Capítulo 42

Hermione ficou encarando a porta fechada, atônita. O que tinha acabado de acontecer? Rony havia mesmo acabado de lhe dar conselhos sobre como ser uma boa amiga? Depois de a iludir e levar Amy para um quarto, para que eles se pegassem? Aquele cara não fazia o menor sentido! E ainda tinha tido a audácia de dizer que o que Hermione supostamente estava fazendo era algo baixo? Ela nem ia fazer as entrevistas! Tinha decidido sacrificar o emprego — um emprego do qual ela por acaso precisava para sobreviver — porque não queria trair os amigos.

O imbecil não tinha nem mesmo lhe dado a chance de se explicar! Mais uma vez, a atitude arrogante de sabe-tudo de Rony tinha vindo à tona, deixando-a confusa e de coração partido. Hermione o vira beijando com vontade sua inimiga número um, e Rony é que lhe dava um sermão, como se fosse ela quem tivesse partido o seu coração!

Como sempre tivera dinheiro, Rony nunca entenderia a hesitação entre fazer e não fazer a reportagem. Ele não percebia como coisas básicas — ter dinheiro para pagar o aluguel, comer, não decepcionar os pais mais uma vez! — podiam ser tentadoras.

Com um gemido, ela se jogou na cama e xingou Rony Potter de todos os nomes possíveis. Aquilo estava virando um hábito. Talvez, se o xingasse o suficiente, seu coração parasse de doer. Tão perto, mas tão longe.

Rony quase não dirigiu a palavra a Hermione durante o sábado. Na verdade, só se falaram quando ele pediu para usar o fio dental, naquela manhã. Ela o balançou na frente dele, esperando que Rony fizesse alguma piada.

Em vez disso, ele o pegou, passou nos dentes e saiu do quarto.

E, para piorar as coisas, Hermione tinha acabado de ser demitida.

O prazo chegara ao fim. Era possível que sua carreira de repórter estivesse arruinada.

Hermione olhou o relógio de pulso. Já eram cinco da tarde, e Gina e Harry ainda não tinham voltado da cidade. Os dois haviam saído para resolver algum problema de última hora.

Ela tentou ligar para o celular de Gina outra vez, mas ninguém atendeu.

Todos estavam ficando inquietos. Hermione começou a andar de um lado para outro em frente ao terraço. Meia hora depois, vovó atravessou a porta.

— Eles não vão conseguir chegar a tempo para o ensaio — avisou. — Os pneus furaram.

— Pneus? Furou mais de um? — perguntou Rony, levantando-se do banco de madeira.

— Infelizmente, sim. Parece que alguém os cortou.

Petunia sacudiu a cabeça.

— Portland está cheia de gângsteres. Deve ter sido um desses marginais.

— É. — Rony deu um sorriso sarcástico. — Porque conhecemos muitos gângsteres que querem acabar conosco.

Petunia enrijeceu.

— Vamos ter que continuar sem eles. — Vovó esfregou as mãos. — Hermione, você é a dama de honra. Vai substituir Gina. Rony, como padrinho, você fica no lugar do Harry.

Hermione sentiu o estômago revirar. Deus era mesmo cruel. O único cara por quem ela se apaixonara desde a escola ocupava o lugar do noivo, só que não de verdade. Outra vez tão perto. Sentiu um aperto no coração ao encará-lo, porque sabia que aquilo nunca aconteceria de verdade. Era alguma piada horrível do Universo. Ela seguraria a mão de Rony. Ele fingiria colocar um anel na dela.

E, depois, ele iria embora.

Hermione se sobressaltou quando vovó apitou.

— Ordem, pessoal!

— A gente não está em um tribunal! — resmungou Rony.

— Preciso de ordem! — Vovó apitou outra vez, e agora bem no ouvido do pastor. O homem fez uma careta de dor e desviou o olhar. Pobre coitado! — Agora, as meninas se espalham pelo gazebo. Perfeito. — Ela apontou para os homens. — E vocês, fiquem alinhados do outro lado. Ah, ficou ótimo!

Estava horrível, mas ninguém pediu a opinião de Hermione, então ela ficou quieta. Por outro lado, podia ser apenas por causa de seu péssimo humor.

— Pastor. — Vovó ergueu uma das mãos, em vez de apitar, graças a Deus!

— Sim, Nadine?

— Pode, por favor, realizar a cerimônia inteira? Quero ter certeza de que os microfones estão funcionando e que conseguiremos ouvir o noivo e a noiva.

— Mas é claro. — O pastor sorriu e estendeu a mão para Rony. — Sou Jim.

Rony apertou a mão dele.

O pastor Jim se virou para Hermione.

— E você deve ser a dama de honra.

Ela sorriu para ele, tensa, enquanto devolvia o aperto de mão.

— Fiquem parados aí, os dois. — Ele os empurrou, aproximando-os.

Hermione quase bateu no peitoral musculoso de Rony. Os olhos dele estavam distantes, como se tentasse mantê-la fora do mundo dele. Ela quase podia ver o abdome definido através de sua blusa preta justa. Baixou os olhos, o que não adiantou muito, porque então passou a fitar os jeans rasgados caros e as botas Mark Nason, que deviam custar mais que o carro dela.

— Queridos presentes — começou Jim, e em seguida recitou as boas-vindas e a oração. — Agora, vamos aos votos. Deem as mãos e repitam comigo.

— Eu, Rony Potter — começou Jim.

Rony pigarreou. Suas mãos estavam tão quentes quando seguraram as de Hermione!

— Eu, Rony Potter... — começou ele, ficando meio rouco ao continuar: — Aceito você, Hermione Granger, como minha esposa, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. — Sua voz falhou quando ele a olhou nos olhos. — Para amá-la e respeitá-la, para apreciá-la, para que seja minha melhor amiga, deste dia em diante, até meu último suspiro. Eu serei seu enquanto vivermos.

Hermione teve de morder o lábio para não chorar. Era tudo o que sempre quisera ouvir Rony dizer.

Rony fechou os olhos quando acabou de falar.

— Agora é sua vez, Hermione. — Jim pigarreou. — Repita comigo. Eu, Hermione Granger... — Hermione repetiu os mesmos votos. Na metade do caminho, suas mãos começaram a tremer. Rony abriu os olhos e mexeu a boca, dizendo tudo bem. Então ela continuou.

Quando terminou, seu coração estava batendo tão forte que tinha certeza de que Rony podia ouvi-lo. Ele deu um sorriso triste quando tiveram de soltar as mãos.

Jim se dirigiu aos convidados inexistentes.

— Harry e Gina, ou, neste caso, Rony e Hermione, manifestaram o interesse de escrever os próprios votos um para o outro. Vamos ouvi-los agora.

Ele entregou o microfone para Rony. Sem saber o que fazer, Rony o devolveu. O pastor sacudiu a cabeça.

— Nada disso: Nadine precisa ouvir sua voz. Duvido de que vá ser um problema falar sobre uma garota bonita como Hermione.

Merda. Ele iria humilhá-lo na frente de todos.

— Sempre gostei de garotas bonitas — disse Rony, com uma risada, estragando o breve momento feliz de Hermione. — E posso dizer, com sinceridade, que Hermione é a mais bonita que já conheci.

As madrinhas suspiraram atrás dos dois.

— Pena que seja maluca. — Ele piscou. — Maluca mesmo. Ela me ameaçou mais vezes do que eu gostaria de admitir. Nem me perguntem sobre presentes de casamento e farmácias. Alguns dos meus momentos mais felizes foram com ela... — e alguns dos piores também. — Ele fez uma pausa. — Talvez o amor seja isso. Compartilhar os bons e os maus momentos e torcer para que Deus permita que a pessoa continue esperando por você do outro lado. Casamento é um exercício de confiança. Sempre me considerei um cara que gosta de correr riscos. O maior risco de todos é ir atrás de uma pessoa com todo o seu coração, sabendo que é bem possível que ela não o queira da mesma forma.

Hermione não sabia se ria ou chorava.

Todos estavam em silêncio.

Um carro apareceu na entrada da casa. Eram Gina e Harry.

Vovó soou o apito.

— Termine a cerimônia, Jim.

Hermione sacudiu a cabeça.

— Mas...

— Termine! — gritou vovó enquanto ia para a entrada.

— Você a aceita?

— Hã, sim?

— Você o aceita?

Hermione estreitou os olhos enquanto assentia.

— Você precisa dizer. — Jim riu, nervoso.

— Está bem. Sim, eu o aceito.

— Então, com o poder a mim concedido pelo estado do Oregon, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva!

Todos aplaudiram, sem jeito, até que Rony deu um passo para a frente e puxou Hermione para um beijo devastador, que derrubou todas as defesas que ela erguera naquela manhã.

— Parece que eu me casei com uma maluca.

— Melhor do que se casar com o galinha e seu harém! — retrucou Hermione, irritada, empurrando-o.

O pastor tentou separá-los, mas eles estavam muito próximos.

— Isso é ciúme, na sua voz? — Rony bufou com desdém.

— Ciúme? — repetiu Hermione, que então jogou a cabeça para trás e riu. — Sim, estou com muito ciúme de todas as mulheres com quem você dividiu a cama! Pelo menos deixei só uma marca na sua cabeceira, se você me entende.

— Duas. — Rony sorriu, sarcástico. — Você deixou duas marcas, e sabe por quê.

Hermione avançou nele, mas Jim se enfiou entre os dois.

— Pode rir quanto quiser, Rony. Mas, daqui a dez anos, quando eu estiver casada e com filhos, vivendo uma vida feliz, você será só um solteirão solitário.

Ela não conseguia conter as palavras. Era como se toda a dor acumulada dentro dela finalmente estivesse abrindo caminho à força. A rejeição dele abrira tantas velhas feridas, coisas que ela mantivera escondidas por muito tempo.

O sorriso dele sumiu.

— Melhor ser um solteirão que uma escrota.

Todos os presentes ficaram em silêncio.

Harry andou até eles, enfiando as mãos nos bolsos.

— Então, o que a gente perdeu?

O pastor Jim continuava entre Hermione e Rony, e seu rosto estava muito vermelho ao dizer:

— Uma união abençoada.

Rony soltou um palavrão e foi embora.

Gina chegou e parou ao lado de Harry. Ela seguiu com os olhos a silhueta de Rony, que desaparecia a distância.

— O que aconteceu?

— O que sempre acontece com Rony? — Hermione deu de ombros. — Ele está indo embora.


N/A: Oi gente, desculpa estar sem atualizar essas 3 semanas, eu estou fazendo uns upgrades no meu notebook pra instalar alguns programas da minha area de atuação e ele esta com meu namorado pra instalar as peças que comprei e instalar os programas e eu só tinha um capitulo salvo aqui. Mas hoje irei postar um e amanhã quando eu ver ele, vou anexar aqui alguns capitulos pra eu postar até ele terminar os upgrades. Então desculpa e amanhã venho com mais 3 capitulos para me redimir com vocês. :)