Capítulo 44

Hermione bebeu a segunda taça de vinho e se sentou em frente à mesa grande que fora arrumada do lado de fora. O jantar era um bufê completo. Normalmente, seria oferecido pelos pais da noiva, mas, como eles não podiam estar presentes, todo o clã Potter estava pagando aquela festa.

Algumas tendas de comida estavam espalhadas pela lateral do jardim. A mesa principal, para os convidados diretamente envolvidos na cerimônia, era comprida e estava ornada com flores tropicais e diferentes tipos de vela. Tudo era tão romântico que partia o coração de Hermione.

Vovó se sentou ao lado de Hermione e olhou para a taça de vinho.

— Quantas você já bebeu?

— O suficiente. — Hermione suspirou.

— Hum. — Vovó abriu a grande bolsa e pegou um envelope pardo. — O pastor me deu permissão para que vocês assinassem separadamente, já que estão de birra.

Hermione olhou para a habilitação de casamento.

— Não era para a gente preencher isso amanhã?

— Argh. — Vovó a calou com um gesto. — É só mais um detalhe com o qual não precisaremos nos preocupar amanhã. Assine aqui. — Ela puxou apenas a ponta do papel, de maneira que a maior parte continuava coberta. O que era ótimo, na opinião de Hermione, pois ela não queria ver o lugar destinado à assinatura de Rony. Os dois tinham perdido a cabeça. Hermione nem conseguia lembrar o motivo por que estava tão brava com ele. Se parasse para pensar, veria que não era raiva. Na verdade, sentia-se completamente humilhada e rejeitada.

Ele fez com que ela se apaixonasse.

E ela se apaixonou. Muito.

Depois do casamento, eles seguiriam caminhos diferentes, e ela ficaria jogada no sofá, desempregada, lamentando o fato de que o único cara que já tinha amado na vida não retribuía o sentimento. Ou apenas não a queria o bastante para tentar amá-la.

Hermione assinou o papel depressa e devolveu a caneta a vovó.

— Ora, ora. — Vovó deu tapinhas nas costas de Hermione. — Vai ficar tudo bem. Confie na sua avó.

— Só tem um problema. — Hermione se inclinou para perto de vovó e sussurrou:

— Você não é minha avó.

O sorriso no rosto de vovó se alargou só um pouquinho, antes de voltar ao normal.

— Ora, mas é claro que sou! Você se lembra de quando eu lhe disse que iria estragar a vida de Rony?

Hermione não estava muito a fim de falar sobre Rony. Ela assentiu, mas tentou fingir que não estava interessada.

— A vida de meu neto já estava estragada. — Vovó deu tapinhas na mão de Hermione. — Foi estragada na hora em que ele a viu naquele vestido de casamento. Eu comprei o vestido, sabia?

— O quê? — exclamou Hermione, e sua voz saiu aguda, chamando a atenção dos convidados ao redor da mesa, que aguardavam o primeiro prato. Ela tossiu e se escondeu por trás dos cabelos escuros. — Diga que isso é brincadeira, vovó!

— Ops. — Vovó deu de ombros. — Achei que tivesse gostado. Ficou lindo em você. Maravilhoso. — Ela se serviu de uma taça de vinho e fechou os olhos enquanto tomava um longo gole, então botou a taça de volta na mesa. — Além disso, pode ser que você precise de um, qualquer dia desses.

— Sei. — Hermione lutou para esconder as lágrimas. — Acho que tudo é possível.

— Ah, mas é mesmo! — respondeu vovó. — Sabia que eu sempre quis ser uma fada madrinha?

— Oi?

— A maioria das garotas quer ser a princesa da história. Eu quero ser a fada madrinha.

Será que vovó estava bêbada? Tão cedo?

— Está certo. — Hermione a olhou de soslaio. — Bem, você só precisa de uma varinha e de um pouco de mágica... aí, tudo é possível.

— Já tenho uma varinha, e todas as avós são mágicas. — Ela deu de ombros. — Fale mais sobre Neville.

— Ele é... — Hermione olhou para a mesa. Ele estava com o cabelo loiro penteado para trás, revelando olhos verdes perfeitos e um rosto escultural. — Legal.

Vovó caiu na gargalhada.

— Ah, querida! Aquele homem é muitas coisas. "Legal" não seria a palavra que eu escolheria para descrevê-lo. É muito sexy, isso sim. Um deus entre os mortais.

— Vovó! — resmungou Hermione. — Fale baixo.

— Bem. — Vovó ergueu as mãos. — Só estou dizendo que aquele homem faria uma mulher derreter só com o olhar. — Como se tivesse ouvido, Neville olhou para vovó e deu uma piscadela. — Meu bom Deus! Acho que acabei de ter um mini-infarto.

— Sério? — Hermione segurou o braço de vovó, em pânico.

— Bem. — Vovó piscou de volta para Neville. — Se isso foi um infarto, quero

outro.

Hermione sentiu o rosto corar.

— Ele não mexe com você? — perguntou a mulher.

Hermione engasgou com o vinho e começou a tossir como louca enquanto vovó dava tapas fortes em suas costas.

— Minha querida, beba mais devagar! Vai acabar manchando esse vestido amarelo lindo.

— Sim, foi culpa do vinho... — resmungou Hermione. — E não do seu comentário.

— Ué! — Vovó se inclinou para mais perto e suspirou. — Como é que vocês, jovens, dizem hoje em dia? Ele deixa você com te...

— Vovó! — ralhou Hermione. — Pare, pare com isso! — Ela cobriu o rosto com as mãos, envergonhada. — Ele é um cara legal, mas não... — Hermione estava prestes a dizer "não é Rony", quando o próprio chegou e se sentou do outro lado da mesa. Seus olhos a traíram e absorveram cada detalhe daquele corpo perfeito. Rony se inclinou para a frente, sobre a mesa, e seus antebraços roçaram nas flores espalhadas ao redor do prato. Ah, como ela queria ser uma daquelas flores!

— Entendi — respondeu vovó, em voz baixa. — Ele não é o meu neto.

— Quê? — Hermione tirou os olhos de Rony e começou a apertar as mãos no colo.

— Neville — explicou vovó. — O cara poderia ser um ator melhor que o Marlon Brando, e ainda assim você o olharia como se ele não passasse de um figurante.

— Marlon Brando? Figurante? — Hermione deu um sorriso tenso, mas não olhou para vovó.

— Perto do único que você realmente quer. — Vovó colocou uma das mãos nas de Hermione, para acalmá-la. Alguns anéis de diamante brilharam em seus dedos. — O meu neto. Você está apaixonada por ele.

— Eu... — Mas ela não conseguia negar. Então, em vez disso, olhou nos olhos de vovó e pediu: — Por favor, não conte isso a ele.

Afastando-se, vovó bufou.

— Querida, se ele ainda não sabe, é um idiota. Se bem que ele é homem... — Ela olhou para o neto e jogou as mãos para cima. — Ele parece infeliz. Deve ser por causa da falta de sexo.

E lá se ia a pressão estabilizada de Hermione. Vovó tinha mesmo dito "sexo" outra vez? À mesa de jantar?

Desta vez, suas palavras atraíram a atenção de Harry e Gina, que a olharam como se implorassem: Por favor, chega de momentos constrangedores.

O pastor Jim se engasgou com o vinho, e a mesa ficou em silêncio.

Sem saber o que fazer, Hermione olhou para vovó.

— Estávamos conversando sobre Petunia.

Ah, não. Petunia se enrijeceu, do outro lado da mesa, e estreitou os olhos para vovó, como se a mulher fosse cria de Satã.

— Eu não uso essas palavras vulgares.

— Não, só tricota e lê romances eróticos.

— Ei, eu nunca...

— Não adianta negar. — Vovó girou a taça de vinho. — Já vi os livros. Você não é tão puritana quanto tenta parecer, irmãzinha.

Petunia comprimiu os lábios e olhou para as outras pessoas à mesa.

— Ela obviamente está bêbada.

— Conte, o capitão Jack já voltou para casa com sua escrava? Ainda não cheguei nessa parte do livro, mas tenho que admitir que estou morrendo de curiosidade para saber se eles vão...

— Vovó — chamou Harry, em tom de aviso.

Ela deu de ombros.

— Eu ia dizer "se apaixonar".

— Até parece — murmurou Rony, do outro lado da mesa.

Petunia olhou irritada para vovó.

— Você é uma meretriz.

— Pelo menos eu não disfarço... Cadê o seu chicote, Petunia?

Hermione arregalou os olhos.

James deu uma risadinha.

— Pessoal, vamos acalmar os ânimos. Estamos aqui para celebrar...

— Deve estar com seus sapatos de salto vermelhos, sua diaba tatuada! — gritou Petunia.

— Ah, adoro aqueles sapatos! — comentou vovó.

— Vejam, o jantar será servido! — avisou Lilian, com a voz aguda. — Pessoal, é hora de comer! — Ela bateu palmas e começou a empilhar no prato a comida que o pessoal do bufê trazia.

— Ostras. — Vovó apontou para um dos baldes. — Pode comer, Harry. Vai precisar disso para amanhã à noite.

O noivo soltou um palavrão e olhou para o céu.

— E eu estava me controlando tão bem...

— Se isto é você se controlando, eu sou uma freira. — Vovó deu uma piscadela enquanto Harry gemia e se afastava de Gina.

— Ora, vejam! — Liliam apontou para o meio da mesa. — Estamos sem vinho.

— Vou pegar umas garrafas! — gritou Harry, levantando-se e agarrando o braço de Gina.

Com toda a calma, vovó enfiou a mão na bolsa e tirou uma coleira que parecia muito com o tipo usado para treinar cachorros por meio de pequenos choques.

— Sente-se, Harry.

Reclamando, ele se sentou.

— Hã, eu vou. — Hermione se levantou.

— Eu também — disse Neville. — Você pode acabar se perdendo naquela adega.

— Oh, meu herói — respondeu Hermione, seca. Mas ele não pareceu se importar. Estava com os olhos fixos em vovó. Assentiu uma vez e olhou de volta para Hermione.

— Pronta? — Ele ofereceu o braço a Hermione, ignorando o olhar indagativo que ela lhe lançava.

Os dois caminharam em silêncio até a casa.