Um baile

Um dia, uma festa, o sonho de reencontrá-lo. Era naquele exato dia que eu poderia dizer "eu te amo" novamente.

Por um momento eu tinha me esquecido do vizinho, meu namorado, o menino que acreditava em mim; mas não, que queria estar lá, na festa do reencontro dos alunos do SMP, com ele, o menino que me rejeitou toda a vida, mas que eu ainda amava.

Eu sei que todos pensam que eu sou uma idiota por ainda acreditar que aquele amor era possível quatro anos depois, mas o que eu poderia fazer?

O vizinho bateu em minha porta:

- Oi, amor!

- Oi – disse eu triste por não saber o que fazer. Nossos lábios se tocaram em um pequeno beijo e ele me perguntou o que eu iria fazer à noite. Não tinha jeito, eu teria de convidá-lo.

- Eu vou a uma festa dos ex-alunos do colégio onde estudei, por quê?

- Sei lá. Pensei que poderíamos sair hoje ao cinema, só nós, que tal?

- Eu gostaria muito de ir, sério – eu menti, claro – mas é que eu não posso mesmo perder essa festa entende?

- Claro... Então, que horas é a festa?

- 22h.

- Te pego aqui às 21h e 50 min., certo?

O que eu poderia dizer? Ele se autoconvidou, certo? A única coisa a dizer era sim, depois disso.

- Certo, pode ser...

- Então, até daqui a pouco.

- Até...

E um outro beijo indesejado por mim. Fechei a porta e corri para a cama, chorando. Minha festa tinha ido por "água abaixo".

Passou o tempo, me arrumei da melhor forma possível, talvez assim eu seria notada por ele, mesmo com um namorado.

O vizinho bateu em minha porta. Arrumada e triste, fui ao seu encontro.

- Oi. – eu lhe disse.

- Vamos?

- Certo... – fazer o quê, pensei.

Desci as escadas do apartamento e entrei no carro. Estava no carro errado – pensei – era no carro do Rafael que eu deveria estar, não aqui... Não aqui.

Chegamos à festa. Cumprimentei a todos e lhes apresentei o vizinho, que, no caso, era o meu namorado.

De longe, uma linda visão: Rafael, encorpado em um lindo terno preto, muito mais lindo do que no colegial, m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o! Fui ao seu encontro, largando amigas e o vizinho para trás.

- Rafael, é você? Como mudou! – lhe disse.

- Nanda? Oi! Quanto tempo...

- Pois é... – disse eu sorrindo.

- Você está linda!

-Obrigada! – disse eu com um sorriso maior ainda. Estava super feliz!

- Esta é a minha namorada. Lúcia! Vem cá, quero que conheça uma das minhas amigas.

Meu mundo desmoronou! "Minha namorada"? "Uma das minhas amigas"? Eu já queria mais do que amizade, e eu ainda sou "uma delas"? Já era pra mim.

- Oi... Lúcia.

- Oi! – disse ela sorrindo – Como você se chama?

- Fernanda.

- Nome bonito!

E eu a retribuí com apenas um pequeno sorriso sínico.

- E você, Nanda, está namorando também?

- Estou sim... Ele está ali com as meninas.

- Apresente-nos a ele.

- Não, ele não...

E minha fala foi interrompida por uma fala vinda da caixa de som. Era a Mariana, a anfitriã da festa.

- Teremos agora a dança dos namorados. Quero que todos eles se dirijam à pista central de dança. Obrigada.

- Vai lá, Nanda. A gente se vê.

- Tá bom. Beijo.

- Tchau!

Fomos todos para a pista de dança, par por par.

Agora abraçados, o via pela pista rodopiando com Lúcia. Por um momento pensei que tudo estava certo, que eu estava com que quem verdadeiramente me amava, afinal, o Rafael nunca me amou. Mas esse pensamento logo saiu de minha cabeça e novamente eu não queria estar ali, com meu próprio namorado.

Rafael com Lúcia, eu e o vizinho. Os dois passaram por nós em um belo passo de dança, que meu par não sabia fazer. Sorrindo, Rafael me disse:

- Estou adorando esse momento. E você?

Sem palavras, e com apenas um sorriso, eu lhe disse:

- Queria estar com você!