Por um momento prendeu a respiração ao notar a presença de alguém do lado de fora da casa. Assustada com o vulto que viu na janela, ela levantou do sofá e com passos nervosos aproximou-se da mesma com cuidado para não ser vista. Apesar de bastante assustada, ela precisava ver quem poderia ser. Para sua surpresa era ele, que já sentado na moto, colocava o capacete. Ela não sabia o que pensar, depois do beijo que havia trocado estavam confusos; ele bem mais que ela. Passou os últimos dias evitando-a, fugindo do que o beijo havia despertado dentro dele. ''O que ele veio fazer aqui?'' ela se perguntou confusa, ''Porque está indo embora?''. Ela queria gritar para que ele voltasse, mas o grito continuou preso em seus pensamentos. Ele foi embora e ela sentiu o peito apertar, não iria conseguir permanecer com aquelas dúvidas. Sem pensar duas vezes abandonou a janela à procura de um sobretudo e ao achar vestiu-o, pegou a chave do carro e saiu em disparada rumo à casa dele.
Assim que ele chegou em casa foi preparar uma bebida. A porta ficou recostada por falta de força ao ser empurrada para fechar. Tirou a jaqueta e com o copo na mão caminhou em direção ao piano, sentou frente à ele e colocou o copo sobre o mesmo após dar um longo gole. Aquilo estava o sufocando e ele precisava fugir dos pensamentos que só queriam saber dela.
Quando ela chegou pode ouvir um som suave que vinha do corredor, aproximou-se da porta e viu que não estava fechada; era como se a porta soubesse que ela viria e então estava ali à sua espera, convidando-a para entrar. Ela com cuidado empurrou-a um pouco para ter uma visão maior da sala.. E lá estava ele concentrado em seu piano, da forma como jamais ela o tinha visto. Os olhos dela brilharam e os lábios moveram-se num sorriso, estava encantada com o que via. Ela continuou observando com todo o cuidado para que ele não a notasse, não queria atrapalhá-lo, queria aproveitar um pouco mais daquele momento, daquela cena que era tão incomum aos olhos dela e de todos, pois ele nunca tocava na frente de ninguém.
Piano; um instrumento enorme e aparentemente forte, mas que ao ser tocado demonstrava toda a sua delicadeza com seu som. House; um cara grande, rude, aparentemente sem sentimentos relacionados ao amor, mas que ao tocar o piano demonstrava toda a sua sensibilidade em cada melodia.
De olhos fechados e coração escancarado, ele continuava sua conversa com o piano, com a música. Tudo que ele não teve coragem de falar para ela, estava sendo confessado ao piano, como sempre fazia nos momentos de angústia. As teclas gemiam e rasgavam-lhe o peito, sustinham a inquietude de seus pensamentos, sua alma se desfazia em notas musicais. Ela permanecia imóvel com a cabeça encostada na porta pouco aberta, sentiu uma lagrima escorrer-lhe o rosto, aquela canção tocou-lhe profundamente.
As notas eram carícias como doces palavras que se diziam em momentos de carinho, e esse momento estava chegando embalado pelos acordes certeiros e sofridos. Ela olhava serenamente as mãos dele dançando nas teclas neutras daquele piano de calda, ela o viu suspirar como se ele estivesse sentindo o piano traduzindo seus sentimentos, ela quase foi capaz de sentir a respiração dele.
De repente ele olha para a porta e ao vê-la o som do piano cessou. Ela escancara a porta, revelando-se por completa para ele. Com um sorriso tímido ela finalmente entra, fecha a porta e caminha até ele. Um olhar surpreso e constrangido era tudo o que ele esboçava.
- Não queria te atrapalhar. - Cuddy disse ao aproximar-se.
- O que você faz aqui? - ele pergunta de uma forma um tanto grosseira.
- Eu vi você indo embora da frente da minha casa. - ela responde e pousa a mão direito no piano.
- Aquilo foi uma idiotice. - House falou friamente e desviou o olhar sentindo-se incomodado por ser pego em um momento que para ela era extremamente intimo.
- Então eu sou idiota por estar aqui? - ela perguntou pouco ofendida.
- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. - o alto homem pegou o copo vazio e levantou em busca de mais bebida.
- Então o queria dizer ao ir até lá? - ela insistiu o acompanhando com o olhar.
- Nada, por isso vim embora. - ele apenas disse indiferente enquanto enchia o copo.
- Eu vim até aqui... - Cuddy caminhou até ele. - E ao contrário de você, eu não vou hesitar. - ela diz, tirando o copo das mão dele e colocando junto da garrafa de whisky.
- Se não ia beber porque pegou o copo? - a irônia o ajudava a disfarçar o nervosismo e o turbilhão de sentimentos que sentia naquele momento.
- Não vamos precisar dele. - ela tirou o sobretudo e colocou no sofá. - Eu quero te amar esta noite e quero que você me ame na mesma intensidade. - ela declarou, olhando-o profundamente, deixando o corpo a centímetros do dele.
Ele fitou sua boca antes de beijá-la ardentemente. Foram cambaleando em direção ao quarto e antes de entrar no mesmo, ele encostou-a na parede e fez questão de falar olhando em seus olhos.
- Tudo que sinto por você é intenso, desde a raiva até o desejo.
