alegria e o entusiasmo de antes, não havia mais graça em seus dias e nem brilho em seu olhar. Seus amigos se preocupavam e tentavam conversar, lembravam de como ela havia ficado da primeira vez que haviam perdido Malone; quando ninguém mais tinha esperanças, ela mantinha-se firme, segura de que o encontrariam. Por mais que ela tentasse disfarçar, seu estado de ânimo não mudava, e todos torciam por algum sinal do rapaz ou pelo menos que descobrissem alguma forma de alegrá-la.

A solidão passou a ser a maior companheira da jovem da selva; apesar de ter ficado tantos anos sozinha, ela nunca havia se sentido como agora; abandonada seria a palavra exata. Pensou em seus amigos; eles eram agora a sua família, ou mais que isso, pois bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Mesmo assim não eram capazes de preencher o vazio que ela sentia. Finn, a última a se juntar ao grupo, estranhamente parecia mais entrosada do que ela. Ela era bastante curiosa e inteligente, tendo se tornado a fiel escudeira de Challenger, sempre atenta às experiências dele; ele por sua vez estava sempre interessado em ouvir o que ela tinha a dizer, pois detalhes sobre o futuro encantam qualquer um, principalmente um cientista.

A saudade de Malone nunca havia se apresentado de modo tão presente até então; era tão grande que chegava a ser quase palpável. Desde que ele havia partido, cada novo dia trazia a esperança de vê-lo novamente, mas isso não acontecia de fato. Já havia pensado em milhares de coisas para dizer quando o encontrasse, tinha certeza de que precisavam conversar sobre várias questões que ficaram inexplicadas, pela metade e, principalmente precisa lhe dizer o quanto sentiu sua falta, mais do que poderia imaginar. Só neste momento ela percebeu que o medo de se envolver havia impedido que ela vivesse a felicidade de tê-lo a seu lado. Agora ele havia ido embora e ela não sabia quando voltaria e nem mesmo se voltaria; nada poderia fazer a respeito disso a não ser esperar, manter a esperança de que ele manteria a sua promessa e voltaria para ela, não apenas como seu amigo.

Mas, será que depois de tanto tempo longe, aquele que voltaria ainda seria o seu Ned: o jovem doce, que com seus arroubos de valentia e sua insegurança inocente haviam conquistado seu coração e sua confiança? Como ela pode ter sido incapaz de notar que a presença dele, mesmo que às vezes silenciosa era o que mantinha a sua tranqüilidade? Ela achava que sempre haveria alguém com quem contar quando todos os outros falhassem, mas não contava que um dia esse alguém pudesse ir embora de repente; sempre desejou que ele tomasse alguma atitude, tivesse iniciativa, mas nem em seu pior pesadelo pensou que isso pudesse significar perdê-lo.

O dia passou lentamente, todos ficaram ocupados com suas tarefas e as descobertas e surpresas que o mundo perdido trazia todos os dias, mas a única descoberta que importava ela havia feito a duras penas. Mesmo depois que todos tinham se recolhido a seus quartos, Verônica ainda perambulava pela casa. Já era tarde, mas ela não conseguia dormir; isso não era novidade, há muito tempo ela só dormia quando era vencida pelo cansaço e acordava com a sensação de que havia acabado de deitar, tamanha a apatia que a dominava. Mas daquela vez parecia diferente; estava sentindo-se inquieta, como se algo estivesse na iminência de acontecer. Deu uma olhada nos outros: todos dormiam tranqüilamente, o sono dos justos e mais uma vez ela estava sozinha.

A jovem resolveu fazer um chá e tomar na varanda, quem sabe assim acalmasse a tempestade que parecia ter se instalado em seu coração. Talvez pelo efeito relaxante do chá e pelo cansaço acumulado de tantos dias sem dormir direito, ela foi cochilando; havia deixado a xícara apoiada em seu colo, mas ela foi escorregando e acabou caindo, esta bateria contra o chão e partir-se-ia em mil pedaços, mas alguma coisa impediu....ou seria alguém?

CONTINUA.....

DISCLAIMER: Os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction.

OBS: Epígrafe retirada de: 106 Reflexões do Guerreiro da Luz – Paulo Coelho