************************************ Cap 40 As pererecas do Kiki ****** *** ******* ************
Simultaneamente aos eventos em Moscou ...
O dia para Mu e Shaka tinha começado ainda antes dos primeiros princípios do sol tingirem o Monte Zodiacal. Assim que eles chegaram na Sexta Casa, na noite anterior, convidou os livros encontrados na câmara secreta de Shion e fez uma visita rápida ao hospital para ver Kiki, algo que não levou mais do que trinta minutos, mas que trouxe a ambos algum conforto porque puderam dizer a ele, ainda que não tivessem a certeza de que Kiki poderia ouvir-los, que encontrou o diário e estavam a um passo de encontrar a cura, e que aquela era a razão pela qual não estariam ali ao lado dele naquela época noite, mas que seus Cosmos e corações estariam o tempo todo conectado.
De volta ao Santuário, os dois cavaleiros se enclausuraram na biblioteca de Virgem, espaço que Mu também usava como escritório, e divulga uma procura urgente e incansável pela cura, ambos num silêncio monástico quebrado apenas quando os dados de lemuriano antigo trazidos de Jamiel não davam conta de sanar as dúvidas linguísticas de Shaka e ele precisa consultar Mu, ou quando o gato Saravá Ebó demandava algum carinho miando e rolando faceiro sobre os livros fornecidos.
Como já separado separado os livros por assunto específico, - medicina pediátrica lemuriana - passadas algumas horas eles já descartaram vários deles ea pilha ia ficado cada vez menor, embora com isso a tensão e o medo só faziam crescer. Quando sentiam o sono e o exaustão ameaçando nocauteá-los, Shaka ia até a cozinha e preparava um café forte com bolinhos açucarados para cumprir-los despertos, eles então tomavam juntos, massageavam as costas um do outro e continuavam como buscas nos livros.
Foi assim até quase o raiar do dia, e já faltando horas para aquela noite terrivelmente tensa terminar eles finalmente aproveitam o que buscavam.
Casa de Virgem, 09h05
Shaka entrou apressado e eufórico no escritório trazendo nas mãos uma bandeja com café fresco, creme batido, um pratinho de porcelana com sardinha picada em cubinhos e três xícaras. Assim que o viu ali, muito rapidamente varreu um espaço sobre a escrivaninha, agora abarrotada de mapas e anotações sobre coordenadas geográficas, para que ele pusesse ali a bandeja, então pegou o pratinho com a sardinha e o colocado no chão para Saravá Ebó, que já miava desesperado rodeando suas pernas à espera de seu nobre dejejum.
- E então, encontrou a localização exata? - Shaka perguntou enquanto despejava o café nas três xícaras.
Animado como há muito tempo não se via, Mu pegou o virginiano pela mão e voltou para trás da escrivaninha, onde sem aberto alguma sentou-se na cadeira e o puxou para seu colo para lhe mostrar algo no mapa ali sobre os livros.
- Sim! Veja, Luz da minha vida, fica na Amazônia brasileira, próximo à fronteira com a Colômbia. - disse Mu deslocar para anotações que havia feito no mapa - É uma espécie nativa de lá.
Shaka inclinou-se um pouco para o lado e com uma expressão nada convencida olhou para Mu.
- Na Amazônia? Você já viu o tamanho daquilo? - disse ele, depois correu os olhos pelo mapa, nitidamente perturbado. - Isso só pode ser uma provação do Samsara!
Nessa hora uma terceira pessoa juntou-se a eles, tomando partido no que era discutido.
- É, parece que o Samsara resolveu pôr todos nós à prova nesses últimos meses - disse Geisty, que um chamado de Mu tinha subido até Virgem para inteirar-se dos últimos acontecimentos antes de dar início a mais um dia de trabalho no Templo das Bacantes .
- Algum problema? Com quem estava falando? - Mu perguntou percebendo que depois de atender um telefone no celular a amazona parecia preocupada.
Geisty suspirou enquanto pousava o celular sobre a mesa e arrastava uma poltrona para perto da escrivaninha para se sentar.
- Com Afrodite ... Ele ligou para avisar que teve um problema sério lá em Gotham City com o Batman e que vai precisar ficar fora por uns dias - disse com a voz arrastada, encarando os olhos de Mu enquanto gesticulava muito e sacudia a cabeça com um gesto negativo. - Olha, Mu, sério mesmo ... Por que Afrodite não diz de uma vez por todas onde é que esse Batman mora?
Mu fez um bico e deu de ombros.
- Eu não sei não - dissimulou.
Geisty deu um soquinho na escrivaninha e agitou as mãos no ar bem ao seu modo italiano.
- Isso é um absurdo! - reclamou ela elevando a voz. - Esse babaca desse namorado dele é abusivo! Além de não dizer onde está, ele liga sempre de um celular com número oculto e também bloqueia o Cosmo para a gente não encontra-lo! Esse ... esse Batman de merda não pode exigir que Afrodite se esconda de nós desse jeito!
- Eu concordo - disse Shaka balançando a cabeça. - Mas, se ele se encontrou a esse tipo de coisa há tantos anos é porque boa praça esse homem não é. Deve ser mais um prevaricador degenerado, metido com banditismo e que tem a ficha mais suja que uma alma em sua trigésima encarnação ... Beba o café antes que esfrie, Geisty. Trouxe o creme que você gosta.
- Ah, obrigada! - disse ela indo se servir do café com creme - E além de prevaricador e o resto tudo aí que você falou, tenho certeza que esse homem é casado com uma velha feia, inválida e podre de rica que banca os dois, Afrodite e ele, e que nunca vai assumi-lo de fato.
- Bem provável! - Shaka concordou. - Que indecentes!
Distraído demais para prestar atenção na conversa dos dois, pois que pensava que algo muito grave deveria ter acontecido a Camus, ou mesmo a Afrodite, Mu encarou Geisty e com cuidado para não levantar suspeitas Questionou:
- O Dido disse o que foi o que aconteceu? Ele e o ... Batman, estão bem?
Geisty afastou a xícara da boca para responder; um bigode grosso de creme ficou impresso debaixo de seu nariz.
- Hum ... disse, mas daquele jeito dele, né, de falar sem de fato dizer nada. Só disse que o pior já passou, mas que não pode deixar o Batman sozinho por enquanto.
Ela se interrompeu quando olhou para Shaka e o viu fazer um sinal para que limpasse uma fita de creme sob do nariz. Virgem estava tão incomodado como aquilo que mal consegui prestar atenção no que ela dizia.
A amazona passou lambeu o creme e então contínuo:
- Ele pediu para não nos preocuparmos com ele porque está tudo sob controle ... Mas o problema é justamente esse, né. A noção de "estar tudo sob controle" aquela bicha, que o que tem de linda tem de doida ... Pela deusa, eu preciso rever meus conceitos de sanidade. Estou cercada por malucos - disse aquilo mais para si mesma enquanto coçava a franja. - Ah! Ele disse que mesmo assim, se vocês precisarem de ajuda para coletar os ingredientes ele volta para cá na mesma hora.
Mu respirou fundo e aliviado, recostando as costas no encosto da cadeira.
- Não, não vamos incomoda-lo. Deixa ele lá com o Batman. E se ele chegou a pedir alguns dias, assim do nada, é porque embora tenha sido só um susto mesmo ele está sentindo que precisa ficar um pouco por lá - disse ele.
- E eu digo o mesmo - disse Geisty dando um último gole no café antes de devolver uma xícara à bandeja. - Posso pedir para Marin e Misty segurarem as pontas lá na administração e então posso ir com vocês buscar os ingredientes do remédio.
Nessa hora Shaka prepare-se do colo de Mu e apressado recolheu o mapa sobre a escrivaninha o dobrando com cuidado.
- Felizmente Shion parece ter previsto nossa necessidade urgente. Ele elementosu com requintes de detalhes, até com desenhos e figuras, o que devemos buscar, então creio que não será difícil encontrar. Basta acharmos a localização precisa para traçar as coordenadas, assim Mu pode nos teletransportar para o ponto exato - disse o indiano caminhando até ela. - Depois, eu tenho um pedido pessoal a fazer a você ... Fique com Kiki no hospital até voltarmos. Me angustia saber que ele está lá sozinho, mesmo inconsciente. Ele adora você e eu sei que ele sentirá que está lá com ele.
Geisty olhou nos olhos azuis dele e esboçou um sorriso terno, ainda que carregada de melancolia.
- Mas isso você nem precisava me pedir - disse ela batendo com a ponta do dedo indicador na mesa. - Não vou sair do lado dele até que voltem com ... Afinal de contas, do quê vocês vão atrás mesmo, heim?
Muita-se-se da cadeira e veio juntar-se-se a eles. Passou o braço pelos ombros de Shaka lhe dando um meio abraço e com o semblante cansado, porém animado, respondeu divertido:
- Nós vamos caçar pererecas na floresta amazônica e minerais extrair da nascente do rio Ganges, no Himalaia. Chupa essa manga, minha amiga!
Geisty arregalou os olhos surpresa.
- Porca Madonna ! É sério isso ou é piada? - Ela quis saber, olhando confusa para os dois.
Mu riu olhando para Shaka a seu lado.
- Se é sério? Não tá vendo a cara dele? A animação resplandecente desse ser virginiano? Luz da minha vida está com essa cara de nojo desde que soube que vai ter que caçar pererecas e extrair o muco produzido por elas.
Shaka encolheu os ombros com uma expressão de asco no rosto.
- Podíamos nos dividir, você caça as pererecas e eu colho os minerais do Himalaia - disse ele.
- Nem pensar! Vai que eu me deparo com um monte de perereca suicida, se jogando e quicando? Não senhor. Você fez um juramento no dia do nosso casamento, não lembra? Juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e na caça às pererecas! - brincou Mu aliviando a tensão que os cercava.
Geisty parecia chocada.
Quando chegou ali momentos mais cedo e com atenção todo o relato de Mu sobre os acontecimentos da noite passada, a descoberta do diário de Shion, os enigmas, a câmara secreta, o tesouro lemuriano, enfim tudo, a amazona transferência que nada a surpreenderia mais do que saber que fora da saga quem tornara tudo aquilo possível, afinal foi graças ao empenho dele, de sua persistência e vontade de corrigir os erros do passado, que agora Kiki tinha uma nova e concreta esperança.
Mas agora ela estava ainda mais chocada em sabre que existia um remédio feito com uma esdrúxula combinação de uma flor raríssima que só cresce nos Montes Urais, na Rússia, o muco de pererecas amazonenses e um mineral da nascente do rio Ganges.
Geisty na verdade estava incrédula.
- Pela deusa! Isso tudo é tão ...
- Primitivo - disse Shaka. - Dezenas de pesquisas avançadas, medicamentos modernos e didaticamente elaborados, as melhores equipes de médicos do mundo todo, e vai ser uma infusão milenar feita de gosma de anfíbio, pétalas de flor e sal extraído de um mineral com alquimia que vai salvar a do meu filho ...
- Primitivo e ao mesmo tempo genial! Parece até uma poção mágica de um feiticeiro milenar. Deuses, eu não imaginava que Mestre Shion fosse tão velho assim. - Geisty sorriu levando as mãos a boca em espanto.
- Por isso nunca duvidem da sabedoria ancestral, meus caros. Os véio sabem das coisas - disse Mu que era todo orgulho. - E não se preocupem. Por enquanto usar a infusão pererequenta, depois, quando meu filhote já estiver bem, saudável e arteiro de novo, teremos tempo para aprimorar e refinar os princípios ativos do remédio.
- Isso mesmo, marido. O importante é que funcione - disse Shaka terminar de tomar o café. - Então vamos?
- Bora! - disse Mu animado. - Quem diria, heim! Tantos anos casado com um homem para agora estarmos os dois ansiosos para metro a mão nas pererec ... AI!
O grito repentino substituiu a fala quando Mu se encolheu todo para tentar, sem sucesso, se defender de um beliscão que Shaka lhe dera na barriga.
Geisty começou a rir, qualificado feliz por vê-los tão animados e esperançosos como há tempos não via.
- Má che , Shaka! Deixa ele. Vem cá - disse ela agitada, então foi até os dois e os puxou para um abraço duplo. - Se Mu está fazendo essas piadas horrendas é porque ele recuperou a alegria perdida, e isso me deixa feliz também.
- Hum ... - Shaka resmungou enquanto era praticamente esmagado no meio dos dois.
Quando se separaram, Geisty olhou para eles e disse com toda segurança:
- Agora vão logo atrás das tais pererecas abençoadas e deixem tudo aqui comigo. Eu vou cuidar do nosso pequerrucho com muito amor. E pela Deusa, se vocês são primeiro usar um caldeirão de bruxa para cozinhar essa gororoba toda me convidem, não posso perder esse acontecimento.
Eles se despediram ali mesmo. Geisty lhes desejou boa sorte sem deixar de notar o quanto dessa vez eles estavam muito mais confiantes que nas outras. A sombra da morte do pequeno Kiki ainda pairava feito uma nuvem negra acima de suas cabeças, mas agora bem mais alta, não tão opressora, e finalmente sendo varrida para longe por ventos fortes. Logo o sol voltaria a brilhar, e seus primeiros raios de luz já podem ser notados no humor duvidoso de Mu e na serenidade que parecia retornar a Shaka.
Antes de seguir para o hospital Geisty passou no Templo das Bacantes para incumbir Misty e Marin das tarefas daquele dia. Foi enfática ao deixar claro que não estava disponível para recados, nem mesmo se fosse o próprio Hades a requisita-los. Estaria com Kiki no hospital e confiava plenamente nos amigos para darem conta da tarefa de manter tudo ali de pé até que esteja de volta para assumir seu posto de gerente. Torcia para que Shaka e Mu voltassem logo e com todos os ingredientes, até seus nervos se manteriam como agora, à flor da pele.
Afoita saiu da garagem do Templos das Bacantes cantando pneus rumo ao centro de Atenas.
O ponteiro do relógio não havia nem bem completado uma volta inteira desde a descoberta da fórmula completa do remédio, o traçado das coordenadas exatas e os preparativos para a viagem, quando Shaka e Mu, munidos de cantis de água fresca, algumas frutas para manter como energias e toda a esperança do mundo, partir para uma missão mais importante de suas vidas.
Eles escolheram ir primeiro à busca do mineral himalaio; vestiram-se com roupas leves, já que estava que mergulhar no fundo da nascente do rio Ganges, e partiram resignados à regressar somente quando encontrassem tudo o que precisavam.
A temperatura local era local baixíssima, o que dificultou e atrasou bastante o trabalho deles, já que tinha que mergulhar e emergir de volta à superfície repetidas vezes para tomarem fôlego. Ainda que perfurado cavaleiros, portanto possuíam resistência física extraordinariamente acima da média de homens comuns, acima certos que seus corpos exaustos há dias impunham, mas nada que de fato os impedisse de concluir aquela missão.
Eles levaram cerca de duas horas até finalmente encontrar o mineral citado no livro. Ele ficava exatamente na nascente da montanha, alguns pés de profundidade, e não havia como ser confundido com outro, pois que era o único naquela região com a forma e o cor travar no livro; liso e retangular, como se fosse um bloco de concreto moldado por mãos humanas, e amarelo ocre como ouro velho.
Com mais dois ou três mergulhos, agora precisos e calculados, os dois extraíram uma boa quantidade do minério, que era teleportado imediatamente para a Casa de Virgem à medida em que era tirado do fundo do rio, e quando julgaram ser o suficiente nadaram até a margem e finalmente saíram da água. Não fosse por seus Cosmos mantê-los aquecidos o tempo todo certamente já teriam sofrido hipotermia.
Mu foi recolher o mapa e os suprimentos que havia deixado na margem e imediatamente em seguida veio juntar-se a Shaka, que torcia as roupas encharcadas tentando desgruda-las do corpo. Trouxe também os sapatos que havia retirado para que não molhassem.
— Sha, você está bem? — Mu perguntou passando o braço pela cintura dele e desgrudando de sua testa os cabelos loiros da franja. — Quer voltar ao Santuário para pôr uma roupa seca?
— Não. Eu estou bem. — Shaka respondeu repetindo o gesto, desgrudando do rosto de Mu seus cabelos encharcados. Ao fim lhe deu um beijo suave nos lábios molhados e emendou convicto: — Vamos em frente!
Mu lhe acenou com a cabeça e imediatamente em seguida apanhou o mapa, consultou mais uma vez as coordenadas e pegando na mão de Shaka se concentrou por alguns instantes necessários para projetar a mente ao local e fazer uma varredura do ambiente antes de teleportar a ambos para a floresta amazônica com segurança.
A mudança de clima e atmosfera era extrema. Há segundos eles enfrentavam o frio violento do Himalaia e agora o calor e umidade do extremo Norte do Brasil. O som da floresta era outro contraposto colossal. Se na nascente do Ganges tudo que se ouvia era a voz titânica da água e os urros portentosos dos ventos, ali na floresta o que não faltavam eram vozes diversas. Pela terra ou pelo ar os habitantes notívagos da mata orquestravam uma sinfonia caótica e deslumbrante que era acompanhada pelo bater incessante dos galhos das árvores contra o vento forte. Por conta do fuso horário chegaram ali na alta madrugada, excelente hora para caçar anfíbios, e a escuridão era tão densa que era como se a noite estivesse de tocaia sob as árvores imensas. Bem preparados, eles não perderam tempo em sacar das mochilas suas lanternas para ampara-los naquele breu total. Chovia, não torrencialmente, mas para conseguirem consultar o mapa e as cópias dos desenhos do anfíbio que deveriam procurar Mu improvisou uma cobertura para eles usando a Muralha de Cristal a fim de preservar o papel das gotas que caiam das copas das árvores.
— De acordo com o mapa, existe um pequeno braço de rio ao leste que forma uma bacia — disse o ariano varrendo os arredores com os olhos verdes atentos enquanto apontava com a luz da lanterna para a direção mostrada no mapa e também pela bússola de seu relógio de pulso.
— O sol deve nascer em pouco mais de uma hora — observou Shaka.
— Sim, e estamos com sorte, porque com essa chuvinha as tais pererecas devem estar bem mais ativas. — Mu desfez a Muralha guardando o mapa e os desenhos na bolsa em suas costas. — Não vamos perder tempo, vem.
Eles seguiram apressados para o leste, ambos abrindo caminho pela vegetação densa com ajuda de facões ou mesmo usando a força sobre-humana de seus braços, até que em poucos minutos Shaka parou e pediu silêncio.
— Eu acho que o estou ouvindo o rio — disse ele, e antes mesmo de esperar resposta disparou pela mata seguindo outra direção, embrenhando-se no emaranhado de galhos e cachos de líquens que pendiam das árvores.
— Está ouvindo? Como você pode estar ouvindo som de água com essa chuva toda? — Mu perguntou enquanto o seguia. Sabia que o indiano tinha uma audição bem mais aguçada devido ao fato de se privar da visão por tantos anos, mas ainda assim era surpreendente que ele conseguisse ouvir o rio naquela barulheira toda da floresta.
— O som é diferente, não é de pingos batendo nas folhas e nos galhos, nem contra o chão... é de água corrente — disse Shaka enquanto seguia obstinado. — Tenho certeza que é por aqui.
Eles caminharam por alguns minutos pela mata quando finalmente chegaram ao rio, e exatamente como estava impresso no mapa este se estendia sobre a terra por mais alguns metros até adormecer numa bacia de águas cristalinas decorada com primor pela natureza, quase um oásis no meio da mata fechada.
— É aqui! — disse Mu abrindo um sorriso, esquadrinhando com os olhos o pouco que conseguia enxergar dentro do raio de luz projetado pela lanterna, e bastou esse pouco para deixa-lo maravilhado. — Puxa, é lindo!
— Sim! Em outra situação seria um cenário perfeito para amar você — disse Shaka dando uma piscadela matreira para Mu enquanto tirava apressado os tênis encharcados, mas ao contrário do que fez no Himalaia não os deixou ali na margem e sim os segurou um em cada mão.
— Oh! Olha que safado! Que sem vergonha! Eu aqui atrás das pererecas e o senhor pensando na anaconda! — Mu brincou se livrando da bolsa nas costas. Ele sim a deixou na margem, debaixo de um tronco de árvore caído no chão.
— Mu de Áries!
— O que? — Mu riu. — Olha, devo dizer que por mais que eu aprecie essa sua ideia de darmos uma de Tarzan e Jane, pendurados no cipó, eu duvido que você iria conseguir fazer amor aqui nesse laguinho, Luz da minha vida. Olha só para isso!
Nessa hora Mu apontou a lanterna para o lago e imediatamente centenas de olhinhos refletiram a luz, reluzindo e piscando feito um céu estrelado.
— Pela graça de Atena e de todos os deuses do Olimpo! Olha para essas carinhas felizes de coaxares ressoantes. Aqui tem mais perereca saltitante do que o Templo das Bacantes em noite de festa!
- Olha o linguajar - Shaka reclamou, e quando olhou para aquele tanto de bicho dentro do lago inspirou um forte arrepio. Encolheu os ombros com asco e repulsa.
- Ué, você que começou com esse papo de fazer amor aqui no meio da pererecada ... Olha só, Sha, tem perereca de todo o tipo e de toda a cor - Mu riu divertido.
- Certo, eu retiro o que disse. Falei no calor do momento e influenciado pela abstinência. - Ele ria de si mesmo enquanto entrava devagar na água, prestando atenção redobrada onde pisava ea tudo que via se mexer próximo a si.
Ainda rindo, Mu levitou até o outro lado da margem e começou como buscas ali, assim vasculhariam mais rápido; também apagaram como lanternas e iluminaram o local com seus Cosmos, assim a luz forte não espantaria os anfíbios e ainda poder ver o suficiente. Segundo uma rápida pesquisa que fizera na Internet, o anfíbio que buscavam ficava a maior parte do tempo na água, portanto havia uma probabilidade maior de encontrar ele ali em vez do solo, mas parecia que havia antes toda a sorte de sapos, rãs e pererecas completamente diferentes das que procuravam. Logo os dois perceberam que era mais difícil captura-las do que imaginaram; como bichinhas eram espertas, os fazendo se arrependerem de não terem levado uma rede. De tempos em tempos ouvia-se um grito enojado de um certo virginiano e uma risada animada de um ariano, e entre as capturas erradas,
- MU CORRE AQUI!
Áries saltou até ele na mesma hora.
- Encontrou?
- Eu acho que sim! - Shaka respondeu hiperventilando. Estava assuntoamente pálido.
- E cadê?
- Aqui ... no sapato - disse ele, que mantinha os dois tênis unidos pela abertura onde se coloca o pé, os segurando bem firme alguns locais fora da água.
- Nossa, olha só para isso! Você improvisou uma armadilha para pescar perereca? Que gênio! - Mu brincou.
- Está louco se comunica que eu ia por minhas mãos nos bichos nojosos - disse Shaka com uma expressão de asco.
Mu riu dele.
- Estou louco não. Eu já sei que você não curte perereca - caçoou o ariano, então logo esforçou-se-se para voltar a ficar sério: - Vai, deixa eu ver sua perereca, Sha.
Shaka lançar para ele um olhar sério e reprovador.
- Dá para parar com as frases de duplo sentido, Mu de Áries? Não tem a graça mínima.
Mu fingiu estar surpreso com a bronca.
- O quê? O duplo sentido está na cabeça do pecador, Luz da minha vida. Não é você mesmo que diz isso? - disse ele segurando o riso. - Estou falando seríssimo, deixa eu ver se a perereca que você pegou é a que estamos procurando.
Shaka olhou sério para ele por um instante, então rolou os olhos para cima e suspirou.
- Está bem, lá vai, heim. Eu vou afastar o tênis e você segura ela com sua telecinese, ok? - disse ele.
- Ok, pode soltar.
Quando Shaka afastou os braços e abriu uma "armadilha", um anfíbio minúsculo flutuou no ar e foi analisado minuciosamente por olhos atentos.
- Não é a nossa - disse Mu.
- Tem certeza? - Shaka perguntou um pouco frustrado.
- Tenho. A nossa é amarela com um padrão de manchas pretas nas costas. Essa não tem o padrão, é só amarela.
- Pode ser uma jovem perereca, ou da mesma família.
- Não é. Tem que ser a perereca exata, Sha, ou a fórmula alquímica não vai funcionar.
Shaka suspirou vendo Mu soltar o bicho que ao cair na água saiu nadando serelepe.
- Por Buda! Mas que lemuriano em sã consciente veio se embrenhar nessa selva e descobriram que animais bichos asquerosos e canhestros se fazem um remédio para uma doença que afeta bebês prematuros? - reclamou o virginiano visivelmente irritado.
- Na certa um lemuriano que vive por aqui quando não existe ainda nenhum humano na Terra, quando esses girinos existem aos montes e a indústria farmacêutica era um amontoado de ervas e ingredientes mirabolantes estocados no fundo da dispensa da cabana de uma tia velha - disse Mu, e logo depois de uma pausa encarou os olhos de Shaka - Prestou atenção no que você disse?
- Da excentricidade lemuriana? - Virgem perguntou.
— Não. Você invocou Buda! — Mu sorriu para ele, depois voltou a concentrar-se em procurar pelos anfíbios revirando com o pé a vegetação no fundo do lago. — Está mesmo na hora de você acabar com essa desavença sem sentido com Buda, Sha.
Shaka deu de ombros e simulou um falso desdém à observação de Mu, depois também inclinou-se na água mais para esconder a fisionomia alterada do que para voltar a procurar os anfíbios.
— Já parou para considerar que essa maldita doença não tem nada a ver com o Karma de Kiki? — Mu continuou, agora voltando a olhar para Shaka. — Um cavaleiro misterioso perseguiu e matou a mãe do nosso filhote, que foi o que fez com que ele nascesse prematuro e tivesse essa deficiência agora.
Shaka virou-se para ele encarando seus olhos.
- Já considerei sim, assim como considerado que se não é o Karma de Kiki viver apenas seis anos e morrer de forma estúpida, então garantir que ele não morra é o meu Karma - disse ele. - Por algum motivo, um Cosmo divino me fez dobrar o tempo e o espaço para salvar Kiki e leva-lo para você, Mu. E se essa ação intencional, agraciada pelo poder dos deuses e de Buda, partiu de mim, então o produto de seu resultado, o Karma, é exatamente este, já que toda reação é produto de uma ação. Essa doença não é uma causa, é apenas uma consequência de uma interferência externa inesperada, mas só agora eu consigo ver dessa forma.
Ouvindo aquela frase, Mu-sentir-se um pouco perturbado.
De fato tudo parecia estar interligado, o nascimento extraordinário de Kiki, a viagem no tempo, o inimigo misterioso, mas principalmente o fato de Kiki ter trazido consigo o sangue de sua família. Shaka não tinha apenas lhe dado um filho, mas lhe entregado nas mãos a ponta do fio que tecia o novelo de mistérios que rondavam seu passado e o isolavam de uma família que ele sempre acreditou não existir. Agora era só puxar esse fio e desenrolar esse novelo, e tudo parecia mesmo estar atrelado ao Karma do cavaleiro de Virgem.
- Sim, pode ser que você tenha razão - disse Mu respirando fundo.
- Eu tenho razão - retrucou Shaka convicto.
- Ok, então com toda essa razão que você tem, e que eu concordo, você já se convenceu de que Buda não tem culpa de nada, certo? Portanto, foi injusto o que você fez com o pobre. Cabe aí um pedido de desculpas?
Shaka deu de ombros.
- Eu vou pensar ... De certa forma ele tem culpa sim, queria me convencer de que tenho que aceitar a morte como evento natural e complementar à vida, que é inconstante e transitória e bla bla bla bla ... quando eu senti que não era hora de me conformar, mas de reagir ... Eu não podia aceitar esse papo furado sentindo que você e eu podíamos, sim, evitar a morte do nosso filho.
Mu arregalou os olhos e riu.
- Papo furado? Shaka de Virgem, que blasfêmia! Os cavaleiros ancestrais da Sexta Casa devem estar se revirando no Nirvana essa hora por sua causa.
Shaka balançou a cabeça mostrando desdém.
- Nenhum deles amou outro homem, se casou e teve filhos, logo não podem me julgar - disse ele.
Bem nessa hora eles ouviram um trovão tão estrondoso que sentiram o solo sob seus pés tremer.
— Ah, lá! Não disse! — Mu exclamou ainda rindo. — DESCULPEM ELE, POR FAVOR, E NÃO MATEM A GENTE, OK? — gritou ao céus com humor.
— Para de falar bobagem, seu tonto — o indiano o repreendeu lhe jogando água no rosto, depois caminhou até a margem e enquanto o fazia olhou para cima. Notou que entre o emaranhado de gigantescas sombras haviam pequeníssimos espaços por onde alguma luz passava anunciando a Aurora que se aproximava. — Eu vou procurar fora da água, ali do outro lado... Está amanhecendo.
Mu também olhou para céu folhoso e constatou a afirmação.
— Ok... vou checar na encosta do rio — disse ele.
A chuva caía bem mais fina. Conforme a luz da Aurora se intensificava, a borda densa e escura da floresta se assomava em torno deles, e o medo de perderem muito tempo ali naquela busca crescia a cada segundo.
Descendo a encosta do rio Mu encontrou muitos outros sapos e rãs, mas nenhum era o que buscava, e a cada nova frustração um sentimento terrível de fracasso pairava sobre ele. Afinal, que garantia eles tinham de que o anfíbio que procuravam não fora extinto? Haviam se passado séculos, talvez milênios, desde a descoberta do tal remédio para o Mau do Filhote Novo, então a tal perereca talvez nem existisse mais. Tal pensamento roubou todo o calor de seu sangue, e ele por um momento sentiu-se desamparado.
Mas Mu nem teve tempo para tentar driblar aquela sensação ruim.
Quando pensava em reorganizar os pensamentos e acalmar as emoções, eis que de repente uma sequência de gritos de puro desespero despertou no lemuriano uma descarga de adrenalina que o fez sair correndo desembestado para dentro da floresta. Os gritos eram de Shaka, e percebendo que ele estava muito mais longe do que imaginava, a uns bons metros dali, Mu imediatamente teleportou-se até ele. Surpreendeu-se ao encontra-lo a muitos centímetros do chão, levitando espremido entre as árvores enquanto ainda aos gritos se estapeava com sonoros petelecos por todo o corpo e chacoalhava os cabelos desvairadamente.
Rápido como um raio, Mu foi até ele tentou contê-lo para entender o que se passava, mas tudo que conseguiu foi tomar um golpe da camiseta encharcada que Shaka arrancou num rompante de desvario e atirou para longe sem nem olhar para qual direção.
— SHAKA O QUE FOI? — Mu perguntou enquanto desgrudava a camiseta dele de seu rosto. Tentava falar mais alto que o barulho ensurdecedor dos grilos, sapos e também dos petelecos que o indiano desferia a si mesmo.
Sem entender nada, Mu o viu arrancar também a calça com a mesma pressa e desatino e atira-la para longe; ela ficou presa nos galhos das árvores acima deles.
— Pelos deuses! Por que está tirando a roupa? — Áries perguntou curioso e angustiado.
— ARANHA! — Shaka gritou curvando-se para frente e esfregando os dedos no couro cabeludo. — ESTÁ EM MIM? OLHA, MU, OLHA! ESTÁ EM MIM?
Mu estava assustado por vê-lo tão assustado, e todo atabalhoado nem duas vezes, começou a vasculhar à procura não sabia bem do quê. Segurando Shaka pelos ombros o virado de costas e depois de frente novamente umas quatro ou cinco vezes, correndo os olhos atentos por todo o corpo dele. Tirou um ou dois matos grudados nas pernas e um fiapo de cipó enroscado na cueca.
- Não tem aranha nenhuma em você, Sha. Era só uns matinhos - disse ele tentado acalma-lo.
- Uma ova! - Shaka rebateu aflito e todo arrepiado.
- E também se você já teria incinerado ela - Mu riu, referindo-se ao Cosmo ativo do virginiano que o fez brilhar feito um letreiro luminoso em plena selva fechada.
Shaka finalmente firmou a visão nele e respirou fundo. Não fez questão nenhuma de tentar se acalmar, pois que sabia que seria um fracasso.
- Mas tinha ... eu vi ... e era imensa e ... peluda e ... céus ... era horrenda e pulou em mim! Ela pulou em mim, Mu! - disse ele e logo em seguida foi chacoalhado por um intenso tremor.
- Oh! Que perigo, Sha! - Mu tentada o riso, mas tratada da expressão de desespero e das palavras do marido foi impossível.
- Não faça troça! Foi ... foi horrível!
- Não estou fazendo troça. É que você há de aceitar que um dos cavaleiros mais poderosos do mundo, o medo de aranhas é no mínimo engraçado.
- Eu não tenho medo de aranhas ... eu só não quero que elas me toquem.
- Hum ... certo, eu entendo ... Primeiro as pererecas, depois dar de cara assim com uma aranha cabeluda foi demais para você, né amor ?!
Shaka bufou.
- Você vai começar com isso de novo?
- Só estou dizendo que você não está acostumado com essas coisas. - Mu riu para ele sem conseguir controlar a boca.
- E você por acaso está acostumado, Mu de Áries? - Shaka perguntou, e na sequencia lascou um croque na cabeça do ariano, sem se preocupar em conter a força.
- Ai! Ô se eu tô acostumado! - brincou Mu esfregando a cabeça. - Eu trabalho no maior pererecal da Grécia, quiçá um dos maiores da Europa! Posso te fazer uma lista de cabeça de quais produtos adicionados para criar aranhas e pererecas saudáveis, além de ...
Mu levou outro croque dolorido. Agora bem no meio da testa.
- Ei, quer parar de me bater, praga?
- E você quer calar a boca? - disse Shaka. - Se não parar de falar bobagens indecentes por bem te faço parar por mal. Te tiro o sentido da fala.
Mu resmungou ainda com um sorriso divertido no rosto.
- Ok ... vamos falar sério agora. Onde você estava quando foi atacado covardemente por uma aranhona peluda?
- Na selva amazônica? - Shaka ironizou dando um risinho para ele.
Mu estreitou os olhos.
- Depois eu é que sou o troçador, né Shaka de Virgem? Eu quero saber onde estava, porque aranhas são presas naturais de anfíbios. Talvez onde você viu essa tenha mais, e onde tem presa em fartura tem predador.
Ainda aterrorizado pela experiência desagradabilíssima, Shaka afastou os cabelos grudados na testa e varreu com os olhos na área, procurando o ponto exato onde estava quando a aranha pulou em si.
- Mais fácil aquele titã peludo comer a perereca do que ela a ele. - Virgem apontou com o dedo para um tronco grande caído no chão onde a vegetação já tinha estabelecido um pequeno ecossistema dentro e por cima. - Eu ouvi um coaxar debaixo daquele tronco e quando fui levanta-lo aquela aberração pulou em mim.
- Certo, vou lá enfrentar o monstrão cabeludo. Fique atrás de mim que eu te protejo - brincou o ariano enquanto levitava até o ponto indicado por Shaka, que num primeiro momento não saiu do lugar, mas logo foi juntar-se a ele.
Quando já estava bem próximo ao tronco coberto pela camuflagem natural da floresta, Mu povo o coaxar relatado por Shaka. Era bem baixo e se misturava às vozes estridentes dos grilos, de outros coaxares mais altos e de diversos insetos que certamente habitavam aquele pequeno ecossistema ali. Por um instante ele temeu passar por outra frustração, já que correndo rapidamente os olhos pelo perímetro viu algumas rãs comuns saltando por entre as folhagens, mas logo ele espantou a desesperança e usando telecinese iniciou a retirada do tronco. Dezenas de insetos se revelavam durante uma operação e corriam desorientados, para desespero de Shaka que nas costas de Mu pelejava para manter-se corajosamente firme, ainda que vez ou outra deixasse escapar um grito agudo por conta de algum inseto que levantava voo e vinha em sua direção. Por sorte a aranha peluda não deu como caras; Deveria ter se enfiado no solo à procura de abrigo quando o tronco for levantado e lá ficou quietinha.
Por sorte também uma mancha amarela ocre, que poderia muito bem ter sido confundida com uma folha ou toco de madeira coberta de musgo, deu um salto muito alto sobre a cabeça de Mu e chocou-se contra o peito nu de Shaka.
- SHAKA PELOS DEUSES, É ELA! - Mu gritou virando-se para o indiano.
Mas a "estilingada" gelada e viscosa pegara o cavaleiro de Virgem de surpresa, que em reflexo deu um grito de puro terror e enxotou o bicho para longe com um safanão desesperado.
- AHHHHHHHHHH SAI SAI SAAAAAAAI!
- NÃOOO! SHAKA! É A NOSSA PERERECA! - Mu berrou aflito correndo na direção em que Shaka chega ao pobre bichinho. - PEGA ELA! PEGA!
Desnorteado Shaka também correu, mas o pontinho e preto em segundos desapareceu em meio ao breu da vegetação.
- Tem certeza que era ela, Mu? - perguntou ele desesperado.
- Tenho! Procura! Ela tem que estar por aqui - disse Mu revolvendo o carpete de folhas sobre o solo.
Sem nem se darem conta ambos já estavam de joelhos varrendo o chão com as mãos naquela busca alucinada que felizmente não durou muito. A joia que procuravam inocentemente saltou por entre as folhas e foi "presa" no ar pela telecinese de Mu. A emoção de tê-la encontrado foi tanto que eles se abraçaram e ainda que soubessem não dispor de tempo para grandes comoções comemoraram o feito com um beijo apaixonado.
Com o bichinho embutido levitando entre eles, os dois cavaleiros retornaram à bacia de água cristalina onde destacou a bolsa e os sapatos. Como tinha parado de chover, Mu apanhou o mapa de dentro da bolsa e marcou nele como coordenadas exatas de onde herdou o anfíbio, assim poder voltar ali daqui uns dias para procurar por outros com mais calma.
Quando eles regressaram ao Santuário, na Grécia faltava pouco mais de uma hora para o anoitecer. Rapidamente eles tomaram um banho, vestiram-se confortavelmente, e enquanto Shaka dava carinho e enchia de comida fresca os potinhos de Saravá Ebó, Mu preparava os itens coletados para leva-los ao laboratório alquímico improvisado na Ala 5 do Hospital de Atenas.
Munidos de tudo o que era preciso, mais o livro que continha a fórmula alquímica correta e mais uma esperança inabalável, eles partiram para o hospital. Chegando lá Mu passou pelo quarto apenas para dar uma rápida olhada em Kiki, depois enfiou-se no laboratório acompanhado pelo doutor Adônis, que já tinha sido inteirado por Geisty acerca da descoberta da fórmula correta e agora aguardava a chegada do ariano para darem início ao preparo do remédio. Shaka ficou no quarto com Geisty e Kiki. A amazona tinha passado o dia todo ali como prometera, mas só foi embora para casa depois de ouvir todo o relato do virginiano sobre as buscas bem sucedidas no Himalaia e na Amazônia.
Depois de quase cinco horas finalmente Mu regressou ao quarto com doutor Adônis e a fórmula pronta, que nada mais era que um elixir feito da infusão das pétalas da Flor Kristall e da fusão alquímica dos outros dois ingredientes, o muco extraído da pele da perereca amazônica e um sal extraído do mineral himalaio por diversos processos alquímicos. Esses dois ingredientes depois de fundidos ganhavam a forma de uma massa sólida de cor iridescente e vibrante, já que passavam por um processo de filtragem pelos cristais lemurianos, que quando em contato com água em ebulição tinham seus átomos quebrados e ligados aos da Flor Kristall. Na última etapa, todos os três elementos eram dissolvidos em um solvente alcoólico especial.
O resultado final era um líquido de textura leve, com cores diversas e aroma parecido com o de neve caindo sobre a relva.
Quando abriu a porta, devagar e silenciosamente, Mu encontrou Shaka sentado em uma cadeira ao lado do leito de Kiki. Enquanto acariciava seus cabelinhos ruivos ele cantarolava baixinho uma canção, a mesma que cantava para ele dormir quando era bebê, e a qual falava das peripécias de um garotinho corajoso para vencer um terrível dragão alado. No fim o garotinho vencia o monstro e todos na cidade voltavam a ser livres e felizes.
A exaustão e introspecção só permitiram que Shaka notasse a presença de Mu ali quando este acercou-se do leito e lhe fez um cafuné na nuca. Ele imediatamente parou de cantar e levantou a cabeça encontrando os olhos verdes brilhantes do ariano fixos aos seus. Nessa hora seu coração começou a dar saltos dentro do peito.
— E então? — A pergunta tinha um tom óbvio de ansiedade.
Muita a outra mão até a altura dos olhos dele e lhe orgulhoso um êmbolo preenchido com 15 ml de um líquido iridescente.
- Está feito. Eu consegui! - disse ele sorrindo para Shaka, com os lábios, com os olhos e com alma.
Shaka pulso a boca secar e os olhos abruptamente encherem de lágrimas; foi então que num rompante de frenesi ele se sustentou da cadeira e abraçou Mu com toda força, sentindo seu corpo inteiro estremecer de comoção.
Áries o abraçou de volta, transbordando de alegria enquanto lhe beijava ternamente a lateral do rosto.
- Quer dizer, eu não consegui sozinho. Doutor Adônis me qualificou - disse Mu lançando um olhar para o médico que já preparava um acesso na sonda nasogástrica de Kiki para injetar a fórmula.
- Não seja modesto, senhor Mu. - disse Adônis - Eu não fiz nada além de observar o seu fantástico trabalho e tomar anotações.
- Apoio moral conta como ajuda, doutor - Mu brincou, e nessa hora afastou-se de Shaka para entregar o embolo ao médico.
Finalmente eles reunidos o remédio produzido pela fórmula certa. Era como despertar aos poucos de um pesadelo terrível. Ainda tinha medo de que não houvesse mais tempo e a doença não poderia mais ser revertida, mas ambos preferiram calar o medo e dar voz à esperança que transbordava em seus corações machucados.
Durante todo o processo em que Adônis injetava vagarosamente o remédio na sonda ligada ao nariz de Kiki, Shaka e Mu soou ali ao lado do leito, de mãos dadas, olhos atentos e espíritos unidos numa só prece silenciosa. Ao final do procedimento, Adônis permaneceu no quarto com eles por cerca de quarenta minutos, nos quais ele monitorou os sinais vitais de Kiki a cada dez minutos passados. Não houve alteração alteração. Tudo continuava igual. Ele então fez uma breve análise sobre ser preciso mais algumas doses do remédios para poderem observar melhora alguma e estipulou que uma segunda dose fosse administrada após passadas quatro horas, como constava nas anotações acabado no livro de Shion, e depois dessas orientações ele para o quarto .
Passadas as quatro horas Adônis regressou com mais uma dose do remédio, que foi ministrado da mesma forma, pela sonda nasogástrica, porém mais uma vez ele ficou lá por quase uma hora sem constatar nenhuma alteração nos sinais vitais de Kiki. Ele então coletou uma amostra de sangue e o levou para análise no laboratório.
Já próximo das duas da manhã Shaka e Mu estavam sozinhos no quarto. Um de cada lado do leito eles esperavam. Esperavam por um milagre. Esperavam pela compensação de todo esforço que fizeram até aquele dia para salvar o filho. Esperavam para acordar do pesadelo e terem suas vidas de volta. Esperavam pelo filho que juntos desejaram ter, ainda que Shaka tivesse, um princípio, relutado por pura questão de ignorância. Ele não sabia que, igual a Mu, precisava tanto ser pai.
Ao final de quase três horas de espera ali debruçado sobre o leito enquanto segurava a mãozinha de Kiki, exausto, para não dizer em pânico, Shaka preparação-se e caminhou calado até a janela no fundo do quarto. Ele esfregou os olhos ardidos, engoliu em seco o medo que formava uma massa amarga em sua boca e deu uma pancada com a testa no vidro da janela.
Ele não queria deixar escapar a esperança que mantinha seu coração aquecido, mas a verdade é que sentia este esfriar a cada segundo corrido sem que nada acontecesse.
Nessa hora Mu, que havia saído por um momento para buscar um achocolatado quente para lhes forrar o estômago, entrou cautelosamente no quarto. Quando viu Shaka de frente com a janela caminhou direto até ele.
- Aqui, Luz da minha vida. Toma um pouco - disse ele estendendo um dos copinhos fumegantes ao virginiano. - Não comemos nada direito desde cedo, não faz bem ficar em jejum assim. - emendou preocupado.
Cabisbaixo, com o olhar vago e os braços cruzados Shaka ignorou a oferta.
- Obrigado, mas eu não consigo pôr nada no estômago agora, Mu ... Essa espera ... ela está me matando.
- Ei, calma, amor. A ansiedade também me corrói, mas desta vez nós realmente formalizam tudo certo - disse Mu, e deu um gole na própria bebida antes de se esticar e dar um beijo na bochecha de Shaka - Olha, eu vou pôr o seu copo ali na mesinha para você beber os pouquinhos então, ok? Mas é para beber viu!
Dito isso Mu deu as costas a ele preparando-se para fazer o que havia dito aqui, mas nem chegou a dar meio passo e deixou os dois copinhos caírem no chão, espatifados.
- Pelos deuses, Shaka! - Áries murmurou. Tinha os olhos verdes arregalados e estava trêmulo da cabeça aos pés.
Virgem virou-se para ele na mesma hora, então o viu correr em disparada até o leito de Kiki e praticamente debruçar-se sobre ele tocar a testa pequenina com ambas as mãos.
- Mu? - Shaka chamou também correndo até o leito. - Mu o que foi?
Sem dizer nada, e visivelmente agitado, Mu encostou a própria testa à de Kiki unindo ambos os pontos lemurianos. O elo racial que partilhavam imediatamente foi feito, unindo suas auras e suas mentes.
- MU! - Shaka chamou em voz alta, desesperado por ver que Kiki no leito continuava como antes, sem esboçar nenhuma reação. Nem mesmo os aparelhos que monitoravam seus sinais vitais apresentavam qualquer alteração. - O que aconteceu? Ele piscou? Se mexeu? Pelos deuses, o que está acontecendo?
Mesmo diante de tantas perguntas, tudo o que Mu fizera foi segurar o rosto do filho com enormes mãos de ferreiro e com lágrimas nos olhos manter suas testas unidas, até que depois de um momento ele virou o rosto para o lado e olhou para Shaka .
- Deu certo! - sussurrou com a voz embargada.
Shaka pulso o coração disparar e por um instante seu corpo todo estremeceu. Como poderia ter dado certo se nada havia mudado?
Mu continuava olhando fixo para ele.
- Ele não piscou, nem se mexeu ... - disse o ariano, que estava muito emocionado, então tirou uma das mãos do rosto de Kiki para estende-la para Shaka. - Ele me chamou!
Virgem estava desnorteado e confuso.
- O que?
- Ele chamou e me abraçou ... Venha, segura na minha mão e na dele, rápido! - disse Mu lhe acenando. - Segura, Sha!
Obedecendo a ordem, Shaka tomou afoito e com força a mão do marido, mas quando foi segurar na Kiki o fez com extrema delicadeza, então no momento em que segurava ambas as faculdades de socorro Mu entrar em sua mente e compartilhar consigo, de maneira indireta, o elo mental lemuriano que o unia a Kiki. Foi então que experienciou um sentimento único e indescritível de extrema euforia. Não que Mu já não tenha feito aquela ponte entre os três antes, mas agora tudo ali tinha um novo e indispensável sentido.
Debilitado como estava pela terrível doença, o pequeno Kirian não tinha quadro para despertar do coma ou para elaborar pensamentos coerentes, mas sua consciência tinha voltado a pulsar latente como antes; era como se dispunham, literalmente, um elixir de ânimo e energia.
Assim, no momento em que se unira a eles, os fluxos de pensamentos de Mu e Kiki eram compartilhados com Shaka; dessa forma ele soube que quando Mu foi colocar o achocolatado sobre a mesa, seus olhos muvianos detectaram uma mudança na cor e na intensidade de brilho da aura corporal de Kiki, que devido ao avanço da doença já quase não existia mais. O pouco que o ariano histórico ver nos últimos dias era denso, escuro, pesado ... morto. Mas agora um leve brilho dourado envolvia o corpinho sobre a cama.
Contudo, não foi a aura revivida de Kiki que fez com que Mu estancasse os passos no meio do quarto e derrubasse os copos com o achocolatado no chão, mas o toque do filho, o abraço desesperado em sua mente através do elo racial.
A telepatia nata de Kiki o fez sentir a presença do pai muviano ali e por isso ele o buscou, e quando Mu o tocou tocar imediatamente até ele unindo suas frontes para assim fortalecer o poder do elo. Uma ligação direta entre os dois, e que agora era também partilhada com Shaka.
- Filhote! Meu filhote! O papai está aqui, o papai está aqui. - Com os lábios trêmulos Mu sussurrava repetidas vezes, toma por uma emoção alucinante, enquanto sua mente, em contrapartida, gritava: - "O papai está aqui, meu amor, o Baba também."
"Sim, estamos aqui com você, meu anjinho. Não vamos sair do seu lado ... Estamos te esperando, Kiki. Baba está te esperando!" - dizia Shaka.
"Agora vai ficar tudo bem. Nós te amamos muito, meu amor ... nós te amamos ..." - Mu dizia.
Para a imensa felicidade de ambos, Kiki lhes respondia; não com palavras, mas com o aumento acelerado do pulsar mental, processo-os ainda mais, vivo, alegre, ansioso!
Se Mu não estava de olhos fechados e com uma fronte encostada na Kiki ele poderia ver a aura do pequeno crescendo lentamente e pulsando colorida, enquanto nenhum aparelho que monitorava suas ondas cerebrais os gráficos já começavam a registrar uma intensa e grandiosa atividade cerebral.
O fluxo de energia mental de Kiki continuou a fluir e aumentar de tal forma que logo doutor Adônis entrou no quarto acompanhado pelos enfermeiros para checar porque os monitores anteriores disparados enlouquecidos, então ele deu de cara com o que mais parecia ser algum tipo de ritual sobrenatural : um pequeno garotinho ruivo flutuava poucos graus acima do colchão, como se estivesse possuído por alguma entidade, e unido pelas mãos com dois homens que também de mãos dadas fechavam um circuito de energia. Os três de olhos fechados, enquanto um vento sobrenatural balançava o frasco de soro no pedestal e fazer voar seus cabelos, os lençóis e o que mais fosse leve o suficiente para flutuar aleatoriamente ao redor dos três, como por exemplo, os dois copos vazios de achocolatado que bailavam faceiros diante do médico.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou Adônis embasbacado, e por que não dizer, um tanto impressionado e assustado.
A voz dele despertou a família do transe telepático em que estava e imediatamente o fluxo psíquico cessou; os objetos flutuantes caíram no chão e lentamente Kiki voltou a repousar o corpo sobre o colchão macio.
Com um sorriso resplandecente no rosto, Mu abriu os olhos, e sem soltar as mãos do filho e do marido olhou para a equipe médica.
- Meu filho está de volta, doutor. - Mu "sorria e sorria", abobalhado e com lágrimas nos olhos. - O elixir foi um sucesso! As células de Kiki devem estar agora mesmo sendo inundadas pela enzima Metaballeinase , pois os meridianos de seu corpo estão se alinhando com seu fluxo de poder psíquico, pensando que você viu: Telepatia e telecinese, ambas transbordando por ele e agora fluindo corretamente, lhe trazendo a vida em vez de suga-la. Deu certo doutor ... deu certo!
Naquele ponto, ouvindo as palavras de Mu, e depois disso experiência fantástica de vida e vitória, Shaka caiu de joelhos no chão golpeado pela emoção e chorou sem se importar com nada nem com ninguém. Estava exausto, machucado e feliz demais para se importar.
Kiki ainda não tinha aberto os olhos, mas ele lhe dera uma resposta muito maior e agora ele sabia que finalmente tudo ficaria bem.
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NOTA FINAL:
É aqui que é o gancho da fic "não basta ser pai". Existe um turno do rpg que Mu e Shaka transam e Mu resolve dar o brioco.é terrivel, é tosco, é ridículo e eu nem tenho coragem de ler ... fui ler pra pegar informações aproveitáveis pr esse cap e quis morrer..sério MUITO RUIM. Porém foi depois dele que eu comai a zuar a Rosenrot que o Mu tava gravido e de brincadeira divulga um turno separado..uma zueira ... que depois virou a fic não basta ser pai;)
Mas nem inventem moda, Mu nao vai do cu e nem vai fica gravido kkkkkkkkkkkk isso só existe naquele universo fic (e das outras que meio que completam ela como a do TOC)
ps: não esqueçam que no twitter, no grupo do face e nos outros sites de fanfic temos as fanarts das capas ;)
